Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a crise por que passa o Senado Federal. Recomendação ao Senador José Sarney para que se afaste da Presidência do Senado.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Reflexão sobre a crise por que passa o Senado Federal. Recomendação ao Senador José Sarney para que se afaste da Presidência do Senado.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Geraldo Mesquita Júnior, Heráclito Fortes, Jayme Campos, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2009 - Página 27336
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • DEFESA, OPORTUNIDADE, AVALIAÇÃO, CRISE, SENADO, NECESSIDADE, AFASTAMENTO, PRESIDENTE, VIABILIDADE, IMPARCIALIDADE, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Já somos seis, Sr. Presidente, que eu sei. Para 45 milhões, faltam 44.999.994, mas chegaremos lá.

Sr. Presidente, subo a esta tribuna num momento realmente muito delicado da história deste Senado. Este é um momento que, digamos assim, é fruto de uma série de dúvidas e de equívocos, e sou responsável por muitos. Esta Casa se encontra no ápice de uma crise, e o Brasil inteiro olha para esta Casa de uma maneira como eu ainda não tinha visto. A classe política é vista de uma maneira muito, muito dura pelo povo! Nunca vi um olhar tão magoado, tão machucado, tão triste quanto esse com que o povo brasileiro tem olhado para esta Casa! Sou um dos Senadores que recebe muitas, muitas mensagens, diariamente. Estou caindo em depressão com o exagero destas mensagens: “O que V. Exª está fazendo aí, Senador? Vá para casa! Não há solução! O Senado tem de fechar mesmo! Para que Senado?”. As charges que nosso ilustre Presidente Sarney e o Senado recebem diariamente em todos os jornais do Brasil são duras e pesadas. O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, permanentemente, tem uma, duas ou quatro páginas endereçadas ao Senado e, já há algum tempo, em cima da página, não coloca “Senado Federal”, mas, sim, “A Casa dos escândalos” e publica as notícias.

Creio que está na hora de pararmos para conversar, para analisar e para refletir. Penso que a questão aqui é muito delicada apenas para cobrar “quem é?” ou “é este ou aquele?”. Em relação aos 81 Senadores e aos oitenta que passaram por aqui nestes últimos dez anos, nunca foi tão certa a frase bíblica “ninguém pode atirar a primeira pedra”. Ninguém pode dizer “não fui eu”; ninguém pode dizer “foi ele”. Há uma responsabilidade coletiva. Mas o triste, Sr. Presidente, é que, hoje, não há apenas um sentimento de mágoa, mas há também o sentimento de sermos considerados mortos e de que só falta sermos enterrados. O pior é que eles não têm expectativa, pois, a cada dia, há uma manchete diferente. E eles não têm expectativa. Alguns dizem: “É a imprensa! É a imprensa!”. Eu não aceito isso. Vi a luta da imprensa contra a ditadura e como ela, com todas as dificuldades, ajudou-nos a impor a democracia.

Penso que temos de começar a fazer alguma coisa. Aí haverão de me responder: “Mas já estão fazendo. Já demitiram um Diretor-Geral, o segundo Diretor-Geral; já tomaram providências, com uma comissão, com outra comissão”. Mas, até agora, parece que nada valeu.

Digo aqui com profundo sentimento de mágoa - e eu não gostaria de dizer o que vou dizer: o Presidente Sarney tem de se afastar da Presidência. Lá no início, já disse isso, não da tribuna, não na imprensa. Mas falei isto: o Presidente Sarney deve se afastar desse processo, para o bem dele, da família dele, da sua história e deste Senado. Não é que a saída dele signifique autoculpa, não é que a saída dele signifique ele aceitar que é o responsável e que, por isso, está saindo. Pelo contrário, a saída dele representa um ato de grandeza, significa um ato importante de quem, para fazer isso, tem a tranquilidade de que pode ter feito o que fez, mas que fez muitas coisas boas, sem que a má-fé fizesse parte do seu programa.

Há um mês, eu dizia: “É melhor o Presidente Sarney sair antes que ele seja obrigado a sair”. Hoje, repito: é bom que o Presidente Sarney largue a Presidência do Senado antes que sua situação na Presidência do Senado fique totalmente insustentável. Ele tem de sair. Essa crise, dizem, vem de quinze anos. Há quinze anos, foi o primeiro mandato de Sarney como Presidente do Senado, numa eleição em que parecia que quem ia ganhar era o Senador Íris Rezende, que, no dia da reunião da bancada, veio com roupa nova e com discurso pronto. Os votos lhe eram garantidos. No entanto, telefonemas do Presidente Fernando Henrique Cardoso, à época, a Parlamentares, inclusive do Centro-Oeste, ali, do lado de Goiás, à última hora, mudaram o voto, e elegeram o Sarney.

Ele foi Presidente. Nada lembro de anormal na sua Presidência. Ele escolheu para a Direção-Geral da Casa o Sr. Agaciel Maia, um homem que tinha boa credibilidade na Gráfica, uma instituição que tinha boa aceitação. Sarney ficou na Presidência por dois anos e, depois, saiu. Todos os seus sucessores... Aliás, eu gostaria de saber onde é que está o Líder do PMDB, o Senador Renan Calheiros, com todas essas notícias, com todas essas manchetes. Ele, que a imprensa aponta como superpoderoso, deveria acompanhar essa questão, deveria estar aqui para nos orientar, para dizer, para falar. Em algum lugar, ele deve estar.

Depois dele, todos os Presidentes do Senado - Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Renan Calheiros - foram amigos pessoais dele. Ele voltou uma segunda vez, foi reeleito. E, como os anteriores, manteve o Diretor-Geral. Deu uma confusão: três Presidentes renunciaram, para não serem cassados. Três Presidentes do Senado renunciaram. Os que vieram no lugar dele mantiveram o Diretor-Geral. E voltou Sarney pela terceira vez.

Manteve o Diretor-Geral. Hoje, a pergunta que se faz: não é importante ter na Presidência do Senado uma pessoa que não tenha nada a ver com tudo que aconteceu nesses últimos 15 anos, aqui no Senado?

Se verificarmos, acho muita injustiça e exagero. O Senador Sarney diz que ele é motorista, a imprensa diz que ele é mordomo. Agora, é um outro neto. E, pela biografia e pela história que ele apresenta, é de a gente ter admiração, carinho e até uma inveja cristã da formação, da qualidade, da competência desse jovem que se formou em Paris, na Sorbonne, e nos Estados Unidos, em Harvard, é uma pessoa fantástica. Mas a imprensa está apontando como alguém que fez a sua ação dentro do Senado Federal, presidido pelo seu avô.

Só isso é fácil de entender. A biografia do rapaz é espetacular, a atividade dele também, mas, se nós vamos apurar o que o Estadão e a Folha botaram em manchete - é o que deve ser feito - não é bom que o avô esteja na Presidência. Não fica bem para ele, não é interessante para ele.

Já se tem que ver o mordomo que dizem que é da filha, e ele diz que é motorista do Senado, mas tem que ver.

A cada dia tem uma manchete. A cada dia tem uma questão diferente.

Olhe, estou com elas aqui. Não vou lê-las, não vou lê-las. Mas estão todas elas aqui. Agora, com o negócio do mordomo, só falta aparecer uma novela. O culpado é o mordomo. É o que a imprensa está colocando: a culpa é do mordomo.

Não pode. Há um sentimento de que realmente, ao contrário do que dizia o querido Senador Darcy Ribeiro, que o Senado é melhor do que o céu porque, para ir para o céu, tinha que morrer e, para vir para o Senado, não precisava morrer, o Senado hoje não tem nada de céu. Não há lugar mais triste de estarmos do que aqui no Senado. Ninguém confia em nós. Ninguém acredita que esta Casa vai fazer alguma coisa. 

         Somos 81 Senadores, mais de nove mil funcionários. E aí todo mundo pode me perguntar - eu que sou o mais antigo, eu e o Sarney: ”Ô Simon, onde você estava quando aumentou de três mil para nove mil?”

         É uma grande pergunta: onde eu estava? Omisso, olhando, assistindo, porque praticamente elegemos a Mesa, e está feito. A Mesa elege um Diretor-Geral e um Primeiro-Secretário, e está feito. E ficamos assistindo.

         Os membros da Mesa anterior estão dizendo todos os dias: ”Mas o senhor assinou isto, o senhor assinou aquilo”. Eu assinei, porque pediram para assinar, nem discutimos na reunião da Mesa e nem eu estava lá, mas assinei, porque pediram para eu assinar.

         Chega aqui o Senador Suplicy e lê a Ata que diz: “o Senado aprovou, na reunião do dia tal, as conclusões da reunião da Mesa do dia tal”. Que conclusões? Sei lá, não estava nem na Ata, que ninguém lembra! E é disso que vai indo e vai indo e chegamos aonde chegamos.

         Não pode continuar. Tenho o maior respeito pelo Primeiro-Secretário, aí está ele. Felizmente, a cirurgia foi delicada, mas não foi grave. Mas não dá, Senador.

(Interrupção do som.)

