Discurso durante a 127ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação com iminente celebração de acordo entre o Governo Federal e entidades representativas dos aposentados, em torno do fator previdenciário. Críticas ao Governo do Pará, especialmente nas áreas da saúde e da segurança públicas.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. SAUDE. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Satisfação com iminente celebração de acordo entre o Governo Federal e entidades representativas dos aposentados, em torno do fator previdenciário. Críticas ao Governo do Pará, especialmente nas áreas da saúde e da segurança públicas.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Mão Santa, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2009 - Página 35161
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. SAUDE. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • BALANÇO, NEGOCIAÇÃO, GOVERNO, CONGRESSISTA, ENTIDADE, APOSENTADO, ANUNCIO, PROXIMIDADE, CONCLUSÃO, APROVAÇÃO, MATERIA, MELHORIA, APOSENTADORIA, PENSÃO, REGISTRO, COMPROMISSO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, AGRADECIMENTO, COLABORAÇÃO, SENADOR, ALTERAÇÃO, DISPOSIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • GRAVIDADE, SAUDE PUBLICA, ESTADO DO PARA (PA), PRECARIEDADE, HOSPITAL, CRITICA, NEGLIGENCIA, GOVERNADOR, ESPECIFICAÇÃO, SANTA CASA DE MISERICORDIA, IMPUNIDADE, MORTE, CRIANÇA, ENCAMINHAMENTO, ESTADO DO MARANHÃO (MA), ESTADO DO PIAUI (PI), DOENTE, CANCER, RISCOS, ENCERRAMENTO, ASSISTENCIA MEDICO-HOSPITALAR, FALTA, ATENDIMENTO, INTERIOR.
  • PROTESTO, GESTÃO, GOVERNADOR, RETROCESSÃO, ECONOMIA, ESTADO DO PARA (PA), AMBITO, MADEIRA, PECUARIA, MINERIO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador e ex-Presidente da República Fernando Collor de Mello, na sexta-feira passada, vim a esta tribuna, com certa alegria, comunicar à Nação que estávamos chegando a um acordo com referência ao problema dos aposentados. Parece que a coisa anda, Sr. Presidente. V. Exª é um dos que tanto lutou, junto com inúmeros Senadores, para que pudéssemos chegar a esse resultado. Amanhã ou depois de amanhã - acho que o mais certo é amanhã -, entraremos na última rodada com o Governo.

            O Globo já noticia hoje o aumento de 7%. Obviamente que a batida final do martelo não será de nenhum Senador, mas das representações dos aposentados, das associações, dos sindicatos. Nós participaremos, amanhã, apenas para dar um apoio a essas associações. No entanto, quero deixar bem claro que a decisão será dada pela representação dos aposentados deste País.

            Começamos essa luta há dois anos, quando chegamos aqui. Hoje me sinto gratificado em poder ver que a solução caminha a passos longos e acho que, nesta semana, poderemos dar finalmente a notícia de vitória a esta causa.

            Saber que estamos amenizando o sofrimento dos aposentados deste País é uma enorme alegria, é uma enorme satisfação, porque tenho consciência, já que tenho observado, tenho estudado e tenho visto a situação precária de vida dos aposentados, de cada família de aposentado. Eles merecem o respeito de todos nós, políticos, pelo trabalho que fizeram por este País, cada um fazendo a sua parte para a construção desta Nação. No entanto, na hora em que mais precisam de respeito, na hora da sua velhice, recebem o abandono.

            Por isso, logo que cheguei aqui, uma das primeiras coisas que fiz foi me agregar ao Senador Paulo Paim nesta luta, uma luta que nos custou várias reuniões, uma luta que nos custou dois anos de tribuna, dois anos de quase toda semana na tribuna, uma luta que nos custou várias reuniões com o Governo, mas uma luta que nos traz uma felicidade enorme pela causa que defendemos.

            Amanhã, acredito, fecharemos essa rodada com o fator previdenciário. Oxalá, com esse maldito fator previdenciário sendo exterminado da vida dos brasileiros e, quem sabe, com o aumento real, haverá um ganho real para os aposentados de todo o País.

            Acho que, no final, farei um pronunciamento de agradecimento a cada Senador e quero aqui nominar cada um que participou da vigília, que participou dos debates, que participou dessa luta, que participou de todas as reuniões: o Senador Mão Santa, o Senador Papaléo Paes, o Senador Romeu Tuma, Senador Geraldo Mesquita; enfim, tantos quantos Senadores participaram do movimento que criamos aqui em defesa dos aposentados, movimento que fluiu de uma maneira tal que conseguimos sensibilizar o Governo.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Mário Couto...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - E eu disse, Senador Mão Santa, que iria fazer um agradecimento ao Presidente Lula. Farei. Se isso se concretizar, eu farei, porque estou vendo que, até que enfim, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Até que enfim parece que o Presidente Lula começa a ter uma pequena sensibilidade em relação aos aposentados deste País.

