Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre entrevista concedida pelo Procurador-Geral da República ao jornal Folha de S.Paulo, da última segunda-feira.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JUDICIARIO.:
  • Comentário sobre entrevista concedida pelo Procurador-Geral da República ao jornal Folha de S.Paulo, da última segunda-feira.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2009 - Página 24002
Assunto
Outros > JUDICIARIO.
Indexação
  • PROXIMIDADE, SAIDA, CARGO PUBLICO, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, ELOGIO, COMPETENCIA, GESTÃO, COMENTARIO, ENTREVISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LEITURA, TRECHO, ESPECIFICAÇÃO, REPUDIO, TENTATIVA, RESTRIÇÃO, TRABALHO, MINISTERIO PUBLICO, OPOSIÇÃO, INICIATIVA, CONGRESSO NACIONAL, CRIAÇÃO, OBSTACULO.
  • SOLIDARIEDADE, NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, DIRETRIZ, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ATUAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, GARANTIA, SEGURANÇA, POPULAÇÃO, CONTROLE, GESTÃO, SETOR PUBLICO.
  • DEPOIMENTO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, PROCURADOR DA REPUBLICA, ESTADO DO ACRE (AC), TENTATIVA, PREJUIZO, PROCESSO, LICITAÇÃO, FAVORECIMENTO, CRITERIOS, POLITICA PARTIDARIA, OCORRENCIA, PUNIÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, COMPROVAÇÃO, EXISTENCIA, CONTROLE INTERNO, DESNECESSIDADE, RESTRIÇÃO, AMBITO, LEGISLAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pra uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz hoje à tribuna, rapidamente, é o propósito de comentar uma entrevista concedida pelo Exmº Procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza, à Folha de S.Paulo, publicada na segunda-feira.

O Dr. Antonio Fernando de Souza está prestes a deixar a chefia do Ministério Público. Eu confesso, Senador Sarney, que me sinto muito à vontade para comentar a entrevista do eminente Procurador-Geral da República neste momento exatamente porque ele já vai sair. Em outra ocasião eu não sei se abordaria a questão e destacaria o tópico da entrevista que pretendo destacar, porque fazer isso no exercício do mandato dele poderia parecer falso elogio, poderia parecer falsa reverência a quem tem a competência de nos processar, de nos denunciar por eventuais falhas ou até por crimes cometidos.

O que importa Senador, é uma recomendação que faz o eminente Procurador-Geral da República nessa entrevista, em relação às tentativas que são feitas no sentido de tolher o trabalho, a ação e as iniciativas do Ministério Público.

O Procurador Antônio Fernando de Souza, em uma entrevista serena, tranquila, firme, disse, provocado pelo jornalista Alan Gripp, da sucursal de Brasília, da Folha - esse recado é para o Congresso Nacional: “Não queiram amordaçar o Ministério Público”. É uma recomendação muito clara. Só quem poderia legislar, no sentido de criar óbices, obstáculos, empecilhos e mordaça ao Ministério Público seria o Congresso Nacional. Há iniciativas nesse sentido, o que lamento profundamente. A atual configuração do Ministério Público do nosso País tem, como teve após a Constituição de 1988, um grande avanço democrático. A atuação do Ministério Público tem transferido para a população brasileira maior segurança notadamente no controle da gestão pública. Atribuo à atual configuração do Ministério Público, atribuo às atuais competências do Ministério Público, Presidente Collor, essa tranquilidade que é passada à população brasileira de que, notadamente, a gestão pública está sendo devidamente fiscalizada, olhada com o maior cuidado e com o maior rigor. A recomendação que faz o Sr. Procurador-Geral da República: “Não queiram amordaçar o Ministério Público”, é uma recomendação da maior gravidade. Ele chega a dizer, com a sua lucidez...

O repórter pergunta: “O senhor está se referindo à chamada Lei da Mordaça?”

Tem um projeto na Câmara que já foi denominado de Lei da Mordaça, do Ministério Público. Ele disse:

Sim, temos em torno de 20 mil membros do Ministério Público do Brasil. Apontam-se os mesmos cinco, dez casos em que teria havido exagero. Será que é razoável criar um obstáculo ao trabalho da instituição por isso? Esse projeto é um desserviço à sociedade”. Há mecanismos para responsabilizar quem exerce mal a sua atribuição. O que se quer é criar um impedimento à instituição.