         O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu vejo as interpretações, as declarações de V. Exª, eu vejo o esforço de V. Exª e as preocupações de V. Exª, mas não dá.

         Não dá. Hoje é um sentimento. Em primeiro lugar, a comissão de funcionários, a comissão que V. Exª apresentou. Eu li com calma. Foi um trabalho burocrático. Pegou os novecentos atos, não sei o que, e ainda assim com equívocos que eu não sei quem fez, se foi o jornal, se foi ela ou quem foi. O caso típico de funcionários. O meu caso está lá com ato secreto. Não teve ato secreto nenhum. Vou ver qual é o ato que foi publicado. É que eu fui indicado para membro da comissão dos 180 anos do Senado Federal. Eu vou culpar o Estadão porque botou “Pedro Simon é um dos quarenta que foi beneficiado com ato secreto”? Não posso culpá-lo. Por que vou culpá-lo? Está lá. As coisas aconteceram. Mas vamos culpar a maneira como essas coisas são feitas.

A primeira coisa que me perguntam quando estou falando: “E você não sabia?” E eu também estou naquela... “Mas, Senador, o senhor não sabia que tinha ato secreto? O senhor não sabia que hoje o Senado tem nove mil funcionários? O senhor não sabia que tinha negócio de banco, que entraram outros bancos, que vinha o HSBC para fazer empréstimos de funcionários, fortunas entrando nessa transação? O senhor não sabia que tem trezentos funcionários ganhando o dobro do que ganha um Senador e muito mais do que o teto estabelecido?” E, cá entre nós, a gente cai no ridículo. “Não, eu não sabia”. “Mas o que senhor está fazendo lá, Senador?” “Mas eu não sabia”. Não dá. Ninguém acredita em nós, nesta Casa, em coisa nenhuma.

O primeiro gesto que o Presidente Sarney deve fazer, que é um gesto de grandeza, é afastar-se. Não é ele que vai analisar se o problema do neto dele com o estabelecimento bancário está certo ou está errado. Acho até que está certo, não tem nada demais, mas não é ele que vai dizer isso. Não é ele que vai responder ao problema do mordomo. Não é ele que vai analisar os catorze anos do Diretor-Geral, que ele criou e ele manteve durante todo o tempo.

Afaste-se. Aliás, ele já está nesse sentido. No momento em que ele entregou para o 1º Secretário a escolha dos nomes de Diretor-Geral, etc e tal, e que não é mais função dele, já está mostrando que quer afastar-se. Afaste-se, e nós vamos partir para a decisão.

Nós temos que ter coragem. Houve uma época em que esta Casa teve a coragem. Criamos a CPI dos Anões do Orçamento. Pena que ela não continuou, porque o Presidente, que veio depois do Itamar, não deixou continuar o trabalho, proibiu que o trabalho continuasse. Ali cassamos catorze Parlamentares, fizemos uma limpa naquela Comissão e trabalhamos para valer. Eu acho que nós vamos ter coragem de fazer isso.

Eu, com todo o respeito, meço as minhas palavras. Tenho pavor de parecer o dono da verdade, o Joãozinho do passo certo.

Por isso, até venho me mantendo leve neste assunto, em que todos estão falando, vamos fazer justiça. Não é um assunto que está passando despercebido. Vários, muitos Senadores têm falado, debatido, analisado.

Então, eu não achava o porquê de ter que entrar mais um. Entro porque sinto, da minha intimidade, a obrigação de fazer isso. E não minto: sinto, das bases, dos amigos que me acompanham, um ato de profunda mágoa: “Ó Simon, onde é que você está? As coisas estão acontecendo, e você não está falando?!”. Por isso, falo.

Primeiro, porque a peça principal...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Fora do microfone.) - ... volto a repetir...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Um instante. Eu queria esclarecer que vou proceder da mesma maneira como procedemos com Tião Viana e com Papaléo Paes. Teremos sensibilidade com o tempo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Presidente, V. Exª...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eram dez, já foram vinte, e cinco.

Eu queria lembrar ao companheiro que está na tribuna que há dois pedidos de aparte ali: Heráclito Fortes, que é Secretário da Mesa, e Geraldo Mesquita.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - E Senador Suplicy também. Estou com o microfone... Quero apoiar a decisão de V. Exª, porque, como o Senador Pedro Simon faz um discurso de extraordinária relevância para a história do Senado, que possamos aqui ter o tempo necessário para aparteá-lo. O Senador Pedro Simon, juntamente com o Senador José Sarney, ambos do mesmo Partido... Eu sou testemunha da convivência cordial e respeitosa de ambos, ainda que, às vezes divergindo. Mas ele fala hoje... É muito importante...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Já é o aparte de V. Exª, não é? Porque têm os dois, não é?

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Os apartes têm de seguir a ordem. Eu pedi em primeiro lugar...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu pedirei e aguardarei o meu momento, Sr. Presidente. Quero apenas dizer que V. Exª tenha a flexibilidade, porque todos queremos refletir sobre a história do Senado, dialogando com o Senador Pedro Simon. Então, dê o tempo necessário a ele. V. Exª tem minha anuência, como Presidente - acredito que a de todos.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - E entra em mim o espírito de Voltaire, que diz - atentai bem -, no plenário da França: “Daria a vida para que V. Exª, cada um, tivesse o direito de falar o que quiser; mas eu também não abro mão do direito de me opor a determinado pensamento”.

Com a palavra Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Foi, portanto, Senador Suplicy, para que eu possa dizer que eu tenho o maior respeito pelo Senador Sarney. Divergências? Tive. Eu achava que quem devia assumir a Presidência era o Dr. Ulysses, não ele. Eu achava que a Constituição diz que compete ao Vice-Presidente assumir no lugar do Presidente. Mas, como o Dr. Tancredo não tinha assumido, nunca assumiu, quem tinha de assumir era o Presidente do Congresso. E, se acontecesse o que aconteceu, morreu o Dr. Tancredo, dever-se-ia fazer uma nova eleição. Mas isso não impediu que eu fosse Ministro de Sarney - com muita honra. E disse várias vezes: durante o tempo em que fui Ministro do Sarney, levei a ele vários assuntos, os mais graves, e tive a presença dele em tudo o que dissesse respeito à dignidade e à seriedade. Disse e repito: ele teve coragem de fazer a convocação da Constituinte. Na minha opinião... A informação que eu tinha é de que o Dr. Tancredo deixaria a Constituinte para o final de seu governo. Ele convocou no início. Legalizou os partidos comunistas, três ou quatro. Eu tenho o maior respeito pelo Presidente Sarney. Quando ele diz que sua biografia deve ser respeitada, deve ser respeitada. Quando o Lula diz que deve ser respeitado, deve-se respeitar o Sarney. Até por isso é que ele tem que sair da Presidência, para que a figura dele continue a ser preservada. Porque esse levantamento, esse debate que será feito aqui vai envolver muitas questões, e o Sarney deve ficar fora disso. Essa é a razão.

Pois não, Senador.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Pedro Simon, V. Exª pode ficar tranquilo que, se houver neste plenário um fã clube de V. Exª, evidentemente que será uma injustiça não me conferirem a carteirinha nº 1.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Aí já é amizade antiga, de longo período.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Claro, admiração antiga.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Porque nós vivemos juntos a época das “vacas magras”.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - E crescente. Eu vejo o seu desabafo, a sua tristeza com relação à crise que nós estamos vivendo. V. Exª reproduz aqui o que as ruas lhe cobram. Não sabem disso, não sabem daquilo, e eu fico olhando para V. Exª... E estou fazendo isso de maneira construtiva. Talvez o que as ruas não saibam é que V. Exª seja o grande responsável pela crise que estamos vivendo, embora não tenha contribuído um milímetro para ela. Talvez as ruas não se lembrem que grande parte do que nós estamos vivendo foi culpa de V. Exª. V. Exª foi procurado por um grupo de Senadores, no qual eu me incluo, sentado aqui na sua poltrona, no mês de novembro ou dezembro, e lhe fizemos um convite para ser candidato suprapartidário...

(Interrupção do som.)

