Discurso durante a 120ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Lembrança do transcurso, no dia 20 de julho, dos dois anos do falecimento do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Lembrança do transcurso, no dia 20 de julho, dos dois anos do falecimento do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2009 - Página 32728
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, ELOGIO, VIDA PUBLICA, EMPENHO, DEFESA, ESTADO DA BAHIA (BA), LEGISLATIVO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no próximo dia 20 de julho, completam-se dois anos de falecimento de um dos homens públicos mais notáveis que este País já conheceu. Refiro-me ao ex-Prefeito, ex-Governador, ex-Ministro, ex-Deputado, ex-Senador, ex-Presidente do Congresso Nacional, Antonio Carlos Magalhães.

            Dia 20 de julho, Dia do Amigo. Por que falar hoje, dia 16? Porque, na próxima semana, esta Casa estará em recesso e, segunda-feira, dia 20, não poderemos homenageá-lo desta tribuna.

            A própria referência aos inúmeros cargos públicos já ocupados por Antonio Carlos nos fornece uma pista clara sobre o perfil do homem e do político que ficou conhecido por uma sigla: ACM.

            Em cinquenta anos de vida pública, sempre exerceu o poder ou dele esteve muito próximo.

            Dotado de uma maneira de ser sui generis, a legenda ACM não admitia meios termos. Era amado pelos que o admiravam e odiado pelos seus adversários. Dono de um estilo personalíssimo, sabia ser amável e terno com os mais queridos - e com ele sempre tive, de forma pessoal e parlamentar, as maiores atenções e carinho -, mas sabia também ser implacável com os adversários.

            Essa dicotomia rendeu-lhe os apelidos de Toninho Malvadeza e Toninho Ternura, ambos dos quais muito o orgulhavam. Desde a primeira eleição, em 1954, o Deputado Estadual, em sua querida Bahia, até o final da sua vida como Senador da República, foi um dos homens mais poderosos.

            Quem não se lembra da célebre frase “Reunião em que eu não vou, não vale”, tão utilizada por ACM quando estava no auge do poder.

            Mas quero falar desta tribuna não como político que sou, nunca fui seu correligionário, nunca pertencemos ao mesmo partido e, sim, como amigo, admirador, empresário e cidadão. Assim, contextualizado, não poderia deixar de afirmar que todo o poder que Antonio Carlos teve derivou de uma das suas muitas qualidades, a inquestionável competência administrativa.

            Esse atributo, somado ao seu imensurável amor pela Bahia, levou àquele Estado desenvolvimento e progresso, tornando impossível não distinguir entre uma Bahia antes de ACM e a Bahia depois de ACM.

            É invejável a maneira como Antonio Carlos administrava. Quando foi Prefeito de Salvador, comandou a maior modernização que a capital baiana já teve notícia.

            Transformou uma cidade estrangulada pelos morros e pelas ruas estreitas numa capital moderna, dotada de inúmeras avenidas e de trânsito rápido. Foi eleito o prefeito do século. Nas três vezes em que governou a Bahia, guindou o Estado à posição de um dos mais modernos e pujantes no Brasil, o mais moderno e pujante de todo o Nordeste. Se hoje a Bahia é um Estado industrializado e modelo de organização administrativa, isso se deve a ACM, político e administrador que teve como marca cercar-se dos técnicos mais competentes e capacitados.

            Nesta singela homenagem à memória desse homem público brilhante, não poderia deixar de fazer uma confissão: sinto inveja, mas uma inveja positiva, da maneira como Antonio Carlos administrava. Não tenho dúvida em afirmar: cuidava do setor público com um tino de empresário, qualidade muito rara na maioria dos políticos.

            A verdade é que ACM utilizou todo o fabuloso poder que deteve em suas mãos em favor da Bahia, convertendo-o em progresso e desenvolvimento para os baianos, num desempenho sem paralelo na história da política brasileira. Que cidadão, que empresário, que eleitor, quem não gostaria de ter um operador político desse calibre trabalhando em prol dos interesses da sua comunidade e do seu Estado?

            Defendeu a Bahia e defendeu o Congresso. Como Presidente desta Casa, levou às últimas consequências a independência e altivez do Parlamento. E, em suas próprias palavras, “jamais admitiu que alguém colocasse o Legislativo de joelhos”.

            Que lição, para muitos de nós, que muitas vezes não defendemos esta Casa como deveríamos, diante da desonra que alguns insistem em lhe impingir. Se Antonio Carlos fosse vivo, jamais estaríamos passando por uma situação tão vexaminosa, e que Srªs Senadoras, Srs. Senadores e funcionários, indistintamente, são jogados na vala comum do descrédito público, condenados por antecipação pelos pecados cometidos por poucos.

