Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento do Senador Pedro Simon.

Autor
Fernando Collor (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/AL)
Nome completo: Fernando Affonso Collor de Mello
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Resposta ao pronunciamento do Senador Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2009 - Página 34314
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • OPORTUNIDADE, DEBATE, DISCURSO, PEDRO SIMON, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, ERRO, REGISTRO, FATO, HISTORIA, AUSENCIA, CONVITE, CONGRESSISTA, CANDIDATURA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELEIÇÃO, ORADOR, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • RECLAMAÇÃO, CARACTERISTICA, USO DA PALAVRA, PEDRO SIMON, SENADOR, OFENSA, ORADOR.
  • ANALISE, CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, PERSEGUIÇÃO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, SEMELHANÇA, FRAUDE, JORNALISMO, EFEITO, IMPEACHMENT, ORADOR, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUICIDIO, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE.
  • DEFESA, PERMANENCIA, PRESIDENTE, SENADO, COMPETENCIA, EXPERIENCIA, DIREÇÃO, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, AUTONOMIA, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, RESPEITO, ELEIÇÃO, MESA DIRETORA, COMBATE, INJUSTIÇA, MANIPULAÇÃO, IMPRENSA, PREVISÃO, ORADOR, SOLUÇÃO, PROBLEMA, REFORMA ADMINISTRATIVA.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FERNANDO COLLOR (PTB - AL. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de, inicialmente, fazer alguns reparos históricos. Eu acho que este momento pode servir para isso.

            Em primeiro lugar, o Senador que estava na tribuna repete continuamente que eu estive com ele, visitando-o, convidando-o para ser meu candidato a Vice-Presidente. Isso não é verdade. Eu já ouvi esse relato dele algumas vezes, mas, por condescendência, deixei que isso passasse.

            É muito claro - e todo mundo vai entender - que o escolhido por mim para ser candidato a Vice na minha chapa, em 1989, teria de ser alguém de Minas Gerais, porque, àquela época, o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, que estavam inteiramente ao lado do querido e saudoso ex-Governador Leonel Brizola, não teriam nenhuma chance, e não adiantaria chover em chão molhado. Portanto, nunca me passou pela cabeça, por mais méritos que possua S. Exª que esteve ali na tribuna, convidá-lo para fazer parte de minha chapa ou de qualquer outra coisa.

            Em segundo lugar, o que sofre hoje o Presidente José Sarney, por parte de alguns setores da mídia, é algo que conheço bem, pelas entranhas. E aqui vou fazer apenas duas citações de 27 casos específicos que tenho e que constam dos meus escritos que, em algum momento, serão publicados. São dois casos. Vou dar nomes, e as pessoas aí estão vivas.

            O primeiro deles: a revista Veja colheu, de forma indevida, informações a respeito do Sr. Paulo César Farias, o que significava crime, crime, e seria punida criminalmente por isso. Ela não podia divulgar esses dados, a não ser que encontrasse - como encontrou na figura do então Deputado José Dirceu - um receptáculo dessa documentação obtida de forma criminosa, para dizer que ele havia recebido no seu gabinete, anonimamente, e que, portanto, ele achou por bem dar publicidade àquilo.

            Primeiro ponto. Isso é fraude, isso não é bom jornalismo.

            Segundo ponto, um jornalista chamado Roberto Pompeu de Toledo, que costuma sujar a última página de uma revista local, se não me engano, a própria Veja, procurou o então Ministro do Supremo Tribunal Federal Ilmar Galvão, tendo com ele a seguinte conversa: “Ministro, declare a culpa do Fernando Collor que nós daremos ao senhor a capa da Veja e as entrevistas de páginas amarelas da revista”. E o Sr. Ministro colocou-o para fora do gabinete. Os dois estão vivos aí. Nem o Deputado José Dirceu pode desmentir isso nem tampouco pode desmentir o Sr. Roberto Pompeu de Toledo.

            Falou-se aqui a respeito do Dr. Getúlio Vargas, que sofreu uma campanha insidiosa e violentíssima por parte da mídia, que levou-o ao suicídio. Poucos dias antes de a Câmara dos Deputados votar o meu afastamento da Presidência da República, tive oportunidade de receber em meu gabinete, no Palácio do Planalto, o Governador do Rio de janeiro, Dr. Leonel de Moura Brizola.

            Ele lá esteve comigo e, à saída do gabinete, com os seus olhos marejados de lágrimas, olhou-me e disse: “Presidente, aqui quem vai lhe falar não é o Governador do Rio de Janeiro, não é o político; aqui, quem vai lhe falar é o cidadão Leonel Brizola. Eu venho de longe, de muito longe, e o que o senhor está passando agora é algo parecido com o que passou o Dr. Getúlio. Eu acompanhei todas aquelas histórias do mar de lama, do Major Vaz, do Gregório Fortunato, que redundaram na República do Galeão”. E ele continuou: “Eu só quero então como cidadão lhe fazer um pedido: resista, Presidente! Resista! Não faça como o Dr. Getúlio!”

            O Senador e Presidente desta Casa, José Sarney... Aqueles que fazem parte da vida pública e política deste País sabem que nós estivemos em campos opostos, como também estivemos em campos opostos o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e eu próprio. E eu estou aqui e faço parte daqueles que apoiam o Governo do Presidente Lula, porque eu entendo que o Governo que ele vem realizando é um governo que está à altura das melhores expectativas da população brasileira, mesmo tendo sido o Presidente Lula pertencente a um Partido que trabalhou para que eu fosse retirado, apeado da Presidência da República. Mas isso não me move. Esses são sentimentos menores que não me movem nem me fazem marchar agora, no presente. Do mesmo modo, em relação ao Presidente José Sarney.