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI. Fora do microfone.) - ... à Presidência do Senado. V. Exª deve se lembrar desse episódio. Rejeitou de todas as maneiras. Eu até lembrei a V. Exª, na conversa... Acho que o nosso Senador Geraldo Mesquita participou dela. Eu disse: “O Sarney vai voltar, em janeiro, candidato”. “Ah, mas por quê?”. “Porque ele vai sofrer pressão nas bases e vai voltar candidato”. Naquela época, todos diziam que essa candidatura já não existia mais. Se V. Exª, naquele momento, tivesse pensado mais um pouco nesta Casa e no Brasil, talvez nós estivéssemos vivendo em outras águas aqui. No Senado, funciona muito a teoria do Neném Prancha, aquele filósofo do futebol carioca: “Quem pede, recebe; quem se desloca, tem a preferência”. Imagine V. Exª Presidente desta Casa neste momento. Nós estaríamos livres disto. Nós não teríamos passado pelo constrangimento das horas extras que os nossos Gabinetes deram aleatoriamente para os funcionários, e muitos de nós não tivemos coragem de punir os ordenadores de despesa, dando o primeiro exemplo. Mas eu quero apenas fazer justiça. Eu acompanhei a segunda Presidência do Presidente Sarney, mas nesta em que eu sou 1º Secretário, se ele quis errar, nem tempo teve. E, se alguns fatos estão vindo a público, foram medidas tomadas pela atual Mesa. A primeira delas: crédito consignado. O crédito consignado criou aqui uma briga de encartes que mandavam, porque esse crédito era cobrado do servidor na prática da agiotagem, Senador Simon, que chegava a 4%. Foi reduzido para 1,60, e os grupos que se envolviam brigaram. Quando eu vejo a matéria de hoje do Estadão, que envolve um neto do Sarney nessa questão do crédito consignado, eu somente fico intrigado com um fato: o avô ajudou ou o avô prejudicou? Porque o avô, ao jogar o limite do crédito a 1.6, acabou com a carreira do neto, se ele era candidato a banqueiro, porque, a partir do momento em que limitou, os bancos desistiram. Vários deles, inclusive, deixaram de operar, porque se acabou com a agiotagem e com a especulação aqui dentro. O fato mais grave que aconteceu. Depois, vemos a questão dos atos secretos. No momento em que tomei conhecimento... O Senador Mão Santa é membro da Mesa e é testemunha: tomei conhecimento do indício do ato secreto, imediatamente comuniquei à Mesa e pedi apuração, já com a comissão nomeada para investigação. E os fatos estão mostrando que são graves, que os atos não são contos da carochinha, eles são reais. E eles serão, Senador Pedro Simon - garanto-lhe aqui - apurados um a um. Eu não tenho compromisso com erro, eu não tenho compromisso com o erro público, com o malfeito na vida pública. A vida pública é minha razão de ser. Estou nesta Casa, no Congresso, há 26 anos. Não vou permitir que o meu nome vá para o lixo numa hora como essa. Daí por que quero tranquilizar V. Exª. A única pessoa que não pode dar conselho ao Presidente Sarney, num momento como este, sou eu, porque sou do Colegiado, o qual ele preside. Agora, a Mesa tem sido injustiçada. A atual Mesa, os seus colegas de Mesa têm sido injustiçados, ou pelo esquecimento ou pela falta de reconhecimento de que, pelo menos, nós estamos procurando acertar. Senador Simon, entramos na questão dos terceirizados, coisa em que ninguém mexia! Agora mesmo, vivi um conflito ao nomear dois diretores para substituir, e V. Exª precisava ver a dificuldade. As pessoas correndo, com medo, parece que tinha uma cascavel! Alguma coisa os assombrava. Eu tive que caçar a dedo dois diretores para fazer essa apuração. Estamos substituindo mais dois, e vamos fazer assim. Fique tranquilo V. Exª, pois o fã de carteirinha, nº 1, da sua vida e da sua história, não vai, de maneira nenhuma, decepcioná-lo. Enquanto eu estiver exercendo essa função delicada de 1º Secretário, meu compromisso é com a transparência e, acima de tudo...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não tenho nenhuma dúvida com relação a isso.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - ... fazer com que esta Casa volte àqueles dias de glória, de alegria, de honra. Por que, sabe o que está...

(Interrupção do som.)

         O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) -... o que gosto de ser é parlamentar, é futucar o Governo, é criticar. Não tenho feito nada! Estou sendo um bedel, um delegado, um gerente. Mas quero voltar à tribuna, porque não posso perder, de maneira nenhuma, as oportunidades fantásticas de ouvi-lo, com seu brilhantismo sempre crescente nesta Casa. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Tenho confiança em V. Exª e digo com alegria que V. Exª está tomando atitude...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...está trabalhando. Esse pronunciamento que V. Exª fez, verdadeiro, o Presidente Sarney não pode fazer, porque ele não está interessado nisso. Ele tem minha idade, e, na nossa idade, isso não dá mais. Quando ele diz: “Pensei que tinha sido eleito Presidente para cuidar da política, e não para cuidar do lixo do Senado”....

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Mas quero confessar que ele está me apoiando em todas as medidas que estou tomando. Pelo menos quero fazer isso por dever de justiça.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele, Presidente Sarney, é responsável pelo lixo, sim. Todos somos responsáveis pelo lixo do Senado, principalmente o Presidente do Senado! É muito bacana ser Presidente do Senado só para fazer política. É bom, é gostoso, é necessário, é importante, mas vamos ver onde é que está o lixo.

Quando ele deixou V. Exª indicar o diretor-geral, indicar outros diretores, enquanto ele caía fora, isso é uma demonstração clara de que ele não quer. Eu, Presidente, não faria isso, com o maior carinho que eu tenho por V. Exª. Se sou Presidente, o diretor-geral vou indicar. Posso até aceitar sugestão sua, mas eu vou indicar. E ele fez questão de dizer que quem indicou foi V. Exª, e V. Exª teve coragem de aceitar; V. Exª aceitou o desafio. Pois eu vou e escolho! Houve mil dificuldades, mas escolheu. Mas o fato de o Presidente do Senado, em uma hora conturbada como esta, dizer: “Não vou indicar o diretor-geral, nem o diretor tal, nem o diretor tal; deixa para o 1º Secretário”. O que quer dizer isso? O que ele está dizendo com isso? “Cansei. Não quero.”

Agora, V. Exª disse uma verdade, e concordo com V. Exª. Chegou a mim um abaixo-assinado, com o nome de V. Exª e mais 36 assinaturas, pedindo que eu fosse candidato avulso no plenário. É verdade. Levei-o para minha bancada e fiz uma reunião com toda a bancada. Está aqui: sou candidato...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Era uma candidatura suprapartidária.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade, mas sou partidário.

E aí botaram em votação. “Quero um movimento assinado por todo o Senado, menos pela bancada do PMDB”. Todos os Parlamentares de todas as bancadas assinaram, menos a bancada do PMDB e a do PT, claro - aliás, do PT, havia algumas assinaturas. Aí botamos em votação. Minha bancada me deixou falando sozinho! Tirando dois ou três, minha bancada me deixou falando sozinho. Eu poderia fazer um debate em plenário, só que esse não é meu estilo. Tenho uma vida partidária que vem de longo tempo, em que a briga pessoal, no meu nome... Eu não fiz isso quando queriam que eu fosse candidato a Presidente da República. Todos os governadores do MDB, reunidos, decidiram: vai ser o Simon. O Dr. Ulysses não aceitou e disse: “Vou disputar”. Eu disse: “Não disputo com o Dr. Ulysses.” E não disputei.

Mas não que o Pedro Simon não tenha aceitado. Peguei, com muita honra e com muita emoção, as 36 assinaturas e levei-as para minha bancada. Aí botaram em votação. Aceitamos ou não aceitamos a indicação do Senado para que o Pedro Simon seja Presidente? E a resposta: seis do meu lado e vinte e tantos do outro lado, contra. Não pode ser. Não aceitei. Lamento, mas não aceitei e acho que não fiz mal. Mas também vamos ser sinceros: achar que eu seria diferente ou não seria diferente, não é por aí!

Acho - e a disposição do 1º Secretário mostra isso - que, no momento em que o Sarney se afastar e em que nós nos reunirmos para ver como é que vamos conduzir essa sucessão; e num momento como este, em que temos que nos integrarmos, em que temos de dar as mãos, porque aqui não está em discussão nem o Governo nem a Oposição... Aí está o Lula, flutuando em cima da onda, com 80% de credibilidade, com o Obama apaixonado pelo Lula...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...diz que é até um caso de amor, uma declaração atrás da outra, agora, recomendando que os Estados Unidos e que o mundo devem olhar para o Lula, assim como o Lula que, com capacidade e com competência, soube, no Governo, fazer uma estrutura de administração que somou tudo a favor do País - ele quer copiar o Lula lá nos Estados Unidos. Com essa credibilidade, o Lula vem e vem a favor do Sr. Presidente Sarney.

Acho isso bom, acho isso positivo. Faço aqui um abaixo-assinado, um apelo dramático para fazermos um movimento de endeusamento do Sarney. Fora da Presidência do Senado. O Presidente Sarney será um se largar a Presidência do Senado, se isso for possível hoje. Se isso acontecer, o Presidente Sarney será outro.

Manchetes que são diárias: “Mãe como contratada após exoneração do neto”; “Ato secreto estendeu exoneração a irmão do Presidente”; “Mais uma sobrinha do Sarney tem vaga tirada por ato secreto”; “Sarney diz que a crise é do Senado, mas tira sobrinha do gabinete de Delcídio”; “Senado emprega parentes do genro de Sarney, que recebe salário morando na Espanha”; Blog do Josias: “Salário do mordomo de Roseana é pago pelo Senado;” “Senado paga funcionários no mausoléu de Sarney no Maranhão. Debaixo do pano”.

Não pode continuar isso! Se eu trouxesse aqui - e não trouxe - as charges diárias de todos os jornais... E sabemos que não há nada pior, Presidente, para mexer com o nome de uma pessoa do que uma charge. Uma charge derruba. Num debate político, em que um líder de oposição debate, discute e ofende, você responde na mesma moeda; mas essas charges são uma coisa que você não tem como responder.

