Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Justificativa do afastamento político de S.Exa. dos atuais Presidente da República e Governador do Piauí. Alerta para a necessidade de a Polícia Federal ser acionada, quando sobre um integrante da segurança do Governador recai suspeita de haver atentado contra a vida de autor de denúncia de corrupção nesse governo, o que estaria ocorrendo no Piauí. Preocupação com o drama dos aposentados no País.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Justificativa do afastamento político de S.Exa. dos atuais Presidente da República e Governador do Piauí. Alerta para a necessidade de a Polícia Federal ser acionada, quando sobre um integrante da segurança do Governador recai suspeita de haver atentado contra a vida de autor de denúncia de corrupção nesse governo, o que estaria ocorrendo no Piauí. Preocupação com o drama dos aposentados no País.
Publicação
Publicação no DSF de 18/07/2009 - Página 34064
Assunto
Outros > ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • DIVERGENCIA, CONDUTA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, DECISÃO, ORADOR, RETIRADA, APOIO, PRESERVAÇÃO, REPUTAÇÃO, ETICA.
  • DETALHAMENTO, OCORRENCIA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), AMEAÇA, MORTE, SERVIDOR, MOTIVO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, SECRETARIA DE ESTADO, PRISÃO, POLICIAL, PREVENÇÃO, EXECUÇÃO, CRIME.
  • PROTESTO, AMEAÇA, CASSAÇÃO, MANDATO, DEPUTADO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), MOTIVO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL.
  • REITERAÇÃO, COMPROMISSO, DEFESA, APOSENTADO, CRITICA, TENTATIVA, DESVALORIZAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, LOBBY, PREVIDENCIA PRIVADA, DEPOIMENTO, SITUAÇÃO, ORADOR, RECEBIMENTO, INFERIORIDADE, BENEFICIO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, IDOSO, FAMILIA, LEITURA, MENSAGEM (MSG), INTERNET, CIDADÃO, CONTINUAÇÃO, LUTA, DIREITOS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador João Pedro, que preside esta 121ª sessão, não deliberativa, a última antes deste recesso, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Senador João Pedro, realmente, evidentemente, o foco está aqui no Senado. Mas o País não é só o Senado, só o Poder Legislativo, pois somos o Executivo e o Judiciário também, que têm que melhorar no seu todo. Nós não negamos os momentos difíceis que estamos vivendo, de desvio de conduta, de ética. Infelizmente, não é só aqui. E V. Exª, que é do Partido dos Trabalhadores, sabe e sofre, porque esse Partido de V. Exª encantou todos nós. Em 1994, eu caí neste encanto. Não estou como você, de origem...

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - Não caiu, não. V. Exª fez certo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É, fiz parte, e o Cristovam também. Mas o próprio Presidente da República, num momento de dificuldade, de desespero, denunciou à Nação que estava rodeado de aloprados por todos os lados. Nós vimos, o próprio Procurador, nomeado por ele, os carimbou de aloprados mesmo. E o povo foi sensível, achou sinceridade no desabafo do Presidente Luiz Inácio, tanto que o reelegeu. Mas o povo ficou consciente que tinha aloprados demais, que o Partido de V. Exª tinha joio, e muito joio. Se for contar, talvez passe do trigo que V. Exª representa, assim como outros que nós conhecemos.

Eu me lembro que - o Luiz Inácio é aquela simpatia, ninguém nega, ele conquista mesmo -, na primeira reunião, eu fiquei assim, tiramos um retrato lá. Eu era o Presidente Sarney no começo, você não era Senador ainda. Aí ele pega, agradecido porque eu votei nele, eu dizia: “Lula lá, Mão Santa cá”. Eu sei que ele foi eleito e eu fui eleito. Eu dizia, cantava: “Lula lá, Mão Santa cá”, e deu, ele foi para lá e eu vim para cá. E o Governador foi nesse mar da vitória. Aí o Luiz Inácio, daquele jeito dele que você conhece, é danado mesmo, passou a mão no meu cabelo, mexeu e disse: “Mão Santa, você é mais experimentado, ajude o meu menino lá. Ajude o meu menino, dê uma força ao meu menino, tome conta do meu menino”. Eu vi ali, ele acenou a cabeça.

Ô quadrilha que assaltou o Piauí! O menino do Luiz Inácio é muito traquina, é muito malandro, mente muito e está desgraçado.

