Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o projeto de renovação da Aeronáutica brasileira.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA NACIONAL. FORÇAS ARMADAS.:
  • Considerações sobre o projeto de renovação da Aeronáutica brasileira.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2009 - Página 22137
Assunto
Outros > SEGURANÇA NACIONAL. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, CUMPRIMENTO, PLANO, DEFESA NACIONAL, POSSIBILIDADE, AQUISIÇÃO, AERONAVE, REAPARELHAMENTO, EQUIPAMENTOS, FORÇA AEREA, REGISTRO, ESFORÇO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA DEFESA, BUSCA, ACORDO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RUSSIA, AUXILIO, FINANCIAMENTO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), TRANSFERENCIA, TECNOLOGIA, INICIO, PRODUÇÃO, BRASIL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA DE MATERIAL BELICO, GARANTIA, SOBERANIA NACIONAL, SEGURANÇA NACIONAL, AMPLIAÇÃO, OFERTA, EMPREGO, REFORÇO, FORÇAS ARMADAS.
  • IMPORTANCIA, DECISÃO, AERONAUTICA, AQUISIÇÃO, AERONAVE, BRASIL, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), INDUSTRIA, HELICOPTERO, REFORÇO, INDUSTRIA NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, a Aeronáutica brasileira está prestes a dar um passo condizente com a grandeza do País na nova ordem política internacional. Trata-se da intenção do Governo Lula de concretizar a aquisição de aviões militares destinados a re-aparelhar os equipamentos da Força Aérea Brasileira. A compra das aeronaves está, no entanto, condicionada a preços vantajosos e à inegociável exigência de transferência de tecnologia, de transferência de conhecimento. Sobre tal iniciativa pretendo, agora, desenvolver algumas breves considerações. 

         Pelo menos desde 2008, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem-se envolvido em viagens à Rússia, à França e aos Estados Unidos para discutir com os governos locais como melhor implementar o novo plano estratégico de defesa. Centrado na transferência de tecnologia para o Brasil, o plano privilegiou a aquisição de novos modelos menos sofisticados, aliados a custos menos exorbitantes. E isso, obviamente, não invalidaria a concomitante execução de parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras na fabricação dos caças aéreos do País.

         Afinal de contas, como se sabe, em dezembro do ano passado, foi aprovada, pelo Presidente Lula, a Estratégia Nacional de Defesa. Naquela ocasião, debateram-se questões relevantes para o destaque da defesa na agenda nacional, enfatizando a formulação de um novo planejamento de longo prazo para a defesa do País. Intrinsecamente associado ao desenvolvimento nacional, inscreve-se como uma nova etapa no tratamento da defesa nacional, fixando o compromisso de todos os cidadãos brasileiros, civis e militares, com os valores maiores da soberania, da integridade do patrimônio e do território e da unidade nacional.

         Sr. Presidente Paim, em que pesem as ameaças de corte de gastos com a recente crise financeira global, o Ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, não se assusta com as contingências adversas internacionais, tampouco com a conjuntura recessiva. Para ele, o projeto de renovação da Aeronáutica não é de hoje e já conta com inúmeros contatos e viagens junto aos potenciais fornecedores no exterior.

Nessa mesma linha, para o Ministério da Defesa, a iniciativa compreende a redução da dependência estrangeira e o fortalecimento da indústria nacional, que abrange não apenas armas e equipamentos bélicos, mas também setores como fardamento das três Forças Armadas.

Meus senhores, apesar de as autoridades da Defesa não confirmarem, o projeto mais espetacular da Aeronáutica se circunscreve à aquisição de aviões de caça, desde os supersônicos russos até os potentes Rafale franceses. Na verdade, de acordo com declarações do próprio comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito, até o norte-americano F-35 Joint Strike Figther também estaria incluído no raio de preferências.

