Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Chamada de atenção para a "praga política" que se espalha no Estado da Paraíba: a prática da perseguição política, que vem marcando o governo daquele estado.

Autor
Cícero Lucena (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cícero de Lucena Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DA PARAIBA (PB), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Chamada de atenção para a "praga política" que se espalha no Estado da Paraíba: a prática da perseguição política, que vem marcando o governo daquele estado.
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2009 - Página 34327
Assunto
Outros > ESTADO DA PARAIBA (PB), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • DENUNCIA, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMENTARIO, PROBLEMA, ELEIÇÃO, DECISÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), ANULAÇÃO, VOTO, CASSAÇÃO, MANDATO, CASSIO CUNHA LIMA, EX GOVERNADOR, EFEITO, PERDA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, PROTESTO, GESTÃO, JOSE MARANHÃO, GOVERNADOR, DESRESPEITO, COMUNIDADE, OPOSIÇÃO, ADVERSARIO.
  • VISITA, ORADOR, INTERIOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMPROVAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PUNIÇÃO, PREFEITO, ADVERSARIO, GOVERNADOR, RETIRADA, AMBULANCIA, VIATURA MILITAR, DISPENSA, SERVIDOR, SUSPENSÃO, CONVENIO, OBSTACULO, REPASSE, RECURSOS, RETROCESSÃO, DEMOCRACIA, VITIMA, POPULAÇÃO, COMENTARIO, DEPOIMENTO, FILHO, PROFESSOR, EX-DIRETOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste dia que marca o retorno de nossa atividade na Casa, após o recesso regimental, peço uma breve pausa do olhar perscrutador da grande mídia na cobertura dessa crise sem fim que ameaça corroer a imagem da nossa Instituição, e chamar a atenção para uma outra praga política que se espalha em meu Estado, a Paraíba, nos últimos cinco meses.

            Como todo mal, ele é silente, voraz, desumano e tem o dom de espalhar injustiças e atingir pessoas inocentes, além de infectar almas, desvirtuar princípios, entorpecer o espírito e cauterizar mentes.

            Refiro-me, com tristeza, à prática de perseguição política, uma das filhas da intolerância, que vem marcando o dia do atual Governo do Estado da Paraíba.

            Pode parecer, num primeiro momento, que estaria aqui a me queixar de exonerações de aliados que, antes no Governo, agora se perfilam na Oposição. Não é esse o caso, infelizmente. 

            A alternância do poder, por mais traumática que tenha sido no caso da Paraíba, em que mais de um milhão de eleitores tiveram seus votos anulados por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral e se tenha agora um Estado governado por uma mandatário ilegítimo, é inevitável que haja reflexos negativos previsíveis para os que integram grupos políticos opostos.

            Minha grande tristeza, como Senador da Paraíba, mas principalmente como cidadão paraibano, é testemunhar o clima de terrorismo psicológico e total desrespeito da gestão biônica exercida pelo governo do atual Governador José Maranhão - até há poucos meses integrante desta Casa - contra pessoas humildes, famílias inteiras, comunidades pobres e até Municípios onde exista qualquer esboço de contraponto político ao Palácio da Redenção.

            Nos últimos dois meses, Sr. Presidente, colegas Senadores e Senadoras, de forma sistemática, tenho visitado todas as regiões de nosso Estado, já tendo visitado dezenas de Municípios e mantido contato direto com milhares de pessoas.

            Invariavelmente, os relatos sobre perseguições políticas de todos os níveis são chocantes e dignos de repúdio.

            É algo estarrecedor para o Brasil que imaginamos estar construindo.

            Hoje, na Paraíba, com uma naturalidade escandalosa, todos os Municípios onde o prefeito não seja aliado político do Governador, o padrão é o mesmo: ambulâncias são retiradas; viaturas são recolhidas; milhares de servidores, muitos com mais de 20 anos de serviços prestados, são dispensados sem aviso prévio; convênios celebrados são suspensos e desrespeitados e todo tipo de manobra possível para dificultar o repasse de recursos é usado pelos agentes do Governo Maranhão III.

            Sem maiores cerimônias, a Paraíba foi lançada numa nova fase em que o coronelismo passou a vingar de forma odiosa, promovendo desassossego a milhares de famílias que deixam a condição de clientes do poder público para vítimas de uma guerra desumana desencadeada por uma gestão que faz da máquina administrativa um instrumento de perseguição até para os mais inocentes.

            Pois bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e estimados colegas do Senado, mais do que tudo, esse é o ponto que faz brotar mais angústia e dor a minha alma de sertanejo, filho de família humilde e consciente de como os homens públicos podem exercer uma influência decisiva para milhares de vidas.

            Quando esse poder não é canalizado para o bem, termina por ocorrer o que passo a relatar para os senhores, não sem certo constrangimento pelo fato de ter ocorrido no interior do Estado que aqui represento nesta Casa.

         Na última sexta-feira à noite, estive visitando o Município de Vista Serrana, no Sertão da Paraíba, convidado pela ilustre Deputada Estadual Socorro Marques e seu filho, ex-Prefeito da cidade, Monacy Marques.