Se o Sarney renunciar hoje...

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Simon, V. Exª me permite?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe concedo a palavra.

Se o Presidente Sarney renunciar hoje, termina isso. Termina isso!

V. Exª, Sr. 1º Secretário, escolheu o Diretor-Geral? Escolheu. Mas a imprensa diz que ele é homem da amizade do Sarney. V. Exª escolheu a Diretora de Pessoal, mas a imprensa publica que ela era Chefe de Gabinete da Roseana. Está tudo dando essa interpretação. E só pode parar de ter essa interpretação se dermos ao Presidente Sarney o direito que ele tem de respirar tranquilo.

Pois não, Senador.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Muito obrigado, querido amigo Senador Simon. Hoje, eu estava indo para casa, e um membro do meu gabinete me ligou: “Senador, do gabinete do Senador Pedro Simon pedem para que o Senador possa falar na sua inscrição”. Talvez não tenham lhe dado o recado que eu pedi que lhe dessem. Eu disse o seguinte: “Olha, eu tenho uma coisa muito importante, hoje, para tratar, por isso me inscrevi. E só vou ceder o lugar porque é para o Senador Pedro Simon”. Não sei se lhe deram o recado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Deram. Muito obrigado.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Simon, estamos ambos nesse chamado grande partido, o PMDB, que é grande por umas coisas e pequeno por outras. Aqui, não cabe a gente elocubrar muito, mas eu diria só uma pequena parte. Eu acho que ele é grande porque, mais do que outros partidos - e, aqui, há partidos tidos como a fina flor da ética -, é o partido que admite o contraditório internamente. Vou lhe dar exemplos disso. Eu sou tido dentro do PMDB, como V. Exª, um parlamentar dissidente da orientação geral. V. Exª, por algumas razões, eu, por outras, algumas delas coincidentes ou não, mas somos considerados dissidentes - o Senador Mão Santa também, o Senador Jarbas etc. Mas uma coisa que me deixa muito confortável dentro do PMDB, Senador Mão Santa, são situações como esta, por exemplo: eu assinei o requerimento de instalação da CPI da Petrobras. Eu assinei, eu acho que V. Exª assinou, eu acho que o Senador Mão Santa assinou, eu acho que o Senador Jarbas assinou. Para variar, são sempre esses quatro que estão aí, dissentindo da orientação geral do PMDB. Assinei e, como era de se esperar - aqui não vou fazer nenhuma inconfidência -, o Líder do Governo me ligou pedindo para retirar a assinatura. Passou meia hora comigo, pendurado no telefone, tentando argumentar e eu dizendo que não. O Presidente Sarney ligou para mim: “Geraldo...” Eu disse: “Presidente, eu lhe atendo em qualquer outra coisa. Nisso aí, não”. Em seguida, poderia acontecer o seguinte, Senador Simon: “Olha, o Geraldo é dissidente, ele está fora. Não vou atendê-lo em mais absolutamente nada”. No dia seguinte, eu pedi ao Senador Renan, Líder do Partido, que me inscreva na CPI da Amazônia. Ele poderia se negar, mas ele foi lá e me inscreveu na CPI da Amazônia, colocou meu nome. A gente se cumprimenta com cordialidade, com respeito, mesmo na divergência, Senador Pedro Simon. Nesse tempo todo eu estou pensando - e não é só agora, não, nesses dias agora, de grande conflito, de grande tumulto -, Senador Simon, e registrando para mim, particularmente, e para alguns companheiros, que todos os fatos - todos, sem exceção de nenhum -, todos os fatos que estão vindo à baila agora, na chamada crise do Senado, todos eles, sem exceção, têm origem antes da posse dessa nova Mesa diretora. Todos os atos, todos os atos.

         O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

         O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Muitíssimos deles do conhecimento da imprensa brasileira.

         O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

         O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Todos eles. E, aí, Senador Simon, eu fico pensando o seguinte: fosse qualquer outro ou qualquer outra Mesa eleita, nesta Casa, será que esses fatos teriam vindo à baila? Ou não?

         O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

         O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Porque, olhe, a resposta a essa pergunta é uma coisa muito complicada. Porque se os fatos não... Por exemplo, uma outra Mesa qualquer... Como bem lembrou o Senador Heráclito, trata-se de um Colegiado. Se uma outra Mesa qualquer tivesse tomado posse, esses fatos teriam vindo à baila? E se não tivessem vindo à baila? E, como eu disse, mesmo sendo, em grande parte, do conhecimento da imprensa brasileira já há muito tempo. Então, alguma coisa esquisita haveria nessa situação, porque, necessariamente, eles teriam de vir à baila, assim, de cambulhada mesmo, como estão vindo, não é? Então, fiz aquela pequena introdução, do fato de sermos dissidentes e tal, para dizer a V. Exª que eu não tenho qualquer tipo de vinculação obrigatória, dentro do meu partido, com ninguém, Senador Simon, com ninguém. V. Exª é testemunha disso. V. Exª é testemunha disso. Naquilo que eu acho que é relevante, que é importante, que é pertinente, eu acompanho a orientação da Liderança do meu Partido. Naquilo que não, eu não acompanho. Naquilo que eu acho que o Presidente Sarney, que é do nosso Partido... Se a orientação é correta, eu acompanho. Quando eu acho que não, eu não acompanho. Portanto, isso me deixa muito a cavaleiro para dizer o que eu vou dizer agora. Eu tenho outro... Eu posso ser ingênuo, Senador Simon, mas eu tenho outro apego a um princípio...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Às vezes, realmente é ingênuo. Lá, no Mercosul, foi de uma ingenuidade tremenda. Devia ser o presidente e terminou renunciando e deixando a gente falando sozinho. Era para ter ficado lá, no comando.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Mas eu acho que o resultado surtiu os efeitos esperados.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não sei.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Veja: eu estava dizendo que, às vezes, eu sou ingênuo. Eu não sei se é ingenuidade o respeito que eu tenho ao processo eleitoral. Essa Mesa foi eleita. Essa Mesa foi eleita. Quando eu falo Mesa, eu quero frisar o fato, Senador Simon, de que eu, quando olho para aquela área do nosso plenário, enxergo a Mesa do Senado Federal. É um Colegiado. As decisões, as omissões, as iniciativas dizem respeito à Mesa do Senado Federal. Preocupa-me muito, como eu disse, com base naquilo que alguns podem dizer que é ingenuidade minha, o apego ao princípio do processo eleitoral. Essa Mesa foi eleita, e preocupa-me muito, Senador Simon... E olha: ninguém aqui respeita mais V. Exª do que eu. Ali, quietinho, às vezes a gente passa, eu lhe faço um afago e o chamo de guru. V. Exª sabe disso, porque V. Exª é meu guru. Mas, eu acho muito preocupante o fato de nós estarmos colocando o pé numa área muito delicada. Eu acho que o ato do licenciamento é um ato voluntário; o ato da renúncia é um ato voluntário, a não ser que, por razões muito relevantes e fortes, a pessoa seja, de fato, obrigada a ser defenestrada. Aí, é outra situação. Mas eu acho que o afastamento, o licenciamento, a renúncia são atos voluntários. O fato é que estamos, aqui, cobrando essa postura do Presidente Sarney, mas devíamos cobrar da Mesa Diretora toda - aqueles que cobram, eu não cobro. Mas aqueles que cobram deviam cobrar de toda a Mesa Diretora. Eu acho preocupante, Senador Simon, porque eu sei que não é o seu propósito, não é o intuito do Senador Cristovam, não é o intuito de muitos, aqui, mas essa verbalização passa e permite a ideia à população, de uma maneira geral, de que estamos sendo golpistas. Essa é uma realidade da qual não nos podemos furtar. O Senador Heráclito lembra, aqui, as providências que vêm sendo tomadas nesse início tumultuado de gestão dessa Mesa Diretora. É uma pena que isso tudo esteja acontecendo. Agora, faço questão de lembrar, pela segunda vez, que todos esses fatos ocorreram antes da posse desta Mesa Diretora. Vamos relacioná-los: hora extra - ocorreu antes da posse da Mesa Diretora; crédito consignado - ocorreu antes da posse desta Mesa Diretora; a existência de conta, ato secreto - fico até arrepiado quando falo em ato secreto, dá vontade de rodar a baiana de novo, mas não vou rodar - também ocorreu antes da posse desta Mesa Diretora. Então, veja, Senador Pedro Simon, com todo o respeito que tenho a V. Exª e a muitos Parlamentares aqui, como disse V. Exª, ninguém aqui pode apontar o dedo para ninguém, ninguém aqui pode dizer que não tem nada com isso. Aliás, uma crítica eu a faria em particular ao Senador Sarney, mas já que o assunto está aberto, vou fazê-la, aqui, publicamente. Uma crítica que faria a ele - e a farei publicamente - é que, no lugar dele, eu teria dito, naquela famosa frase que ele proferiu, que “a crise não é minha, é do Senado”, eu a teria completado: “Mas sou o Presidente desta Casa e vou resolvê-la”.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Digamos que essa foi uma frase oculta. Ele não a disse, mas deve ter pensado.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Ele, necessariamente, teria que ter dito isso. Se crítica eu possa fazer ao Presidente desta Casa, nesse tumultuado processo de crise, iniciaria por aí. Agora, quando a gente fala, Senador Pedro Simon, quando a gente verbaliza que “o Senador Sarney tem que se afastar, que o Senador Sarney tem de renunciar”, estamos - alguns mesmo sem querer, outros talvez querendo - transferindo para a opinião pública a impressão de que aqui se trama um verdadeiro golpe, um golpe contra o processo eleitoral. Como disse, esta Mesa foi eleita. Acho que quatro, cinco meses é um tempo ainda, digamos, de afloramento de todos esses atos, de todos esses fatos que estão, mal ou bem, sendo investigados ou pela Casa ou pela Imprensa, seja lá por quem for, mas estão surgindo e estão sendo alvo de investigação. Precisamos, como Senadores, como membros desta Casa, que a gente tanto preza, que esse prazo seja um pouco maior, Senador Simon, para que as conclusões sejam tiradas. Talvez a gente...Olhe, se nada acontecer - pode ocorrer isso -, se nada acontecer, dentro de algum tempo, aí, sim, Senador Simon, talvez seja o caso de a gente acusar esta Mesa de omissa, de incompetente, de irresponsável, e aí tomarmos uma decisão.

