Discurso durante a 118ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as dimensões catastróficas que vem alcançando o problema da violência nas escolas em todo o Brasil.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. EDUCAÇÃO.:
  • Preocupação com as dimensões catastróficas que vem alcançando o problema da violência nas escolas em todo o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2009 - Página 31983
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, CRESCIMENTO, VIOLENCIA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, DETALHAMENTO, OCORRENCIA, DESTRUIÇÃO, ESCOLA PUBLICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ARMAMENTO, ALUNO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), DELINQUENCIA JUVENIL, AMEAÇA, MORTE, PROFESSOR, REPRESALIA, PUNIÇÃO, ESTUDANTE, LEITURA, TRECHO, DEPOIMENTO, DIFICULDADE, EXERCICIO PROFISSIONAL, MAGISTERIO, PROVOCAÇÃO, DESISTENCIA, PROFISSÃO.
  • CRITICA, EXCESSO, TOLERANCIA, ESPECIALISTA, EDUCAÇÃO, OMISSÃO, FAMILIA, LIMITAÇÃO, CRIANÇA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de local de aprendizado, destinado à transmissão do legado do conhecimento humano, as escolas brasileiras transformaram-se em palco de atos de violência, que a cada dia assumem maiores proporções, num crescendo alarmante. Uma das mais dramáticas demonstrações de que o problema está ganhando dimensões catastróficas ocorreu no final do ano passado, na Escola Estadual Amadeu Amaral, na zona leste da capital paulista.

            Alunos depredaram as instalações do colégio, agrediram colegas e trancaram professores na sala de aula. Jovens embrulharam os pulsos em camisetas para estourar os vidros com socos e arremessaram cadeiras do segundo andar.

            Em maio deste ano, aconteceu novo episódio de vandalismo, dessa vez na Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença, na Mooca, zona leste de SP. Foram quebradas 47 vidraças, 25 cadeiras, 27 mesas e 4 lixeiras. Os distúrbios começaram depois que 2 alunos proibidos de entrar no prédio fora do horário de aulas foram retirados da escola.

            Mas São Paulo está longe de deter a exclusividade em matéria de casos de violência em escolas. Em Viana, no Espírito Santo, uma pedagoga foi afastada de suas atividades na Escola Estadual Maria de Novaes Pinheiro, no mês passado. Ela surpreendeu um estudante, que cursava a terceira série do ensino fundamental, numa sala da escola, fora de seu horário de aula. Ao tentar retirá-lo, ouviu dele: “Vou encher sua cara de chumbo”. Descobriu depois que ele fora expulso de duas outras escolas e tinha passagens pela polícia. Detalhe: o estudante tem 14 anos de idade. Pais de outros alunos contaram que, segundo seus filhos, ele às vezes comparecia armado às aulas.

            Em São Torquato, Município de Vila Velha, um aviso foi pregado na porta da sala dos professores no final de maio. Nele havia uma lista com os nomes de 6 professores e 1 coordenador, com o título: “Lista dos que vão para a vala”. Aos nomes dos professores, entre os quais uma grávida, seguiam-se justificativas para seu assassinato. A lista seria uma represália à transferência de um aluno acusado de cometer atos de vandalismo e ameaçar funcionários da escola. No final, continha uma nova ameaça: se um aluno, suspeito de envolvimento com tráfico de drogas, fosse transferido, começariam as mortes dos professores.

            Merece transcrição o depoimento de uma das professoras incluídas na lista ao jornal A Tribuna, de Vitória: “Comecei a trabalhar na profissão há 3 anos, para realizar um sonho, e hoje nem consigo dormir direito. Fui ameaçada e humilhada diariamente. Esses alunos me fizeram pensar em abandonar o magistério. Vivo à base de remédios e com ajuda psicológica”.

            Não são poucos os professores que relatam terem procurado outra profissão ou pedido transferência, intimidados pelas ameaças de alunos. Estatísticas do Sindicato dos Professores de São Paulo, que provavelmente refletem, em grau maior ou menor, a situação em outras cidades, revelam que, de cada 10 professores, 8 presenciaram ou ouviram falar de histórias de violência nas escolas em que lecionam. Sete já testemunharam o envolvimento de alunos com o tráfico de drogas, e 4 entre 10 professores já souberam de alunos armados. Dos entrevistados na pesquisa feita pelo Sindicato, quase 39% dos alunos dizem que faltam às aulas porque se sentem inseguros. E 29% dos professores afirmaram que pensam em deixar de lecionar por causa da violência.

            O medo faz com que os professores tolerem todo tipo de comportamento em sala de aula. Alunos estouram bombas caseiras, exibem armas, agridem seus mestres física e verbalmente, depredam as instalações da escola. O vigilante de uma escola em Cariacica, no Espírito Santo, relata que “é comum ver arranhões e pneus vazios nos carros dos professores mais severos”.

            Quando os educadores decidem reagir, muitas vezes seu destino é trágico. Em Guaianazes, na periferia de São Paulo, a professora Edi Greenfeld, de 52 anos, dirigia a Escola Municipal Madre Joana Angélica de Jesus. Conhecida por enfrentar os traficantes que vendiam drogas na escola, foi assassinada com 2 tiros na cabeça, em abril de 2002. É difícil acreditar que não tenha sido morta por estar prejudicando as atividades dos criminosos.

            Essa escalada da violência conta com a cumplicidade, consciente ou não, de especialistas em educação que adotam a “teoria da tolerância”. Para eles, o vandalismo, por exemplo, é um ato de revolta contra a má qualidade do ensino. Ou seja, os alunos não estão fazendo nada demais, apenas expressando sua insatisfação com os padrões da educação brasileira. Cabe perguntar, a quem pensa assim, se estudantes capazes de ameaçar de morte seus professores e de cometer todo tipo de atos de selvageria por acaso estão preocupados com a qualidade do ensino...

            Fornecer a chamada “educação social” aos jovens, mostrar-lhes que é preciso conviver com limites, participar de sua educação escolar, prepará-los para a vida adulta - essas são atribuições das famílias, que cada vez mais deixam tudo a cargo das escolas. E estas, o que recebem? Alunos agressivos, desinteressados pelo estudo e indisciplinados. Como não foram ensinados a respeitar seus próprios pais, dificilmente respeitarão os professores. Não é o caso de apelar para a tirania, mas de supervisionar, estar presente e transmitir valores. Caso contrário, estaremos criando uma geração com sérios desvios de comportamento, sempre disposta a recorrer à violência.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2009 - Página 31983