            Neste dia em que rendo esta homenagem a meu amigo Antonio Carlos Magalhães aproveito para manifestar a minha indignação contra o verdadeiro bombardeio por que vem passando o Senado Federal.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Roberto Cavalcanti.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Pois não, Senador Mão Santa. É um privilégio receber um aparte de V. Exª.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Roberto Cavalcanti, V. Exª foi muito feliz quando buscou prestar uma homenagem a Antonio Carlos Magalhães. Antonio Carlos Magalhães, cuja vida V. Exª citou, traduziu-se em uma sigla. Poucos homens públicos conseguem isso. Eu me lembro de Juscelino Kubitschek, JK. E mostrando como a política é tortuosa, confusa, ingrata, Juscelino Kubistchek foi sacado bem daqui. Ele representava Goiás. Era Senador. Humilhado, cassado e hoje é exaltado. Sem dúvida nenhuma, o maior estadista da história do Brasil. Antonio Carlos Magalhães, também essa tortuosidade. E podemos dizer que Deus fez o mundo, mas quem embelezou a Bahia, administrativamente, foi o Antonio Carlos Magalhães, como prefeito, Governador do Estado três vezes, extraordinário Ministro das Comunicações e depois Senador da República. Ele dá o perfil do que é este Senado. Aliás, ele foi muito bem lembrado. Augusto Botelho, Ulysses dizia que faltando a coragem, faltam todas as virtudes. O “senhor coragem” era Antonio Carlos Magalhães. Isso quer dizer o seguinte, que é muito bom para que entendam o que é o Senado da República. O Senado da República é fazer leis boas e justas. Eu quero dizer que a lei do fundo para a pobreza, que garante a Bolsa Escola hoje, a Bolsa Família, que garante a popularidade do Luiz Inácio, mesmo sem os corretivos devidos e responsáveis de quem tem visão de futuro. O fundo da pobreza foi uma lei de Antonio Carlos Magalhães. Mas a sua bravura tem que ser entendida e compreendida como nós, quer queiram ou não. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Isso é para um olhar para o outro, um controlar o outro e um fiscalizar o outro. O Poder Executivo é muito forte, tem o dinheiro. O Poder Judiciário é punitivo, a toga. Esse homem teve mais coragem do que nós. Esse homem engrandece o Senado da República e torna este um dos melhores Parlamentos da história do mundo. Está aí Rui Barbosa e estamos aqui nós. Esteve aqui Antonio Carlos Magalhães. Esse homem - atentai bem! - fez uma CPI contra o Judiciário. Há muita gente aí apavorada com uma CPIzinha contra a Petrobras. Tem que fazer. Está aí o João Pedro. Tem que fazer. Tem que fazer. Tem que fazer. Este Senado engrandeceu-se por Antonio Carlos Magalhães, quando ele fez a CPI da Justiça. A justiça é uma inspiração divina. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.” É Cristo discursando. É Deus entregando a Lei para Moisés. É inspiração divina, mas é feita por homens, homens fracos, homens corruptos, homens malandros. Está cheio deles aí. E Antonio Carlos Magalhães os desmascarou. Fez uma CPI. Muitos são aproveitadores. Muitos são politiqueiros que estão sendo nomeados ao bel-prazer, pela porta larga da política. Doentes da política estão lá. Antonio Carlos Magalhães fez a CPI da Justiça. Eles nos amedrontam, eles nos cassam, eles punem, eles multam. Não é? A imprensa tem um medo doido. Eu vejo falar daqui, mas não... Mas o Antonio Carlos aguentou, viu, João Pedro? Ai ele mostrou os “lalaus da vida”, o superfaturamento dos prédios da Justiça, dos “lalaus... Então, essa grandeza... Ele era e eu estou aqui sabe porque? Eu sou médico, eu exerci mais do que ele a medicina. Ele se formou em medicina, mas era apaixonado pela política lá no Rio de Janeiro. Ficava aí nas galerias, entrou na política cedo e não exerceu como eu. E eu estou aqui no lugar que ele estava no último contato que eu tive com ele. Viu, João Pedro? Ele estava sentado aqui e eu bem aqui do lado. Eu não sei como... Depois eu disse: “Eu fiz uma besteira”. Eu disse: “Antonio Carlos Magalhães, eu estou acompanhando tua doença. Tu não foi médico como eu, não. Eu que sou aqui o Mão Santa. Tu exerceu logo na política... “ Ele entrou, eu exerci a medicina mesmo, numa