Mas, por enquanto, como diz o Senador Heráclito, mal ou bem, os atos estão colocados sob investigação; mal ou bem, como disse o Senador Heráclito - e ele é insuspeito para falar; ele é o Primeiro-Secretário, e o Presidente da Casa tem-lhe dado respaldo para o que está sendo feito. Eu não sei se representa exatamente descompromisso com a Casa o fato de o Senador Sarney, numa reunião de Mesa e de Líderes, ter acolhido a sugestão do Senador Heráclito quanto a nomes que devem assumir cargos de comando nesta Casa. Não sei. Se ele fizesse o contrário, talvez, aqui, alguém estivesse dizendo: “Olha, o “cara”, numa atitude imperial, mesmo face a uma crise dessas, está aí, não abre mão de indicar o presidente.” Então, a situação é complexa, Senador Simon! Mas acho que não é chegada a hora ainda de ficarmos reverberando aquilo que nem na maior grave crise do Governo do Presidente Lula, quando ele, envolvido até o pescoço - e aqui não estou fazendo comparações -, na crise do mensalão e em outras crises ocorridas neste País, jamais se verbalizou isso nesta Casa. Com relação a isso, o silêncio foi total.

(A Presidência faz soar a campainha.)

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Com relação a isso, o silêncio foi total. Portanto, eu podia estar lá no meu gabinete ou em casa vendo o tal jogo do Brasil com a África do Sul, fugindo deste debate, fugindo deste debate. Mas eu não sou homem de me omitir a um debate como esse. 

O senhor me conhece. Não sou homem de me omitir. Levo minhas críticas,...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - ...levo minhas cutucadas, mas não me omito. Eu não partilho dessa tese.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Simon, tenha calma com o seu amigo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como?

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Tenha calma com o seu amigo. Não me casse a palavra.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Olha, com todo o carinho, estamos dando um exemplo total: V. Exª na grandeza do aparte, e eu, na grandeza de aguardar em silêncio. Estou batendo o meu recorde, mas com o maior prazer.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Pensei que V. Exª estivesse batendo o martelo com relação a minha fala.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Mas eu já estou concluindo, já estou concluindo. Eu queria só alertar para isso.

(Interrupção do som.)

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Acho que esse movimento não contribui para a solução dos problemas que estamos vivendo no Senado. Não me filio a ele, e acho lamentável que esteja tendo curso aqui nesta Casa. Não sei onde vai levar, acredito que a lugar nenhum, porque, como eu disse, trata-se de atos voluntários, e não vou sugerir ao Presidente Sarney que renuncie, que se afaste, porque, mal ou bem, com toda a confusão armada dentro desta Casa, tenho a impressão de que ele vem, juntamente com o restante da Mesa Diretora desta Casa, operando no sentido de buscar os resultados que façam com que esta Casa se acalme e que tenhamos de volta o Senador Heráclito aqui. O tribuno crítico deste Governo, o tribuno de fina ironia, que possa debater com V. Exª e com os demais, assuntos que nos atraem, assuntos que gostamos de fazer como Parlamentares. Senador Simon, muito obrigado pela paciência com que V. Exª me ouviu.

O Sr. Jayme Campos (DEM - MT) - Sr. Presidente, apesar de não ser regimental, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pela ordem.

O Sr. Jayme Campos (DEM - MT. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Solicito a V. Exª para observar o Regimento Interno, pelo menos em termos, até porque têm vários oradores aqui aguardando. Se cada aparte naturalmente for de vinte ou trinta minutos, imagino que nós não vamos ter a oportunidade de falar, em que pese o assunto ser relevante, importante, reconheço - aplausos do Senador Jayme Campos ao Senador Pedro Simon -, todavia há vários oradores que também querem ter a oportunidade de falar na tarde de hoje.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - A manifestação de V. Exª será levada em conta. Apenas queria lembrar que eu presidi a Mesa quando o Tião Viana - eu tive que me ausentar - e, regimentalmente, o mais idoso, Romeu Tuma, o deixou...Mas todos nós temos o bom senso - O Espírito da Lei -, e o Pedro Simon já deu o recado. V. Exª está inscrito. E a Mesa recebeu um telefonema do Líder, e ele está amparado pelo art. 66, parágrafo único.

O Sr. Jayme Campos (DEM - MT) - Sr. Presidente, mas um erro não justifica outro. É bom que saiba. Vamos esclarecer as coisas aqui.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Mas nós vamos... Com O Espírito da Lei, eu apelo para o bom senso. Aqui é a Casa dos pais da Pátria.

O Sr. Jayme Campos (DEM - MT) - Agradeço-lhe. Mas espero que V. Exª cumpra pelo menos 10% do Regimento, por favor.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Então, Pedro Simon, compreenda, porque hoje é quinta-feira e têm alguns com voo marcado e estão inscritos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu não entendo por que S. Exª ouviu com tanta atenção o longo aparte, e na hora em que eu vou começar a falar ele levanta a questão de ordem. Parece que uma coisa pessoal comigo. De qualquer maneira, tudo bem.

O Sr. Jayme Campos (DEM - MT) - V. Exª, tenha a certeza, que eu tenho a maior admiração pelo senhor.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não, não, V. Exª já falou. Já lhe ouvi. Dá para notar.

De qualquer maneira, digo ao Senador Mesquita que fizemos justiça: ele me concedeu o seu tempo, e eu lhe concedi metade do meu tempo. Quer dizer, quanto a essa parte, realmente estamos quite.

Por outro lado, veja o Presidente Sarney como ele não precisa estar aqui. As pessoas que o defendem estão aí. Nem o Presidente Sarney faria uma defesa tão bonita e tão brilhante como fez o Senador Mesquita. Fez uma defesa... Foi ao exagero, que acho que eu não mereci. Querer dizer que há insinuação de golpismo? Por amor de Deus!

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Fiz questão de ressalvar a sua fala.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não, não, V. Exª já falou. Agora deixe-me falar. Fazer insinuação de questão de golpismo no que nós estamos falando? Por amor de Deus, por amor de Deus!

E há outra coisa que deve ser salientada: os antecedentes foram antecedentes em que nem houve isso; ninguém pediu ao Antonio Carlos Magalhães renunciar. Ele renunciou porque quis. Na verdade, ele renunciou porque ele ia ser cassado, porque as conclusões a que se chegaram foi de que realmente ele era corresponsável. Não fez nada no painel, não foi ele o responsável com o que aconteceu no painel, mas, quando o Senador foi lá e disse para ele que tinha feito, ele, como Presidente, não tomou a atitude que deveria ter tomado. Ele renunciou.

O Senador Jader e o Senador Renan renunciaram para não serem cassados. Mas eles renunciaram; ninguém pediu. Eu votei na cassação de Renan. Se dependesse de mim, ele tinha não que renunciar, ficar aqui, e eu teria votado nessa cassação, que nem eu votei.

Não é o que está acontecendo com o Sarney. Não é o que está acontecendo com o Sarney! Ninguém está levantando nódoa, nem debate, nem discussão com relação ao Sarney. O que eu estou falando aqui é que, para essa questão ir adiante, se aprofundar...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...para ela ser feita com conteúdo, para nós, que não temos nenhuma credibilidade na opinião pública, quando no Senado se fala na corporação, nos interesses da corporação, nesse sentido, o Sarney se afastando, ele está fazendo um bem para ele. E, junto, fazendo um bem para ele, ele está fazendo um bem para a sociedade, um bem para esta Casa. E será muito melhor para ele que esses assuntos sejam conduzidos com ele afastado do que com ele na Presidência e as manchetes diariamente o atingindo.