            Oxalá isso não mude de hoje para amanhã! Oxalá isso não mude esta semana e que as notícias que estamos vendo na imprensa sejam reais, que as reuniões que temos vivido até hoje continuem fluindo para uma solução!

            Eu acredito que amanhã será o grande dia.

            Senador Mão Santa, pois não.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Mário Couto, aí é que quero crer que, no momento mesmo dessa crise do Senado, há muito gente que tem inveja das nossas conquistas. V. Exª ainda não estava aqui enriquecendo o Senado da República, mas, quando aqui entramos eu e Paulo Paim, o salário-mínimo era de US$70,00. Começamos uma luta para chegar a US$100,00. Nós éramos “São Tomé” e, de repente, estamos com um salário-mínimo de mais de US$200,00. Essa campanha bonita de oportunidades de trabalho - e o fato é que faz lei - dos mototaxistas, dos taxiboys, e que cantaram aqui agradecidos o Hino Nacional. E essa dos aposentados, que V. Exª já estava aqui, nós empunhamos e mostramos ao País como eles eram vítimas. Aqui eu relembrava Juscelino Kubitschek, que dizia que a velhice é triste, mas ela desamparada é uma desgraça. E os aposentados sofreram; nunca antes houve tantos suicídios de aposentados, com a destruição da família em que o avô é o sustentáculo da família. Um bem nunca vem sem que seja acompanhado de outro bem. Barack Obama, Presidente Collor, tem dois livros - e eu já li os dois. Ele disse que, se não fosse o avô dele, ele seria um maconheiro. Hoje, é o maior líder do mundo, graças a Deus. Quer dizer, o avô é o exemplo, é a força, é a proteção da instituição maior da sociedade, que é a família. Rui Barbosa disse que a pátria é a família amplificada. Então, o avô perdeu sua credibilidade, porque ele trabalhou, teve seus sonhos de ajudar os netos, de ajudar a família, mas foram garfadas as aposentadorias com esse imoral fator redutor da aposentadoria, contra o qual nós todos lutamos. O projeto de lei foi do nosso Paulo Paim, eu fui o Relator. E V. Exª foi o líder de todos nós, V. Exª ameaçou até fazer uma greve de fome aqui. Graças a Deus, isso não foi necessário.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Parabéns a V. Exª, parabéns ao Geraldo Mesquita, parabéns ao Papaléo, ao Romeu Tuma; parabéns a tantos quantos se engajaram nessa luta em favor dessa causa justa. Haveremos de festejar, se Deus quiser, durante o decorrer desta semana. Espero assim.

            Mas, Sr. Presidente, não vou tomar muito tempo nesta tribuna, na segunda-feira. Vim aqui apenas para relatar a saúde do meu Estado.

            Olha, Sr. Presidente, sinceramente, é devastadora a situação da saúde do meu Estado; são devastadoras as causas de doenças pela o abandono de parte do Poder Público Estadual; é devastadora a situação da segurança pública. Mas hoje vou mostrar à Nação e ao meu Estado como tenho razão, muitas vezes, de fazer uma crítica construtiva a nossa Governadora.

            Eu sei que a Governadora fica chateada. Eu sei que a Governadora está acionando, inclusive, a Bancada Estadual para procurar defeitos meus, para tentar calar esta voz nesta tribuna. Não vão calar! Mas eu não quero, aqui, paraenses, falar da Governadora; eu quero, aqui, fazer críticas construtivas para que a Governadora possa melhorar sua condição de governar, que é péssima, é lamentável! Talvez seja uma das piores deste País.

            Quantas vezes a Nação brasileira já viu este Senador, nesta tribuna, a falar? Outro dia, fui comentar aqui a reportagem de um jornalista Cláudio... Não tenho a reportagem aqui; não sei se é Cláudio Humberto ou Humberto Cláudio. Um negócio assim, mas um profissional do Diário do Pará, do meu Estado, em que mostrava que a Governadora bebia pelas ruas. E, aí, começaram a criticar este Senador, dizendo que eu estava falando de uma mulher, que eu estava falando da vida privada de alguém. Mas eu tenho, Senador Collor, eu tenho o direito de falar de uma Governadora que foi eleita pela maioria dos paraenses, que ganhou de um dos maiores líderes do Pará, o maior construtor de meu Estado nos últimos tempos, que se chama Almir Gabriel - um grande Governador! Ela ganhou desse homem! O Pará todo, Senador Collor, criou uma expectativa de que o Estado cresceria no seu governo. E não é o que se vê; e a decepção é muito grande.

