Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro das tragédias ocorridas com a população que reside nas cercanias de uma barragem que se rompeu, no Piauí, e com o o desaparecimento do avião da Air France.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Registro das tragédias ocorridas com a população que reside nas cercanias de uma barragem que se rompeu, no Piauí, e com o o desaparecimento do avião da Air France.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2009 - Página 22159
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • LEITURA, MENSAGEM (MSG), INTERNET, AUTORIA, JORNALISTA, QUESTIONAMENTO, ALEGAÇÕES, MOTIVO, ROMPIMENTO, BARRAGEM, PROXIMIDADE, MUNICIPIO, COCAL (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), DEFESA, INVESTIGAÇÃO, CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO ESTADUAL, SITUAÇÃO, REGIÃO, AUSENCIA, VERDADE, QUANTIDADE, RECURSOS, LIBERAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, REDUÇÃO, ACOMPANHAMENTO, DESASTRE, ACIDENTE AERONAUTICO, BRASIL, AERONAVE, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, OMISSÃO, ROMPIMENTO, BARRAGEM, PROXIMIDADE, MUNICIPIO, COCAL (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), COMPARAÇÃO, ACIDENTE AERONAUTICO, BRASIL, AERONAVE, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, REGISTRO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, VITIMA, DESASTRE, SUGESTÃO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUXILIO, LOCAL.

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta reunião; Parlamentares da Casa; brasileiras e brasileiros, aqui presentes, e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Ontem, o Senador Marco Maciel - atento - pedia-nos uma explicação da tragédia que houve no Piauí.

Antes, porém - e aí está o Senador João Pedro, um homem de muita sensibilidade, de muita responsabilidade em tudo que faz na sua vida política, substitui com grandeza o Ministro Alfredo Nascimento aqui nesta Casa -, vamos nos situar, Marco Maciel. Refiro-me ao sentimento e de como é a humanidade.

A gente recebe muitos e-mails, muitas correspondências muitos artigos, e eu fui pegar um, de Carlos Magno Filho, muito interessante, que dá o quadro. É assim mesmo, o mundo é cheio de tragédias e elas se sucedem. “O homem é o homem e suas circunstâncias”, disse Ortega y Gasset, não fui eu não, Mauro Fecury. Então, as tragédias sucedem-se e esquecem-se das anteriores. A do Piauí está esquecida, esquecida mesmo, porque houve, não é, o grande drama que envolveu França e Brasil e pessoas de maior projeção, não para nós, porque humano é humano; todos somos irmãos, somos seres humanos, mas neste mundo materialista, é isso, Paim. 

Então, esqueceram-se da tragédia do Piauí.

Comportamento: ô Mauro Fecury, grande pai da educação desenvolvida do Maranhão de hoje, moderna, porque todos sabemos que o maranhense é afeito aos estudos. Eles são tão vaidosos, Paim, que lá em São Luís, onde eu passava as minhas férias, eles diziam: “A atenas do Brasil” orgulhosos. A primeira biblioteca gigante que eu vi na minha vida foi lá em São Luís do maranhão. Eles sempre foram afeitos à cultura:

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá

As aves, que aqui gorjeiam (...)

 

           E outro:

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

Então, o maranhense tem esse lado cultural.

Mas eu queria dizer que Sarkozy, também traduzindo a culta França, onde nasceu a democracia, chamou o povo - cristão, religioso, que crê em Deus - para rezar na Catedral de Notre Dame pelas vítimas francesas e brasileiras. Fez, naquela Igreja católica, um culto ecumênico. Que beleza de sentimentos! E o do Piauí - o alopradinho do Piauí foi passar...Outro dia, o Mário Couto denunciava que a Governadora ficava dançando a dança lá do Pará aqui no Salão Verde, pois o do Piauí foi dançar em São Paulo, em Sampa, num momento desses. Sarkozy deu o exemplo. O próprio povo do Rio de Janeiro, hoje, esteve na Candelária. Eu vi, não tenho certeza, mas o Presidente da República, Sua Excelência, sensível, Luiz Inácio, intencionava, não sei, Sua Excelência estava no exterior, viria direto para esse ato de solidariedade religiosa. O do Piauí foi dançar em Sampa e não sei o que, e se esqueceram.

