O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Liderança oficial do PMDB nesta Casa, representada pelo Deputado Renan Calheiros, solicitou-me que, oficialmente, lesse uma nota divulgada hoje à imprensa desta Capital, e é assinada pelo Presidente José Sarney.

Diz o Presidente o seguinte:

Nota à imprensa

Sobre a matéria divulgada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, considero os esclarecimentos prestados pelo meu neto, José Adriano Cordeiro Sarney - pessoa extremamente qualificada, com mestrado na [universidade] Sorbonne [na França], e pós-graduação em Harvard [nos Estados Unidos] -, suficientes para mostrar a verdadeira face de uma campanha midiática para atingir-me, na qual não excluo a minha posição política, nunca ocultada, de apoio ao Presidente Lula e seu governo.

Senador José Sarney.

Essa nota mostra uma posição familiar, extremamente respeitável, que deve merecer até mesmo uma solidariedade global - e ai daquele que foge da solidariedade familiar -, em relação a um neto que foi objeto hoje de uma matéria enorme do jornal.

José Adriano Cordeiro Sarney também escreve ao Diretor desta Casa, explicando a sua posição como funcionário e explicando quem é ele, que também vou ler:

Senhor Diretor,

A propósito da reportagem publicada na edição de hoje deste jornal (“Neto de Sarney agencia crédito para funcionário do Senado”), esclareço os seguintes pontos:

1) Sou economista e administrador formado na Universidade Americana de Paris... [em várias universidades estrangeiras]. Nessa condição, fui gerente no departamento responsável por créditos no HSBC e, posteriormente, pelos conhecimentos na área, decidi atuar nesse mercado;

2) Em 2007, ao estabelecer-me em Brasília, o HSBC resolveu, em função de minha experiência, fazer uma parceria com a empresa da qual sou sócio, a Sarcris, cadastrando-a para cuidar de convênios que mantinha desde 1995 com instituições públicas e empresas privadas, inclusive o Senado Federal (Convênio nº 52, de 1995, firmado em 7 dezembro de 1995);

3) Como dito anteriormente, o HSBC já dispunha de autorização para atuar, ao lado de inúmeras outras empresas, com crédito consignado para servidores públicos, sendo o Senado participação residual insignificante;

4) Ao contrário do que informa a reportagem, a Sarcris tem endereço em Brasília e chegou a ter quinze empregados agenciadores, com carteira assinada. Estabeleceu-se inicialmente no Edifício Multiempresarial e, depois, mudou-se para o Edifício Serra Dourada, no Setor Comercial Sul. Devido à crise financeira mundial e a consequente retração do crédito no Brasil, estamos reduzindo nossas atividades e rescindindo (28 de junho) o contrato de aluguel [do imóvel no qual a empresa é sediada];

5) Em relação à Choice Consultoria, cujo nome consta em infográfico ilustrativo da reportagem (A-4), esclareço que a mesma mantém endereço no Liberty Mall, em Brasília, e, ao contrário do que afirma a reportagem, nunca atuou no mercado de crédito consignado.]

6) No mais, condeno as insinuações descabidas. Nunca tive qualquer favorecimento, sou profissional qualificado, cuidando da minha vida. Em defesa do meu conceito profissional, informo que, em relação à reportagem, vou adotar as medidas judiciais necessárias.

Atenciosamente,

José Adriano Cordeiro Sarney.

Essas são as duas notas, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que a Liderança solicitou-me que desse conhecimento aos Senadores, ao mundo e ao povo.

Foi defendida aqui a tese do afastamento do Presidente da Casa. O Presidente que assistiu seguramente, na Câmara Federal, no Rio de Janeiro, no Palácio Tiradentes, o antigo Deputado José Sarney, ao afastamento do Vice-Presidente Café Filho, que se afastou para ir cuidar de problemas coronários. Ele era o Presidente da República e estava sendo pressionado pelo General Lott, que queria punir o Coronel Jurandir Bizarria Mamede. Afastou-se, recolheu-se ao hospital e foi substituído pelo Deputado Carlos Luz, que era o sucessor dele, Presidente da Câmara Federal. E deu no que deu. E deu no que deu! Ele nunca mais voltou à Presidência.

Eu não vejo motivo nenhum - eu, particularmente, Senador - para que o atual Presidente se afaste, em uma coação política eventual. Ele que criou a TV Senado - está aqui a Resolução nº 24, de 1995 -, que permite que hoje eu esteja me dirigindo não a meia dúzia de Senadores, mas, sim, a todo o povo brasileiro. Graças a um homem chamado Presidente José Sarney, que criou isso em 1995. Logo depois, criou a Rádio Senado, que permite que todo mundo aqui do Senado, os 81 Senadores tenham as suas idéias chegadas aos mais distantes recantos do Brasil. Esse homem... Só esse serviço que ele prestou ao Senado o torna diferente entre os outros Senadores. Ninguém fez isso antes, não. Ninguém fez isso quando o Senado funcionava no Rio de Janeiro ou quando se mudou para cá. Mas foi ele que, em 1995, pela Resolução nº 24, assinada por ele, criou a TV Senado. E sei que neste momento estou falando para todo o povo brasileiro.

Quanto ao resto, vamos ser bastante claros. Existe um Regimento Interno nesta Casa prevendo todas as situações, prevendo o funcionamento do Senado: como é que funciona, como é que ele é eleito, como é que você pode usar a palavra, como é que você pode apresentar projeto, como é que você pode eleger a direção na Casa. Se existe um Regimento Interno com as regras do jogo, dizendo o que pode fazer o quê, não vejo motivo para se inventar agora, por exemplo, o Plenário eleger o Diretor-Geral da Casa. Esse tem de ser definido pela Mesa Diretora. Foi para isto que o Plenário votou uma Mesa Diretora: para dirigir os trabalhos, para conduzir politicamente a Casa, dando poderes enormes ao 1º Secretário, dando poderes imperiais ao Presidente da Casa. Não vejo como, não vejo por que essas ideias.

Em toda Casa do Legislativo é isso mesmo o que acontece. É aqui, é em Câmara de Vereadores, é nas Assembleias Legislativas, em toda parte, o que acontece é uma crise político-partidária permanente. Quem quer que venha a assistir às sessões deste Senado ou da Câmara Federal ou de uma Assembleia Legislativa há de constatar o que estou dizendo, o quão verdadeiro.

A missão especial minha hoje, aqui, era ler esta nota do Presidente José Sarney, que embora não esteja presente, está atento aos trabalhos, ao desenvolvimento dos acontecimentos neste Senado Federal. A tese tão bem exposta, aqui, é uma tese com a qual eu não concordo, vários Senadores não concordam, e seria uma imitação do que aconteceu, no passado, quase uma imitação com o Presidente da República Café Filho.

Muito obrigado.

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