Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre pronunciamento feito pelo presidente Barack Obama na Universidade do Cairo, na última quinta-feira.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. MOVIMENTO TRABALHISTA. MOVIMENTO ESTUDANTIL.:
  • Comentários sobre pronunciamento feito pelo presidente Barack Obama na Universidade do Cairo, na última quinta-feira.
Aparteantes
Aloizio Mercadante.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2009 - Página 22938
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. MOVIMENTO TRABALHISTA. MOVIMENTO ESTUDANTIL.
Indexação
  • LEITURA, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), UNIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, EGITO, DEFESA, CONCILIAÇÃO, ORIENTE MEDIO, BUSCA, DIALOGO, COMBATE, TERRORISMO, COMENTARIO, GUERRA, NECESSIDADE, PAZ, ISRAELITA, POPULAÇÃO, PAISES ARABES.
  • CRITICA, CONFLITO, POLICIA MILITAR, SERVIDOR, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), SOLICITAÇÃO, REITOR, GOVERNADOR, SECRETARIO DE ESTADO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIALOGO, GREVISTA, AUSENCIA, VIOLENCIA.
  • COMENTARIO, VISITA, AMERICA CENTRAL, SECRETARIO DE ESTADO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OPORTUNIDADE, ORADOR, ENTREGA, RELATORIO, DEFESA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, PETROLEO, IMPLANTAÇÃO, RENDA MINIMA, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, hoje, falarei a respeito do notável e importante pronunciamento, que teve repercussão no mundo inteiro, feito pelo Presidente Barack Obama, na Universidade do Cairo, na última quinta-feira. Inclusive, esse pronunciamento já foi objeto aqui de análise muito positiva e bem-feita, formulada pelo Senador Pedro Simon, na última sexta-feira. Eu não estava aqui naquele dia, mas quero muito enaltecer as referências que Pedro Simon fez sobre Barack Obama.

Quero, Sr. Presidente, transmitir ao Senador Antonio Carlos Valadares que concordo com as suas palavras sobre a importância da universalização das boas oportunidades de educação como um instrumento importantíssimo para resgatarmos o direito à cidadania para todas as pessoas. Quero lhe transmitir, Senador Antonio Carlos Valadares, no que diz respeito as suas observações sobre o Programa Bolsa Família, que eu sempre conclamo todos os Senadores, Governadores, Prefeitos e Vereadores, que proximamente assumirão os seus postos, que será importante todos considerarem o passo da transição do Programa Bolsa Família para a renda básica de cidadania que se refere ao direito de todas as pessoas neste Brasil usufruírem da riqueza da nação através de uma renda, na medida do possível, suficiente para atender as suas necessidades vitais.

Sr. Presidente, na última quinta-feira, o Presidente Barack Obama fez um notável pronunciamento que gostaria de comentar. Barack Obama falou a respeito das relações entre os povos do Oriente Médio, do Islamismo, da relação entre os povos israelense e palestino e da relação com o Irã, enfim, um pronunciamento importante para compreendermos os seus passos visando construir um mundo melhor.

Vou citar alguns trechos desse longo pronunciamento para comentá-los.

Há mais de mil anos, Al-Azhar constitui um centro de inspiração para a cultura islâmica, e há mais de um século, a Universidade do Cairo é uma fonte de conquistas para o Egito. Ao mesmo tempo, vocês representam a harmonia entre a tradição e o progresso (...) A relação entre o Islã e o Ocidente abrange séculos de coexistência e de cooperação, mas também conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão foi alimentada pelo colonialismo que negava direitos e oportunidades a muitos muçulmanos e por uma Guerra Fria na qual os países de maioria muçulmana muito frequentemente eram tratados como empregados, sem o menor respeito por suas aspirações. A mudança avassaladora trazida pela modernidade e pela globalização levou muitos muçulmanos a ver o Ocidente como um organismo hostil às tradições do Islã. Extremistas violentos exploraram essas tensões em uma pequena, mas poderosa minoria de muçulmanos. Os ataques de 11 de setembro de 2001 e as constantes iniciativas desses extremistas para agir com violência contra os civis fizeram com que, no meu país, muitas pessoas considerassem o Islã como inevitavelmente hostil, não apenas aos Estados Unidos e aos países ocidentais, mas também aos direitos humanos. Tudo isto gerou mais medo e mais desconfiança. Na medida em que nossas relações forem definidas por nossas divergências, estaremos conferindo mais poder aos que semeiam o ódio e não a paz; aos que promovem o conflito e não a cooperação os quais podem ajudar os nossos povos a conquistar a justiça e a prosperidade. Este ciclo de suspeições e discórdias precisa acaba.,[Assinalou o Presidente Barack Obama].