            Então, quando digo que uma senhora deveria ter uma postura mais sóbria, uma postura mais ética... Olha, Senador Collor, depois que eu assumi este Senado, eu prometi a mim mesmo que eu pararia de tomar qualquer pingo de álcool. Deixei de tomar qualquer bebida alcoólica que fosse, nem cerveja, nem uísque, nada, absolutamente nada. Deixei porque é minha responsabilidade. Eu, aqui, estou representando 1,5 milhão de paraenses que votaram em mim. É muito sério. Ela representa o povo do Pará, ela representa o Estado, ela é a governante, ela é a que manda no Estado do Pará. Ela tem que ser respeitada por todos os paraenses. Então, tem que ter dignidade. É isso, só isso.

            E quando eu vejo o meu Estado abandonado, meu Presidente, quando eu vejo a saúde do meu Estado em estado de caos, meu Presidente, quando eu vejo os hospitais que atendiam a população do Pará como o Hospital Ophir Loyola, como a Santa Casa de Misericórdia se acabando, destruindo-se, eu não tenho que falar, eu tenho que ficar calado? Não posso, Presidente Papaléo! Eu tenho que falar, eu tenho que acionar as autoridades, eu tenho que criticar a Governadora e as suas atitudes, sim, também. Eu tenho esse direito.

         Procurem o que quiserem de mim, mas não me vão calar. Não me vão calar, Presidente. Olha, aqui, Presidente, a Maternidade da Santa Casa. V. Exª é médico.

            Vários Senadores do Norte, como Mozarildo e V. Exª estudaram, fizeram estágio. E num hospital de referência do Estado do Pará, um dos melhores hospitais do Estado do Pará, faz um ano, Presidente, um ano, Brasil, um ano, que morreram - agora tenho números certos - 260 crianças na Santa Casa de Misericórdia. O Senador Collor poderia olhar para mim e dizer assim: “O que tem isso? Morreram 260 crianças num ano”. Não, Senador; não foi num ano, foram em 45 dias. Aí é o drama. Num final de semana, 13 bebês morreram. Nada aconteceu, Pará! Aí, eu tenho que ficar calado, Pará? Eu tenho que aceitar tudo? O paraense pode olhar para mim na rua e dizer assim: “olha, foi naquele senhor ali que eu depositei a minha confiança de ele ir para o Senado Federal representar o Pará, defender os nossos interesses, e aquele senhor foi para lá e nada fez! Sequer falou da saúde, que está um caos! Sequer falou da postura da Governadora! Sequer falou da segurança no Estado do Pará!

            Os servidores, os funcionários da Santa Casa... Ora, V. Exª diz que o Governador do Piauí é pior do que a Ana Júlia Carepa. Não é, não, Mão Santa. Ana Júlia Carepa ganha de mil a zero do teu Governador! A tua Santa Casa está assim, a fechar as portas, a não ter esparadrapo? Sabem como é que eles fazem curativos? Estão aqui os jornais do Pará mostrando isso. Sabem como é que eles fazem curativos na Santa Casa de Misericórdia? É com saco plástico amarrado! E eu tenho de ficar calado, Geraldo Mesquita. Outro dia, passei próximo de um Senador, descendo daqui, da tribuna, e o Senador: “Tu exageras!” Eu não exagero em absolutamente nada! Tudo que falo aqui é com papel na mão. Eu não invento nada, não sai nada da minha cabeça; tudo é com comprovante; tudo é realidade.

            E aí, Geraldo Mesquita? Quem é que será responsabilizado pela morte daqueles 260 bebês? Quem? Será que não podemos fazer nada? A Assembleia Legislativa do meu Estado é competente, um dos grandes Presidentes, melhor que eu, que fui Presidente por quatro anos daquele Poder. Fui Presidente por dois anos e reeleito por unanimidade. Unanimidade! Todos os 41 Deputados votaram em mim, mas esse que está lá é melhor que eu, reconhecidamente melhor que eu. Fez uma administração melhor que a minha, o Deputado Juvenil.

