Discurso durante a 120ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Defesa da promoção de ampla campanha de esclarecimento da população sobre a gripe suína e ampliação da capacidade de diagnóstico por parte do sistema de saúde pública. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Defesa da promoção de ampla campanha de esclarecimento da população sobre a gripe suína e ampliação da capacidade de diagnóstico por parte do sistema de saúde pública. (como Líder)
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2009 - Página 32431
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, AUTORIDADE SANITARIA, DIVULGAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, CAMPANHA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, FORMA, PREVENÇÃO, COMBATE, PROPAGAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL, BRASIL.
  • DEFESA, URGENCIA, DESTINAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, SISTEMA, SAUDE PUBLICA, CRIAÇÃO, CENTRO DE SAUDE, AMPLIAÇÃO, CAPACIDADE, DIAGNOSTICO, AGILIZAÇÃO, DESCOBERTA, DOENÇA, NECESSIDADE, PACIENTE, REPOUSO, RESIDENCIA, IMPEDIMENTO, PROPAGAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL.
  • PROPOSIÇÃO, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, PROTEÇÃO, TRABALHADOR, AREA, SAUDE, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, CONTRATAÇÃO, CARATER EXCEPCIONAL, ENFERMEIRO, AUXILIAR DE ENFERMAGEM, MEDICO, AUXILIO, COMBATE, INCIDENCIA, PROPAGAÇÃO, DOENÇA.

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            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, Senador Mão Santa.

            O pronunciamento que vou proferir é a respeito de uma questão que está preocupando não somente o Brasil, mas o mundo inteiro. É sobre o vírus da gripe suína, que está provocando muitas mortes e causando muito sofrimento.

            Estamos atravessando, em escala mundial, a primeira pandemia de gripe dos últimos 40 anos (considerando que a pandemia de gripe asiática de Hong Kong em 1968, com o vírus H3N2, foi a última de que temos notícia). Estamos diante da primeira pandemia do novo século. Apesar da baixa letalidade ou capacidade de matar desse vírus, o seu potencial de contágio é maior do que o vírus de outras pandemias.

            O que estou querendo dizer é que ele tem capacidade de atingir muito mais gente. Esta é uma das características do vírus H1N1. Este padrão de vírus agressivo, que ataca jovens, pessoas com o sistema imune mais saudável, lembra muito o da gripe espanhola de 1918; nossa sorte, por enquanto, é que esse vírus da gripe suína não sofreu qualquer mutação que o torne tão letal quanto o da gripe espanhola. No entanto, ele contagia mais, passa mais rapidamente para mais gente.

            Segundo o Infectologista Edílson Migowski, entrevistado pelo O Globo, do dia 13 deste mês, em ambientes confinados, o vírus da gripe suína tem capacidade de contaminar 74% das pessoas - em ambiente fechado. O mesmo especialista também alertou que a probabilidade de contágio agora é maior, pois há indícios de que o vírus circula entre a população mais pobre, que vive mais aglomerada e usa muito transporte coletivo.

            Por isso mesmo é possível que se desenvolva entre nós um grande surto. Uma notícia de ontem, do mesmo jornal O Globo, confirma o primeiro caso da doença em escola pública, em Bangu, na cidade do Rio de Janeiro, o que levou a prefeitura a divulgar um plano de contingência contra o possível surto da gripe suína.

            Neste particular, quero chamar a atenção para um documento importante divulgado dias atrás. Trata-se do relatório norte-americano sobre a gripe suína, recém-divulgado, que cobre os meses de abril e maio últimos, no qual, pela primeira vez, são estudadas e bem documentadas as características de todo o grupo populacional atingido pela gripe suína por lá.

            O Dr. Dráuzio Varela, na Carta Capital, analisou este relatório e chamou a atenção para fatos que todos nós precisamos levar em conta, principalmente para organizarmos a melhor estratégia nacional de combate à gripe.

            Tenho consciência de que, como país, nem de longe chegamos a atingir um quadro de emergência sanitária como a Argentina, por exemplo, e, por outro lado, nem estamos sofrendo a quantidade de casos dos Estados Unidos, mas exatamente por isso temos que buscar todas as informações para adotarmos uma adequada estratégia própria. Lembrando que se é certo que ainda estejamos no momento da transmissão sustentada da doença, o próprio Ministro Temporão já admite que não se pode excluir a hipótese de uma epidemia.

            E as informações norte-americanas são as seguintes: nas centenas de pessoas atacadas pela gripe suína, a idade variou de 3 meses a 81 anos de idade; um total de 40% das pessoas apresentavam entre 10 e 18 anos e apenas 5% tinham mais de 51 anos. Essa distribuição de casos nos diz uma coisa importante: essa gripe inverte o perfil das gripes sazonais que nos atacam todo inverno, já que estas atingem principalmente os mais velhos e as crianças pequenas.

            Segundo o mesmo relatório, levando-se em conta todos os casos de gripe suína lá registrados, os sintomas mais comuns foram: febre (94% dos casos), tosse (92% dos casos) e dores de garganta. Além deles, diarreia e vômitos, que são queixas raras nas gripes sazonais ou comuns, apareceram em 25% dos casos. Tudo isso guarda semelhança com o que vem ocorrendo no nosso País.