Agora, chamar isso de golpismo? Por amor de Deus! Até porque as figuras mais simpáticas ao Presidente Sarney são aquelas figuras que, na história, tradicionalmente, estiveram envolvidas com movimentos destinados à derrubada de presidente da República.

Ouço o Senador Eduardo Suplicy.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, eu pediria brevidade, porque V. Exª está inscrito para falar já, já. Estou apenas pedindo a sensibilidade. Jayme Campos está inscrito, e chegou - e não posso obedecer ao Regimento - uma ordem do Líder do PMDB passando a palavra ao Senador Paulo Duque.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como é? Não entendi o que V. Exª falou, Sr. Presidente. Uma ordem política?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não. Chegou um pedido do Líder do Governo, ou melhor, do Líder PMDB outorgando a palavra a Paulo Duque, que é o Vice-Líder, para falar logo em seguida a V. Exª.

E estão inscritos os Senadores Jayme Campos e Marisa Serrano, que chegaram aqui e me disseram que têm voo marcado.

Peço a sua sensibilidade.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sim, vou atender. Mas, Senador Pedro Simon, primeiro V. Exª sabe que eu tenho expressado a minha vontade - e quão justo eu acho - de que V. Exª seja Presidente do Senado. Em diversas ocasiões isso já aconteceu.

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Assim não vai ser possível. Nem o tempo regimental de aparte V. Exª está me dando. Menos de um minuto! Por favor, Sr. Presidente, peço a V. Exª que me dê mais do que 42 segundos.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Vou dar sim. Terminado esse primeiro tempo, concederei mais.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, tenho cinco netos queridos. São duas netas e três netos. Gostaria de dizer-lhe uma palavra, bem como ao caro Presidente José Sarney. Ainda outro dia, quando eu aqui expliquei tudo o que aconteceu com as minhas cotas de passagem, da tribuna, da Presidência ele mencionou: “Senador Suplicy...

(Interrupção de som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - “V. Ex agiu com correção e nada há que possa ter infringido qualquer norma ou lei.” Ele tem sempre agido comigo com correção, respeito e amizade. Quando, por exemplo, li o seu livro Satiagra, salvo engano... Não. Sagarana. É isso?

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª está com o Protógenes na cabeça, no subconsciente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não. O livro sobre... Saraminda - eu sabia que tinha a ver com Sá. Obrigado.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Saraminda ou Sarabanda?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Saraminda. Um livro de excepcional qualidade, que posso recomendar a todos...

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, assim não dá. Vou começar o aparte e V. Exª tira o meu som. E assim atrapalha, porque vai acabar sendo mais longo, Senador Mão Santa. Dê o tempo suficiente, porque o que vou falar é para a história do Senado. Então, quero dizer, Senador Pedro Simon, que, sabendo que V. Exª é uma das pessoas com maior grau de relacionamento, amizade e respeito, mesmo em tempos de eventual divergência, com Presidente José Sarney, no seu lugar, com a delicadeza como estão as coisas, e eu, se estivesse no lugar do Senador José Sarney, tendo ocorrido uma coisa com meus queridos netos, como agora se coloca, eu seguiria a recomendação de V. Exª, me afastaria por um tempo para dar toda a condição para se esclarecerem inteiramente os episódios. Inclusive, sabemos - e eu sou consciente disso e V. Exª também pois participamos ontem da Mesa Diretora - como o Presidente José Sarney está apoiando as medidas que todos nós Senadores estamos recomendando para corrigir os problemas e tornar transparentes os atos do Senado. Ele, inclusive, no seu discurso de terça-feira passada, disse que apoiava a proposta que eu coloquei de tornar transparentes todos os salários, respectivos vencimentos, cargos e funções dos servidores do Senado, assim como também apoiou a proposta do Senador Arthur Virgílio e fez questão de assinar junto um projeto de resolução para que o Diretor-Geral seja aprovado pelo plenário do Senado. Então, acredito que a sugestão de V. Exª - e que o Senador Cristovam Buarque colocou também no início desta semana - de que ele possa se afastar, por um período que seja, de dois meses, da Presidência, mas apoiando todas essas medidas que ele próprio vem adotando, isso será para ele saudável. Faço mais uma sugestão, Senador Pedro Simon: que nós Senadores, os 81 Senadores, considerando que a Presidência do Senado hoje é para aquele partido que maior base tem no Regimento aqui, que possa o próprio PMDB, durante esse período, eleger por um período um Presidente. E V. Exª, assim como acredito no Senador Heráclito Fortes, suprapartidariamente, seria um Presidente consensual nesta hora grave, em razão de eventual licença do Presidente José Sarney. Gostaria de dizer mais. Agradeço o apoio de V. Exª e por V. Exª ter estado comigo ouvindo o Presidente do Sindilegis e outros servidores do Senado, quando vieram nos dizer: “por favor, cuidado com essa história de estar revelando todos os salários dos servidores, porque, imagine, pode acontecer um susto aí”. Um dos servidores nos disse: “Imagine, Senador, se souberem que, no ano passado, obtive um rendimento aqui na folha, por razão de cumprimento...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Do Judiciário.

O Sr. Eduardo Suplicy (PMDB - RS) - ... da Justiça. Foi uma remuneração maior do que a dos três Srs. Senadores que o ouviam. Fico imaginando: “Puxa, será que isso não seria, então, objeto de relevante transparência, para que então se explicasse por que isso tudo aconteceu?” Gostaria muito que V. Exª pudesse contribuir para tornar esta Casa inteiramente transparente nos seus atos e para fazer com que haja a seriedade que todos sabemos e confiamos que certamente imprimiria. Quero dizer que V. Exª, de fato, não pode ser um dos que contribuiu para que haja um número tão grande de servidores, como quando V. Exª começou. Em consulta ao Portal da Transparência, que passou a ser divulgado de ontem para hoje, Senador Mão Santa, agora sabemos que há Senadores aqui que têm mais de 30, 40, 50 servidores nos seus respectivos gabinetes. Por esse Portal da Transparência, por exemplo, o Senador Tasso Jereissati está com 15; eu próprio estou com 16; V. Exª, com 18. Somos os três com menor número. Portanto, não é no gabinete de V. Exª que aconteceu um número tão exagerado de servidores. Seria muito importante que V. Exª pudesse inclusive...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Essa vocação investigativa do Senador Eduardo Suplicy deve ficar nos Anais da Casa. Ele está bisbilhotando o gabinete dos colegas.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É o Portal da Transparência. V. Exª... Agora está aberto ao público.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Essa curiosidade de V. Exª de procurar o gabinete do Senador Tasso é curiosa! Parabéns.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não, é porque... são os que têm menor número.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª deveria ter procurado os que tinham o maior número.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O maior número?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não diga. Por favor, agora não.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Agora...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não. Por favor, deixe para outra oportunidade.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Graças ao ato de S. Exª o Senador Heráclito Fortes isso vem à luz, Sr. Presidente. O 1º Secretário deu transparência no Portal da Transparência...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu não fui feliz no final do meu pronunciamento.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Com respeito, Senador Pedro Simon, sobre a questão do crédito consignado, acho que precisamos mesmo saber melhor como é: afinal de contas, se podemos obter junto ao banco que administra a nossa folha, o Banco do Brasil, que propõe empréstimos, por que precisaria haver outros bancos aqui atuando, e assim por diante.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - É a lei. É obrigado liberar, Senador. Não se pode limitar, não.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Tudo bem. Então, que isso possa ser objeto de melhor conhecimento de todos nós. Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu não fui feliz no meu encerramento.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu só queria contestar que V. Exª me colocou até contra o querido amigo Heráclito. Ele se apresentou como carteira número um do fã clube de V. Exª, e estou a disputar com ele, V. Exª sabe.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Em primeiro lugar, o meu querido amigo Senador do Acre: a única mágoa que tenho com ele é que ele era o nosso homem para ser o nosso chefe lá no Mercosul, o nosso Líder, o nosso comandante, e, sem mais nem menos, quando fomos ver, ele renunciou. E fiquei magoado. V. Exª não podia ter renunciado. Tinha de estar lá na Presidência, no comando.

Agora, S. Exª... Eu entendo, entendo bem, pelo amor de Deus. S. Exª deixou claro que a referência pode. Não passou pela cabeça de S. Exª que era o Pedro Simon que estava falando. Mas aqui a imprensa faz a relação. Veja, V. Exª diz: “Alguém pode dizer que é golpismo”. V. Exª disse. Agora, vem o meu querido amigo Suplicy e diz: “O Senador Pedro Simon está em condições de ser o Presidente”. Daqui a pouco... Estou pedindo aqui para sair o Sarney, em um ato de golpismo, e me oferecendo para ser o Presidente.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Esclareço que não é candidato o Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pelo amor de Deus, vamos ser claros!