            Duzentos e sessenta bebês mortos em quarenta e cinco dias, Deputado Juvenil; num final de semana, treze! A Santa Casa, hoje, está na mesma situação. Ninguém toma nenhuma providência. Vão morrer - já estão morrendo - mais bebês e mais gente naquele hospital, e nada! Nada de se saber quem foram os culpados, quem matou, quem assassinou. Aquilo ali foi um assassinato à luz do dia! Assassinato à luz do dia, Mão Santa! E fica por isso, e ninguém toma nenhuma providência, Senador Mão Santa.

            No Hospital Ophir Loyola, outro hospital de referência no tratamento do câncer, sabe o que estão fazendo? Mandando os doentes do câncer para o vosso Estado; estão exportando os doentes de câncer do meu Estado para o Piauí e para o Maranhão, a R$24,00 a diária de cada doente. E aí eu tenho que ficar calado? E aí eu não posso falar nada? E aí eu não posso criticar a nossa Governadora? E aí eu tenho que dizer que a Governadora está certa, Pará?

         Mostra, TV Senado, para o Brasil. Olhem aqui. Leia, Presidente; olha como a minha Governadora é: “Governo ‘exporta’ pacientes com câncer”. A R$24,00, Papaléo, tu, que és médico. A R$ 24,00 a diária, manda para o Maranhão e para o Piauí. Outrora, o Ophir Loyola, hospital do câncer no Pará, era um dos maiores hospitais do Brasil ou do mundo!

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Oxalá não feche as portas! Tomara que não feche suas portas! Tomara! Está fechando, praticamente fechado, uma das maiores referências de cura do câncer do Brasil!

            Eu tive uma irmã cancerosa, uma irmã doente de câncer no intestino. Foi ao Hospital Ophir Loyola. Quando saiu de lá, eu fui a São Paulo com minha irmã, aconselhar-me com os médicos. Ela tinha 50 anos de idade, nova. Isso há uns sete ou oito anos. Chegamos em São Paulo e perguntaram onde eu havia levado a minha querida irmã. Eu disse: “No Ophir Loyola, em Belém do Pará”. Ao que me disseram: “Não tem outro diagnóstico. Pode levar em qualquer hospital do mundo, é igual”. Isso há oito anos, Senador Collor. Hoje, o hospital está quase fechando, mandando os pacientes de câncer para o Piauí, para o Maranhão, a R$24,00 a diária.Frise-se: a R$24,00 a diária!

            Como está a saúde no interior do meu Estado se, na capital, está assim, falida? Quantos morrem por dia por falta de atendimento? Os hospitais de referência estão falidos.

            Quantos morrem assassinados nas ruas de Belém por causa da violência? Quantos morrem nos hospitais? E, às vezes, até sem chegar nos hospitais; e, quando chegam, não há vagas, não há remédios, mandam para o Piauí, mandam para o Maranhão. Olhem como está o Estado do Pará.

            Aí eu tenho que ficar calado? Não, Presidente Collor; não ficarei. Não ficarei, Senador Geraldo Mesquita. Posso até magoar algumas pessoas que, porventura, não entendam a minha postura. Mas a minha postura é guerreira, a minha postura é valente! Aqui, desta tribuna, eu já acionei Ministério Público, Ministro da Justiça, Ministro da Saúde, já acionei tudo, já fiz tudo que posso fazer e, com altivez, sem medo de ninguém, critico o Governo do meu Estado!

         Não queria fazer isso, não, Governadora Ana Júlia! Não queria! Queria poder aqui elogiar V. Exª; queria poder vir aqui e dizer que meu Estado está crescendo, que a sua economia está bem. Não está! Fechamos as maiores das madeireiras do meu Estado, fechamos as guseiras, que fabricam ferro-gusa. Tudo neste Governo. Acabamos com a evolução da exportação de boi em pé. O único Estado do Brasil que exportava boi em pé para o Líbano. Isso está praticamente acabado. O madeireiro era o setor que empregava mais. O mineral, o setor que mais produzia no Estado do Pará, tornando o Estado o sexto maior exportador deste País. Tudo falido hoje, Presidente Collor; tudo falido!

            Presidente, vou descer desta tribuna certo de que estou cumprindo o meu dever de representante de Estado. Tenho a obrigação constitucional de defender o meu Estado aqui. Ninguém, ninguém fará com que esta voz se cale! E aqui mando, sinceramente, paraenses, meu desejo de que a Governadora Ana Júlia...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - (...) possa sensibilizar-se com os problemas do meu Estado, que tem um povo ordeiro, Senador Geraldo Mesquita. Se V. Exª conheceu o Estado do Pará, deve ter ficado impressionado com o tratamento do povo paraense. O povo paraense é carinhoso, é ordeiro, é sensível, é trabalhador, é corajoso, mas está sofrendo demais. O povo paraense está sofrendo demais com a saúde, com a segurança principalmente. Temos problemas graves na educação, mas a segurança e a saúde maltratam violentamente o meu Estado. Maltratam violentamente o Estado do Pará!