            Concedo um aparte, antes de terminar, ao nobre Senador Mozarildo Cavalcanti, que é médico e conhecedor profundo deste assunto. Temos certeza de que ele nos trará novas luzes sobre este assunto, sobre esta matéria.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Valadares, fico feliz que V. Exª esteja abordando este tema. Há dias, tratei sobre ele, e tínhamos apenas um caso de morte; hoje, nós temos quatro. Portanto, foram 300% de aumento em pouco tempo. Eu realmente acho que o alerta que V. Exª faz, que vários Senadores têm feito aqui e que a imprensa já tem analisado através de especialistas, é que o Governo subestimou a possibilidade da entrada e da circulação do vírus aqui. Já temos casos de contaminação interna, isto é, vírus transitando aqui dentro - alguém que não entrou em contato com ninguém que veio dos Estados Unidos, do México ou da Argentina e que, portanto, adquiriu a gripe. Então, isso já era a transmissão interna, o vírus circulando dentro do Brasil. É verdade que a Organização Mundial de Saúde diz que não há como evitar que essa doença se espalhe. O que se tem de fazer é a prevenção - o diagnóstico e o tratamento precoce. O que tem acontecido aqui é realmente esse descuido. Muito mais, Senador Valadares, se V. Exª verificar, temos uma fronteira viva, aberta, com a Argentina, que tem 117 casos de morte pela influenza A (H1N1), a popular gripe suína. Então, é preciso que o Governo redobre a vigilância, aumente a capacidade de diagnóstico - só dois ou três laboratórios no Brasil estão fazendo diagnóstico - e principalmente disponibilize toda a rede não só pública, como também toda rede de atendimento médico existente no País, para que não possamos sofrer tão rapidamente. Porque parece pouco pular de 1 para 4, mas de 4 para 12 é um pulo também. Então, espero que mais este pronunciamento de V. Exª possa servir de alerta para que o Governo, por meio do Ministério da Saúde, adote cuidados mais amplos em relação a essa questão.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Agradeço a V. Exª e incorporo as suas palavras ao meu discurso, palavras substanciosas e conhecedoras do problema, como me referi antes de dar o aparte a V. Exª.

            Ainda no relatório a que me referi, vê-se que vieram a falecer pessoas dentro da seguinte faixa, que vem a ser precisamente a mais vulnerável: crianças, adultos com o sistema imunológico debilitado, sendo que, por lá, os grupos que mais desenvolveram complicações se enquadravam entre crianças com menos de cinco anos, mulheres e homens com mais de 65 anos, crianças ou adultos portadores de doenças crônicas e as mulheres grávidas.

            Diante desse quadro, quero fazer aqui duas sugestões de ordem prática, considerando que já estamos caminhando para os mais de mil casos notificados desde as primeiras notificações oficiais no País - desde o dia 8 de maio último -, com três mortes registradas, agora quatro mortes, conforme o Senador Mozarildo nos informa.

            A minha primeira sugestão é a de que, considerando que todo o público alvo desse vírus e que a disseminação ocorre principalmente por meio das gotículas que se desprendem na tosse e nos espirros, do contato com as mãos e objetos manipulados pelos doentes e com material de diarréia e vômito, e considerando também que o poder de contágio desse vírus é maior, temos que adotar o maior cuidado possível com as secreções respiratórias. Isso é de importância decisiva. 

            As autoridades sanitárias devem divulgar, por todos os meios, em toda a mídia, da forma mais didática, essa informação além de outras que ajudem a combater a propagação. A mídia tem que funcionar como uma escola de prevenção contra a doença.

            Em segundo lugar, a sugestão que faço às autoridades sanitárias, partindo do ponto de vista de que a maior prevenção, o maior cuidado para que a pessoa infectada não passe o vírus adiante ainda é o isolamento domiciliar, é a de que se diagnostiquem todos os suspeitos. É essencial, nesse sentido, a ampliação da capacidade de diagnóstico por parte do sistema de saúde público de forma que se possa detectar prontamente e garantir a quarentena domiciliar de toda pessoa portadora do vírus.

            A própria OMS recomenda que as pessoas com sintomas não saiam de casa e evitem aglomerações, além de que devem adotar repouso e ingestão maior de líquidos. Não há outra forma de minimizar a propagação da doença.

            Para ampliar a capacidade de diagnóstico, defendo a alocação orçamentária de emergência - da mesma forma que fazemos nas enchentes e outras calamidades - para a imediata criação de novos centros de diagnóstico, especialmente adotando a modalidade de diagnóstico rápido, já que contamos hoje com apenas três centros, em Belém, no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos quais o diagnóstico tem demorado, segundo a imprensa, até sete dias para ser efetuado.

            Proponho também que sejam tomadas providências em favor dos trabalhadores da área de saúde, considerando que são estes os batalhões de frente no combate à gripe suína. E é importante, por isso mesmo, que a eles sejam garantidos melhores condições de trabalho em todos os sentidos e, junto com isso, a contratação, em caráter emergencial, de novos contingentes de enfermeiras, auxiliares de enfermagem, médicos e todo o pessoal de saúde adequado e necessário ao combate contra a gripe suína. E não somente contra a gripe suína, mas também necessário ao combate contra outras doenças que atacam, principalmente, as camadas mais pobres da população.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2009 - Página 32431