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Vai ficar ruim.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu estou dizendo. Vamos deixar claro que não me passa pela cabeça, Sr. Presidente. Se acho que o Sarney, que é dois meses mais moço que eu... É V. Exª, depois sou eu. O Sarney é da gurizada ali. O homem... Eu não vou dizer para o Sarney sair, porque achava que eu que ia entrar. Pelo amor de Deus, é claro que não! Entendo a gentileza do meu querido amigo Secretário. Aliás, cá entre nós, vamos ser muito sinceros: em termos de cabo eleitoral, não tenho muita força. Um cabo eleitoral meu para a Presidência do Senado sempre foi o Suplicy, e sempre deu em nada; e, para a Presidência da República, é V. Exª, Senador Mão Santa, que também não dá em nada. Então, em termos de cabo eleitoral, cá entre nós, não vou muito longe.

Mas quero dizer aqui, com toda a sinceridade: deixei o aparte do querido Mesquita, longo, para ele mostrar. Ficou clara nessa reunião a simpatia que nós temos pelo Sarney.

Não está acontecendo aquilo que aconteceu no caso do Senador Renan, que renunciou, para não ser cassado. Ia ser cassado. Não foi cassado, porque renunciou à Presidência. Não está acontecendo aqui aquilo que aconteceu com o Senador Jader, que renunciou à Presidência, para não ser cassado. Nem com o Senador Antonio Carlos Magalhães. Ninguém está falando com relação ao Sarney.

Eu tenho dito, aqui, com toda a sinceridade...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... para mim, o Presidente da República tem que ser Ulysses Guimarães, e se fazer eleição geral. Mas fui Ministro de Sarney, tive honra, foi um homem de bem, um homem digno, um homem correto, um homem decente. Quanto a isso não tenho dúvida.

E não vejo nos atos da Mesa nada que diga respeito ao Presidente Sarney e em que ele tenha posto a mão, mas ele não deve continuar. Ele não deve continuar. Ele deve entender que a melhor coisa que pode fazer é se afastar literalmente. Ele já se afastou. Cá entre nós, um Presidente do Senado, numa hora de crise como essa, em que todo o debate está em cima do Diretor-Geral, diz para o 1º Secretário “Indica tu”, e o 1º Secretário é que indica. E, quanto aos outros dois cargos mais importantes, ele: “Indica tu”, e o 1º Secretário é que indica. É uma demonstração clara não apenas da confiança que ele tem em V. Exª...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... é uma indicação clara de que ele cansou, está por obrigação. E ele tem direito de descansar. Eu gostaria que o Presidente Sarney entendesse este meu pronunciamento. É alguém que quer o bem de S. Exª e desta Casa. Se nós continuarmos aparecendo perante a opinião pública...

Senador, perdão, V. Exª permite o aparte ao Senador Cristovam?

Eu prefiro dar a V. Exª, e, depois, o Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O Professor Cristovam também já vai falar. Ele está inscrito. 

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Simon, enquanto os dois decidem quem vai falar, eu pediria um aparte a V. Exª, apenas para esclarecer que a indicação foi feita pelo Presidente Sarney. Evidentemente, tive participação, dei sugestão. Mas não traga essa imagem de que o Presidente Sarney me delegou poderes excessivos, que não é verdade.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas ele disse isso na reunião. V. Exª não estava presente.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Foi um gesto simpático.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, mas não foi só um gesto simpático. Ele disse isso, com todas as letras, na reunião da Executiva, a que eu estava presente, na reunião da Mesa, a que ele estava presente. Ele disse que deixou a V. Exª a indicação. E achei esse um gesto bonito dele; foi um gesto bonito, de um lado...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Vou fazer de conta que é verdade.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É uma demonstração de que ele quer cair fora.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, espero que, depois, haja tempo ainda para o Senador Wellington falar.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª está inscrito.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Estou inscrito, mas vai ser lá pelas caladas da noite. Apenas quero dizer - acho que não posso deixar passar em branco um discurso com esse - que estou de acordo em que o pronunciamento do Senador Pedro Simon se dá dentro de um espírito de respeito ao Senador Sarney, não num espírito de antagonismo. Quanto ao Senador Sarney - tenho dito isto, escrevi um artigo -, penso que um dos erros que cometemos, ao elegê-lo, foi o de colocar no cargo uma pessoa cuja biografia é maior do que a função do cargo. Isso não dá certo. Não dá certo colocar no cargo uma pessoa menor do que o cargo, nem maior que o cargo. Esqueçamos as outras coisas da vida do Presidente Sarney, o Maranhão, etc. Nos cinco anos na Presidência, ele cumpriu fielmente o que estava traçado para o processo democrático, e isso é algo que deixa qualquer pessoa definitivamente na história. Ao ter ficado na política não como um estadista velho, não pela idade, mas pela maneira como se chama carinhosamente aqueles que ocuparam grandes cargos, ele guardou a biografia, ocupou o cargo político e aí tem de enfrentar tudo isso. E, ao enfrentar tudo isso, a biografia dele sai arranhada, e o Senado sai arranhado. Senador Pedro Simon, hoje, o que o povo está querendo mesmo é muito mais do que a licença que eu, o senhor e outros sugerimos, é mais do que até a renúncia. Vamos falar com franqueza: hoje, o povo quer eleições gerais neste País, porque não confia em nenhum de nós. Se neste País houvesse plebiscito...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Que bom se aqui houvesse o parlamentarismo!

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - É claro. Não sou parlamentarista...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Hoje, estaríamos convocando eleição geral para o Congresso Nacional.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não defendi o parlamentarismo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Lula estaria dissolvendo o Congresso e convocando uma eleição geral.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas o que o povo hoje quer é isto: a dissolução deste Congresso e a convocação de eleições gerais. E vamos falar com franqueza, sem consultar nenhum instituto de pesquisa, que raríssimos voltariam aqui. Esse é o sentimento do povo. A licença do Senador Sarney nada tem a ver com cassação, com renúncia. Essa licença faria algo diferente do que ele disse. Ele disse que a velocidade dele - e não adianta querer pressionar; temos de respeitar - é uma velocidade vagarosa, e a indignação do povo está indo numa velocidade rapidíssima; seríamos atropelados por essa indignação. Por isso, reafirmo, primeiro, a ideia da licença como sugestão, não como pressão sobre o Senador.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É esse nosso pronunciamento.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Essa decisão é de foro íntimo dele.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É esse nosso pronunciamento.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Segundo, não vejo sua manifestação nem a minha como falta de respeito, como antagonismo. É uma tentativa de querer apressar a solução de tudo isso com credibilidade. Por isso, eu até disse que nenhum de nós tem condições de fazer essas comissões. Sugeri, como muitos, que viessem de fora os que fossem fazer essas investigações. Nenhum de nós aqui tem autoridade hoje, diante do povo, para ser Presidente dessas comissões, para, no fim, se o parecer for favorável ao Senado, o povo acreditar. Se o parecer for contra o Senado, aí o povo acredita; se o parecer for a favor, não. Há outra coisa: os bons estão querendo eleições gerais. Muitos estão falando até em acabar com o Senado e criar...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu lembraria ao Senador Cristovam que está para terminar o jogo, os noventa minutos.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, quem menos aqui pode falar em tempo é o senhor. Desculpe, mas o senhor nunca teve tempo...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senhor é Deus, é o Presidente Sarney, que merece respeito, é o Fernando Henrique Cardoso.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Estou falando com todo respeito. Hoje, existe a ideia de um sistema unicameral no Brasil, o que, a meu ver, é um desastre. E falo como nordestino, como representante de um pequeno Estado, como o Distrito Federal, pois isso quebraria o equilíbrio entre os Estados. Mas é isso que se está falando, até se esquecendo de que corrupção houve na Câmara, que corrupção houve no Executivo, que há, sim, corrupção no Judiciário, não só no Senado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Foi feita uma pesquisa numa rádio gaúcha, em Porto Alegre, após longo debate. Perguntaram: o que o senhor acha? Deve-se fazer uma reforma profunda e radical no Senado? O resultado foi: 7%. “Deve-se fechar o Senado?” O resultado foi: 93%.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não podemos fazer isso. Quero fechar, terminou o tempo, dizendo: os que estão contra essa proposta, essa sugestão, tragam outra. Mas, se simplesmente continuarmos nesse ritmo, vamos ser atropelados pela indignação popular.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado. Sr. Presidente. Posso dar um aparte ao Senador Wellington?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pode, é claro. Por que eu ia vetar um, se os outros falaram?

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Pedro Simon, para mim, é uma honra muito grande V. Exª me dar um aparte. V. Exª sabe do respeito que tenho por V. Exª como político, como homem do PMDB, como homem que fez história no PMDB. Eu nunca poderia imaginar dar um aparte a V. Exª. Mas há algumas condições, algumas situações que tenho de apresentar, e fico um pouco constrangido de fazê-lo a V. Exª. V. Exª sabe a admiração que tenho por V. Exª. Muito bem. V. Exª me disse que, quando Tancredo morreu, V. Exª disse que ele não podia ter morrido nunca. V. Exª me disse que “não o perdoou por ele ter morrido”, não esqueço essa frase. Na porta do hospital, perguntava-se: “Quem vai ser o Presidente?”. E aí um general, alguém - V. Exª viveu a história - falou...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não foi um general qualquer, não; foi o Ministro do Exército.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - O Ministro do Exército disse: “Vai ser o Sarney”. E V. Exª disse: “Mas como? Não pode ser o Sarney”. E Ulysses Guimarães disse...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele me mandou calar a boca. Ele me mandou calar a boca: “Para de falar! É o Sarney”.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Essa é a história.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Essa é a história.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Foi assim a história, porque V. Exª a viveu e me contou. E são essas as boas histórias do Senado. Naquele momento, Ulysses achou que o Presidente Sarney era um homem...

