Discurso durante a 108ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do quinquagésimo aniversário da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil - CSPB.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do quinquagésimo aniversário da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil - CSPB.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2009 - Página 28215
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, CINQUENTENARIO, CRIAÇÃO, CONFEDERAÇÃO, FUNCIONARIO PUBLICO, BRASIL, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VETO (VET), AUMENTO, SALARIO, SERVIDOR, REGISTRO, ORADOR, IMPORTANCIA, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO PAIM, SENADOR, DEFESA, APOSENTADO.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - São tantas as autoridades importantes e eu poderia deixar de citar algum nome por esquecimento e seria imperdoável. Então, eu peço permissão para saudar a todos em nome desse grande servidor do Brasil, Presidente José Sarney. (Palmas.)

            Parlamentares presentes, meus senhores, encantadoras servidoras e senhoras do meu Brasil, Presidente Sarney, V. Exª, que é intelectual, Cícero, Senador de Roma, dizia assim: “O Senado e o povo de Roma...” E nós podemos dizer: “O Senado e o povo do Brasil”.

            Mas ele disse, Sarney, algo que me intimida: “Nunca fale depois de um grande orador”. Lá vai eu. Sarney me escalou depois do Crivella, que, além de Senador, é representante de Deus aqui. Mas eu vou ter que falar. Eu estou acostumado a obedecer e Rui Barbosa ensinou: “Obedeça para aprender a mandar”. Está lá na Oração aos Moços: “Ouça muito para entender”.

            E, em seguida, eu quero dizer o seguinte: Presidente Sarney, esse negócio de política é muito complicado. Esse pessoal, de uma hora para outra... Por que Rui Barbosa está ali? Atentai bem! A pátria é a família amplificada. Atentai bem, jornalista: Pátria é a família! Ali está acima, arriba, como se diz em castelhano, o Cristo, forte, Filho de Deus, como nós, mas mais especial. Ele não desgarrou, não. Botou numa família: Jesus, Maria e José. Esse negócio hoje... família, se fala da esposa, se fala de filho, se fala de neto... O meu professor de cirurgia dizia que a ignorância é audaciosa, o Professor Mariano de Andrade.

            Mas o que eu queria dizer é o seguinte: Presidente Sarney, eu ganhei de V. Exª só em filhos: o senhor tem três e eu tenho quatro. Foi a única coisa que consegui ganhar, e eu me orgulho. E esse negócio de política, eu querendo tirar o meu filho... Eu não sei escrever, minha mãe é escritora, escreveu A Vida, Um Hino de Amor.

         Outro dia, o Sarney perguntou: “Mão Santa, por que você não escreve?” Eu respondi: “Eu sou complexado, eu vou escrever, mas o livro da mamãe é melhor”. Não dá.

            A Vida, Um Hino de Amor, publicado pela Vozes. Ela é terceira franciscana. O meu nome é Francisco, não tem nada de Mão Santa, mas tem de mãe santa. Desse eu não abro mão.

            Mas aí, para orientar o filho, Sarney, tem esse negócio de política e V. Exª conhece e a gente... Filho é um negócio de Deus, é um dom, ninguém... Manda até certo ponto, orienta, todos nós temos.

            Amaldiçoados aqueles que buscam a mulher, buscam a mãe, buscam os filhos e que agridem a família. Eles são amaldiçoados. É isso aí. E eu queria dizer, então, Lupi, meu amigo do Rio de Janeiro, herdeiro de Brizola, que fui ver um conto, que não era meu, fiz um livro, A Mão que Luta, só para o menino ler. Aí, Sarney, tinha um conto, era lá na Turquia... Deram um golpe, mas um golpe daqueles, não é o que a gente pega aqui de vez em quando, não, que eu já peguei e já estou aqui. É o seguinte: pegaram ele, porrete, tiraram e disseram: “Não, mas nós obedecemos às tradições, às leis, aos costumes. Não vai ser assim, não. Você vai ter direito”. “Qual o direito?” “Você vai ter direito, antes de ir para a forca - olha o que é política, o sujeito sai de lá, o rei da Turquia -, você tem direito a um último pedido”. Sarney, sabe o que ele disse? “Pelo amor de Deus, vão atrás do meu filho e digam para não se meter nesse diabo de política”. Então, política é assim mesmo.

            Quem imaginaria o maior de todos nós, o maior de todos nós, bem ali, sentado, humilhado, escorchado daqui, exilado, que fez tudo: Juscelino Kubitschek. Só para mostrar como política é cheia dessas coisas. (Palmas.)

            Quem imaginaria que Winston Churchill… Aí vai disputar Rui Barbosa, Winston Chuchill, Sarney, é uma confusão doida. Mas eu vou dizer: Winston Churchill - esses já se foram - disse o seguinte - está ouvindo, Presidente Sarney? “Terminou a guerra. Como foi que você conseguiu tanta força?” “Casei-me e tudo foi fácil”. O valor da mulher, da família... Rui Barbosa com a Maria Augusta dele, firme; Sarney com a D. Marli... É um exemplo de amor. (Palmas.)

