Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de artigo do jornalista Carlos Chagas sobre a causa maior do aumento da criminalidade do Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESEMPREGO.:
  • Leitura de artigo do jornalista Carlos Chagas sobre a causa maior do aumento da criminalidade do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2009 - Página 19066
Assunto
Outros > DESEMPREGO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, DENUNCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, CRESCIMENTO, DESEMPREGO, MOTIVO, AUMENTO, CRIME, BRASIL, DEFESA, URGENCIA, ADOÇÃO, POLITICA DE EMPREGO.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Nossos cumprimentos. O professor Cristovam Buarque mostrou sua reflexão sobre o plástico do motorista. E eu estava atentamente ouvindo V. Exª e aprendi muito.

            Mas, Cristovam, na terça-feira, eu estive no Rio de Janeiro, onde fui homenageado pelo Instituto Biosfera, que cuida do meio ambiente, cheio de professores, biólogos. O mais importante é que o motorista do táxi - motorista também - estava preocupado, porque amanheceu no bairro dele, no Complexo do Alemão, um tiroteio. Ele disse: “Fiquei apavorado, acordei e era bala para todo mundo”. “Onde é que você mora?”, perguntei. “Complexo do Alemão”, esse que a gente só vê na televisão e tem até medo de ir. Ô Zambiasi, nós que gostamos de conhecer essas coisas. Era um rapaz novo, e eu perguntei: “Vem cá: como é lá?” Atentai bem! Isso é para o Presidente Luiz Inácio. Nós estamos aqui para ensinar, como ele aprendeu com a reflexão do motorista, com aquele slogan “tenho vergonha dos políticos”. Aí eu disse: “E como é lá?” “Não, eu moro lá; eu gosto de lá; eu nasci lá; minha família...” E perguntei: “Esses não são terroristas, não?” “Não são, não. Eu nasci lá. Meu pai era pernambucano, mas casou, morei lá desde menino. São tudo gente boa. Eu os conheço, jogo bola com eles, jogo baralho com eles. Eles não têm, vamos dizer, maldade, caráter mau; eles apenas não têm é um trabalho, um meio de vida. São todos meus amigos, nos respeitam. Eu sou casado, tenho filho. Está entendendo? É a falta de trabalho”.

            E vendo isso, então, em respeito ao Zambiasi, eu queria terminar e ler para o Presidente Luiz Inácio o que Carlos Chagas diz dessa violência, que coincide com a descrição desse jovem. Ele disse que gosta, que são amigos dele: “São meus amigos, jogo bola com eles, convivo, apenas eles não têm outro ganho, eles não têm trabalho. Então, a única maneira de ganhar um dinheirinho é vendendo os cracks [que o Zambiasi denunciou], a maconha, e tal”.

            Mas o que diz Carlos Chagas? Que isso chegue ao Presidente Luiz Inácio. O Zambiasi, que adentra aqui e é da Base do Governo, aliado; eu não sou tão aliado assim, mas sou do PMDB. Cristovam também. Olhem o que diz Carlos Chagas, essa figura, jornalista, vivida, sofrida, que conhece:

A causa maior do aumento da criminalidade reside no desemprego verificado no país desde outubro do ano passado [porque aumentou, diz a reportagem dele; que aumentou mesmo a criminalidade]. Ainda que o Governo esconda os números reais, pelo menos dois milhões de trabalhadores foram postos na rua da amargura, por conta da crise econômica. [Você tem que ver a verdade; é como V. Exª. Luiz Inácio fica mais... Esconde a verdade] E continuam sendo. A imensa maioria dos desempregados recorre às ínfimas reservas mantidas, às parcas indenizações recebidas, ao salário-desemprego e à caridade de amigos e parentes, mas um percentual cada vez mais perigoso, inflado pelo desespero, leva parte dos dispensados a apelar para o crime. Claro que não poderiam nem deveriam agir assim, mas diante da fome dos filhos e da falta de perspectivas para encontrar novos empregos, optam por retirar da sociedade aquilo que a sociedade lhes vem negando. Assaltam, roubam, sequestram, matam e são mortos por falta de alternativa. Por certo que razoável número de bandidos age assim por índole, mas a maior parte, mesmo sem razão ou justificativa, o faz por desespero.

Adiantará aumentar o número de policiais nas ruas? Nem pensar, porque os órgãos de segurança crescem no máximo em proporção aritmética, enquanto os criminosos, no mínimo, em proporção geométrica.

Fazer o quê? Para começar, extinguir o festival de publicidade oficial, aceitar os números verdadeiros e atacar o mal pela raiz, ou seja, adotar uma política de criação de empregos. Nem que seja para levar um grupo a abrir buracos e outro para fechá-los, logo em seguida. Em vez de dinheiro público para bancos e empresas falidas, que tal repetir o New Deal de Franklin Rooosevelt?

Então, coincide...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Permita-me, Senador?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pois não.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ótimo que o senhor tenha lido esse artigo, excelente, do Carlos Chagas, que é uma grande figura.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Carlos Chagas, nessa revista de Brasília.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2009 - Página 19066