Discurso durante a 126ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pedido de desculpas ao povo pelos acontecimentos dos últimos dias no Senado Federal e apelo para que os jovens brasileiros se mobilizem e ajudem o Senado a recuperar a ética.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Pedido de desculpas ao povo pelos acontecimentos dos últimos dias no Senado Federal e apelo para que os jovens brasileiros se mobilizem e ajudem o Senado a recuperar a ética.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2009 - Página 34942
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, CRITICA, CONDUTA, SENADOR, SEMANA, PERDA, QUALIDADE, DEBATE, DESRESPEITO, POVO, ELEITOR, PARALISAÇÃO, TRABALHO, CONCLAMAÇÃO, CIDADÃO, COBRANÇA, ALTERAÇÃO, COMPORTAMENTO, SENADO, BENEFICIO, ETICA, EXPECTATIVA, MOBILIZAÇÃO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), JUVENTUDE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELOGIO, HISTORIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, BUSCA, MELHORIA, POLITICA NACIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, fiz questão de vir aqui, numa sexta-feira vazia, como são as segundas-feiras e as sextas-feiras, para, é claro, em meu nome - não posso falar em nome do Senado, não sou dirigente desta Casa -, em meu nome, como Senador, pedir desculpas ao povo brasileiro pelo comportamento que temos tido nos últimos dias.

            Não podemos deixar de pedir desculpas, porque estamos aqui graças aos votos de cem milhões de pessoas. E essas pessoas, certamente, quando votaram, cada uma delas em cada um de nós, não esperavam que esta Casa ficasse paralisada no trabalho em prol da República. Eu mesmo, com minha bandeira, há quantas semanas já não venho aqui falar de educação? Estamos sem lutar pelas nossas bandeiras e estamos nos comportando como alunos mal-educados em uma sala de aula.

            Ao mesmo tempo em que digo que peço desculpas por ser parte desta Casa e, portanto, por ser responsável por essa maneira também, quero falar aos jovens. Imagino o que deve sentir um jovem brasileiro quando chega à sua sala de aula e senta, como sentamos aqui, diante de um professor ou de uma professora. O que ele deve sentir ao lembrar-se das cenas da noite anterior, passadas pela televisão? Eles se sentem, provavelmente, livres para se comportarem lá da maneira que estamos nos comportando aqui. E isso traz para o Brasil, pelo nosso exemplo, um risco muito grande: o risco de transformarmos as Assembleias que existem neste País em imitação do que é o Senado Federal nos dias de hoje.

            Peço desculpas, porque sou parte disso. E não estou conseguindo parar isso, fazer com que isso não continue acontecendo. Ouvimos, há pouco, o Senador Simon, e ficou claro, na fala dele, que ele teme que a próxima semana seja pior do que esta, que foi pior do que as anteriores. Por isso, peço desculpas. Mas, ao mesmo tempo, faço uma sugestão e uma cobrança: se não estamos nos comportando como deveríamos, é preciso que vocês, aí fora, comecem a agir para ajudar o Senado a encontrar o rumo. Por mais que briguemos aqui dentro, de formas muitas vezes incompatíveis com o mínimo de civilidade, mesmo assim, cada um aqui pensa nos votos que terão. Eu nem disse que pensam nos seus eleitores, porque muitos nem pensam nos eleitores, mas pensam nos votos que os eleitores dão. E, se sentirmos, aqui dentro, que esses eleitores, de fato, estão entristecidos, envergonhados, irritados, acredito que esta Casa possa começar a mudar de fora para dentro, já que não está mudando aqui dentro. Entre todos deste País, falo especialmente a esses jovens, aos quais estou pedindo desculpas pelo mau exemplo que estamos dando.

            O Senador Simon perguntou onde está a União Nacional dos Estudantes (UNE) no caso da CPI da Petrobras. Pergunto: onde está a UNE no caso do mau comportamento de nós, Senadores? Onde estão os estudantes, que se mobilizaram, com caras pintadas, quando foi preciso neste País? Talvez, tenha chegado a hora de vocês se mobilizarem pela ética no Senado.