O povo... Está entendendo?

Então, está aí a verdade. Vou dizer-lhe o que está acontecendo, e você vai ficar estarrecido. Eu, já com muitos quilômetros e muito sofrimento. Então, o Luiz Inácio mandou que me entregassem logo a companhia energética e a Funasa. Eu indiquei, está entendendo? Companhia energética. Você sabe onde é que há dinheiro. As companhias energéticas.

         Está no Cláudio Humberto. Esse Cláudio Humberto é inteligente. O homem é muito atento. Eu, aqui, num desabafo, disse assim: “Rapaz, isso não está certo, não. Lá, no Piauí, tem mesada”. Você sabe como é. Quando vi, estava no Cláudio Humberto: Mão Santa diz que no Piauí tem mesada. Fui eu que indiquei o chefe lá, né? Mandaram... Está entendendo, rapaz?

         Então, foram ao custeio. V. Exª sabe o que é custeio. V. Exª é engenheiro agrônomo. Agrônomo é um largo espectro, agrônomo é um pouco de médico, de veterinário, de engenheiro, de não sei o quê. Olhe como traquinam. Naquele tempo, o custeio era R$4 milhões, só o dinheiro ali para limpar, comprar papel higiênico, trocar lâmpada, cortar - aquele custo para funcionar. Eram R$4 milhões. Eles iam lá e tiravam 10%. Eu tinha sido Governador. Então, os empreiteiros iam todos me contar.

         Não tinha carro a companhia energética; alugava. Eram quinhentos paus só de carro. Iam lá os bichos e tiravam 10%: cinquenta mil.

Eu tinha um engenheiro, que está lá, é irmão do meu Secretário de Comunicação aqui, por aí você vê que é... Ele fazia aqueles negócios de trocar lâmpada, botar lâmpada. Ganhava uns setenta mil por mês. Aí eu raciocinei ligeiro. Se esses aloprados estão tirando no começo, no custeio, quando chegar o dinheiro das obras energéticas - que nós sabemos, eu fui prefeitinho, Governador, é dinheiro muito -, eu digo: aí estou morto. Se eles já estão assaltando no começo, que ainda não chegou, falavam em Luz para Todos, estou morto. Quando chegar esse negócio lá, eu estou lascado, porque vim pelo menos com honra, viu Cristovam, e vou sair desonrado, porque quem indicou fui eu. Quem ia dizer que eu não estava envolvido, não é, João Pedro?

Aí, não tinha jeito, porque o Presidente lá já estava mais forte do que eu, porque aí todo mundo ia atrás dele. Todos, os deputados, os líderes. É... Aí eu digo: estou lascado, não tem jeito. Não me obedece mais. Eu queria aquilo para um bairro pobre. Falta energia, entendeu? Indicar um prefeito. E o negócio se agravando. Gautama, não sei o quê. Eu digo: estou lascado. Não saia mais, porque já estava mais forte do que eu. Você sabe como são essas coisas. Quando você for indicar uma pessoa, tenha muita prudência, viu? Eu aprendi, foi um grande ensinamento.

O da Funasa, não. Nota dez. Não tinha nada a ver, está entendendo? Eu disse até que o Dr. Veloso é um homem, não teve nem...

Mas aí eu vi: Estou lascado, porque esse homem vai... Quando chegar aí o dinheiro muito das obras, não vai ser mais 10%. Vai ser 20%, 30% e, no fim, “foi o Mão Santa que botou, foi o Mão Santa” heim? Aí só teve um jeito. Esse Zé Dirceu, não tenho nada contra ele. Você pode, você se dá com ele! Eu vejo assim...

Outro dia, eu queria até me aproximar. Eu estava lá em Lisboa, pegando um voo na Europa, né? E ele apareceu lá. Os brasileiros começaram, enfurecidos. Então, eu tive até pena, né? Esses brasileiros... No aeroporto.... Muito brasileiro. Eu não tenho nada contra. Pelo contrário, ele estava no Governo quando me deram essas duas indicações. Antes, vocês diziam “não tem nada, não; é o jeito dele mesmo. Ele é assim”. Eu só vi o jeito, foi quando começou aquele rolo, e eu digo “vou já cutucar o cão com vara curta aqui”. Daqui eu disse: “Zé Maligno”.

