O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vivemos, no Brasil, na França e em outras dezenas de países de que eram naturais os passageiros e tripulantes do vôo 447 da Air France, momentos de dor e de angústia, desde que foi noticiado o desaparecimento da aeronave. É hora de compartilharmos o sofrimento das famílias, dos parentes e amigos de todos os que estavam a bordo do avião.

            Gostaria de destacar o caso de 3 passageiros que embarcaram no vôo 447, retornando ao seu país depois de permanecerem 10 dias no Brasil, promovendo atos de solidariedade e assistência. Rino Zandonai, de 60 anos, Giovanni Battista Lenzi, de 57 anos, e Luigi Zortea, de 67, são integrantes da Associazione Trentini nel Mondo, Associação Trentinos no Mundo, que congrega, por meio de uma federação, mais de 200 círculos trentinos em todo o mundo. No Brasil, existem círculos trentinos no Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

O Trentino-Alto Ádige é uma região situada no Nordeste da Itália, que serviu de ponte entre a cultura da Itália, latina, e a da Alemanha, germânica. Com a reunião do Principado de Trento ao Estado do Tirol, em 1809, a região passou ao domínio do Império Austro-Húngaro.

O grande período da emigração trentina para o Brasil ocorreu no final do século XIX. Everton Altmayer, diretor de Cultura do Circolo Trentino de São Paulo, relata que o declínio do Império Austro-Húngaro e uma crise na agricultura local disseminaram a pobreza pela região.

Já antes da I Guerra Mundial, muitas famílias trentinas e tirolesas, a maioria camponeses, tiveram que deixar o continente. Em sua busca por novas terras, não faltou quem fosse atraído para a América, devido à propaganda. O Império do Brasil mantinha no Tirol um ofício de emigração, que atraía camponeses, com promessas de terra e fartura.

O que nosso país buscava, na verdade, era mão-de-obra para as lavouras de café e pessoal para a ocupação do Sul do Brasil. Calcula-se que o número de emigrantes tiroleses que tomaram o rumo das terras brasileiras foi de quase 30 mil.

Boa parte deles, segundo as pesquisas de Altmayer, seguiu para as lavouras de café do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Alguns poucos tomaram o rumo da Bahia, mas a maioria dirigiu-se para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tiroleses de língua alemã e os trentinos que falavam italiano deixaram marcas de sua influência pelo território brasileiro. Em 1859, foi fundada a localidade de Tirol, no Espírito Santo. Em Santa Catarina, há uma cidade chamada Nova Trento. Calcula-se que os descendentes de trentinos no Brasil hoje somem 3 milhões, praticamente 10 por cento dos descendentes de italianos que por aqui vivem.

A preservação dos laços que os unem e a preocupação com a continuidade de uma cultura que remonta aos tempos do império romano - estes são alguns dos fatores que hoje mantêm a coesão entre os trentinos, tanto os que continuam vivendo na Itália como os que estão dispersos pelo mundo. Os Circolos Trentinos mantêm vivas as tradições históricas e os costumes da região de Trento, além de realizar um trabalho benemérito de enorme alcance.

Esta era a missão que estava sendo cumprida por Rino, Giovanni e Luigi. Entre outras ações, eles doaram 22 mil euros arrecadados na Itália, para um centro de apoio psicossocial às vítimas das enchentes que atingiram Santa Catarina em novembro de 2008.

O centro, segundo seu diretor, estava sem equipamentos adequados para o tratamento dos pacientes. Os 3 também entregaram equipamentos para uma Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, em Minas Gerais, e visitaram entidades de assistência social que receberam recursos da Associação no Paraná.

Rino Zandonai, casado e pai de dois filhos, é diretor da Associazione Trentini Nel Mondo. Giovanni Batista Lenzi, também casado e pai de duas filhas, exerce mandato de deputado da Província Autônoma de Trento e Região Alto Adige. Luigi Zortea, casado e com dois filhos, é prefeito de Canal San Bovo, em Trento.

Não sabemos ainda o que ocorreu com o avião, desaparecido no trajeto Rio-Paris. Giovanni, Rino e Luigi embarcaram nele rumo à terra natal. Mas, não importa o que o destino lhes reservou, o trabalho meritório e louvável dos círculos trentinos prosseguirá. E encontrará, sem dúvida, um estímulo adicional na abnegação demonstrada por esses 3 homens notáveis.

Eles percorreram uma longa distância para auxiliar seus semelhantes, inspirados pela caridade cristã e pelo sentimento de que, não importa o quanto estejam separados, todos os seres humanos são merecedores de ajuda e conforto em situações difíceis. A eles, nossa homenagem. Quem dera pudessem multiplicar-se pelo mundo exemplos como os que proporcionaram.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado.

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