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - E há testemunhas, Senador. Há testemunhas.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Ulysses achou que Sarney era um homem capaz de tocar aquele momento do País. E assim o Presidente Sarney fez: tocou o País e levou-o à abertura.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Tanto concordo, que fui Ministro de S. Exª.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Está certo. Esse é um ponto da história. Vamos ao segundo momento da história, outra vez em que V. Exª se encontra com o Presidente Sarney, e não mais acredito na sua história, mas vivo a história. Foi uma reunião com dezenove Senadores presentes, dentro do PMDB. Os dezenove Senadores pediram para o Presidente Sarney ser Presidente. Inclusive, V. Exª implorou para ele ser candidato a Presidente. Eu vi a história. Ninguém me falou isso. Eu estava lá. Naquele momento, ele não aceitou. E nós, todos os dezenove, falamos: “V. Exª é nosso candidato a Presidente pelo PMDB”. E V. Exª disse que não o seria. Por isso, V. Exª não está aqui para derrubar Sarney, para ser Presidente: naquele momento, V. Exª o teria sido se quisesse. Eu estava lá e vi a história. V. Exª não aceitou ser o candidato do PMDB a Presidente do Senado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Desculpe-me. Eu me atrapalhei. Não entendi. Pensei que V. Exª estivesse se referindo a Sarney. Está se referindo a mim?

(Interrupção do som.)

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG. Fora do microfone.) - Refiro-me a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Fora do microfone.) - Dá para repetir?

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Estou me referindo a V. Exª. Naquele momento, os dezenove Senadores indicaram V. Exª para ser o candidato do PMDB a Presidente. V. Exª não aceitou. Portanto, não é golpe, porque, naquele momento, V. Exª, se quisesse ser o Presidente, teria sido. O PMDB o indicaria.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Desculpe-me, mas algum de nós está profundamente enganado. Foi a votação. Senador, eu disse: “Está aqui o manifesto, tendo à frente o Senador Suplicy, com 36 assinaturas para eu ser candidato. Vamos colocar em votação”. E fiquei...

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Não. Isso foi na outra. Estou falando agora. Isso foi na outra.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, desculpe-me, mas estou aqui Presidente. Estamos iguais no PMDB.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas V. Exª estava lá.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Aquela foi a do Garibaldi.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - É isso aí. Foi o outro momento. É da votação do Garibaldi que V. Exª está falando.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Todos os dois estão com a verdade.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - A verdade é esta que estou falando.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - A primeira versão é verdade: V. Exª com Garibaldi. Eu e Garibaldi votamos em V. Exª.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Isso.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - A segunda também é verdade, a do Wellington. Foi depois do Sarney.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Isso. Mas veja bem: naquele momento, V. Exª não quis ser o Presidente. O Presidente Sarney não aceitou por alguma razão. Tinha um compromisso, que não sei qual era. Depois, o Presidente...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não. Ele disse que não queria.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Está bom. Depois, o Presidente quis. O Presidente assumiu uma responsabilidade num momento difícil do Senado Federal.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Talvez, outros não tivessem coragem de sentar na cadeira, porque sabiam o momento que o Senado Federal estava vivendo. Era um momento de mudança, momento de transparência, um ano antes da eleição, quando muitos têm dificuldade de se eleger e precisam trabalhar para isso, criar fatos políticos, criar situações políticas, para alguém aqui sair mais puro do que todos os outros Senadores. Esse é o jogo político. O Presidente Sarney é eleito com 49 votos. Com 49 votos, aprovamos proposta de emenda à Constituição nesta Casa, mudamos a Constituição. Quarenta e nove votos teve o Presidente Sarney. O Presidente Sarney senta na cadeira. Todo problema, tudo o que é levado para o Presidente Sarney, o Presidente Sarney tem recebido. E vou dizer mais, Senador Pedro Simon: talvez até, tenha aberto mão de algum poder de que, se V. Exª estivesse na cadeira, não abriria mão jamais.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Não abriria mão jamais.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A Diretoria-Geral eu é que a escolheria. É verdade.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Não, não, não. Não abriria mão jamais. Ele quer o bem desta Casa. Todas as mudanças sugeridas, ele as está conduzindo. Mas vir aqui pregar para o Presidente se afastar? Por que ele deve se afastar? Ele está conduzindo o processo da maneira como deve: está regularizando com transparência, cortando quem o Senado quer que corte, tirando as pessoas que não merecem mais credibilidade nesta Casa. Aí vem aqui V. Exª, um homem que tenho no maior conceito nesta Casa e que respeito; vem aqui o Senador Cristovam, um homem ligado à educação que, quando vai à tribuna, acaba não praticando o que defende... O que está faltando nesta Casa é educação e respeito.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª quer dizer que nós não fazemos o que ele está pregando?

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Veja bem, não pode ser dessa maneira! Eu tenho a posição... Tenho participado de tudo, tenho visto tudo. Estou me colocando mais como espectador da história. Mas eu não sou... Eu não sou burro! Alguns me tacham de suplente, como se fosse um subproduto. Eu sou suplente, mas não sou burro.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Podem lhe tachar do que quiserem. De burro, jamais. Isso eu garanto. V. Exª é superinteligente.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - V. Exª é um símbolo de respeito. Não há... V. Exª é um Senador do Brasil, não é do Rio Grande do Sul. Posso discordar do que for de V. Exª, mas sempre vou admirá-lo. Não há como mudar isso. Agora, Srs. Senadores, tentar algo desse tipo? Até quando vai ser isso? Depois, sai o Sarney, entra um outro e faz tudo de novo. Por quê? Porque a economia vai bem, o País vai bem. O Presidente Lula é imbatível. Então, o que se pode fazer? Entrar no sistema de autoflagelação? O Senado vai praticar isso para alguns aparecerem na mídia a mais? Autodestruir-se, porque não há quem atacar? Eu sou contra, com toda a admiração que tenho por V. Exª. E vou continuar respeitando-o sempre e falando bem depois. E V. Exª é do Sarney, lá detrás. Vocês dois... Os dois, quando sentam, são histórias que não existem no livro, que só V. Exª presenciou, junto com o Presidente Sarney. Os dois estão juntos há muito tempo. Era só isso que eu queria colocar, com todo o respeito a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Foi uma pena que V. Exª tenha chegado tarde. V. Exª não ouviu o meu discurso. V. Exª ouviu o discurso do querido Senador do Acre. Ele fez um pronunciamento dizendo o que ele pensa, que não é o que penso. O que eu penso é muito singelo. Eu acho que a melhor coisa que o Presidente Sarney tem que fazer para ele...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, agora já está na prorrogação. Daqui a pouco, são os pênaltis. Noventa e um minutos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A melhor coisa que ele pode fazer é largar a Presidência. E a minha experiência de 60 anos me mostra isso. Há momentos na vida em que a situação não para. Em 54, pensava-se que o negócio era... mas aquela campanha que Lacerda e companhia fizeram contra o Dr. Getúlio foi num crescendo, foi num crescendo, foi num crescendo, foi num crescendo e terminou com o suicídio. E, por pouco, em 64 não aconteceu como em 54, se não houvesse o General Lott e garantisse a democracia. E 64 foi assim: foi num crescendo, foi num crescendo, foi num crescendo, e deu no que deu.

Há um movimento aí. Lá na Câmara, vários projetos de reforma da Constituição estão começando. O mais simples deixa o Senado funcionando, mas tira as prerrogativas da Casa. Primeiro, o Senado passa a ser Casa só revisora. O Senador não pode ter mais iniciativa de projeto de lei nem de emenda constitucional. Outro extingue o Senado. A proposta de extinguir o Senado tem simpatia, porque eles só vêem aquela tese: para que duas Casas? Eles não entendem que o Estado de V. Exª tem peso no Brasil porque há três Senadores do Piauí aqui. Se fosse só a Câmara, São Paulo tinha setenta, e o Piauí tinha oito. São Paulo, Minas e Rio de Janeiro dominariam o Brasil, o resto ia de arrasto. O Senado tem a representação da Federação. Mas há um movimento nesse sentido. E nós temos a obrigação de levá-lo adiante. Eu acho que isso é o mais importante.

A impressão que se tem, lá fora, desta Casa é de que somos uma corporação para defender os nossos interesses. E a imagem que se tem quando “é isso, e mais isso, e mais isso, e ninguém sabia” está nos levando ao ridículo: são os velhinhos que já estão gagás, não entendem mais nada.

Acho que a obrigação de pensar no conjunto é de todos nós; e, de um modo especial, do Presidente Sarney.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2009 - Página 27336