Vim para o Cairo em busca de um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos do mundo todo. Um começo baseado no interesse e no respeito mútuos e baseado ainda na verdade fundamental de que Estados Unidos e Islã não são entidades excludentes e não precisam competir. Ao contrário, eles convergem, compartilham dos mesmos princípios - os princípios da justiça e do progresso; da tolerância e da igualdade de todos os seres humanos.

Estou convencido, [enfatizou Barack Obama,] de que, para seguir adiante, devemos expor abertamente uns aos outros as coisas que guardamos em nossos corações e que, muitas vezes, só são faladas a portas fechadas. É preciso que haja um esforço constante para ouvirmos o que os outros têm a dizer, para aprendermos uns com os outros, para nos respeitarmos mutuamente; e para buscarmos um terreno comum. Como diz o sagrado Alcorão: “Conhece o teu Deus e fala sempre a verdade”. É o que tentarei fazer hoje - falar a verdade da melhor maneira que puder, com uma atitude de humildade diante da tarefa com que nos defrontamos, e firme na minha convicção de que os interesses que compartilhamos enquanto seres humanos são muito mais poderosos que as forças que nos separam.

Parte dessa convicção baseia-se em minha própria experiência, assinalou o Presidente. Sou cristão, mas meu pai pertencia a uma família queniana que tem gerações de muçulmamos. Na minha meninice, vivi vários anos na Indonésia e ouvi o chamado do azaam ao romper do dia e ao pôr-do-sol. Quando jovem, trabalhei com comunidades em Chicago, onde muitos encontraram dignidade e paz em sua fé muçulmana.

Como estudioso da história, também tenho consciência da dívida que a civilização tem para com o Islã.[Mais adiante, ressaltou:] O mesmo princípio deve aplicar-se à percepção de que os muçulmanos têm dos Estados Unidos. Assim como os muçulmanos não se coadunam com um estereótipo grosseiro, os Estados Unidos não são o estereótipo grosseiro do império, que só tem interesse em si mesmo. Os Estados Unidos são uma das maiores fontes de progresso que o mundo jamais conheceu. Nós nascemos da revolução contra o império. Fomos fundados com base no ideal segundo o qual todos os homens nasceram iguais, e derramamos sangue e lutamos durante séculos para dar um sentido a essas palavras dentro de nossas fronteiras e em todo o mundo. Fomos formados por todas as culturas, somos originários de todas as partes da Terra e obedecemos a um conceito simples: e pluribus unum, “a partir de muitos, muitas nações, um” - algo que tem tanto a ver com a nossa própria história, a de nós brasileiros.

Mais adiante, Barack Obama disse: - Por isso fazemos parte de uma parceria de 46 países e, apesar dos custos implícitos, o compromisso dos Estados Unidos não esmorecerá. Na realidade, nenhum de nós tolerará esses extremistas. Eles mataram em muitos países. Mataram pessoas de credos diferentes, mas principalmente muçulmanos. Suas ações são irreconciliáveis com os direitos dos seres humanos, com o progresso das nações e com o Islã. O sagrado Alcorão ensina que, quando alguém mata um inocente, é como se tivesse assassinado toda a humanidade. E o Alcorão também diz que, quando alguém salva uma pessoa, é como se tivesse salvo toda a humanidade. 

