Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a crise no Senado e defesa do afastamento do Presidente José Sarney.

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Manifestação sobre a crise no Senado e defesa do afastamento do Presidente José Sarney.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2009 - Página 34758
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • CRITICA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SENADO, REPUDIO, INICIATIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ENTRADA, REPRESENTAÇÃO, CONSELHO, ETICA, OPOSIÇÃO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, OPINIÃO, ORADOR, AUSENCIA, FUNDAMENTAÇÃO, ALEGAÇÕES, QUEBRA, DECORO PARLAMENTAR, REGISTRO, SOLICITAÇÃO, AFASTAMENTO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, GARANTIA, RETORNO, REPUTAÇÃO, LEGISLATIVO.
  • REPUDIO, MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DECISÃO, FUTURO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, acho que hoje experimentamos, ao menos eu experimentei de corpo presente, talvez a sessão mais degradante na minha vida aqui dentro do Senado Federal.

            Eu acho que nós chegamos a um ponto extraordinariamente baixo. Nós temos que dar um basta a isso. Para que existe o Senado Federal? Para que existe o Congresso Nacional? Somos um bando de fouchés, figuras menores; figuras que vêm aqui com o único objetivo do enriquecimento pessoal e não para defender os interesses da sociedade; figuras que trabalham nos bastidores; figuras que querem, sim, a desmoralização da Casa. Ninguém está preocupado com o que vai acontecer, com o que a população está pensando de nós. Qual é a imagem que temos? É isso que é o Senado Federal? É isso que é a Casa em que desejei entrar em minha primeira candidatura? Só me servia o Senado Federal. Por quê? Porque aqui é o local dos grandes homens, dos mais experientes. Por aqui passaram quantos? Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Affonso Arinos.

            O que penso é que temos de dar um basta nessa história. Basta! Já não podemos ficar nesse clima e nessa situação. O que estamos vendo aqui é a representação contra o Senador Arthur Virgílio, representação desqualificada, representação sem qualquer fundamento. De que foi acusado o Senador Arthur Virgílio? De contrair um empréstimo pessoal? É isso? Se o Senador Arthur Virgílio deu ou não deu um calote, isso é um problema de dívida. É um problema de quebra de decoro? Aliás, quero exigir de V. Exª, como seu amigo, Senador - está escrito na representação, insinuaram que V. Exª colocou uma família inteira no seu gabinete e repartiu o dinheiro com essas pessoas -, que processe o Partido que o representou. É o mínimo que V. Exª tem de fazer.

            Temos de responder também. O Congresso está intimidado por quê? O que devemos?

            Se devemos, vamos pagar. Qual é o problema?

            O Senador Arthur Virgílio cometeu quebra de decoro. Há quatro penalidades: advertência, censura, suspensão e perda de mandato. Mas a perda de mandato ou a quebra de decoro têm de ser discutidas em razão do fato. E nós assistimos, no último mês ou nos últimos dois meses, ao Senador Arthur Virgílio sendo constrangido a ficar calado e sendo ameaçado. A representação veio não por conta do fato, mas porque o Senador Arthur Virgílio é um opositor que quer o afastamento do Presidente da Casa. O Senador Arthur Virgílio não está sendo processado no Conselho de Ética pelo que fez, mas pelo que representa.

            Aí fica muito perigoso, porque vamos ter a ética da maioria. E o que é a ética da maioria? Se você estiver do meu lado, você é inocente. Caso contrário, você é culpado. Então, não merecemos da rua o epíteto de excelências. Será que somos excelências? Estamos nos comportando dessa forma? É essa a imagem que o cidadão tem de ter de nós? Temos ou não temos vergonha na cara? Honramos ou não honramos nosso mandato? Quem somos nós? Cada qual expõe sua opinião. Venha dizer o que pensa! Venha votar claramente! Tropa de choque para arquivar processo? Vamos reagir! Todos nós temos obrigação de falar. Todos nós temos obrigação de dar nossa opinião.

            O que aconteceu aqui está errado. O pronunciamento de hoje jogou gasolina na chama, incendiou em vez de apaziguar.