Na terceira vez que falei “Zé Maligno”, aí apareceu o mensalão, e o Piauí começou a aceitar. “Rapaz, sabe que esse Mão Santa tem razão”. Não é? Apenas mudaram o nome. Eu disse mesada, e o Cláudio Humberto botou. Está na crônica do Cláudio Humberto antes do mensalão. Aí, o mensalão até me salvou, porque a pressão estava horrível. Os políticos lá do Piauí...

Ainda hoje há esse grupelho que deixou de receber. Você sabe como é o negócio? Daí, é complicado. Então, quando eu disse “Zé Maligno”, olha, João Pedro, acho que não deu dois, três, o Mercadante mandou demitir os homens que eu tinha posto. Aí, eu respirei. Aí eu respirei. Quer dizer, eu tenho essa gratidão.

         Porque, rapaz, é rolo lá. Entraram Gautama, Luz Para Todos. A companhia faliu. Está uma miséria. Mas você sabe como é, quando começa o fim de Governo, muitas viagens, está entendendo? Aquela madame que conhece... Experimentado esse problema da Gautama... Antes de entrar, o homem deu um escândalo.

Essa Finatec, da Universidade Federal. Mandou fazer, antes de entrar. E eu acompanhando... Votei no menino travesso. É Finatec essa que deu um escândalo aqui na Universidade Federal? Pois ele fez um contrato, antes de entrar numa reforma administrativa. Eram US$5 milhões, 500 mil por mês. Hospedou lá no Metropolitan, dez meses. Um ano depois fez a reforma da “desreforma” porque não dava certo.

Então, mas agora o negócio endureceu, viu, João Pedro? Apareceu um deles mesmos, um estudante de Direito que era de uma supersecretaria de obras, mudaram o nome lá. No meu tempo era Secretaria de Obras, viu, João Pedro? Aí um denunciou uma senhora lá que não é engenheira nem nada.

Meu amigo, agora pegaram o seguinte... Isso sempre tem, isso não dá certo. Não dá certo. Por isso que eu estava só dizendo: esse negócio estoura. Por isso que eu digo: estou fora. Ameaçaram o homem de morte...

E agora, é a Polícia Federal, e eu chamo a Polícia Federal... Mas quiseram matar o rapaz. Ele denunciou um bocado de corrupção. Ontem li a denúncia Só fiz ler o jornal. Isso foi na Assembleia. E pegaram lá, para matar o homem. Olha aonde chegamos. Você entendeu? Aí, a Polícia Federal pegou. Aí ele era da polícia. E a Assembleia manda perguntar. E o Comandante Militar: “Não, ele é realmente da polícia. Ele está lá, eu cedi para o Palácio do Governador. Ele está na segurança do Governador”. Olha a imoralidade!

Então, na hora que ele ia matar o homem que denunciou, eu disse: lá em São Paulo, eles matavam. Lá no Piauí ainda não tinham matado, mas que roubam, roubam e que mentem, mentem. E roubam muito, muito!

Mas aí pegaram lá, sei lá, a Polícia Federal, o tal cara temeroso, depois de fazer as denúncias, né? Devia ter algum... Eu não sei os detalhes, mas já está aí... Aí o cara já ia matar ele. Primeiro, o sujeito estava com o revólver, pegaram, e o revólver não era registrado. Segundo, andava numa moto, e a moto não tinha placa. E era militar e estava à paisana. E está à disposição da Segurança do Governador.

E outro Deputado começou lá chamando de ladrão todos os outros secretários da quadrilha.

Então, Luiz Inácio, com todo o respeito, eu não tenho nada, eu não vou dizer não. Eu até, no começo, achei simpático, estou repetindo aqui. Tome conta. Mas eu vi que o menino dele - viu, João Pedro? - é muito traquina, enrolado. Não se meta, não. Tanto é que ninguém no Congresso Nacional defende. Não há negócio de onda de outro Estado, vocês sabem que não... Mandam o de lá, do Piauí. Ele não tem Senadores, não tem gente. Ninguém defende. Porque o negócio caiu. Você sabe quando cai, não é?

Todo mundo sabe que o Getúlio, bastou o Afonso Arinos dizer daqui... Porque quando está no Governo tudo é mentira, não acontece. O Afonso Arinos disse: “É mentira o órfão? É mentira a viúva? É mentira o mar de lama?” Aí o Getúlio viu que estava cercado e renunciou à vida. Ele era uma pessoa boa, mas aquilo tudo, como Afonso Arinos disse daqui, era uma verdade.

