Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Repudia que o Senado seja permanentemente tumultuado por discursos repetitivos, discursos de golpe.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Repudia que o Senado seja permanentemente tumultuado por discursos repetitivos, discursos de golpe.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2009 - Página 34320
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • RECLAMAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, ORADOR, TEMPO, USO DA PALAVRA, DESRESPEITO, REGIMENTO INTERNO, FAVORECIMENTO, SENADOR, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, SENADO, REGISTRO, MENSAGEM (MSG), CIDADÃO, PROTESTO, DISCUSSÃO, AUSENCIA, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • CRITICA, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, DISCURSO, POSSIBILIDADE, PLEBISCITO, EXTINÇÃO, SENADO.
  • CONCLAMAÇÃO, MELHORIA, NIVEL, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, PROTESTO, TUMULTO, SESSÃO, IMPEDIMENTO, TRABALHO, SENADO.
  • DEFESA, PERMANENCIA, PRESIDENTE, SENADO, MOTIVO, LEGALIDADE, ELEIÇÃO, MESA DIRETORA, REPUDIO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, primeiro, quero dizer que estamos desobedecendo completamente ao Regimento da Casa. Esta Casa, em seu Regimento, não discrimina ninguém. E nós já somos habituados a ver - não estou me referindo ao Senador Pedro Simon, absolutamente - que qualquer um que tenha uma projeção nacional maior usa a tribuna o tempo que bem entende.

            Eu sou o único aqui do baixo clero. Quando vou usar, a campainha toda hora...

            Então, isso aqui serve para todos nós. Isso é um dos exemplos em que a população vê que a Ordem e o Progresso não são obedecidos. Se tem um Regimento na Casa, nós temos que ser extremamente rigorosos com o Regimento. Não é porque um teve mais cargo do que o outro, outro que nunca teve cargo ou é suplente ou deixa de ser. Isso aí já desobedece. Isso é um dos sinais de que realmente esta Casa passa por um processo de desgaste muito grande.

            Eu tenho minha opinião sobre tudo isso que nós assistimos aqui. Eu estou aqui com uma série de mensagens, e a última diz assim: “Que coisa horrível!” A outra diz: “Que vergonha!” A outra... É só assim que está aqui no meu celular.

            Na semana passada, uma senhora de Presidente Prudente telefonou de lá para o meu gabinete, a minha secretária atendeu, e ela disse: Senador,... Ela passou muito tempo, e eu dizia: Não, deixe-me ligar para a senhora. Não.

            Recebi tudo escrito: “Senador Papaléo (não estou com o nome dela aqui), pelo amor de Deus, tente conversar - assisto V. Exª sempre no Senado - com os outros Senadores, pois eles precisam tratar, na tribuna, de assuntos de interesse do País. Para essas discussões [e usou um termo pejorativo] que eles se tranquem, que os senhores se tranquem dentro de uma sala e deixem de exibicionismo para a opinião pública”.

            E deixem de exibicionismo para a opinião pública. Foi o que eu ouvi e que estava escrito.

            É lamentável, Sr. Presidente! Se V. Exª viu, eu fiquei aqui caladinho... eu não consigo aguentar isso. É lamentável que Senadores... Para ser eleito Senador, precisa ter idade mínima de 36 anos; a maioria daqui é extremamente experiente pelas diversas ações que já empreenderam nas suas vidas. Nós chegarmos e assistirmos a esse espetáculo deprimente.

            É deprimente porque, Sr. Presidente, nós não podemos fazer... Isso aqui foi uma eleição democrática, isso aqui é uma eleição democrática, qualquer um tem a sua opinião, mas sistematizar, todo dia vir aqui provocar uma situação em que todo mundo discute entre si, em que a produção da... É lamentável!

            Eu queria saber como o cidadão brasileiro, o que cada um pensa realmente do que está acontecendo nesta Casa. Hoje, num debate na Globo News, não tive oportunidade de dizer o que queria dizer, mas disse em algum momento: quem realmente está jogando para a opinião pública a imagem altamente negativa do Senado Federal somos nós mesmos. Somos nós mesmos, porque nós não obedecemos aos critérios, às sequências que devem ser obedecidas pelo Regimento. Há dez denúncias contra o senador fulano, dez denúncias contra o senador fulano... Vinte contra o outro, vinte contra o outro. Vamos apurar e deixar de prejulgar qualquer um.

            Quem já foi vítima de um julgamento errado sabe a dor que lhe causa. Outro dia, foi descoberto que um cidadão que passou seis meses presos como matador de um jovem não era ele, apesar da testemunha, a namorada do rapaz, dizer que era ele. Não era ele.

            Então, Sr. Presidente, quero aqui aproveitar a presença do Senador Cristovam, porque citei o nome dele hoje no Globo News, que é triste se ver um Senador da República, culto como é, preparado como é, um homem intelectual, falar a favor da possibilidade de termos um plebiscito para acabarmos com esta Casa. Senador Cristovam, digo-lhe sinceramente: eu não tenho as qualidades que V. Exª tem, mas uma eu tenho, que é me posicionar. Eu me posiciono com quem ganha ou com quem perde. Eu me posiciono. Eu não tenho posição dúbia. Se eu viesse aqui propor que houvesse um plebiscito para acabar com a Casa porque não serve mais para nada, eu proporia e entregaria a minha carta renúncia aqui. Aí, sim...