            Eu apenas tive o privilégio de nascer na Parnaíba, do lado do Sarney. Meu pai e o pai de Adalgisa são maranhenses.

            Os dias mais felizes são em casa de avô. Avô é bicho bom, avô é bacana. Eu sou e tal e quem tem sente. Eu passava as férias na casa da minha avó Nhazinha e conheço este Sarney de menino. Eu posso, é servidor, mas está tudo enquadrado. Porque o menino, esse menino, menino é que é jornalista, busca a verdade. E um jornal e um jornalista só valem pela verdade que dizem. Se ele não busca a verdade, está desgraçado. Eu era menino e vi.

            Sarney, V. Exª é um abençoado, e eu abro a Bíblia. A Bíblia diz aos abençoados, bem-aventurados e escolhidos Deus dá um vida longa para que até o fim dos seus dias possam exercitar sua profissão.

            Todos sabemos que Aristóteles disse: “O homem é um animal político”. Ninguém ousou contestar.

            Não é isso, Marconi Perillo? Esse animal político... Está aí o Presidente Sarney. Vou contar uma dele. Eu era menino... Aqui existe carnaval fora de época e fizeram agora no Piauí. Acabaram lá até com o São João, com os lugares onde se dançava, e um empresário veio e fez um carnaval, um carnaval fora de época. Mas eu era menino e vi uma eleição fora de época. Era menino. Havia um tal de Assis Chateaubriand, Chatô, Rei do Brasil, que andou perdendo, negociou com Governador, com suplente e o diabo, e eu estava lá. Eu vi, menino! Sarney foi quem teve coragem de juntar uns jovens e arrumar um caminhão para buscar a propaganda desse Assis Chateaubriand e queimar numa praia. Sarney apoiou uma professorinha. Assis Chateaubriand! Olha aí era... Nós vimos Roberto Marinho... E Assis Chateaubriand tinha os Diários Associados, que, olha, tinha mais rádio e emissora do que muriçoca no Brasil. E ele, Sarney, combateu. Não tem esse negócio de dizer... Eu vi, eu vi. Estou contando história.

            E, depois, cresci em São Luís e eu o vi ser Governador. Eu fui Governador, mas quero dizer-lhes que nenhum Governador da história do Nordeste excedeu a visão moderna de Sarney em São Luís. Eu conheci ali, aquela ponte... Ele foi esse homem. E Deus lhe permitiu: os cargos que ele teve foi o povo que deu. Tenho conhecimento. Nenhum foi usurpado, não. Em todos, foi o povo. Eu acompanhei. O povo é o poder.

            Depois, vi o Presidente Sarney no momento mais difícil de nossa história. Deus escreve certo por linhas tortas: a esperança de Minas, Tancredo. Mas Deus é que sabe das coisas. Deus não faltaria ao Brasil. Sei que Sarney... Respeito devemos ter a toda pessoa, principalmente aos mais velhos. Mas gratidão todos temos de ter. Não é preciso ser estudioso, conhecer a história, não. Há televisão. Olhem as guerras, as mortes, as perversidades. Tirar das trevas de uma ditadura para a luz democrática em que vivemos!

            Eu era prefeitinho. Generoso. Trabalhei com ele, com Fernando Collor, com Itamar e, depois, governei com Fernando Henrique Cardoso. Generoso, humano e mais: árvore boa dá bons frutos. Quem contesta isso? Estou convencido de que sou bom não é por mim mesmo, não. É pela minha mãe. E existe uma Kiola, que está lá no céu.

            Aí ele foi Presidente, e a Kiola disse para ele... Eu vi, eu sou vizinho ali, eu sei. E ele vivia em Parnaíba. Ele tinha amizade lá, Sebastião Furtado e D. Ester. Mas esse animal político, Paim - ele, Presidente, e eu, Governador - sai, entrega o Governo; para um adversário contundente, o Presidente passa. Mas o que me surpreendeu foi o seguinte: eu, prefeitinho; ele passou a faixa... E disseram que o Presidente Sarney ia chegar lá. Rapaz, mas esse homem, Presidente... Eu, se fosse ele, estaria, Carlos Lupi, lá na França, em Paris, onde nós nos encantamos, lá em Genebra. Rapaz, esse homem vem? Vem mesmo? Vamos receber o ex-presidente, não é?

            Da minha cidade, atravessamos um rio e estamos no Maranhão. Aliás, esse apelido de Mão Santa foi lá em Tutóia, Barro Duro. Eu ia representar o Dr. Cândido Almeida Ataíde, um diretor. Mas não; aí fui e acompanhei o Presidente, depois de deixar a presidência.

