Discurso durante a 93ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem a Fernando Pedrosa, por ocasião dos seus 90 anos de idade. (como Líder)

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem a Fernando Pedrosa, por ocasião dos seus 90 anos de idade. (como Líder)
Aparteantes
Cristovam Buarque, Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2009 - Página 23287
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, EX PREFEITO, PERSONAGEM ILUSTRE, ATUAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENTREVISTA, ECONOMISTA, ANALISE, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO PRE-ESCOLAR, AVALIAÇÃO, CUSTO, DEFICIENCIA, APRENDIZAGEM, ATRASO, ENSINO, APRESENTAÇÃO, DADOS, VINCULAÇÃO, EDUCAÇÃO, INFANCIA, CULTURA, PAZ, CIDADANIA.
  • NECESSIDADE, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), AUXILIO, MUNICIPIOS, ATENDIMENTO, TOTAL, CRIANÇA, EDUCAÇÃO PRE-ESCOLAR, JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, RELATOR, ORADOR, CRIAÇÃO, PROGRAMA NACIONAL, EXPANSÃO, EDUCAÇÃO, INFANCIA, DEFESA, PRIORIDADE, PREPARAÇÃO, FUTURO, PAIS, PREVENÇÃO, PROBLEMA, CONCLAMAÇÃO, APOIO, SENADOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão da oradora.) - Exmº Sr. Senador Jefferson Praia, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores aqui presentes, antes de tratar do assunto que me traz a esta tribuna, com relação à educação infantil e à atenção à criança, gostaria de fazer uma homenagem a um norte-rio-grandense, uma personalidade ilustre, brasileira, norte-rio-grandense de coração e que, amanhã, 11 de junho de 2009, estará completando 90 anos. Refiro-me ao Sr. Fernando Gomes Pedroza, a quem gostaria de prestar esta singela homenagem, com este pronunciamento.

Em suas nove décadas de vida, não houve aspecto da vida natalense que não tenha sido tocado, direta ou indiretamente, pelas inúmeras atividades desse incansável empreendedor.

Fernando Gomes Pedroza nasceu no Rio de Janeiro em 11 de junho de 1919. Foi lá que passou a infância, a adolescência. Foi também na Capital Federal que concluiu seus estudos secundários no Colégio Santo Inácio e o curso superior na Academia de Comércio do Rio de Janeiro. Carioca de nascimento foi, porém, no Rio Grande do Norte que Fernando Pedroza fincou raízes e plantou seu coração.

Sua capacidade de trabalho logo se manifestou por intermédio de suas atividades na agricultura, na indústria e no comércio.

A Fazenda São Joaquim, propriedade da família Pedroza, tinha tal relevância, que o nome de seus proprietários - pai e filho compartilhavam o mesmo nome - batizou o município de Fernando Pedroza, a 160 quilômetros da capital potiguar.

A partir da década de 40, Fernando Pedroza presidiu e criou inúmeras fundações, associações e entidades filantrópicas no Rio Grande do Norte, entre as quais destaco o Rotary Clube de Natal, o Clube Hípico de Natal, o Aeroclube do Rio Grande do Norte, a Legião Brasileira de Assistência do Estado, a Associação Comercial do Rio Grande do Norte, a Federação Norte-Rio-Grandense de Vela, o Iate Clube de Natal, entre tantos outros.

Sua vida na política não foi menos intensa. Foi Prefeito de Angicos, de 1953 a 1958, mas sua atuação na política local não se restringiu, evidentemente, a esse período. Sempre se envolveu nas questões de sua região e de seu Estado e sempre viu na política um meio privilegiado de melhorar a vida de seus concidadãos.

 Sua liderança extravasou as fronteiras do Município: Fernando Pedroza exerceu várias posições, Sr. Presidente, na Associação Brasileira dos Municípios e representou o Rio Grande do Norte em inúmeras conferências de natureza comercial, industrial e política, no Brasil e no exterior. Além de cidadão honorário de Angicos...

Angicos, inclusive, é a terra de origem da família do Senador Garibaldi Alves, e, dentro de instantes, Senador, eu lhe concederei o aparte.

Além de cidadão honorário de Angicos, Fernando Pedroza e Natal, recebeu a mesma homenagem em Maldonado, no Uruguai, e em seis cidades norte-americanas, entre elas Las Vegas e New Orleans.

Exerceu a filantropia com sua costumeira generosidade, doando milhares de quilômetros quadrados de terras à União e à Igreja. É em terreno doado por ele que se encontra hoje a base de lançamento de foguetes conhecida como Barreira do Inferno, nos arredores de Natal.

Político, comerciante, industrial, agricultor, velejador, cidadão honorário de cidades no Brasil e no exterior, filantropo, tenista, aviador, cavaleiro e, principalmente, cavalheiro - essas são algumas das inúmeras facetas desse brasileiro que nos orgulha a todos.