Mas eu queria dizer que o Piauí, que já estava muito sofrido, primeiro, pelo governo fraco que tem, voltou a ter todos os índices atrás dos do Maranhão. Quando governei o Piauí, passei todos os índices acima dos do Maranhão: educacional, mortalidade infantil, até botei o Piauí na era dos transplantes em cirurgia cardíaca. Então, todos os índices acima. E ganhamos muitos títulos de Alagoas, do Rio Grande do Norte. Perderam-se todos com esse domínio do PT. Todos. Todos! O Mauro Fecury está aí porque o Maranhão passou à frente, mas foi uma desgraceira.

Como dizia o Padre Antonio Vieira, uma desgraça é sempre acompanhada de outra desgraça: veio aquela enchente dos rios do Ceará. O Ceará era tido como o símbolo da seca, no passado, símbolo da seca, e nos surpreendeu. As águas vieram do rio Poti e invadiram Teresina. Este rio Pirangi tem a seguinte importância, Mário Fecury: Padre Antonio Vieira saía lá de Fortaleza e ia para São Luís. Em seus relatos, ele disse, Paim, que levava 60 dias; e lá, neste Município de Cocal, onde ele parava para descansar, nesses 60 dias, tem uma igrejinha, construída pelo Padre Antonio Vieira, em Flexeiras. E foi nesse povoado, que passa esse rio Pirangi, que era rio seco, que servia para estrada, que tinha essa barragem do Algodão e que deu na tragédia. Cocal, uma cidade de porte médio, um comércio pujante, faz limite com o Ceará, pessoal honrado, trabalhador.

Eu sei, eu não estou atrás de falar das trevas à luz, mas queremos enfrentar a desgraceira que aí está. Por isso, para mostrar a minha imparcialidade, vou ler o relato, o qual achei interessante. Ontem mesmo, o Marco Maciel pedia-me, assim, uma interpretação. Então, dos e-mails que recebi, eu vi este de Carlos Magno, um jornalista brilhante, sábio, intitulado:

A tragédia gerada pela incompetência:

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

A frase acima, de autoria do poeta renascentista John Donne, usada pelo brilhante Ernest Hemingway ...

Aquele que disse a frase que eu acho a mais importante: que a maior estupidez é perdermos a esperança; disse ainda Ernest Hemingway que o homem não nasceu para ser derrotado; ele pode até ser destruído(..), em O velho e o mar.

... em seu livro “Por quem os sinos dobram”, posteriormente imortalizado no cinema por Gary Cooper e Ingrid Bergman, é capaz de definir o sentimento das pessoas que ainda não perderam a capacidade de se entristecer e de se indignar diante dos fatos avassaladores capazes de interferir de forma profunda no quotidiano das pessoas, deixando a sensação repentina de que nada mais será como antes amanhã. São estes sentimentos que, historicamente, permitiram que a humanidade seguisse em frente, transformando-se e tornando-se melhor. Caso contrário, ainda estaríamos nas trevas da Idade Média, como ainda se encontram alguns locais do planeta, onde a dor e a opressão são uma constante. Também não veríamos com tanta aversão as guerras, os desastres, os homicídios e todos os infortúnios que se apresentam aos seres humanos.

Quando um desses fatos trágicos acontecem, sempre se cria um clima de comoção intenso e instantâneo. Com a banalização da violência, em sua acepção mais ampla, impulsionada por uma globalização dos meios de informação, estabeleceu-se uma dinâmica diferente: um sinistro fica em destaque até que outro aconteça, e os infortunados da primeira tragédia são logo esquecidos e os novos desgraçados viram os alvos das atenções. Mas existem situações que mexem tão profundamente com as pessoas que é preciso expressar esse sentimento de tristeza e revolta de alguma forma; principalmente se, entre quem se revolta e quem passa pelo infortúnio, há uma relação de sangue, de identificação e de pertencimento. Desse modo, quando uma tragédia que resulta em várias mortes acontece com os seus, não há como ficar indiferente.

Em um momento desses, surgem as mais diversas, precipitadas e oportunistas opiniões, razão pela qual não se pode correr o risco de agir de forma irracional e ser leviano. Tragédia não é palco para dividendo político ou promoção pessoal, principalmente quando se trata de vidas humanas. Mas isso não significa apatia e indiferença ou que se discuta o ocorrido.

