Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de o Senado Federal superar a crise por que passa atualmente. Apoio ao Senador Arthur Virgílio.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Necessidade de o Senado Federal superar a crise por que passa atualmente. Apoio ao Senador Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2009 - Página 34775
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, ACUSADO, QUEBRA, DECORO PARLAMENTAR, CRITICA, EXISTENCIA, COSTUMES, BRASIL, CONDENAÇÃO, DENUNCIANTE, CORRUPÇÃO, ABSOLVIÇÃO, RESPONSAVEL, IRREGULARIDADE, REGISTRO, CONTINUAÇÃO, COMPROMISSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEFESA, PRESERVAÇÃO, REPUTAÇÃO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Falarei daqui, com mais humildade. Acho que o momento exige.

            Começarei, Presidente Mão Santa, lendo um recado que recebi há pouco, pelo celular, de uma estudante do Rio de Janeiro:

Não entendo de política e, a cada dia, compreendo menos. Como brasileira já fiquei indignada e me senti profundamente desrespeitada, mas hoje, como estudante de Direito, chorei por ver os meus sonhos destruídos. Ser advogada para quê? O Senado acabou.

            Sei, Senador Mão Santa, que não é uma manifestação isolada. Se pudéssemos consultar a alma brasileira, certamente verificaríamos o seu pranto diante de um espetáculo que os brasileiros não gostariam de ver no plenário do Senado Federal, até então considerada a Casa da maturidade política.

            O Senado não acabou. O nosso mandato acaba. Alguns Senadores se acabam, mas o Senado persistirá. Mas o Senado persistirá. Um Senador como Arthur Virgílio não acaba, mesmo quando os destinos, que são incompreensíveis, nos levam àqueles que marcam a sua trajetória com dignidade, com honradez e com decência - permanecem vivos na forma do exemplo que vivifica. Se o Senador Arthur Virgílio já era respeitado antes, já era admirado antes, certamente a dose de respeito e de admiração por ele no Brasil todo é maior.

            O que está ocorrendo é que o Senador Arthur Virgílio, como ninguém, defende convicções pessoais com competência, ousadia e coragem, não se atemoriza. E, por essa razão, provoca a ira dos que, inconformados, não aceitam a sua postura de defensor da Instituição que representa. O Senador Arthur Virgílio não precisa da nossa solidariedade, ele sabe que há uma inversão de valores neste momento.

            O que ocorre não é uma representação em função de eventuais irregularidades que possa ele ter praticado. O que ocorre é o que há no Brasil, nos últimos anos, como modelo, a prática de se condenar quem denuncia o ilícito e absolver o responsável pelo ilícito; a prática de condenar quem denuncia a corrupção e absolver o corrupto; a prática de condenar quem denuncia o crime e absolver o criminoso.

            Eu não creio que seja necessário dizer também que há uma outra prática recorrente no Brasil. Eu vou citar mais duas, Senador Arthur Virgílio. Uma delas: existe o crime, mas não existe o criminoso; existe o erro, mas não existe o errado. E a outra prática é a da terceirização da responsabilidade. O Presidente Lula é professor. Nunca vê, de nada sabe e os outros são responsáveis. Aqui, no Senado, nós estamos verificando que Lula tem alunos, não muito jovens, já idosos, mas que aprenderam com ele a prática de terceirizar responsabilidades. O próprio Presidente Sarney, no seu discurso de ontem, terceirizou, em vários momentos, a responsabilidade que deveria assumir.

            O prejuízo, sem dúvida, do que vem ocorrendo é da Instituição. Não será fácil recuperar o conceito e a imagem do Senado Federal. Hoje mesmo tivemos um exemplo disso. A CPI da Petrobras se reuniu pela primeira vez. É uma CPI que poderia ser histórica, da maior importância, instrumento capaz de desvendar os mistérios que existem com desmandos visíveis e denunciados na gestão atual da Petrobras. No entanto, a CPI hoje foi, de forma acachapante, envolvida pelo debate no plenário do Senado Federal.

            Eu quero dizer que este Senado, nos últimos anos, teve lampejos de independência que incomodaram. O Senador Tião Viana fez referência à CPMF. Aquele foi um momento em que lampejos de independência incomodaram o Executivo. Quando o Senador Garibaldi, atendendo a um apelo da Oposição, devolveu uma medida provisória inconstitucional, quando o Plenário desta Casa rejeitou medidas provisórias, ou aprovou matérias que não contavam com a simpatia do Palácio do Planalto, como a dos aposentados ou a da Emenda nº 29, com recursos para a saúde pública, o Senado incomodou. Incomodou o Executivo e certamente muitos passaram a desejar o achincalhe da Instituição para que ela se fragilizasse.

            Está sendo o Senado achincalhado, sim, mas não acabou. Enganam-se os que imaginam que o Senado acabou. O povo certamente acabará com o mandato de Senadores, mas saberá preservar esta Instituição.

            Sei que é difícil. Não é fácil neste momento acreditar na Instituição, mas ela é essencial e insubstituível e tem que ser preservada. O PSDB vai continuar cumprindo o seu dever.

            As ameaças, sinceramente, Senador Mão Santa, no que tangem ao PSDB não incomodam. Ao contrário, elas estimulam. Por que ameaçar? Há razões para a ameaça? O que não cabe no figurino do oposicionista é a covardia de aceitar a imposição do silêncio em função de eventuais ameaças. Certamente há aqueles que injustamente são acusados de ameaçadores, mas obviamente existem aqueles que ameaçam. A eles, lamentavelmente, somos obrigados a afirmar a nossa ignorância com relação a eles. Não há por que nos atemorizarmos diante de ameaças que não encontram nenhuma consistência na verdade.

            Para concluir, Sr. Presidente, reafirmo a nossa admiração pelo comportamento do Senador Arthur Virgílio na tribuna, na tarde de hoje e sempre. O Senador Arthur Virgílio é um crítico implacável, mas ninguém pode acusá-lo de omissão, de conivência e de cumplicidade com o erro. É um crítico implacável que, às vezes, irrita os seus adversários, mas ninguém pode carimbá-lo com o carimbo da desonestidade. Essa representação é uma falácia. Essa representação não é apenas uma injustiça, é um descalabro sob o ponto de vista da ética. Não há quem possa ter autoridade moral e ética, no Senado Federal, para propor representação dessa natureza contra alguém que se comporta com a dignidade com que tem se comportado o Senador Arthur Virgílio.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2009 - Página 34775