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador Eduardo Suplicy, quero parabenizá-lo pela intervenção. V. Exª tem grande sensibilidade por uma cultura de paz, de tolerância, de diálogo, tem marcado sua vida pública com essas atitudes e trata de um tema extremamente sensível da política internacional. Mas eu queria registrar - e sei que V. Exª já tomou iniciativas junto comigo - um tema também sensível que é a greve dos estudantes, funcionários da USP e professores. A Polícia Militar invadiu o campus, teve confronto hoje, bombas de efeito moral, bombas de gás lacrimogênio. Consta nessas informações da Folha on Line que estudantes ficaram feridos nessa intervenção, e eu queria registrar o meu mais veemente protesto em relação a isso. Eu estudei na Universidade de São Paulo no início dos anos 70. Ali nós fizemos uma luta muito dura contra a ditadura militar, organizamos a primeira greve, que foi quando a ditadura, no DOI-Codi, assassinou Alexandre Vannucchi Leme; paralisamos a USP quando mataram Wladimir Herzog; fundamos o DCE livre da USP - eu fui um dos fundadores do primeiro DCE livre do País, em 1975 para 1976. A primeira greve, fizemos em 1973; em 1975, a greve, quando mataram Alexandre Vanucchi Leme. E, apesar de a ditadura ter os seus tentáculos dentro da Universidade, com Dops clandestinos, sequestrando professores e estudantes, torturando, não teve a ousadia de invadir a Universidade com a Polícia Militar. Não houve esse precedente durante todo aquele período, e os embates eram duríssimos contra o governo e a ditadura. Por isso quero registrar o meu mais veemente protesto. A universidade tem que ter a liberdade do campus, tem que ter a tolerância. Ali há um processo de aprendizado, e do aprendizado faz parte o conflito, faz parte saber negociar a manifestação dos estudantes. A gestão da universidade tem de saber lidar com o conflito, tem de ter uma atitude pedagógica construtiva, democrática, tolerante, de buscar o diálogo e a negociação. Não é com intransigência e confronto que vamos resolver greve de estudantes. São próprias da juventude a rebeldia, a manifestação, a luta, a intervenção na vida pública. Por isso, quero registrar que acho que foi uma péssima atitude da reitoria levar a Polícia Militar para dentro da Universidade de São Paulo. Mais grave ainda foi o Governo do Estado de São Paulo permitir que isso possa acontecer numa universidade que é um símbolo do conhecimento, da educação e de valores pedagógicos. Quero registrar essa minha manifestação. Voltarei seguramente, Senador Suplicy, a pedir diálogo, bom senso, equilíbrio e negociação.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Aloizio Mercadante, ainda há pouco fiz uma questão de ordem e um apelo para que a Reitora Suely Vilela, os reitores e professores da Universidade de São Paulo tenham algum tipo de diálogo com o Fórum das Seis, que envolvem todos os professores, servidores e estudantes das três universidades estaduais - USP e Unicamp, da qual V. Exª é professor, e Unesp. Tendo sido estudante na USP, V.Exª sabe dos esforços que temos feito, ao longo dos últimos anos, nessas diversas manifestações.

Na semana passada, por solicitação dos professores do Fórum das Seis, eu ainda telefonei para a Reitora Suely Vilela, pedindo justamente o bom senso, o diálogo, para que se evitasse essa necessidade de tropas da Polícia Militar no campus da Universidade de São Paulo. Quero aqui externar também o apelo ao Governador José Serra,...

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Que foi dirigente...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...ao Secretário da Educação e ao Secretário da Segurança de que a melhor forma é dialogar sobre os impasses, seja sobre as questões de remuneração, seja sobre o funcionário Claudionor, que foi afastado da Universidade exatamente por sua forma de participar tanto desses movimentos. Que haja o diálogo.

Um dos principais ensinamentos que nós aprendemos com nossos professores nos bancos escolares foi justamente realizar diálogos para evitar as formas de violência. Estou justamente aqui lendo o pronunciamento do Presidente Barack Obama, fazendo um grande apelo aos povos do mundo, para que possam construir sentimentos de solidariedade, de respeito mútuo, seja entre os que professam o islamismo, seja entre os que professam o judaísmo, os que professam o cristianismo, e assim por diante, para que possa haver efetiva e real paz no mundo. Pois é justamente ali, nos bancos das principais universidades do nosso País, como a de São Paulo, que esse ensinamento deve prevalecer. E o próprio Governador José Serra, estudante que foi da Politécnica, Presidente da UNE nos anos de repressão...

