Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao grande poeta popular Patativa do Assaré, pelo centenário de seu nascimento.

Autor
Adelmir Santana (DEM - Democratas/DF)
Nome completo: Adelmir Santana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao grande poeta popular Patativa do Assaré, pelo centenário de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2009 - Página 21665
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ANTONIO GONÇALVES DA SILVA, POETA, COMPOSITOR, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, LITERATURA, MUSICA POPULAR, VALORIZAÇÃO, CULTURA, REGIÃO NORDESTE, IMPORTANCIA, INICIATIVA, SENADO, SESSÃO, LANÇAMENTO, LIVRO.

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O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda, que preside esta sessão; Sr. Senador Tasso Jereissati, um dos co-autores do requerimento, já saíram os ministros, mas tive a oportunidade de encontrar com os cearenses, Ministro Asfor, Ministro Ubiratan. Quero saudar o Sr. Geraldo Gonçalves, filho do Patativa do Assaré; saudar o prefeito da cidade de Assaré, no Ceará, Evanderto Almeida; saudar a todos os cearenses presentes.

Os que me antecederam aqui certamente falaram com muito mais propriedade, por serem cearenses de verdade. Mas, na verdade, eu não poderia ficar fora desta homenagem, representando o Distrito Federal, porque aqui se cinge o conteúdo da população brasileira, e a presença do Ceará em Brasília é extremamente marcante. É marcante porque vejo aqui Pedro Jorge, citado há poucos instantes; vejo os cantadores Elias Ferreira, Francisco Félix, Damião Ramos, Azulão do Nordeste; vejo o Sr. Gonçalo Gonçalves, Presidente do Movimento Brasileiro de Cordel do Distrito Federal e fundador da Casa do Cantador, bem como a Rosa Alves, Diretora da Casa do Cantador. Não poderia, portanto, Sr. Presidente, deixar de expressar o pensamento, como representante do Distrito Federal, em relação a esta homenagem.

Um dos pássaros mais admirados do Nordeste, na minha infância - e também sou nordestino, apesar de não ter o privilégio de ser cearense -, era exatamente a patativa, pela sua beleza, seu porte, sua maneira de pousar e, principalmente, devido ao seu canto. Felizmente, nos novos tempos, a legislação já impede o cativeiro de espécie tão maravilhosa.

O canto da patativa, melodioso e triste, é tão atraente que o nome desse pássaro virou apelido de alguns cantores nordestinos. Devido à sua melodia tão especial, a patativa foi citada em uma música famosa de Vicente Celestino, no romance Ubirajara, de José de Alencar, e no poema As Primaveras, de Casimiro de Abreu.

Como todos os pássaros territoriais, a patativa defende com valentia seu domínio da invasão de outra ave, da mesma espécie ou não. Os machos costumam ficar no alto das árvores, cantando incessantemente para demarcar o seu espaço, espetáculo belo de se ver.

É com essas informações ornitológicas que valorizo o mito nordestino conhecido como Patativa do Assaré.

Antônio Gonçalves da Silva, poeta nordestino, é tão fantástico que acabou comparado ao pássaro mitológico que tanto encantou a infância de todos nós, nordestinos.

Fico muito orgulhoso, portanto, ao registrar que, para celebrar os cem anos de nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, o Senado organiza esta programação especial que envolve toda esta quarta-feira, com destaque para o lançamento do livro Patativa do Assaré - Poeta Universal, organizado por V. Exª, Senador Inácio Arruda, primeiro signatário do requerimento desta sessão de homenagem, e também por outros Senadores, entre eles, o nosso querido Senador Tasso Jereissati.

A publicação reúne textos de Assis Ângelo, Cândido B. C. Neto, Gilmar de Carvalho, Joan Edesson, Oswald Barroso, Plácido Cidade Nuvens, Rosemberg Cariry e Tadeu Feitosa.

Muito me marcou, alguns anos atrás, quando soube que, ainda menino - e vi isso na TV Globo -, uma doença tirou a visão de um dos olhos desse que, alguns anos depois, viria a se chamar Patativa do Assaré.

Aos oito anos, viu-se obrigado a pegar na enxada para ajudar no sustento da mãe e dos irmãos, após a morte prematura do pai. Somente aos 12 anos, durante alguns meses, frequentou a escola local, onde se alfabetizou.

Muito cedo, Antônio começou a fazer o repente e se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por fim, aos 20 anos, já mereceu ganhar o pseudônimo de Patativa.

Surgiu Patativa do Assaré, gênio, falecido em 2002, poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro. É considerado o mais importante do século XX, entre milhares de nordestinos que sempre se dedicaram a essa arte.

Era capaz de recitar, sem pestanejar, longos e incontáveis poemas de sua autoria.

O Brasil como um todo ouviu falar primeiro de Patativa graças ao poema A Triste Partida, que ele mesmo musicou, e Luiz Gonzaga gravou em 1964. A letra falava da saga de uma família que, depois de perder todas as crenças, troca a seca por São Paulo, “para viver ou morrer”, mas, com certeza, um dia voltar. A canção contém 19 estrofes, cantadas no decorrer de oito minutos. Mesmo tão longa, ainda hoje é sucesso musical em todo o País, pela sua qualidade, marcando a vida do parceiro Luiz Gonzaga.

Pesquisadores têm registrado que o nosso Patativa teve parte da sua obra escrita na língua cabocla, num português popular, que é uma estilização da fala do matuto sertanejo.

Mas escreveu também dentro da norma culta, demonstrando clareza e complexidade na produção, de forma surpreendente para um homem de origem humilde. É a genialidade desenvolvida em décadas e décadas de criação. Ele destacou-se, ainda, como excelente sonetista, tendo musicado alguns dos próprios poemas.

Concluo, Sr. Presidente, este pronunciamento, destacando comentário do pesquisador Claudio Henrique Sales de Andrade, para quem a obra de Patativa ainda espera por reconhecimento nos grandes centros do Sudeste brasileiro. É situação que o Senado ajuda a superar, quando dedica um dia para homenagear esse brasileiro tão ilustre, gerando a necessária repercussão e reconhecimento nacional para sua obra.

Eu mesmo, sem ser do Ceará, estou feliz em estar aqui nesta tarde por saber que, no Distrito Federal, o contingente de cearenses é extremamente representativo na sua formação.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, com muita emoção e reconhecimento a esse povo tão guerreiro e tão feliz. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2009 - Página 21665