            Aqui nos reencontramos, aqui no Senado da República, tive a oportunidade de chamar a filha dele, pedir uma conversa com a Senadora Roseana Sarney para pedir-lhe desculpas, desculpas pela forma como eu havia me comportado na campanha de 1989, em relação a S. Exª e a todos os seus familiares. E fui ao Presidente José Sarney, que já havia recebido essa mensagem da sua filha, e pedi-lhe também desculpas.

            Eu, hoje, defendo a permanência do Presidente José Sarney nesta Casa, em primeiro lugar, porque não há ninguém com mais experiência, com mais embocadura política para dirigi-la do que ele, já duas vezes Presidente desta Casa e Presidente da República.

            Por outro lado, sei que tudo isso que ele está passando (como eu já passei, como eu já passei), eu sei como essas coisas são urdidas, eu sei como essas coisas são fabricadas, eu sei como essas coisas são vazadas, eu sei como essas coisas correm nos subterrâneos dessa imprensa que deseja que esta Casa se agache a ela, a esses ou aqueles que acham que podem mandar também numa Casa democrática, livre, independente como o Senado da República.

            Defender a permanência do Presidente José Sarney significa, no meu entender, defender esta Casa na sua forma melhor de representação, porque houve uma disputa e ele foi eleito. Se a toda e qualquer crítica, se a toda e qualquer formulação, se a toda e qualquer armação de gravações geradas aqui e acolá, qualquer um de nós Senadores for alvo de pedidos de renúncia, de pedidos de cassação, esta Casa e a democracia brasileira estarão apenadas, esta Casa e a democracia brasileira estarão feridas de morte.

            Por isso, acredito que este não seja um tema hoje prioritário para que possamos tratar. Alguns dizem: as vozes das ruas!, as vozes das ruas! Até entendo que essas vozes se escutem aqui e acolá. Mas isso, ouvir e julgar pela voz das ruas... Tem um termo em alemão volksbund für frieden, que foi utilizado por aquele que infelicitou todo o nosso mundo, quando deflagrou aquela guerra, a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1942, em que ele falava que os juízes teriam que ouvir as vozes das ruas, e as vozes das ruas, àquela época, saíam pelas vielas dizendo e gritando contra os judeus, porque eles estavam sendo acusados de serem os causadores da débâcle econômica que a Alemanha alcançou na década de 30. Nem sempre as vozes das ruas são as vozes que estão mais abalizadas para emitir uma opinião isenta.

            Remontamos a outras épocas também, remontamos a minha própria época, na qual o movimento estético-cultural dos caras-pintadas realmente floresceu e deixou todos motivados por uma enorme alegria, inebriados, achando que aquilo era uma demonstração da mais pura democracia brasileira. Hoje, estamos vendo que aquele movimento nada mais foi do que um movimento também urdido, um movimento em que achavam - e assim foi vendido a eles - que tudo que diziam era verdadeiro. Dois anos e meio depois, depois anos e meio depois que fui apeado da Presidência da República, a mais alta Corte de Justiça do País me declarou inocente de todas as acusações que me fizeram. É por isso que não quero que aconteça com o Presidente José Sarney ou com qualquer Presidente que esteja sentado nessa cadeira uma injustiça como aquela que sofri, a que fui submetido.

            Quero dizer também, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com relação ao orador que me precedeu, que estava há pouco na tribuna, que tenho manifestado a todos os companheiros e amigos aqui desta Casa, sempre, minha cordialidade, minha afabilidade até os limites em que ela possa chegar. Mas tenho recebido de forma repetida por parte desse Senador, sempre, alguns comentários. São alguns comentários que S. Exª sabe, pela experiência que tem, que não me fazem bem, que me ofendem. Mas que eu deixo passar em função da sua história, em função de ser uma figura do Senado da República que aqui está há 30 anos e fica cobrando do Presidente José Sarney e de todos os outros por que isso está acontecendo. Ele próprio se diz, humildemente, ele também se coloca como um dos culpados por esta crise atual.

         Esta crise é da própria estrutura do Senado da República e está se consertando, está se resolvendo. Ainda hoje, conversando com o 1º Secretário da Mesa ele me dizia das medidas que vem adotando juntamente com os Srs. Membros da Mesa. Os problemas estão sendo resolvidos, os problemas estão sendo esclarecidos. Agora, o que não se pode, no Senado da República, é querer se construir, ou querer se consolidar, ou querer abrilhantar ou lustrar uma carreira política em cima da humilhação de quem quer que seja daqui do plenário do Senado. Isso é que não é justo. Isso é que não pode.

            Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero lamentar, lamentar profundamente, os termos pelos quais tive que canalizar esta minha indignação. Lamento, mas não os retiro. Ao longo desses dois anos em que aqui estou, tenho recebido e aqueles que pedem para que assim faça é porque eles não estão sofrendo o que sofri, o que vinha passando. Então não posso em nenhum momento retirar uma palavra do que aqui disse.

            E reitero, mais uma vez, a minha solicitação especificamente a esse Senador para que ele, por favor, não cite mais o meu nome, sob pena de eu estar aqui, novamente, para oferecer a ele o meu aparte, a minha indignação e a minha revolta pela forma como ele se dirige a mim e a outros companheiros.

            Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2009 - Página 34314