Ele está correto, ele está certíssimo. E se o Congresso Nacional cair nessa esparrela de criar ou de autorizar a instituição de óbices, de obstáculos, de empecilhos ao trabalho do Ministério Público no nosso País, eu temerei pelo futuro desta Nação. Quando o Procurador diz que há mecanismos para responsabilizar aqueles que exorbitam de suas atribuições, ele sabe de casos concretos. E eu também sei.

Senador Collor, vou relatar aqui um caso - apenas um caso - que eu vivenciei. Anos atrás, em 1996, quando eu atuava aqui em Brasília como Procurador da Fazenda Nacional, o Ministério da Fazenda resolveu construir, na Capital do meu Estado, o prédio-sede do Ministério da Fazenda. Houve uma licitação. Uma determinada empresa venceu a licitação. E, diga-se de passagem, o titular dessa empresa era um político atuante no Estado. Naquele exato momento, atuava no meu Estado um Procurador da República tido como uma figura ligada ao PT. Isso era dito e acabou transparecendo que sim. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional pediu-me que fosse ao meu querido Estado do Acre dar assessoria jurídica à representante do Ministério da Fazenda no Estado encarregada de todo aquele imbróglio, inclusive no processo licitatório.

Eu fui lá, Senador Collor, e verifiquei que no processo licitatório haviam falhas sanáveis, mas nenhuma que inquinasse de nulidade o processo licitatório.

Fui convidado por esse Procurador da República a comparecer em seu gabinete e ele me interpelou acerca do parecer que eu iria oferecer ao Ministério da Fazenda e eu relatei na maior simplicidade:

Sr. Procurador, a questão é essa, a licitação foi feita corretamente, a empresa ganhou legitimamente, há falhas sanáveis no processo, mas nada que inquine de nulidade o processo licitatório.

Ele virou para mim e disse: Você nem parece que é acreano.

Eu disse: Como assim? Você sabe de quem se trata? Você sabe quem é o dono da empresa?

Eu disse: Procurador, eu estou aqui na condição de Procurador da Fazenda Nacional. As minhas ligações políticas aqui no Estado não estão em cogitação neste caso. Eu vim aqui com a minha consciência jurídica, com a minha obrigação profissional de dizer a verdade dos fatos para o Ministério da Fazenda e para o órgão ao qual sirvo.

Ele ficou indignado, Senador. Olhou para mim e disse: Eu estou achando que eu sou mais acreano que você.

Na verdade o intuito dele era, como se diz no jargão popular, melar a licitação, porque o titular da empresa era um cidadão de grande atuação política no Estado, tido naquele momento como adversário das forças políticas que estavam no poder. Resultado de tudo isso, Senador Collor: depois de se envolver em vários casos dessa natureza, esse mesmo Procurador da República mereceu, a partir de sua atuação desastrada, o ostracismo. Ele hoje é uma figura que o País talvez nem lembre mais de quem se trata.

Trago esse exemplo à baila para mostrar que o Procurador-Geral da República tem absoluta razão. Há mecanismos. O próprio Ministério Público tem mecanismos de punir os que exorbitam da sua função. Esses que assim o fazem acabam escorregando na vala que leva aqueles irresponsáveis a serem punidos dentro do seu órgão ou pela própria sociedade.

Portanto, quero aqui parabenizar o Procurador-Geral da República na hora em que está deixando o cargo, pela sua atuação. Ele não se revelou engavetador de processos. Mereceu inclusive o respeito do próprio Presidente da República após ter denunciado quarenta camaradas do próprio Presidente da República no processo do mensalão e é uma pessoa que merece respeito da sociedade brasileira e da comunidade jurídica brasileira.

Portanto, deixo aqui ressonando em nossos ouvidos a recomendação que faz o eminente Procurador-Geral da República que logo mais deixará o cargo. Não queiram amordaçar o Ministério Público. É uma recomendação dirigida a nós parlamentares, tanto Deputados Federais como Senadores. É uma recomendação que acho que deve ser considerada por todos nós.

Obrigado, Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2009 - Página 24002