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Foi estudante da USP, na Poli, ali, do lado da minha faculdade, de Economia, e foi dirigente da UNE, sabe o que representa uma organização estudantil.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Foi Presidente da UNE, então...

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - E o Secretário Paulo Renato, além de ter vivido no Chile, na época da ditadura, no exílio, foi do movimento docente, ele era Presidente da Associação dos Professores da Unicamp, e eu era dos Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Foi reitor da Unicamp.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Foi reitor da Unicamp. Então são pessoas que têm vivência sobre essa problemática. Não deviam permitir que, na história da universidade, houvesse um momento como esse da polícia intervindo, batendo, soltando bomba dentro do campus, que é um espaço que eu diria tem que ser preservado, respeitado na sua autonomia. E é uma escola de ensinamento a universidade. E o ensinamento é também a atitude do diálogo e da negociação sem intransigência e sem violência.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Aloizio Mercadante.

Sr. Presidente, eu vou só assinalar alguns trechos chaves, por exemplo, sobre a questão do Iraque.

Disse o Presidente Barack Obama que, ao contrário do que aconteceu no Afeganistão, a guerra no Iraque foi uma escolha nossa que provocou fortes divergências no meu país e em todo o mundo.

Embora acredite que o povo iraquiano se encontra hoje em melhor situação, sem a tirania de Saddam Hussein, também acredito que os acontecimentos no Iraque lembraram aos Estados Unidos a necessidade de usar a diplomacia e obter consenso internacional para solucionar nossos problemas sempre que possível.

De fato lembramos das palavras de Thomas Jefferson que afirmou: “Espero que a nossa sabedoria cresça com o nosso poder e nos ensine que quanto menos usarmos esse poder maior ele se tornará”.

Eu quero aqui assinalar que, ainda em El Salvador, na segunda-feira da semana passada, ao me encontrar com a Secretária de Estado Hillary Clinton, na posse do Presidente Mauricio Funes, estando ela lá representando o Presidente Barack Obama, eu tive a oportunidade de dar a ela o relatório de minha viagem ao Iraque, em janeiro do ano passado, quando sugeri aos iraquianos que, diante da enorme reserva de petróleo que eles têm, que eles poderiam perfeitamente, como um modo de democratizar e pacificar o país, criar um fundo, como o Fundo Permanente do Alasca, para prover aos 30 milhões de iraquianos uma renda básica, um dividendo igual para todos os seus habitantes, de tal forma que os xiitas, os sunitas, os curdos, os cristãos, os muçulmanos possam viver com melhor entendimento.

Pois bem, o Presidente Barack Obama disse também coisas muito relevantes para que haja melhor entendimento entre os palestinos e os israelenses. É também inegável que o povo palestino - muçulmanos e cristãos - sofreu na busca por uma pátria. Por mais de 60 anos, eles enfrentaram a dor de ser uma população desabrigada. Muitos esperam em campos de refugiados na Cisjordânia, em Gaza e nas regiões próximas por uma vida de paz e segurança que nunca puderam viver. Suportam humilhações diárias, grandes e pequenas, que acompanham a ocupação.

Pois bem, da mesma maneira que o Presidente Barack Obama foi solidário ao judeus pelo Holocausto e, na semana passada, visitou Buchenwald, na Alemanha, ele também expressou o seu interesse importante sobre a paz para os palestinos e o reconhecimento tanto de Israel como da Palestina.

Sr. Presidente, dada a relevância deste notável pronunciamento, agradeceria se puder ser transcrito na íntegra para que eu não precise lê-lo inteiro, ainda que seja de excelente conteúdo.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do inciso I, § 2º, art. 210 do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Discurso de Barack Obama na Universidade do Cairo


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2009 - Página 22938