Então, nós lamentamos. E eu chamo a atenção da Polícia Federal. Outro dia, eu disse. Nós estivemos lá. Porque a do Estado... O policial que foi pego lá, à paisana, com uma arma não registrada, em moto não emplacada, querendo matar uma pessoa que fez uma denúncia séria na Assembleia.

Então, quando cai o Governo, é complicado. É complicado, é complicado. Eu não desejo para o meu Estado isso. Eu não sei, mas a situação em que andam metido.

Olha, a autoridade é moral. Eu já fui prefeitinho e Governador. Eu aprendi isso com Petrônio Portella. Sou muito feliz por duas vezes. Uma vez, eu estava ao lado de Petrônio Portella quando fecharam este Congresso, a última, em 1978. Petrônio Portella, do Piauí, Senador, ia ser Presidente da República, já estava escolhido. Ele iria pelo PDS, e o Tancredo Neves era o vice dele, do PP. Eles iam juntar-se e, no Colégio Eleitoral, engolir o MDB. Esse era o negócio. Mas eu pedi porque o Petrônio, que fez a anistia, estava fazendo a abertura, dentro do possível: eleições de Governadores, que não tinha, de Prefeito de capital, enfim, avançando. Petrônio avançou e botou para votar uma reforma do Judiciário - porque você sabe que é complicado. Aí os militares não gostaram, e o Geisel mandou os canhões rodearem aqui e fecharam, e eu estava aqui do lado dele, quando a imprensa toda disse: “E agora, Petrônio? Diga alguma coisa!” E ele só disse o seguinte - ô homem de moral! Morreu com 54 anos! -, dominar isso do Piauí - ele não era nem de São Paulo, nem de Minas Gerais. Se do Amazonas, que é grande, é difícil; sempre é São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Isso faz parte da nossa história. E ele, lá do Piauí, ganhar credibilidade, e eu estava do lado dele, quando os repórteres pediram que ele dissesse alguma coisa. Ele só disse o seguinte: “É o dia mais triste da minha vida!” Ô cabra de moral! Ficou aí... Aí ele ainda disse mais, para a gente aprender, eu sou produto dessa gente: “Mão Santa, eu não sei o que vai dar, não”.

Ele estava assim conversando comigo, um menino, que ele tava tentando para eu entrar na política, eu não querendo, eu queria era Medicina, mas ele tentando. Aí, ele disse: “Mão Santa, eu só tenho uma coisa aqui, porque eu não sei onde isso vai dar”. O regime era duro. “Eu mantenho com a Iracema um apartamentinho, porque eu estou aqui de Presidente; de uma hora para outra...” Não era assim? Puf! “Eu quero ter ao menos o meu canto, não é, não? Com a minha Iracema” - a mulher dele - ,“eu não sei o que vai dar”. Ele mesmo tomar uma atitude daquelas, não é? Fechou... Não foi lá pedir nada, não. “É o dia mais triste da minha vida”. E não foi lá, não. Aí, o Geisel refletiu, ele tinha prometido fazer deste País uma democracia. Ia nascer o João Figueiredo, que era um menino, era como... Mas o João Figueiredo não era traquinas. Aí, ele pediu: “Petrônio, toma conta aí desse menino” - era o João Figueiredo - “para fazer a abertura”.

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - O General Geisel falou da distensão democrática.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Claro, estava prometido. Ele viu que o Petrônio seria o instrumento puro dos civis para fazer essa transição e tomar conta do menino dele, que era o João Batista Figueiredo, que foi contra o Sílvio Frota, que queria a linha dura; o Sílvio Frota. Então, ele só disse essa frase. Mas eu aprendi outra vez com Petrônio, que é autoridade. Em Parnaíba, ele chegou lá - a maior cidade do Piauí é a minha. Então, fui recebê-lo, num carro bonito, um amigo, ditador da moda, e, aí, o meu irmão, Presidente da Federação... Eu ia na frente. É natural do Piauí, Ministro da Justiça, aquela recepção, uma carreata. Aí, quando ele anda uns duzentos metros, disse: “Mão Santa, para, para, para!” Pensei, o que será? Eu era o mais íntimo dele. O que é? “Mande acabar com esse negócio de batedor. A autoridade é moral. Se eu precisar de batedor aqui, no Piauí, na sua cidade, eu sou um homem sem moral”. Aí eu desci do carro. “Rapaz, o Ministro está mandando. Vamos embora.” Não quero... Não, mas... Não tem o Ministro?...