Todavia, para a redefinição das especificações técnicas e de necessidade estratégica, a Força Aérea argumenta que precisa de tempo mais dilatado. E não é para menos. Como foi anunciado, a implementação de tal política para equipar as Forças Armadas com a compra e o desenvolvimento de novos equipamentos bélicos requer um pacote de gastos estimado em R$6 bilhões até o final de 2010. Trata-se de um autêntico e ambicioso projeto de Estado, não de Governo, como bem frisou o Ministro Jobim.

Sem dúvida, o Brasil precisa de uma estrutura de defesa compatível com seu novo papel de destaque no cenário internacional. Na verdade, o programa de reaparelhamento das Forças Armadas tem amplo apoio do Governo Lula e do Congresso. Por isso mesmo, e até em atenção aos fornecedores nacionais, o projeto se destina também a favorecer empresas brasileiras e consórcios com parceiros estrangeiros dispostos a transferir tecnologia. Tudo, evidentemente, deverá ser conduzido com o suporte de linhas de financiamento do BNDES.

Sr. Presidente, pela perspectiva da segurança externa, o investimento nas Forças Armadas deveria ser, em tese, dotado de três objetivos imediatos: exibir músculo militar aos países vizinhos, induzir à criação de um parque industrial bélico brasileiros, fomentar a exportação de armas para países da América Latina, da África e da Ásia e criar empregos no Brasil com o reaparelhamento das Forças Armadas. Não por acaso, o Brasil dispõe de cerca de 500 empresas em condições de produzir equipamentos modernos, como aviões, tanques, navios, mísseis e sistemas de software para vigilância.

Aliás, de acordo com o Departamento de Defesa da Fiesp, a preferência parcial pela produção nacional ficou patente no ano passado, quando a Aeronáutica suspendeu provisoriamente a importação de caças supersônicos, a um custo de US$2,2 bilhões. No lugar, preferiu-se a combinação da importação de menos unidades com a fabricação do restante no Brasil, num consórcio que deveria juntar a Embraer a um fornecedor estrangeiro a ser definido. Portanto, buscou-se uma linha complementar entre a aquisição de peças estrangeiras e investimento nas parcerias internas via Embraer e Helibras.

Por exemplo, para proteger a superfície costeira - a nossa imensa área do pré-sal -, Marinha e Aeronáutica contarão com helicópteros Cougar, a serem fabricados pela Helibras, uma pareceria entre a empresa francesa Eurocopter e o governo mineiro. Do lado das empresas, contratos como esses são considerados como oportunidades inescapáveis para valorizar o produto nacional e abrir portas.

Para a Embraer, o reaparelhamento das Forças Armadas contribuirá, em muito, no processo de expansão das nossas exportações.

Para o Ministro Nelson Jobim, se tivermos de optar entre uma aeronave supermoderna e outra um pouco menos avançada, mas que proporcione capacitação tecnológica, transferência de conhecimento, o Brasil optará pelo modelo intermediário. O maior problema, porém, é que não dá para saber de antemão qual o saldo tecnológico do pacote imaginado pela Defesa. Afinal, essa não é a primeira vez que o País alimenta a pretensão de desenvolver uma indústria bélica forte. Vale recordar que, durante o regime militar, o Brasil gastou bilhões de dólares, a fundo perdido, para tentar construir um setor de armamentos. Nos sonhos, estávamos até caminhando para ser uma potência nuclear.

De todo modo, há bem pouco tempo, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, reiterou o compromisso histórico do Brasil com o porte pacífico na superação dos conflitos internacionais, seja por tradição, seja por convicção. De fato, o País rege suas relações diplomáticas, dentre outros, pelos princípios constitucionais da não intervenção, defesa da paz e solução pacífica dos conflitos. Tal traço de pacifismo é parte da identidade nacional, Senador Paulo Paim, e um valor a ser conservado pelo povo brasileiro.

Dentro do amplo contexto de plenitude democrática e de absoluto respeito aos nossos vizinhos, com os quais mantemos e manteremos uma relação cada vez mais sólida de amizade e cooperação, a vigência da Estratégia Nacional de Defesa veio garantir uma orientação mais definida para a determinação de uma visão de longo prazo nas Forças Armadas.

