Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Balanço da execução do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, em contraste com números divulgados pelo Governo. O aparelhamento do Estado brasileiro como uma das causas da ineficiência administrativa.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Balanço da execução do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, em contraste com números divulgados pelo Governo. O aparelhamento do Estado brasileiro como uma das causas da ineficiência administrativa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2009 - Página 22642
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, MANIPULAÇÃO, GOVERNO, INFORMAÇÃO, EXECUÇÃO, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VISITA, JORNALISTA, OBRAS, COMPROVAÇÃO, ATRASO, PARALISAÇÃO, PROBLEMA, ESPECIFICAÇÃO, RODOVIA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), AEROPORTO, ESTADO DO AMAPA (AP), TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, HIDROVIA, USINA HIDROELETRICA, REGIÃO AMAZONICA, FERROVIA, EXCESSO, PROPAGANDA, INFERIORIDADE, LIBERAÇÃO, RECURSOS, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, REGISTRO, DADOS.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESVALORIZAÇÃO, OPOSIÇÃO, REITERAÇÃO, ORADOR, COMPROMISSO, MINORIA, FISCALIZAÇÃO, GOVERNO.
  • DENUNCIA, ATRASO, OBRAS, INFRAESTRUTURA, PROTESTO, PARALISAÇÃO, INVESTIMENTO, HABITAÇÃO, SANEAMENTO, INCOMPETENCIA, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, MOTIVO, APARELHAMENTO, ESTADO, REGISTRO, DADOS, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), AUMENTO, NUMERO, DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO SUPERIORES (DAS), FAVORECIMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CAPTAÇÃO, APOIO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, PREJUIZO, INTERESSE PUBLICO.

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O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Papaléo Paes, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, nós ouvimos aqui uma contundente dissertação sobre a mentira e temos que continuar. Afinal, há um festival de mentiras assolando o Brasil. Pode começar no Piauí, passar pelo Pará, mas chega a todos os Estados brasileiros.

Na semana passada, da tribuna do Senado, dissemos que, com base em dados levantados por contas abertas, do PAC, em 3 anos, executou-se apenas 2%. Aliás, ao contrário: durante 2 anos, o Governo executou apenas 3% das obras do PAC e que mais de 74% delas não saíram do papel. A Ministra Dilma contestou os números, afirmando que a execução chegou a 15%. Depois, retornamos a esta tribuna e mostramos que a Ministra estava escamoteando a realidade. Estava excluindo os setores de habitação e saneamento, que correspondem a 35% do total do programa, para elevar o percentual de execução. Portanto, mistificação ou, mais popularmente, mentira.

Veio, no final da semana, a revista Veja, que traz matéria completa, depois de três meses de investigação, com jornalistas percorrendo os canteiros de obras, os chamados canteiros de obras desse programa, e estampou uma reportagem sob o título “Ele existe, é bom que exista, mas a maior parte ainda está no papel. A análise dos números do Programa de Aceleração do Crescimento mostra uma realidade bem diferente da anunciada pelo governo”.

Portanto, a conceituada revista Veja vem e comprova a veracidade dos fatos. Há alguns subtítulos aqui sugestivos, que faço questão de registrar. “Asfalto, só nas pontas”, com foto mostrando o asfalto totalmente deteriorado, na BR-319, no Amazonas. E este trecho mostrado na foto - diz aqui - é um dos melhores da rodovia. Totalmente esburacada.

Outro, sobre o novo Aeroporto de Macapá, terra do nosso Senador Papaléo Paes: “Interrompido pela corrupção”.

Mais adiante: “A água demorará a chegar”, sobre a transposição do rio São Francisco.

“Surpreendidos pelo rio”, sobre uma outra obra interrompida: terminais fluviais da Amazônia.

“A usina da discórdia”, sobre a hidrelétrica de Jirau.

“Por enquanto, só trilhos”. É a ferrovia Norte-Sul. Um operário limpa trilhos recém-colocados no Tocantins. É uma obra que vem desde o Governo José Sarney, portanto, não é uma obra idealizada pelo atual Governo, mas caminha lentamente, muito lentamente.

Depois vem a obra de Abreu e Lima: “Sociedade com Hugo Chávez”. E, nessa obra, aquele superfaturamento megalomaníaco, um superfaturamento bilionário, que inspirou a iniciativa da instalação da CPI da Petrobras.

Esse levantamento, realizado pela revista Veja depois de três meses de investigação jornalística, mostra que a parcela do PAC efetivamente paga pelo Governo é ínfima: 14% do total de recursos. São R$646 bilhões anunciados para o programa; só 14% desses recursos saem diretamente do Tesouro. As estatais, como a Petrobras, por exemplo, e outras, são responsáveis por 35,5% dos recursos. São investimentos naturais, corriqueiros, existentes independentemente dessa sigla idealizada para o marketing do Governo, PAC. Isso já existia. Foi incorporado para dar volume ao PAC. Isso, sim, a Ministra deveria excluir ao fazer o balanço e não saneamento e habitação. Os Governos estaduais e municipais, através de financiamentos do BNDES e Caixa, participam com 32% dos recursos. E, finalmente, a iniciativa privada, com 18% dos recursos.

Dos R$646 bilhões, total de recursos, em dois anos e meio, o Governo desembolsou, por meio do Orçamento da União, apenas R$22,5 bilhões, 3,5% do total. Para comparar - sempre é bom ter parâmetro para comparação -, o Governo investiu R$22,5 bilhões, em 2 anos, quando só de infraestrutura - não estou me referindo a obras de saneamento, habitação, etc. - são necessários para o País cerca de US$30 bilhões por ano. Estamos verificando que o Governo investiu, em 2 anos, em todos os programas que estão abrigados no PAC, R$22,5 bilhões, ou seja, apenas 3,5% do total.