Uma vez, coincidiu de eu estar em Copacabana com ele. Olha aí. Eu sei que os tempos eram outros, sem a violência de hoje. Mas, quando eu vi, ele estava convidando para andar naquele calçadão, depois do jantar, sozinho, sem segurança. A autoridade é moral. Quando perde, é complicado.

É a situação que eu estou vendo lá, no Piauí. Aí o Roncalli fez uma acusação. Sabe o que ele fez? Porque tem poucos, muito poucos. A Oposição se entrar... O meu PMDB se entregou todo. Talvez eu tenha de sair, porque lá eu não ganho uma convenção, não. Então, um do PSDB, Roncalli Paulo - são poucos da Oposição; é uma Oposição pequena mesmo, porque é corruptor mesmo -, fez, continuou, pegou essas denúncias e, como Deputado... Aí, querem cassar o homem, o Deputado. Você viu como chega aqui? Você vê que o exemplo que a gente dá é o mesmo. Ninguém nunca... Vamos cassar o Mão Santa, porque ele fez... V. Exª mesmo, que é do PMDB... Há o maior respeito. Aliás, eu acredito que V. Exª tenha votado no meu nome.

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - Votei.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, quer dizer, aqui a gente tem, sabe do direito da Oposição, da liberdade do contestar, não é verdade? Mas, lá, querem. Então, está confuso.

Mas eu peço a Deus que melhore. O vice lá é uma pessoa do PSB, quer ser até Governador. Podia ter o meu menino lá, antecipar, porque está um clima... Quando perde a autoridade, é complicado. Eu te digo: nunca perca, não. A autoridade perdeu... A autoridade é moral. Você entendeu o negócio?

Eu não acredito em negócio de... Entrou pelos fundos, está morto. Está entendendo? Precisou andar com segurança? Está morto. Eu não ando, eu prefiro...

Mas eu queria dizer o seguinte, só ler este e-mail, da nossa luta, que tivemos muito aqui. Não conseguimos, mas é assim mesmo. As lutas no Parlamento... Não tem coisa mais bonita do que a liberdade dos escravos.

Fizeram a Lei do Ventre Livre. Rui Barbosa fez a Lei do Sexagenário. Rui Barbosa fez, por isso que ele está ali, a Lei Áurea. A princesinha sancionou, não é? Para Rui Barbosa, jogaram flores. E nós estamos numa luta muito bonita pelos aposentados. Avançamos muito, aqui avançamos. E eu estou comprometido, primeiro porque eu acho que é justa. Olha que não é mole, não.

Mas eu tenho que alertar, porque eu tenho uma história a contar. O Luiz Inácio, os aloprados é que infernizaram. Eu quero que V. Exª tenha acesso a ele. Eu vou dizer o que é. Primeiro, os aloprados querendo ganhar dinheiro, ele talvez nem saiba, o Senador é para isso, quiseram dizer: “Não, vamos desgastar a Previdência do Governo para criar a previdência privada”. São todos picaretas.

Luiz Inácio, não faça isso não, pelo amor de Deus!

Olha, eu médico, novinho - eu tenho 42 anos de formado -, cheguei, foram lá uns amigos, está aqui uma tal de Aplub, aí olhei os planos e disse-lhes: eu quero fazer. Ouviu, João Pedro? Eu era novo, faz muitos anos. Vou te contar o que é previdência privada, acorde o Luiz Inácio. Eu fiz essa Aplub, é profissional, é do Rio Grande do Sul. Se alguém estiver me ouvindo, se tiver uma pedra, jogue lá no prédio, que não está fazendo mal, não, está fazendo é bem. Eu estou dizendo: Aplub. Aquilo ali deviam tocar fogo, o gaúcho. Está sujando sua história. Então, eu fiz. Aí li lá um negócio. Olha, eu gosto da minha mulher, Adalgisa. E tem aqueles planos: o cara morre, fica com a viúva. Eu disse: é o diabo, esse eu não quero, não é não? Ela morre e você ganha dobrado. Eu disse não, eu quero aqui... qual é prazo? São 25 anos. Você faz esse plano, seguir as letras, tá vendo? Com 25 anos, eu botei cinco salários. Meu amigo, eu paguei os 25 anos como médico. Aplub. E lá eu assinei o contrato, ganharia 5 salários mínimos. Você entendeu? Aí fui buscar, fui passear com Adalgisinha. De qualquer jeito dá para a gente, não é?