Santa Casa. “Antonio Carlos, eu estou acompanhando a sua doença”. Ele tinha acabado de dar... Nos corredores, caído, foi para São Paulo. E eu, lendo no jornal, vi que ele tinha uma insuficiência cardíaca. Teve um edema agudo de pulmão, que é uma complicação, digitalizada. Rapaz eu li ali, acompanhei no jornal. “Você voltou?” Insuficiência cardíaca... “Antonio Carlos, tu ta é lascado. Muda de vida que tu não pode aguentar. Tu não pode nem subir essa escadinha”. Ele falou: “Mas Mão Santa...” Aí fez outras perguntas sobre o que ele podia fazer. Ele era um animal, vamos dizer, com muita testosterona. Andou fazendo pergunta: “Mas Mão Santa...” Eu disse: “Tu não podes nem subir essa escada, Antonio Carlos. Tu tens de levar uma vida, se quiseres, mais amena, se entregar, fica aqui, deixe disso”. Ele não se controlava: ele subia aí, disputava, contestava e representava. Augusto Botelho, ele contestando: “Não, não, eu estou bem”. Eu falei: “Tu não estás bem nada, Antonio Carlos. Eu estou vendo. Eu acompanhei. Tu tiveste edema agudo de pulmão. Isso não fica bem. Tu estás compensado aí”. O Augusto Botelho está entendendo. Aí ele disse: “Não, eu estou bem”. Eu disse: “Não é, rapaz. Tu vais te lascar”. Eu me baixei - olha, se um fotógrafo me visse... - para provar e levantei as calças dele. Ele aqui e eu bem ali. Eu meti o dedo nas pernas estavam inchadas. É o que nós chamamos de Sinal do Godet ou de Cacifo. Eu disse: “Tu estás lascado, todo inchado. Tu estás bom nada”. Mas o homem não via aquilo, não. Ele queria viver intensamente, autenticamente. E subia aí e foi ligeiro... Então, eu quero dar esse relato. Atentai bem! Essa democracia só tem razão se for um Poder para peitar o outro. Aqui, temos de fiscalizar o Executivo, temos de fiscalizar o Judiciário. O povo não pode. Nós podemos. Ele pôde, ele fez uma CPI, talvez a mais benéfica. Não adianta, não. A Justiça, aquela sobre a qual Aristóteles disse que a coroa da Justiça brilhe mais que as coroas dos reis, que a coroa da Justiça esteja mais alta do que a... Mas a Justiça é feita por homens, fracos, corruptos, alguns malandros e que se acobertam com a toga. Ele teve a coragem e mostrou essa força. CPI é um instrumento de fiscalização e tem de haver. Quantas vierem eu assino. Assino até para mim mesmo. V. Exª faz uma homenagem a um homem de coragem. Ulysses era o Sr. Diretas. Não foi? Permitindo o que Ulysses disse, quero dizer que Antonio Carlos Magalhães fica na história não como ACM, mas como o Sr. Coragem da democracia brasileira.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Eu gostaria de agradecer pelo aparte de V. Exª e reforçar dizendo que, na história que conheço, além de JK, lembro JFK, John Fitzgerald Kennedy, que foi Presidente dos Estados Unidos e perdeu a vida exatamente em defesa de determinados temas que, na época, eram considerados tabus.

            Esta é a Casa da República, em que trabalha gente honesta e dedicada, que não pode ser condenada sumariamente à ignomínia. É preciso separar o joio do trigo e punir severamente os culpados, coisa que já vem acontecendo.

            Ao incrível político e administrador Antonio Carlos Magalhães, minha mais profunda reverência. A reverência de alguém que aprendeu a admirá-lo como amigo e como exemplo de competência nos inúmeros cargos que ocupou em nada menos do que 53 anos de vida pública.

            Bem sei quanta falta Antonio Carlos Magalhães faz à sua família, tão bem representada nesta Casa pelo Senador Antonio Carlos Júnior, seu filho e suplente. Bem sei do quanto se ressente a Bahia, belíssimo Estado, que deve a ACM sua modernização econômica e administrativa, assim como o bem-estar social experimentado por seu povo. Mas ACM faz falta mesmo é ao Brasil.

            Eu gostaria de agradecer e de dizer que tenho certeza de que, se esta Casa estivesse lotada, nós teríamos tido o privilégio de ser aparteados por dezenas de Senadores que foram colegas do Senador Antonio Carlos Magalhães e acompanharam a trajetória de ACM tanto aqui no Senado como na vida pública brasileira de uma forma geral.

            Meu muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2009 - Página 32728