Concedo, com muito prazer, um aparte ao nobre Senador Garibaldi Alves Filho.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senadora Rosalba Ciarlini, quero associar-me a V. Exª nessa justa homenagem que está prestando a Fernando Pedroza, por ocasião dos seus 90 anos de idade. E V. Exª já disse, no seu discurso, dos serviços prestados por Fernando Pedroza, das obras que ele deixou. Agora, quero, sobretudo, dizer da abnegação desse homem, da dedicação, da sua obstinação em servir a uma região pobre - que conhecemos muito bem, tanto eu como V. Exª -, que sempre se constituiu num desafio, porque Angicos, de cuja terra foi Prefeito Fernando Pedroza, fica na região central do Estado, uma região que sempre apresentou muitas dificuldades para o seu desenvolvimento em face até da falta d’água. E foi aí que nós no Governo fizemos o programa das adutoras, contemplando a cidade de Angicos, mas, muito antes de nós, claro, Fernando Pedroza já enfrentava aqueles desafios, e a sua fazenda São Joaquim foi uma fazenda modelar. Naquele tempo, sabemos que o algodão se constituía numa plantação, num produto altamente valorizado; o desaparecimento do algodão trouxe um colapso às atividades econômicas da região, e homens como Fernando Pedroza, que, mesmo nascido no Rio de Janeiro, veio para o nosso Estado e se fixou naquela região e prestou os serviços que já foram assinalados por V. Exª, merecem as nossas homenagens. Congratulo-me com V. Exª pelo seu discurso em homenagem a Fernando Pedroza.

A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Muito obrigado, Senador Garibaldi. V. Exª conhece, mais do que ninguém, aquela região. Inclusive, a cidade de Fernando Pedroza foi desmembrada do território da cidade de Angicos. Era um distrito, hoje é um Município; praticamente vizinhos, a distância é mínima, são poucos quilômetros.

Fernando Pedroza, que engrandece com seu nome a cidade, ainda continua, apesar da sua idade, a prestar serviços, incentivando os estudantes, premiando os melhores alunos, acreditando que é pelos caminhos da educação que realmente se podem produzir transformações e mudanças.

Desejo ao Dr. Fernando Pedroza um feliz aniversário e quero dizer que é uma grata alegria para todos nós podermos compartilhar da sua amizade.

Queria também fazer uma referência ao Vereador Magno, da cidade de Fernando Pedroza. S. Exª, ontem, ao lado do neto de Fernando Pedroza, esteve no meu gabinete, trazendo-nos algumas reivindicações daquela região - o neto, representando a família de Fernando Pedroza, já agradecia, sensibilizado, a lembrança. É sempre bom que possamos dizer àqueles que fizeram quanto foram importantes os passos dados nos caminhos da vida.

Gostaria aqui, Sr. Presidente - V. Exª me permita -, de tratar de outro assunto.

Acredito que todos devem ter visto a Veja desta semana. As páginas amarelas trazem uma reportagem, uma entrevista com o Prêmio Nobel de Economia, James Heckman.

James Heckman é Prêmio Nobel de Economia, mas na realidade trata nessa entrevista da importância fundamental da educação infantil para o desenvolvimento e para a economia. 

“Quanto antes [diz o prêmio Nobel de Economia] os estímulos vierem, mais chances a criança terá de se tornar um adulto bem-sucedido. [...]

         A educação é crucial para o avanço de um país - e, quanto antes chegar às pessoas, maior será o seu efeito e mais barato ela custará. Basta dizer que tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes também sai algo como 60% mais caro. Pior ainda: nem sempre o aprendizado tardio é tão eficiente. Não me refiro aqui apenas às habilidades cognitivas convencionais, mas a um conjunto de capacidades que deveriam ser lapidadas em todas as crianças desde 3, 4 anos de vida.”

Volto aqui, Sr. Presidente, mais uma vez, a falar na educação infantil, porque é um assunto já comprovado. Estão aqui as pesquisas, que acompanham e que trazem exatamente informações sobre os resultados. Há também estudos da Unicef, que mostram comprovadamente que, nos países onde as crianças têm acesso à educação infantil, elas se tornam cidadãos que constroem a paz. São cidadãos bem-sucedidos, que estão construindo mais paz.

Então, o que precisamos? Meu Deus do Céu, precisamos que o Brasil, que o Ministro da Educação, que tem feito bom trabalho, veja que agora, mais do que nunca, temos de dar condições a que cada Município tenha o espaço para atender a todas as crianças na faixa de educação infantil.

É de fundamental importância começarmos a dar esse passo firme, forte, no início do aprendizado, quando a criança está ali com a mente brilhando para receber todas as informações, para fazer com que elas possam ficar realmente bem gravadas, fazendo parte da formação do seu caráter, da sua personalidade.

Quero dizer inclusive que existe um Projeto de Lei da Senadora Patrícia que cria o Programa Nacional de Educação Infantil para a Expansão da Rede Física, de autoria da Senadora Patrícia mas que eu vou ter o prazer agora, no dia 1º de julho, de relatar na Comissão de Assuntos Sociais, porque considero esse assunto prioritário, importantíssimo.