Que vergonha, Luiz Inácio! Sabe quanto é que eu recebo? Eu nem recebo. Eu não quero nem saber. Está na Justiça. Mas esse negócio de Justiça... Vou morrer, Adalgisa e os netos... Sabem quanto eu recebo? Eu nem recebo. Outro dia pedi um recibo lá e eu trouxe, mostrei aqui: cinco salários mínimos. Quanto é cinco salários mínimos hoje? Você, que é do Governo. Não aumentou? Quanto é mais ou menos? O salário não é R$400,00?

O SR. PRESIDENTE (João Pedro. Bloco/PT - AM) - É R$465,00.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vezes cinco. Pronto, é quase dois mil, não é? É mais: dois mil duzentos e tanto. É R$2.240,00. Sabe quanto é que eu recebo? Cento e cinquenta e seis reais. Privada. Eu, Senador da República. Graças a Deus, não preciso disso. Aí entrou um negócio de Justiça... uns poderosos desses que enganaram muita gente. Tem muita gente forte. Então, está descartada. A Aplub é um exemplo. Eu estou contando o meu...

Luiz Inácio, são os aloprados que estão dizendo que isso é bom. Não é bom, não. Eu sei, então. O Governo inventou um negócio de um fator redutor - o Governo, não foi o Luiz Inácio, não. Então, o nosso trabalhador brasileiro - um quadro que vale por dez mil palavras - sonhou vinte salários mínimos. Pagou 30 anos, 40 anos, ou 10 anos. Ele planejou aquilo: sair com a mulherzinha dele, com Adalgiza, aposentado; prometeu aos netos: vou pagar a faculdade, vou lhe dar uma bolsa de estudo - é lógico, não é não? -, ajudar uma empresa. Aí, de repente, quem sonhou com dez salários mínimos, está recebendo cinco; quem sonhou com cinco, está recebendo dois salários mínimos. Aí é desgraça muita.

Padre António Vieira disse que um bem sempre vem acompanhado de outro bem. E eu digo - não sou o Padre António Vieira, mas sou aqui o Senador do Piauí: um mal também sempre vem acompanhado de outro mal.

Então, Luiz Inácio, destroçou a família. A família sobre a qual Rui Barbosa disse: “A pátria é a família amplificada.” E Deus botou o Cristo numa família, que é a maior instituição.

O Barack Obama... Você já leu os dois livros dele, ô João? Tem dois. O melhor é o que ele escreveu primeiro, que é mais romântico. Já li. O segundo é da política. Aí, eu peguei o melhor. Ele disse: “Se não fosse o meu avô e a minha avó, eu era um maconheiro.” O avô é o patrimônio da família. É quem orienta, coordena, dedica-se e dá tudo.

Então, o avô foi destruído, porque ele fez o sonho, cumpriu, pagou e o Governo enrolou, enganou, roubou a aposentadoria a que ele tinha direito. E ele fez compromissos familiares, de coisas. Então, ele perdeu a palavra, perdeu o comando. Não tem mais avô como eu tive, como o Barack Obama teve, porque eles foram vítimas. E está destroçado o maior patrimônio, ô Luiz Inácio, que é a família.

Avô é bicho bom. Olha, avô é bicho bom. Eu tenho neto agora e estou vendo. Eles fazem a alegria da gente. Os meus filhos eu não eduquei não. A mãe é que educou, porque eu saía de madrugada para operar e chegava às duas horas da madrugada. Estavam todos dormindo. Voltava. Fazia treze operações, doze, quatorze, onze por dia. Viu? Avô, ó, a gente acompanha. Eu estou acompanhando. Eu tenho uma neta que já faz medicina; outro faz não sei quê; outro está... Tem mais disponibilidade. Então, que se recupere.

Eu pedi a permissão para a nossa luta, que já passou no Senado. E o projeto é de um homem do PT, como V. Exª, e o Paim foi o Relator. Defendi na Comissão de Economia, na Comissão de Justiça. Aqui, eu é que defendi. O Paim me botou Relator.

