Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Expectativa com relação ao anunciado pronunciamento do Senador José Sarney, Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, sobre as denúncias que pesam sobre a Casa.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Expectativa com relação ao anunciado pronunciamento do Senador José Sarney, Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, sobre as denúncias que pesam sobre a Casa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/06/2009 - Página 23715
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, PRONUNCIAMENTO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, ESCLARECIMENTOS, CRISE, LEGISLATIVO, DENUNCIA, IMPRENSA, IRREGULARIDADE, REGISTRO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEFESA, INVESTIGAÇÃO, EXTINÇÃO, ATO, CARATER SECRETO.
  • CRITICA, CONDUTA, SERVIDOR, DESRESPEITO, TASSO JEREISSATI, SENADOR, MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, INQUIRIÇÃO, EX-DIRETOR, SENADO, REPUDIO, ABUSO DE PODER, CHANTAGEM, CONGRESSISTA, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, TRANSMISSÃO, SESSÃO, EMISSORA, TELEVISÃO.
  • COMENTARIO, POSIÇÃO, ORADOR, PERIODO, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA, SENADO, APOIO, TIÃO VIANA, SENADOR, POSSIBILIDADE, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está anunciado que, conforme seria de se esperar de um homem público do quilate de um ex-Presidente da República, o Senador José Sarney comparecerá à tribuna da Casa para prestar contas à Nação e aos seus Pares acerca de tantos fatos deletérios para a imagem da Casa que ele preside, o Senado Federal e o Congresso Nacional.

O PSDB tem a decisão muito firme, muito clara de não abrir mão de ir até o mais fundo nas investigações que provarão as culpas eventuais ou resgatarão as inocências provadas. O PSDB tem a definição de defender a instituição e a determinação de não se misturar com os que praticaram ao longo de 15 anos os malfeitos que, sem dúvida alguma, denegriram a imagem de um dos pilares da democracia brasileira, que é o Senado Federal, perante a opinião pública. Vamos aguardar o pronunciamento de S. Exª, o Presidente José Sarney, reservando-nos o direito de, eventualmente, comentá-lo, fazer sugestões. Mas algumas coisas esperamos de S. Exª: que seja absolutamente firme, que seja Presidente, que dê nome aos bois, que declare a anulação dos atos secretos, que diga com nitidez que realmente é capaz ainda de renovar os costumes praticados nesta Casa e é capaz ainda de exercer a autoridade que levaria à renovação dos quadros dirigentes desta mesma Casa do Senado Federal.

A Nação aguarda o pronunciamento de S. Exª, e o PSDB também.

Temos tido notícias, Sr. Presidente, absolutamente constrangedoras.

O Senador Sérgio Guerra me disse, e algo aconteceu parecido com o Senador Tasso Jereissati, que passaram por funcionários - o Senador Tasso Jereissati se encaminhava para a inquirição ao ex-Diretor Agaciel Maia - e teria havido um gesto de alguns servidores da Casa, que se imaginam fiéis ao ex-Diretor, como se se tratasse de um partido político, que teriam virado de costas para o Senador. Isso é literalmente o fim da linha! Isso é literalmente o fim da linha! Se eu perceber que eu estou passando por um corredor desta Casa, Senador Jarbas Vasconcelos, e um funcionário se vira de costas para não falar comigo, esse funcionário vai ser suspenso imediatamente. Vou pegá-lo pelo braço e vou exigir que seja suspenso imediatamente. Não vou permitir uma inversão hierárquica que desmoralize ainda mais esta Casa.

Nós, portanto, sabemos dos interesses que estão enquistados aqui. Sabemos dos privilégios, sabemos das ilicitudes, sabemos dos interesses enraizados, dos privilégios enraizados. Sabemos como é difícil mudar. Desta tribuna, eu adverti à Senadora Marisa Serrano, ao Senador Sarney, que estava sentado na cadeira que lhe honra, essa segunda cadeira na primeira fila, as razões pelas quais eu não votava em S. Exª. E eu que não sabia metade da missa da qual sei apenas um pouco, disse: “Presidente Sarney, não voto em V. Exª, sem nenhum desapreço pessoal, até V. Exª me merece todo apreço pessoal, porque V. Exª não vai mudar o que está aí no Senado.” V. Exª se lembra muito bem do que eu disse. “V. Exª não vai mudar, por exemplo, o Sr. Agaciel Maia da Direção-Geral da Casa. Por isso, resolvi votar no outro candidato, o Senador Tião Viana, que assumiu o compromisso com os dez pontos que o PSDB a ele apresentou.”

Eu não imaginava que iria tão longe esta crise. Chego a dizer, Senador Jarbas Vasconcelos, que nem sei, Senador Marconi Perillo, se o Senador Tião Viana tivesse vencido a eleição, nem sei se a mudança seria tão forte, tão expressiva, tão radical quanto ela será, inevitavelmente, depois da posse do Senador José Sarney, porque há um processo irreversível que só vai acabar quando o Senado for outro. Talvez o Senador Tião Viana trocasse o Agaciel e colocasse outro, e aí viria uma queixa de um e o pedido não sei de quem, e nós ficaríamos naquela água meio parada, enfim, e o Senado não se alteraria tão profundamente.