Afinal de contas, a Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o conceito e a política de independência nacional, de um lado, e as Forças Armadas, para resguardar tal independência, de outro.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Augusto Botelho, V. Exª me concede um aparte?

O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR) - Com todo prazer, Senador Mozarildo.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Augusto, V. Exª está abordando um tema de alto interesse nacional e é importante também que se frise que, talvez, dentro do interesse nacional, de maior interesse para a nossa Amazônia, porque lá está a maior parte do território nacional e a maior parte das fronteiras do Brasil com os países vizinhos. Nós tivemos oportunidade já de ouvir a explanação do Ministro Jobim sobre a Estratégia de Defesa Nacional, uma visão moderna que as Forças Armadas estão tendo em relação ao século XXI. O nosso País realmente não vai cair nessa balela de corrida armamentista, mas também não podemos fechar os olhos para o que acontece ao nosso redor, por exemplo, com a corrida armamentista que está acontecendo na Venezuela. Se hoje a Venezuela é nossa amiga, a gente tem que estar sempre preparado para o amanhã. Esperamos e temos quase certeza de que nada ocorrerá de diferente. Antigamente, o grande foco nosso era o Cone Sul, a preocupação com a Argentina, que se armava, que estava na nossa frente na questão atômica. Hoje, nós temos outra realidade geoestratégica e geopolítica no mundo. Então, é muito importante a reflexão que V. Exª faz. E para a nossa Amazônia, sobretudo, ela é de fundamental importância. Eu quero, portanto, cumprimentar o pronunciamento que V. Exª faz e chamar a atenção, inclusive, para a importância de termos uma indústria bélica. Não significa, ao dizermos que é uma indústria bélica, que teremos de ir para a guerra. Mas há uma célebre frase que diz que: “Quem quer a paz se prepara para a guerra”. Então, V. Exª aborda com muita propriedade esse tema e eu me solidarizo com ele e, principalmente, com o Ministério da Defesa e com o nosso comando das Forças Armadas.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR) - Senador Mozarildo, Senador Paim, a nossa Estratégia Nacional de Defesa ocupa-se de questões políticas e institucionais decisivas para a defesa do País, como os objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer com que a Nação participe da defesa. Aborda, igualmente, problemas propriamente militares, derivados da influência dessa “grande estratégia” na orientação e nas práticas operacionais das três Forças.

Um dos eixos estruturantes da Estratégia Nacional de Defesa prende-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para assegurar o atendimento das necessidades de equipamentos das Forças Armadas. Com o propósito de desenvolver a capacitação tecnológica e a fabricação de produtos de defesa nacionais serão buscadas parcerias com outros países. É importante que a gente arme as nossas Forças, produzindo os empregos aqui dentro do País. Na medida do possível, as parcerias serão articuladas como expressões de associação estratégica mais abrangente entre o Brasil e o país parceiro.

Em suma, para o Ministro, a motivação de ordem internacional consistirá no trabalho cooperativo com o país parceiro em prol de um maior pluralismo de poder e de visão no mundo. Tal empreitada conjunta pressupõe duas etapas. Na primeira, o objetivo é a melhor representação de países emergentes, inclusive o Brasil, nas organizações internacionais - políticas e econômicas - estabelecidas. Na segunda, o alvo é a reestruturação das organizações internacionais, abrangendo o regime externo de comércio para que se tornem mais abertas às divergências, às inovações e aos experimentos.

Para encerrar, Sr. Presidente Paim, gostaria de ressaltar a feliz iniciativa do Governo Lula de proceder à compra de aviões militares no exterior. Isso se dá à luz da recentemente editada Estratégia Nacional de Defesa (END), cujas diretrizes recomendam o reaparelhamento das Forças Armadas no novo cenário das relações internacionais. Em resumo, a compra das aeronaves sob condição de transferência de tecnologia aposta num Brasil autossuficiente e líder nos processos de concepção, projeto, industrialização, produção e inovação tecnológica no mundo.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2009 - Página 22137