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Art. 14.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - ... V. Exª atingiria porque ia provocar a opinião pública...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam...

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) -... e deveria...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - ...V. Exª é professor...

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) -... eu faria isso. Eu faria isso...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) -... é para ficar estudando aqui e agora o Regimento.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) -... Agora...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) -...art. 14 só dois. V. Exª foi o segundo. Não pode ter o terceiro. Não, ele está falando pela ordem.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - (Intervenção fora do microfone.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não. Só dois Senadores podem usar.

            O Sr. Expedito Júnior (Bloco/PR - RO) - Não é por Senador, é dois na...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Já foi, encerrou.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Desculpe, mas V.Exª está usando isso para mim. Para os outros, não usou, não.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Usei.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não usou.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Só usou o Presidente Collor e V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas não tem problema. Seguindo até os outros estão. Uma questão de ordem, para quando terminar a fala do Senador Papaléo Paes.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Peço encarecidamente, Sr. Presidente, que atenda ao pedido do Senador Cristovam Buarque, porque do meu pensamento, da minha análise, não abro mão.

            Se eu viesse aqui propor, achasse que esta Casa estivesse me envergonhando, e viesse a propor a extinção desta Casa...como vou ficar dentro de uma Casa que está me envergonhando? Entregaria minha carta-renúncia. Eu entregaria. E digo a V. Exª que é muito desconfortável, para quem não está acostumado em um ambiente tão tumultuado como este, permanecer aqui. É muito desconfortável! Nós queremos trabalhar, queremos trabalhar e queremos trabalhar!

            Hoje, estávamos na Globo News e a entrevistadora disse: “Olha, o ambiente lá dentro está muito bom.” Disse assim: “Daqui a pouco - desculpem o termo, não sei se vou para o Conselho de Ética - mas, daqui a pouco, aparece um espírito de porco e vai tumultuar o ambiente.” E apareceu! Ficamos tumultuados até agora.

            Sr. Presidente, V. Exª sabe que cada um de nós passou por diversos momentos na vida da gente e que, quando estamos aqui, temos que esquecer muitas coisas e lembrarmos que aqui estamos representando o povo brasileiro, que, se vai às urnas votar e nos eleger, é porque quer um representante digno e que lute por esta Instituição.

            Então, a minha luta aqui... O Sr. Presidente Sarney é representante do Estado do Amapá, tenho uma ligação pessoal com ele, uma ligação pessoal. Ele sabe muito bem como é o meu comportamento político. Não sou Senador do PMDB, sou do PSDB, mas eu não posso, de forma nenhuma, aceitar que esta Casa seja permanentemente tumultuada por discursos repetitivos, por discursos de golpe. Se alguém tem de pedir ao Presidente Sarney que renuncie, chegue ali e peça. Mas sistematizaram de uma forma tal, que realmente nos dá uma sensação de golpe. Quem foi eleito pela maioria? Tomou posse. Ele sai da Presidência se quiser. É uma decisão de foro íntimo.

            (Interrupção do som.)

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - ... ele próprio se defender. Então, peço que continuem com seus discursos, mas que não inflamem o ambiente aqui dentro, que gerou o que vimos aqui.

            Jogar para a torcida, amigo, o povo identifica. Ele identifica. Se fizermos uma votação secreta, o Presidente Sarney ganha; se fizermos uma votação aberta, acho que o Presidente Sarney perde. Entendeu? É isso. É essa hipocrisia que vivemos que faz o povo desacreditar o político. Não é outra coisa, mas a hipocrisia que faz o povo desacreditar o político!

            E nós não podemos... a gente vai morrer todo mundo afogado aqui dentro?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Papaléo, lembrando o Regimento, que V. Exª tanto me incentivou ...

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Aí o Senador Pedro Simon passa duas horas lá; o Wellington passa dez minutos aqui. 

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª …

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Se vamos morrer todos abraçados aqui, que morramos, mas não deixemos esta Casa morrer. Esta Casa é fundamental no processo democrático. Não podemos deixar o Legislativo ser unicameral. O que equilibra a democracia é esta Casa, que é a que sofre mais. O Senado, o Legislativo é quem sofre, quem sofre todo tipo de pressão. Porque o Executivo toma uma decisão, não ouve povo, não ouve nada. Quando a gente vê, já está tomada. O Judiciário toma uma decisão, você vai conhecer três, quatro dias depois, quando publica no Diário Oficial.

            (Interrupção do som)

           O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - E aqui, não, aqui nós discutimos com o povo, por isso aceitamos as críticas que a imprensa faz, as críticas que o povo faz e respeitamos essa sociedade.

           Muito obrigado, Sr. Presidente. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2009 - Página 34320