Se eu posso fazer uma análise sociológica do momento que vivemos, talvez este seja o grande momento, a grande oportunidade para o Senado renovar os seus costumes e tornar-se uma instituição modelo a partir da crise aguda que se instalou imediatamente após a posse do Presidente José Sarney. A crise aguda que se instalou.

O Senador João Tenório foi vítima hoje de uma felonia. Fazendo alusão ao Senador Teotônio Vilela, alguém vazou, entre os tantos criminosos que vazam notícia nesta Casa - e criminoso é para ser demitido; não é para ser coisa alguma na Casa -, que o Senador João Tenório teria demitido alguém que teria sido preso numa investigação da Polícia Federal; alguém que teria trabalhado na assessoria do atual Governador e ex-Senador Teotônio Vilela teria sido preso e teria sido demitido do Gabinete do Senador João Tenório por via de um boletim secreto. O Senador João Tenório tem a prova de que não há nada de secreto, que foi boletim aberto, sim, muito claro, e a pedido do Senador João Tenório; a mesma pessoa que hoje não mais trabalha com o Governador Teotônio Vilela.

O Senador João Tenório tem a prova disso.

Pergunto: quem vazou mais essa notícia? É o mesmo grupo, a mesma laia de gente que tem intimidado tantos Senadores. É a mesma laia de gente que tem sido responsável por uma sessão vazia em que se vai inquirir o Sr. Agaciel Maia, que tem todas as razões de achar que é uma pessoa muito poderosa. O Sr. Agaciel Maia tem todas as razões, Presidente José Sarney, de achar que é uma pessoa poderosa, porque ele consegue meter medo em Senadores. Ele consegue com que uma inquirição dele não seja transmitida pela TV Senado, quando as transmissões da TV Senado são para tudo, até para abertura de vernissage de escultor aqui. A forma como é tratado.

Não sei se V. Exª sabe, mas viraram de costas para colegas nossos que iam à sessão de inquirição ao Senador... Ao Senador? Até eu já estou me curvando ao Sr. Agaciel Maia. Ao Sr. Agaciel Maia, enfim. Eu já disse claro que, se passo por um funcionário desta Casa, e ele se vira de costas para mim, vou pegá-lo pelo braço e arrancar uma suspensão para ele na hora, porque nenhum funcionário desta Casa vira de costas para o Senador que sou. Nenhum. Eu não aturaria uma desmoralização dessa, eu não aturaria que a Casa passasse por isso mais.

Por isso, Senador Sarney, é que digo a V. Exª que estou aqui ansioso por ouvir de V. Exª as palavras do homem que conduziu o Brasil das trevas da ditadura à democracia numa transição democrática que, a meu ver, coloca seu nome sob um aspecto muito bom na história brasileira. Estou aqui para ouvi-lo, eventualmente comentar, eventualmente criticar e eventualmente aplaudir. Mas, acima de qualquer apreço pessoal, tenho apreço pela instituição que é aquela à qual V. Exª serve já há 30 e tantos anos e eu já sirvo há quase sete anos. Tenho apreço pela instituição.

Eu quero que a instituição saia bem deste episódio; eu quero que a instituição saia de cabeça erguida deste episódio; eu quero que a instituição saia acima de qualquer um de nós.

Se alguém me convencer de que eu faço mal a esta instituição, eu saio da instituição agora. Eu não quero permanecer numa instituição à qual eu porventura faça mal. Eu quero que do discurso de V. Exª saia o Senado que vire uma instituição modelo para o País, uma instituição enxuta, honrada, em que não caiba mais a direção nem por Parlamentares que porventura se mostrem escusos, nem por diretores que sejam claramente escusos, Parlamentares que tenham aquela cabeça de capo di tutti i capi, porque isso aqui não pode ser confundido com Máfia, nem com Camorra, nem com nada ilegal.

O Senado tem que voltar à luz do dia, as janelas têm que se abrir, o ar puro da decência tem que voltar a imperar, as chantagens têm que acabar. O Senador chantageado hoje foi o Senador João Tenório. Nós temos que acabar com tudo isso.

Eu começo dizendo a V. Exª que é com expectativa positiva, com reverência, com respeito que vou me sentar para ouvir o seu pronunciamento, eventualmente comentá-lo; mas com muita expectativa. Eu tenho certeza de que será um pronunciamento presidencial, de um Presidente que vai, neste momento, dizer que a Casa tem rumo, que a Casa não vai virar uma mazorca, porque há quem não se conforme que a Casa vire uma mazorca; o meu Partido não se conforma que a Casa vire uma mazorca e eu não me conformo que a Casa vire uma mazorca.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/06/2009 - Página 23715