O rompimento da Barragem Algodões I foi um desses acontecimentos. Tomou de comoção todo o Piauí e até mesmo o Brasil. Passado o momento inicial, é necessário socorrer os desabrigados, enterrar os mortos e socorrer os que ficaram. Mas uma pergunta não quer calar: essa tragédia poderia ser evitada? E não me venham com essa história de que o momento não é oportuno, porque, numa sociedade organizada, cada instituição tem o seu papel determinado. Quem socorre não investiga e quem investiga não socorre, sendo que uma atividade não atrapalha a outra. Esse discurso parece mais de quem tem culpa no cartório.

O desenvolvimento da tecnologia possibilitou um certo domínio do ser humano sobre a natureza, possibilitando que este pudesse viver com segurança. Sendo assim, se a meteorologia consegue prever períodos chuvosos e os serviços de engenharia se destinam à construção e conservação de estrutura física, por que tantas vidas foram roubadas? Não convencem as afirmações de Lucile de Moura, Presidente da Empresa de Gestão de Recursos do Piauí, responsável pela barragem, de que “nenhuma obra de engenharia do mundo” aguentaria a quantidade de chuva registrada. Há engenheiros e “engenheiros”, assim como há gestoras e “gestoras”. Mais absurdo ainda é culpar os próprios moradores ou todo mundo, como afirmou em alguns sites.

Mas o que mais impressiona nessa história toda é a patética atuação do Governo do Estado [do Piauí], que, desconfortável ante a situação, parece se esquivar de uma explicação mais plausível sobre a não retirada das famílias em tempo hábil. Impressiona mas não surpreende, pois o modus operandi é sempre o mesmo. Aliado, por uma questão de conveniência, a partidos e políticos historicamente descompromissados com o nosso Estado, equilibra-se na distribuição de benesses aos seus (principalmente) e aos “novos amigos de infância” e numa ridícula e cacarejante estratégia de marketing, incapaz de convencer, que realmente é feliz quem vive aqui ou de que efetivamente é o governo da modernidade. A exemplo do que acontece em nível nacional, cooptou o movimento social organizado, sempre escalado para raivosamente demonstrar o “apoio popular” (Lembram-se do movimento das mulheres com contracheque?) e mostrou-se generoso com os meios de comunicação social, confortavelmente acomodados na folha de pagamento da Secretaria de Comunicação, que comporta-se como agência estatal de publicidade.

Seus expoentes arrogantes se comportam como seus ídolos de regimes totalitários de esquerda (para quem ainda acredita nessa divisão ou afere rendimentos com esse discurso), não aceitam críticas e não acreditam em liberdade de expressão. Sempre dispostos a se defender atacando, desmoralizando ou linchando moralmente, aniquilam toda e qualquer forma de oposição, acreditando que os fins justificam os meios e que a condição de excluídos torna legítimo esse modo de agir. Deliberadamente investiram no enfraquecimento de instituições fundamentais que não estariam ao alcance de seus sufocantes tentáculos. Tudo isso despudoradamente.

Felizmente, nem tudo mundo se deixa levar pelas esmolas, DAS ou tem a intenção de tomar o papel dos ratos na cadeia alimentar. Vez por outra vem à tona um fato que demonstra que nem tudo é tão cor-de-rosa assim.

A CPI do sistema carcerário expôs publicamente a grande mentira, que os jornais repetem exaustivamente, de que houve avanços nesse setor, muito mal administrado. A Casa de Custódia está entre as piores do Brasil, apesar de todos os esforços no sentido de impedir que vistorias fossem feitas ou das “maquiagens”. O que dizer das estradas esburacadas, providencialmente “reformadas” antes da reeleição? E os factóides e “obras futurísticas” da Secretaria de Turismo? Quem não lembra da tragédia do Complexo da Cidadania, onde sete adolescentes morreram queimados, sem que sequer os extintores de incêndio funcionassem? E a posição do Estado nos indicadores sociais? E a saúde? Os pacientes renais? A educação? Muita conversa e pouco resultado. Um grande engodo.”

Continua Carlos Magno Filho, acreditado intelectual do Piauí:

Pobre e sem sorte na condução dos seus destinos, nosso amado Piauí, explorado pela oligarquia que travou o seu desenvolvimento, vê-se agora mergulhado nessa conveniente fábrica de ilusões, cercado de incompetentes por todos os lados.