            Teria sido mais uma prazerosa agenda a cumprir, atendendo honroso e carinhoso convite de aliados em minha maratona pelo Estado. Uma garotinha de sete anos, contudo, Sr. Presidente, fez despertar em mim um misto de sensações que faz do homem público um ser menor diante da realidades geralmente tão distantes do alto de nossos mandatos eletivos.

            Geralmente, nobres Senadores, estamos envolvidos com os chamados problemas macros da Nação, com recursos de cifras gigantes, na busca de soluções maiores ainda para problemas também grandes ou até mesmo investimos muito de nossa energia em crises de gravidades institucional como a que, lamentavelmente, o nosso Senado está afundado nos últimos meses.

            A voz infantil da pequena Vanessa, com a carga de inocência e verdade, permeada pela tristeza de seu relato, me fez refletir sobre nosso verdadeiro papel.

            Com naturalidade, durante jantar na casa da Deputada Socorro Marques, a garotinha me chamou à parte e me disse que queria fazer uma queixa e um pedido. Fascinado, dei-lhe a merecida atenção.

            Filha da professora Salésia Gomes, da rede pública, Vanessinha, desde nova tinha uma rotina: acompanhava a sua mãe, que há seis anos era diretora da escola estadual de ensino fundamental e médio, Coronel Manoel Medeiros de Araújo, na cidade de Vista Serrana. Na verdade, a garotinha tinha na rotina uma tática pessoal para estar perto da mãe, principalmente depois que ela passou a exercer por seis anos seguidos o cargo de Diretora da Escola. Foi quando houve a reviravolta causada pelo Tribunal Superior Eleitoral na realidade político-administrativa da Paraíba.

            Em sua inocência, Senador Expedito Júnior, a pequena Vanessa soube, de um momento para outro, que sua mãe já não era mais diretora. Foi informada que Dona Salésia, servidora concursada, voltaria para a sala de aula, ministrando inglês na parte da noite.

            Sem maiores preocupações, a garotinha tentou manter a sua rotina: seguiu para a escola. Teve um tremendo choque: foi informada, de forma raivosa, que a partir daquele dia ela estava proibida de freqüentar a unidade escolar.

            A pequena Vanessa viu que o universo que criou como uma forma para estar perto de quem amava, passou a ser proibido de ter o acesso.

            O apelo era simplesmente para que eu intercedesse junto ao Governo a chance de novamente poder visitar a escola onde um dia pretendia frequentar como estudante do ensino médio.

            Confesso, distintos colegas, que me senti mal com esse pequeno relato de uma vítima inocente da intolerância política do nosso Estado.

            Mais do que o relato verdadeiro e crítico dos Prefeitos e aliados políticos sobre os mais escabrosos casos de perseguição na Paraíba, este, em particular, tocou-me bastante porque teve a capacidade de revelar, com nitidez dramática, até que ponto o ódio, a intolerância podem causar destruição e efeito colateral sobre os que nada tem a ver com as querelas políticas.

            Além do meu desejo particular de aqui desabafar e compartilhar com meus Pares esse momento de tristeza e decepção, espero que esse relato também possa nos levar a todos a reflexão necessária sobre até onde pode ir os efeitos da intolerância, e que sirva mais do que uma denúncia de alerta para as autoridades sobre o clima de perseguição política.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Senador?

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Pois não, Senador Romeu Tuma.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Peço desculpas por interromper o discurso de V. Exª.

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Para mim é uma honra.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Sei que é uma discussão dentro da Paraíba, mas tenho a impressão que eu e outros Senadores aqui presentes nos chocamos e nos emocionamos com a descrição que V. Exª da pequena menina...

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Vanessa.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - ...Vanessa, que foi pedir para que sua mãe não sofresse as consequências de perseguição política. E ela foi sancionada em seguida por ter lhe pedido isso...

           O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Por não ter acesso à escola.

           O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - É uma violência criminosa. Acho que há uma força e que o Judiciário tem que intervir. Como se afasta uma menina da escola, porque há uma perseguição política de inimigos de quem governa? Eu não entro no mérito do Partido, eu não entro em nada. Só entro na questão do respeito a essas pessoas, que são as crianças. Este Senado passa por um momento tão triste, tão amargo que achamos que não acontece nada fora. E V. Exª traz algo bem amargo, que traduz, nas suas palavras emocionadas - eu sinto a emoção no seu coração - algo que não podemos aceitar. Todos os Senadores desta Casa são solidários com V. Exª. Vamos exigir que, realmente, seja corrigido esse erro tão maldoso, praticado por quem não devia fazê-lo. Muito obrigado pelo aparte.

           O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - O senhor, como sempre, demonstrando o seu compromisso e a sua sensibilidade. E que sirva mais como uma denúncia de alerta para as autoridades sobre o clima de perseguição política sem limite em uma Paraíba que perdeu o comando jovem, dinâmico, eficiente e legítimo do ex-Governador Cássio Cunha Lima, e viu ressurgir um governo com sede de vingança, com práticas retrógradas, e que vê no poder uma oportunidade de disseminar o rancor, imperar o medo, incentivar a instabilidade e de desconstituir a esperança.

           Que Deus nos ajude e proteja a minha querida Paraíba.

           Muito obrigado.


Modelo1 12/13/242:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2009 - Página 34327