Isso importa dizer, Senador Papaléo Paes, é que a letargia é a marca do PAC. A Ministra afirma que 77% das ações estão em ritmo adequado, e não é verdade. A própria revista Veja constatou que, dos 41 maiores projetos do programa, apenas 30% estão dentro do prazo de execução. Os demais se arrastam e, se não receberem investimentos imediatamente, jamais serão concluídos ou extrapolarão, em muitos anos, os prazos previstos de conclusão.

Portanto, é um canteiro de obras virtual. Aquilo que o Senador Mão Santa dizia sobre o Governo do Piauí se aplica para o programa PAC: é virtual, é no computador! O eixo do programa sob responsabilidade direta do Governo, o de logística, é o que apresenta as maiores dificuldades para sair do papel. Nos relatórios oficiais, uma realidade ficcional é anunciada: projeto de trem bala, ligando o Rio a São Paulo; corredor ferroviário bioceânico, ligando Santos a Antofogasta, no Chile; a nova Transnordestina, cortando toda a região Nordeste. O trem bala nem licitado foi; a Transnordestina não tem um metro de trilho colocado; e o corredor bioceânico é uma quimera. Ou seja, é um festival de mentiras assolando o Brasil.

Eu não compreendo como pode o povo brasileiro ser tão paciente, tão generoso, aceitar tudo isso e dar a popularidade ao Presidente Lula que jamais algum Presidente alcançou no País.

E, amanhã, nova pesquisa, terça-feira, vai revelar que o ibope do Presidente aumenta; cresce a popularidade do Presidente. E o Presidente debocha da Oposição; diz que a Oposição é pequena e sem discurso.

A Oposição é pequena, sim, porque a maioria gosta da sombra do poder. A maioria gosta dos afagos dos poderosos; a maioria adora as benesses do poder. Mas há oposição, sim; por minoritária que seja, a Oposição tenta cumprir o seu papel e o seu dever, porque infeliz do país que não tem oposição corajosa.

A única obra em andamento nesse PAC, obra importante, a ferrovia Norte-Sul, foi iniciada em 1987. Em 1987, eu era Governador do Paraná, estava começando o meu mandato de Governador, e o Presidente Sarney iniciou as obras dessa ferrovia. E ela está antes da metade do seu trecho.

No eixo social urbano do programa, o carro-chefe é a transposição do rio São Francisco. Apenas 12% dos recursos foram alocados. No ritmo atual, levarão 15 anos para concluir a obra. As obras de habitação e saneamento patinam. O volume de aplicação dos recursos é de 15% aproximadamente do total previsto. O Programa Luz para Todos, perto de atingir a meta, foi iniciado em 2004.

O eixo de energia do programa caminha. O recurso vem da Petrobras. Aliás, a Petrobras responde por nada mais, nada menos que 28,5% do PAC. Esses projetos não foram concebidos em razão do PAC; seriam implementados de qualquer forma.

Um programa ficcional, canteiros de obras virtuais, obras nas pranchetas dos marqueteiros, na tela dos computadores. Esse é o PAC.

Para concluir, Sr. Presidente, apenas uma referência ao aparelhamento da máquina pública. Enquanto a gestão é temerária, claudicante, as obras não se realizam, a incompetência administrativa se consagra, nós verificamos que uma das causas centrais é exatamente o aparelhamento do Estado brasileiro, o aparelhamento da máquina pública.

Na gestão do Presidente Lula, os DAS, cargos de confiança, que são cobiçados pelos servidores, aumentaram 27,3%. E a estatística aponta que o maior crescimento foi exatamente na faixa dos DAS de melhor remuneração, os cargos de altos salários. Dos ocupantes dos DAS, 25,9% são filiados a partidos políticos, sendo que 80% do PT. Oitenta por cento são do PT. O estudo do perfil dos ocupantes de cargos da administração do Governo Lula foi realizado pela pesquisadora, Camila Lameirão, da Fundação Getúlio Vargas. Não foi a Oposição que investigou esses números. O estudo demonstra esse engajamento.

Olha, agora nós vamos mostrar aqui por que algumas entidades, antes tão ousadas, tão irreverentes, tão agressivas, se transformaram em entidades complacentes, lenientes, omissas, coniventes e cúmplices. Mais de 46% dos participantes, dos que integram o Governo, ocupando esses cargos DAS, são de movimentos sociais; mais de 42% são filiados a sindicatos; mais de 26% participantes de organizações locais; mais de 25%, como já disse, filiados a partidos políticos; 12% são filiados a centrais sindicais; 11,5% são dirigentes sindicais. E eu nunca pensei que dirigente sindical pudesse ter DAS. Dirigente sindical é para ser dirigente sindical, e não assessor no Governo, ganhando remuneração com o dinheiro público. Aí há, parece-me, uma superposição. Há aí um paralelismo. Eu fico em dúvida sobre inclusive a legalidade desse procedimento.

A verdade - eu vou concluir, Senador Papaléo - é que esse apadrinhamento inflou a máquina pública, aparelhou o Governo com objetivos eleitoreiros, transformou a administração pública em verdadeira babel gerencial, puxou para baixo a qualidade da gestão e quem paga o preço é o povo brasileiro.

Esse é o modelo de governar do Presidente Lula.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2009 - Página 22642