            Quando Aristóteles disse que o homem é um animal político, ele estava nos mostrando Sarney. E quero dizer o seguinte: ele foi para inaugurar, na cidadezinha pequena, uns calçamentinhos, um grupo, e eu vendo isso. Saído da presidência da República.

            E quero dizer o seguinte, servidor público: a minha família realmente foi abastada, o meu avô era industrial. Mas eu tenho noção, eu me formei numa universidade pública, a Universidade Federal do Ceará, e comecei a entender a grandeza do servidor público, dos professores, dos médicos, dos funcionários. Depois, fiz um concurso para o hospital municipal, fui fazer minha pós-graduação também em uma instituição pública, o Hospital dos Servidores do Estado, o Ipase; era o hospital padrão para receber todos os funcionários públicos desde o Presidente da República. Quero dizer, essa é a minha formação.

            Eu voltei, e foi porque quis. Eu não construí nenhum patrimônio privado. Levei minha vida em uma Santa Casa, exerci e fui do INPS, médico-cirurgião, essas vidas todas servindo e vendo os companheiros mais humildes, os motoristas, as enfermeiras, tudo. Então, é a minha vida; estou aqui, altruísta.

            Paim, o Presidente Sarney se comprometeu conosco - ele não falhou, não; foram outras coisas alheias à vontade dele - de, no dia 8, derrubarmos aquele veto do Presidente da República. Ele vai agradecer, o Luiz Inácio. Aquilo ali foram uns aloprados que disseram: “Vete, um aumentozinho pequeno, que é justo!”. Tem muito aloprado em torno dele porque aquilo... O veto. Luiz Inácio, estou aqui, Senador, pai da Pátria. Não desonra, não. Não ouça esses aloprados, não. Estamos aqui para ajudar.

            Fui prefeitinho, derrubaram meus vetos, os Vereadores. Fui Governador do Estado, os Deputados derrubaram alguns vetos. Isso faz parte, Luiz Inácio, do jogo, da beleza da democracia. Então, não queremos ofendê-lo, não.

            E, se você quer ajudar, não vá, não vá na onda dos aloprados, não. Nós é que estamos aqui e somos os pais da Pátria. É bom para ele. Aquilo não existe. E mais aquele negócio imoral de fator redutor. Aquilo não existe no mundo. Não existe! (Palmas.)

            Eu sou o Relator. O Paim vem carregando essa cruz há quantos anos? Essa luta, Paim? E eu, Cirineu dele aqui. Fui o Relator desse negócio. Aquilo não existe, Paim! É uma nódoa. Aquilo é uma vergonha!

            E a economia, ele não disse que quer ver o dinheiro circular? Bota aí para os velhinhos! Olha, eu sei que o Luiz Inácio está aí. E eu aprendi com o Petrônio a não agredir os fatos. Ele é majoritário.

         Mas tenho uma para ensinar para o Luiz Inácio: não brinque com velhinho, não; velhinho é gente boa. Eu sei disso. Eu era prefeitinho, Sarney, e não se pagava salário-mínimo, não. E aí eu paguei. Eu disse: existe uma folha aí de uns antigos, que não era nem da Previdência; eram uns 20, número pequeno; uns 10 empregados, uns 12, e os 20 pensionistas. Eles ganhavam o valor de uma cerveja, uma Coca-Cola. Sei que chamei no gabinete e mandei pagar salário-mínimo. Sarney, aí um velho começou a tremer, e eu disse: bota num carro, e vai lá. Porque ele ganhava uma ninharia. Antes, ficavam chocados e não faziam pressão. Meu amigo Sarney, aí, em todas as inaugurações, ele estava lá. Quando vi, o gerente do banco... O pai dele era... Quer dizer, olha a família por trás do velhinho, Luiz Inácio; ele não tem não é para ele, não. Os compromissos, nós não podemos, porque isso é uma cadeia da família. O velhinho, com dignidade, fez os cálculos dele e se comprometeu a ajudar o filho, o neto, numa faculdade, no tratamento, em tudo. E agora está desacreditado, por nossa culpa. Porque o Governo não é o Luiz Inácio, não; somos nós, os três Poderes. Ele não é rei para ser só. Não é democracia? Então, será a grande vitória. Isso, respeito ao aposentado. V. Exªs vão se aposentar. Então, são essas as minhas palavras, e eu faço minhas finais as de Sarney, da mãe Kiola dele, que disse para ele - li num livro -: “Meu filho, não deixe que persigam os trabalhadores aposentados do Brasil”.

            Então, essas eram as minhas palavras. (Palmas.)

            Vamos juntos, e como Rui Barbosa disse: “A primazia tem que ser dada a quem trabalha: o trabalhador. Eles vêm antes; eles fazem a riqueza”. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2009 - Página 28215