Quero aqui, com muita honra, conceder o aparte ao Senador Cristovam.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora, essa entrevista foi repercutida aqui, eu próprio fiz o discurso, e é lamentável que ela não esteja sendo lida com rigor, com cuidado pelas autoridades brasileiras em geral. Fico feliz de vê-la trazendo aqui este assunto. É um homem que tem um Prêmio Nobel de Economia, mas que alerta o Brasil para os riscos que corremos. Nesta semana saiu uma outra matéria na revista The Economist, inglesa, dizendo que o Brasil não avançará por culpa do baixo nível de sua educação. É por isso que, nesta semana, quando eu fiz referência a esta entrevista, e vou fazer de novo aqui a proposta, sugeri que o Presidente da República convoque o Conselho de Defesa da República. Que convoque para debater e discutir os riscos que corre a nação brasileira pelo fato de não estar dando a atenção devida à educação. O fato de termos uma população sem acesso à educação corresponde a sermos invadidos por um exército estrangeiro. Um exército que está dentro de cada um de nós pelo despreparo que temos para enfrentar os desafios do futuro, da construção de uma grande nação. Por isso fico feliz de vê-la também trazendo este assunto, e não acho nada estranha a sua presença, pela sua defesa sempre constante da educação, especialmente da pré-escola. Volto a insistir que mais importante que o pré-sal é a pré-escola para o futuro do Brasil. Muito mais importante, até porque o pré-sal um dia acaba e, quando ele acabar, vai-se precisar de alternativas. Essas alternativas virão da ciência. A ciência vem da universidade, que vem do ensino médio, que vem do ensino fundamental, que vem da pré-escola. Mas, entretanto o Brasil inventou essa loucura de que vai investir em pré-escola depois que tiver o dinheiro do pré-sal. Confesso que nunca vi tanta maldade ou tanta estupidez junta quanto dizer que é preciso esperar o dinheiro do pré-sal para poder investir na educação.

A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Muito obrigada, Senador Cristovam Buarque. V. Exª., com o conhecimento, com a experiência que tem, como defensor que tem sido intransigente na questão da educação, quero aqui dizer que realmente, desde que li essa matéria, que digo: meu Deus do céu, realmente essas autoridades brasileiras precisam ler, refletir, e não podemos esperar o pré-sal, não.

Cada segundo perdido no desenvolvimento de uma criança não se recupera, não se recupera. Não podemos mais deixar esse tempo passar. Não podemos mais pensar em alfabetizar adultos e jovens. Vamos fazer mais do que nunca com que nossas crianças, os pequeninos, possam ter a sua pré-escola digna, a sua pré-escola levando informações, estimulando cada vez mais o aprendizado, estimulando cada vez mais para que eles possam se desenvolver bem e crescer como cidadãos de bem e de sucesso.

Agora, os filhos dos que podem pagar, com certeza, estão tendo a pré-escola - claro! Mas a maioria dos brasileiros precisa da escola pública e se não tiver a boa educação, a boa informação, o que vai ser desses brasileiros no futuro? Quantas e quantas vezes nós aqui ficamos a debater a idade criminal do jovem? Quantas e quantas vezes nesta Casa nós ficamos aqui indignados com a violência, com a droga que é crescente? E o caminho só tem um: atender a infância, fazer com que a criança seja realmente bem protegida, bem educada, porque assim nós iremos construir esse mundo, e será a um custo muito menor. Está aqui comprovando: 60% mais caro passar esses ensinamentos na fase da juventude e na fase adulta. Então, o Brasil precisa.

Estamos em crise? Vamos aprender com a crise a fazer economia. Vamos aprender com a crise a valorizar aquilo que realmente vai perdurar para o futuro do nosso País.

Vamos aprender com a crise, que as dificuldades nós saberemos vencer muito mais com as pessoas muito mais preparadas. Tenho exemplos que mostram que o nível educacional é fundamental em vários setores da vida, na própria saúde. Onde está a mortalidade materna, os números maiores de mortalidade materna? Exatamente naquelas mulheres que têm nível educacional menor. Então, mais uma prova. Influi na saúde, influi em todos os setores e, principalmente, na economia.

Nós queremos um país forte. Nós queremos um país justo. Queremos um país de paz. Então vamos fazer com que as nossas crianças tenham suas creches, todas as crianças tenham uma pré-escola. Vamos sair desse patamar de apenas 14% das crianças na pré-escola. Vamos sair desse patamar de apenas 10% das crianças que não têm acesso a uma creche paga ... poderem estar na creche... 

E deixo aqui mais uma vez este apelo: vamo-nos somar, evoluir e mostrar que os recursos no Orçamento para a educação infantil têm que ser crescentes, têm que ser cada vez maiores, e não acontecer de ter que esperar para o pré-sal. Quando é que vamos ter realmente os recursos do pré-sal? Será que até lá esses recursos não estarão comprometidos com tanta coisa - porque em tudo só se fala no pré-sal. Vamos falar no hoje. Educação, sim, e acesso às nossas crianças.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Modelo1 6/30/246:14



Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2009 - Página 23287