            Estou fazendo questão, Senador Paim, de não citar nomes pessoais, mas sim o conjunto de todos nós. Não estou aqui usando slogans contra A, B ou C, mas um slogan positivo da ética no Senado. Precisamos fazer manifestações neste País pela ética no Senado. Precisamos fazer com que os sindicatos, as centrais sindicais, os jovens militantes de partidos se mobilizem, já que as direções partidárias não se estão mobilizando como deveriam.

            Falo especialmente para os dois partidos por que tenho um carinho especial hoje: aquele ao qual pertenço, que é o PDT, e o PT, ao qual pertenci durante muitos anos, e não me arrependo em nada das lutas que ali travamos. Onde estão os jovens do PT? Onde estão os jovens do PDT? Mas também onde estão os jovens dos outros partidos, os militantes de partidos, os filiados de partidos que querem um Brasil melhor, que sabem que não é possível um Brasil melhor se não for numa democracia, que sabem que não há democracia se não houver Congresso e que sabem que o Congresso, em um país federativo, como o Brasil, não é completo sem uma Casa do tipo do Senado, que representa os Estados, não as pessoas de cada Estado? Onde estão vocês diante do comportamento mal-educado - mais uma vez, digo - e do comportamento desvinculado dos reais problemas deste País a que vocês estão assistindo?

            Portanto, ao lado desse pedido de desculpas, em meu nome - não em nome do Senado, que não tenho autoridade para isso -, faço esse apelo, e aí acho que não é só em meu nome, creio que aí posso dizer em nome de uma grande quantidade de Senadores com os quais tenho conversado nessas últimas semanas, tentando encontrar uma saída. E temos proposto a saída, e não vou usar este momento para dizer qual é essa saída, porque todos já sabem qual é a saída que defendo e que esse grupo de Senadores defende.

            Tenho conversado com muitos Senadores, e todos eles com os quais converso dizem: “Onde está o povo neste momento, que nos manda e-mails criticando, que nos manda e-mails cobrando, mas que não faz um movimento pela ética no Senado?”.

            Deixo aqui este apelo aos jovens: que, em vez de nos copiarem amanhã em suas salas de aula, usem suas salas de aula para descobrir caminhos, para, de fora, ajudar-nos a mudar o Senado. Tenho toda a esperança de que podemos mudar sem demorar muito, porque, demorando muito, não é esperança, é certeza. O Senado não vai acabar, o Brasil vai continuar.

            Não queremos que este Senado desapareça, como desapareceu sob a tutela dos militares, e que, mesmo funcionando, era como se não existisse. Não! Ele vai continuar. Mas, pelo menos, que não esperemos que isso se dê na próxima geração de Senadores. Tenho esperança de que, ainda nesta geração de Senadores à qual pertenço - quando digo “nesta geração”, não falo do ponto de vista biológico, de vivos, porque aqui há muitos jovens que, espero, vão viver muitos anos; falo da geração desta Legislatura, falo dos nossos mandatos, inclusive daqueles que, como eu, terminam o mandato em um ano e meio, não só daqueles que vão ter mais quatro anos ainda -, a gente consiga resolver esses problemas. Mas temo que isso não aconteça sem uma manifestação clara, sem uma mobilização específica, sem caras-pintadas outra vez nas ruas, nos lugares onde eles estão, nas faculdades, nas escolas, nos bares, nas ruas, nos cafés, em todas as casas, sem esses caras-pintadas, que, inclusive, foram ridicularizados no Senado como sendo - os caras-pintadas do passado - nada mais do que uma manifestação estética. Não há dúvida de que foi uma manifestação estética do ponto de vista da beleza que este País teve naquele momento em que as pessoas estavam com as caras pintadas, mas foi muito mais: foi um movimento forte de política, foi um movimento forte de ética no Poder Executivo, que terminou com a cassação do Presidente. Espero que a gente tenha essa mobilização nacional e que essa mobilização ajude o Senado a recuperar a ética.

            Fica aqui, portanto, meu pedido de desculpas, em caráter puramente pessoal, e fica aqui meu apelo, que não é só pessoal, mas que, tenho certeza, é de muitos daqueles que estão nesta Casa e que não querem ir para suas casas, fora do mandato, deixando o Senado nessa situação que tanto nos entristece e envergonha, que é preciso um Senador vir aqui para pedir desculpas.


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