Em um país sério, lembrando Charles de Gaulle, a postura do poder público seria outra. Teria pelo menos vergonha de agir dessa forma, se esquivando de discutir sua responsabilidade ou jogando para a platéia. No Japão, com certeza, o responsável pelo setor já teria se demitido ou sido demitido ante do desgaste político. Lá não impera o dito popular de que um quadril lava o outro e líderes não costumam ser tão ineptos.

Resta torcer para que a investigação aponte se tudo foi mesmo uma fatalidade ou se alguém, e quem, autorizou a volta dessas famílias ao local.

Particularmente, eu não acredito no sistema de justiça e muito menos em investigações administrativas, principalmente quando nos deparamos com o próprio titular do Executivo estadual concentrando todas as suas energias para convencer a população ou para se convencer de que tudo foi um desastre natural. Não deveria ser o primeiro a exigir uma investigação séria e agir de forma isenta?

Infelizmente, entre o fogo e água, sete anos se passaram e nada mudou para melhor.

Mas pode ficar tranquilo, Governador. Os jornais de hoje já se ocupam da queda do avião da Air France e em breve ninguém mais lembrará dessa fatalidade que o senhor e os seus, não sendo Deus, como afirmou, foram incapazes de antever, assim como já foi esquecida a tragédia com os adolescentes. V. Exª pode marchar tranquilo para sua escalada rumo ao Senado. Os espíritos dos garotos e dos afogados com certeza não puxaram seus pés. Tampouco V. Exª e Dona Lucile precisam ouvir os sinos que dobram.

Carlos Magno Filho, intelectual do Piauí.

           Para terminar, eu queria dizer e lembrar ao Presidente Luiz Inácio que aquele Estado sempre lhe teve admiração. O Presidente sempre foi vitorioso, há muito, no Estado do Piauí. O Prefeito de Cocal, que hoje está aqui, Sr. Fernando Sales de Sousa Filho e Ivana Fortes, estoicamente, estão socorrendo os milhares de cocalenses e buritienses que sofreram.

Então, eu queria - e esta Casa é para isso - sugerir a Sua Excelência o Presidente... O Marco Maciel está aí.

E eu, olhando para ele, revi Shakespeare, que disse: “Não tem bem e nem mal; o que vale é a interpretação”.

Medida provisória que muitas vezes tem sido um mal para a democracia, para este Poder - humilhando-o -, neste momento, é um bem. V. Exª fez uma medida provisória de um bilhão - está na Câmara - para dez Estados, nove do Nordeste e o Amazonas, do João Pedro e do Arthur Virgílio.

Então, o Governador lá do Estado, que mente, mas mente, mas mente - eu nunca vi uma pessoa mentir tanto na minha vida -, chegou lá e disse que vai levar oitocentos milhões - um bilhão são para os dez Estados, viu Arthur Virgílio? E o Governador, que é chamado de... Disse que conseguiu oitocentos milhões. Olhe aí, olhe como ele vive. É o Joseph Goebbels, “uma mentira repetida se torna verdade.” Franklin Martins fez o Bolsa-Mídia. Tinha o Bolsa Escola, e agora tem o Bolsa-Mídia. Oitocentos milhões. Quer dizer, eu sugeri ao Presidente da República para que houvesse uma medida específica para Cocal e Buriti dos Lopes, salvaguarda específica e objetiva para essa calamidade. E os protestos do povo do Piauí, porque faltou a sensibilidade do Governador do Estado. Como Sarkozy, como a sociedade do Rio de Janeiro rezaram... Ele foi para São Paulo.

Ô Mário Couto, como é a música que se dança lá no Pará, hein, Arthur Virgílio? Cabrobó? Como é a música do Pará?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Carimbó.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Carimbó. O Mário Couto disse que ela bailava carimbó aqui no Senado, e ele foi bailar samba, enquanto os pobres do Piauí sofrido... E se esqueceu de fazer como Sarkozy. Pelo menos que mandasse as orações aos céus e do próprio Rio de Janeiro, que talvez...

Então, eram essas as palavras.

Luiz Inácio, aguardamos a medida provisória específica para Cocal e Buriti dos Lopes.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2009 - Página 22159