            Será que isso tem marcha à ré? Será que o Senado, na atual configuração, poderá superar a crise? Eu aposto que não. Eu aposto que não. Nós não temos como conjurar essa situação, nós não temos como resolver o problema que foi criado.

            Tudo o que acontecer de agora para frente nós teremos uma Casa desmoralizada, com homens desmoralizados à sua frente. Desmoralizados pelos fatos, desmoralizados pelas circunstâncias.

            E quero dizer, em muitos de nós dói. E deve doer aqui. Em mim dói. Por quê? Porque eu votei no Presidente Sarney. Eu votei no Presidente Sarney, e agora estou aqui a pedir que ele se retire, para que a Casa seja pacificada, para que a Casa possa passar por um processo de transição, para que os erros, os crimes, as improbidades cometidos não se repitam mais. Cada qual pague pelo seu erro, cada qual pague pelo crime cometido, cada qual pague pela improbidade.

         Mas o Senado... Hoje alguém me perguntou... E tem muitos beócios aí propondo o fim do Senado. Não foi o Senado que apodreceu, não foi o Senado que apodreceu. Foram os Senadores que apodreceram, alguns deles, que não têm condição de honrar esse nome, que não têm condição e nem espírito...

(Interrupção do som.)

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Quantos aqui não têm inteligência, têm uma capacidade suprema, mas não têm espírito público. Sem espírito público não se pode sentar numa cadeira dessa. Não é conhecimento, não é inteligência, não é preparo só. Não é voto. O eleitor quantas vezes errou? O eleitor quantas vezes corrigiu o erro? Agora, o que nós temos é um jogo político em que o Presidente da República massacra o seu próprio Partido e hoje nós estamos na mão do PT. O PT é quem vai decidir o futuro desta Casa.

         Então, o que quero dizer aos Srs. Senadores e não é ao Senador do PDT, não é ao Senador do PMDB, não é ao Senador do PTB ou do DEM, quero dizer aos Senadores de todos os Partidos: nós temos que dar um basta nisso.

            Nós não podemos ficar passando vexame diariamente. Nós temos que resolver essa situação. Nós temos que sentar à mesa, nós temos que encontrar uma saída.

            O SR. PRESIDENTE (Marconi Perillo. PSDB - GO. Acionando a campainha) - Para encerrar, Senador.

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - E a saída só pode ser uma, Sr. Presidente. A saída é a do bom senso, a saída é a que a sociedade espera, a saída é aquela por que a população clama, é aquela que a ética vem buscar e é a que temos que respeitar.

            Não adianta condenar, por maioria, o Senador Arthur Virgílio. O Senador Virgílio não é o grande malandro da praça. Não é! O Senador Arthur Virgílio não é o grande desafortunado da ética. O Senador Virgílio não é um homem que se encontra abandonado pela moral. O Senador Virgílio é um homem que veio aqui angustiado e confessou o que fez. E o Supremo tem várias decisões em que, quando há o ressarcimento voluntário antes da apresentação da denúncia, a coisa se resolve. Repito, tem falha... teve problemas, mas não pode ser julgado, não pode ser julgado pela sua condição de opositor, tem que ser julgado pelo que fez. E ele foi chantageado como muitos aqui estão sendo chantageados. Muitos aqui estão sendo ameaçados, muitos aqui estão intimidados.

            Saiam do casulo, não para virar borboleta, saiam do casulo para ganhar asas de liberdade. Nós não podemos decepcionar aqueles que votaram em nós, e até quem não votou em nós. Nós não podemos decepcionar... Isso não implica condenar, não. Temos que abrir o processo, temos que recorrer, temos que lutar. Se o Conselho de Ética insistir, é vir para o plenário. E o Senado há de dar uma resposta. Os Senadores darão uma resposta. E a resposta não pode ser arquivamento sumário, tropa de choque, desmoralização.

            Repito: basta! Basta! O Brasil não merece esse espetáculo. Basta!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2009 - Página 34758