Então, foi por unanimidade. Está na Câmara a derrubada do Relator e o veto que ele tinha vetado. Os aloprados enganaram o nosso Presidente.

Então, eu queria ler, em defesa dos aposentados, um de milhares de e-mails para caracterizar que essa luta continua. E Paulo Paim me disse que negociou e eu acredito. Eu acho que vai ser o maior prêmio que nós vamos dar ao nosso Presidente Luiz Inácio: ele resgatar e corrigir esse erro.

Mas deixem-me ler aqui o que ele diz. Está aqui. Ivan Fonseca. É só um e-mail que traduz a angústia de milhares que estão sofrendo - Em defesa dos aposentados -, e aí vou para o recesso tranquilo e poderei ver os meus velhinhos com esperança.

Ernest Hemingway disse: “A maior estupidez é perder a esperança”. Você já leu O Velho e o Mar, escrito por Ernest Hemingway, que esteve em Cuba? Você, que é meio cubano, meio Fidel? Ele disse: “A maior estupidez é perder a esperança”. Então, nós temos que dar esperança para os nossos velhinhos aposentados.

É de Ivan Fonseca o e-mail. Eu escolhi este. Há dezenas, centenas:

Em Defesa dos Aposentados.

Há povos que respeitam os idosos, sua sabedoria.

Infelizmente, no Brasil, isso ainda não ocorre.

Em breve, a maioria dos brasileiros será idosa e, grande parte, aposentada. O que esperar do futuro se hoje vemos os aposentados e pensionistas tão discriminados?É impossível acreditar que milhões de pessoas sejam tratadas como se não tivessem contribuído para o crescimento do País, como se nada mais pudessem fazer pela Nação.

Dos aproximadamente [atentai bem, Luiz Inácio] 25 milhões de aposentados e pensionistas, cerca de 8 milhões recebem acima do mínimo e, desde 1992 [não é de agora, não é problema dele; é que ele sofre, ele que está, quem sabe o calo do sapato é quem calça, não é?], vêm tendo seu benefício achatado, porque o reajuste é diferenciado. Há quem afirme que as aposentadorias no Brasil estão defasadas em mais de 70%. [quer dizer, você vai viver com 30% do que imaginou, do que sonhou, é desgraça muita. Juscelino disse: “A velhice é uma tristeza. Desamparada, é uma desgraça”. Luiz Inácio, nós estamos levando os velhos para a desgraça.] Em 2006, quando o salário mínimo foi reajustado em 16%, os inativos receberam apenas [...] 5% [é todo o tempo achatando] e, em 2009, o reajuste foi de apenas 5,92%, contra 11,2% do mínimo. Se continuar assim, logo todos ganharão somente um salário mínimo.

A verdade é que os aposentados hoje estão cada vez mais endividados. O preço dos planos de saúde estourou, os remédios aumentaram e o desemprego cresce. Auxiliando familiares, a questão que fica é: como esses brasileiros sobrevivem?

Com a atual crise econômica, o benefício dos aposentados é ainda mais importante na composição da renda das famílias. Para milhares de brasileiros, esta é sua única fonte de renda. [É dos aposentados.]

É urgente que a Câmara Federal, juntamente com o Senado Federal coloque [o Senado já fez, nós cumprimos nossa missão, é a Câmara que está retardando. A gente recebe tanta pedra, é só pedrada no Senado, mas está na hora de dar umas pedradas ali. Nós já fizemos a nossa parte, foi por unanimidade, está lá. Vamos pressionar o Deputado Federal Michel Temer lá], coloque em pauta a votação do projeto que determina o fim do fator previdenciário [de que sou Relator, o autor é o Paulo Paim] e que, nos próximos dias, derrube o veto do Presidente Lula ao reajuste dos aposentados. Isso é fundamental para recuperar um pouco da dignidade de uma categoria historicamente atacada em nosso país e para se fazer justiça social.

Ivan Fonseca.

Então, esse é o apelo; que minhas palavras cheguem pelas rádios AM, FM, ondas curtas, pelas ondas sonoras da TV chegue aos céus e a Deus! Ó meu Deus, ilumine o Presidente da República a sancionar! Aí, sem dúvida nenhuma, nós estaremos resgatando uma das maiores injustiças que o nosso País está fazendo com os nossos aposentados.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


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