Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre os sinais concretos de que a economia brasileira está voltando aos trilhos.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre os sinais concretos de que a economia brasileira está voltando aos trilhos.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2009 - Página 34794
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, POLITICA, REGULAMENTAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, GARANTIA, AGILIZAÇÃO, BRASIL, COMBATE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, COMENTARIO, LEVANTAMENTO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), PREVISÃO, AUMENTO, INVESTIMENTO, EMPRESA MULTINACIONAL, ATENDIMENTO, MERCADO INTERNO, REGISTRO, ANUNCIO, BARACK OBAMA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REALIZAÇÃO, REFORMULAÇÃO, NATUREZA FINANCEIRA, SEMELHANÇA, PAIS.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, PESQUISA, EMPRESA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), AUMENTO, BUSCA, CREDITOS, CRESCIMENTO, CONSUMO INTERNO, ESPECIFICAÇÃO, AQUISIÇÃO, AUTOMOVEL, APARELHO ELETRODOMESTICO, INCENTIVO, AMPLIAÇÃO, PRODUÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, INDUSTRIA DE ELETRODOMESTICO, COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MELHORIA, PREVISÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cautela nunca é demais, quando o tema é um abalo como o que a economia mundial sofreu nos últimos meses. Mas já é possível afirmar, com razoável grau de certeza, e não mais como mera especulação, que o Brasil começa a escapar aos efeitos da crise que só encontra paralelo na Grande Depressão nos anos 1930.

            Não se trata de exercício de futurologia otimista, algo em que são pródigos alguns especialistas daqui e lá de fora. Existem sinais concretos de que a economia está voltando aos trilhos. Por exemplo, embora o investimento total venha sofrendo redução, o investimento direto estrangeiro entrou em processo de franco crescimento. De janeiro a maio deste ano, 11 bilhões e 200 milhões de dólares ingressaram no País, para serem empregados na indústria, comércio, agricultura e setor de serviços. Levando-se em conta o período de 5 meses, é a segunda maior cifra da década.

            Durou pouco o intervalo em que as multinacionais suspenderam projetos de expansão e concentraram-se em remeter dinheiro às matrizes. Agora, a prioridade voltou a ser a de esforçar-se em ampliar a produção para atender ao mercado consumidor brasileiro. Um levantamento junto ao mercado financeiro, feito pelo Banco Central, calcula que, até o final do ano o investimento direto estrangeiro chegará a 25 bilhões de dólares. Caso a previsão se concretize, esta será a quarta maior cifra da década.

            Uma frase do presidente mundial da italiana Pirelli Pneus, Francesco Gori, resume a atual conjuntura econômica do continente. Até poucos anos atrás, disse ele, as duas grandes economias da América Latina eram Brasil e México. Hoje, para ele, está claro que o Brasil assumiu a liderança. Sua declaração é reforçada pelo fato de empresas mexicanas terem dirigido investimentos para o nosso país em tempos recentes, motivadas pela redução do consumo em seu principal mercado, os Estados Unidos.

            A impressão generalizada parece ser a de que o Brasil não está sofrendo com a intensidade experimentada em outros países os efeitos da crise econômica. Tanto que o jornal inglês Financial Times, em caderno especial sobre o País publicado no último dia 7 de julho, ousou afirmar que o Brasil “passa dançando pela crise”. Diz a reportagem que estamos “sugando investimento estrangeiro direto, enquanto muitos rivais ficam sem nada”.

            “Pelo fato de ter feito muito para colocar a casa em ordem é que o Brasil se tornou tão atrativo para os investidores”, afirma o jornal. Devemos muito do fato de termos sido poupados do pior à existência de uma regulação e fiscalização de mercados que faltou até mesmo às maiores economias do mundo. O projeto de reforma financeira anunciado semanas atrás pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, guarda semelhanças com medidas implementadas por aqui há décadas.

             A ampliação dos poderes do Federal Reserve, o banco central americano, para fiscalizar não só os bancos como também as seguradoras e os fundos de investimento, é algo que existe no Brasil desde 2001, numa atribuição compartilhada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários. O limite ao volume de empréstimos que podem ser concedidos pelos bancos de investimento, inexistente nos Estados Unidos e proposto no projeto do presidente, é norma no Brasil, onde não pode exceder 8 vezes o valor do capital do banco.

            Operações realizadas por bancos e corretoras são todas registradas por aqui, com identificação dos clientes. Nos Estados Unidos, fraudes como os golpes praticados pelo operador Bernard Madoff, condenado há pouco a 150 anos de prisão, foram possíveis em parte graças às facilidades concedidas pela falta de fiscalização.

            Não há sistema financeiro totalmente imune ao risco, por maior que seja a regulamentação. Mas é possível, por meio de mecanismos de controle como os adotados pelo Brasil nas últimas décadas, fazer com que essa estrutura regulatória garanta solidez e reduza a possibilidade de eventos catastróficos.

            Diante das dimensões e da extensão da crise mundial, é previsível que existam incertezas no horizonte. Mas a perspectiva de recuperação já se apóia em dados concretos. Duas pesquisas demonstram que a busca por crédito e os planos de consumo dos brasileiros já ultrapassaram os níveis anteriores à crise.

            Preparado por uma empresa de informações de crédito, o Indicador Demanda do Consumidor por Crédito chegou em junho a 102,7 pontos, contra 101,2 pontos obtidos em outubro de 2008, superando pela primeira vez o índice daquele mês. E o Índice de Intenção de Compras de Bens Duráveis, elaborado pela Universidade de São Paulo, indica que houve um crescimento de 20 por cento na disposição do consumidor para adquirir um carro novo ou uma geladeira, em relação ao mesmo período do ano passado. São evidências de que a oferta de crédito está aumentando e de que a perda do emprego deixa, aos poucos, de ser uma ameaça.

            De acordo com dados do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a produção industrial de bens de consumo duráveis, como geladeiras, máquinas de lavar, fogões e automóveis, aumentou 92 por cento entre dezembro do ano passado e maio deste ano. Com uma extensa cadeia de produção, os bens de consumo duráveis geram empregos e dão impulso a outros setores, estimulando toda a economia. Assim, é positivo que estejam sendo o fator principal de recuperação.

            O último boletim Focus, publicação do Banco Central que divulga estimativas para os principais indicadores econômicos, reflete a progressiva melhoria das expectativas dos analistas do mercado financeiro. A projeção para a queda do Produto Interno Bruto passou de 0,50 por cento para 0,34 por cento. Um mês atrás, estimava-se que a retração seria de 0,55 por cento.

            Se não podemos dizer que atravessamos a tempestade incólumes, ou mesmo que ela já terminou, é possível constatar que o Brasil, afetado de maneira menos severa, tende a livrar-se da crise com maior rapidez. É uma ironia do destino que as grandes economias, devido à excessiva confiança num mercado sem regulamentação, estejam agora sujeitas a um processo de recuperação que promete ser bem mais longo e difícil que o nosso.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2009 - Página 34794