            Por isso é que sempre venho aqui falar. Não posso ver tudo isso e ficar calado. Não posso ver reportagens em jornais criticando a Governadora porque a Governadora está bebendo ali ou acolá. “Não fala; ela é mulher. Tu não podes falar. Tu estás maltratando uma mulher”. As próprias mulheres do meu Estado estão decepcionadas com a nossa Governadora. As próprias mulheres que votaram, maciçamente, na Governadora Ana Júlia estão decepcionadas com ela.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Mário Couto...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pois não.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - É exatamente sobre esse assunto. Quero dizer que conheço como anda a saúde do Pará. Realmente, está muito precária. V. Exª colocou tudo como deveria ser colocado. Nessa questão de mulher, eu vejo o seguinte: dizer que com mulher não pode e com homem pode é discriminação. Não é isso que a mulher quer. A mulher quer, e já conquistou, grandes espaços, que eram só dos homens. Então, não temos que analisar se é homem ou se é mulher. Os dois têm o mesmo espaço para preencher. Nós temos que analisar a pessoa, independentemente do sexo. Porque é mulher não erra ou porque é homem não erra? Não. É a pessoa. Então, se nós começarmos a distinguir sexo, nós estaremos discriminando. A análise não é porque a Governadora é mulher; é a figura de quem comanda o Estado, não importa se homem ou mulher. Obrigado.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Veja bem, Senador Papaléo: quando eu falo da Ana Júlia mulher, eu estou falando da Governadora do meu Estado. A mulher que se propôs a ser a Governadora do meu Estado...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - (...) é dessa Governadora que eu estou falando; é essa Governadora que eu julgo incompetente para acabar com a violência no meu Estado; é dessa Governadora que eu estou falando, e assumo a responsabilidade do que digo, assumo a responsabilidade. Ela é incompetente para governar o meu Estado. Ela, sim, tem culpa pelas mortes daqueles 260 bebês da Santa Casa. Ela tem culpa dos que caem, na rua, mortos pelos bandidos, tanto na capital como no interior. Ela tem culpa da negligência com a saúde do meu Estado. E ela sabe disso. Ela lê jornal todos os dias.

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Mais um minuto só, Sr. Presidente.

         Ela tem dados, ela tem estatísticas, ela sabe, ela tem conhecimento da quantidade de paraenses que caem, hoje, mortos, tanto pela falência da saúde como da segurança no meu Estado, e não toma nenhuma providência!

            Ministério Público do meu Estado, tanto o federal como o estadual, ajam! Ministério Público, não deixe o meu Pará na desgraça! Aja, Assembleia Legislativa, não deixe o meu Estado cair em desgraça!

            Um minuto a V. Exª, para concluir.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Mário Couto, todos nós, aqui no Senado, temos acompanhado e somos testemunhas do vigor com que V. Exª critica atos administrativos realizados no seu Estado, setores que aparentemente estão desordenados e causando graves embaraços à população do Pará. O caso das crianças que morreram na Santa Casa do Estado do Pará é muito grave, exige apuração profunda, exige que pessoas sejam apontadas como responsáveis pelas causas que levaram a uma situação dramática como essa. Agora desculpe a sinceridade daquele que lhe tem grande admiração, que é seu grande amigo. Eu apenas fico preocupado, Senador Mário Couto - e aqui não tenho procuração da Governadora, que nem é do meu Partido, a Governadora Ana Júlia, que foi nossa colega aqui, no Senado, por algum tempo -, quando V. Exª atribui todo esse descaso administrativo que V. Exª descreve aqui, dia após dia, no Senado, ao fato de um determinado jornal publicar parece-me até uma charge, vinculando a Governadora ao ato de ingerir bebida alcoólica, Senador, com toda a sinceridade, com todo o apreço que tenho por V. Exª, eu acho que, de certa forma, V. Exª desqualifica o seu próprio discurso. Apontar os erros e as mazelas ocorridas no Estado do Pará é sua obrigação, como V. Exª mesmo reconhece. É constitucional, é político. Agora esse é um aspecto pessoal. Não sei nem se procede, Senador...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Não sei nem se procede, Senador, porque V. Exª tem dito que é notícia de jornal. Ora, todos nós sabemos que, quando um jornal pega no pé de alguém, o que um jornal consegue fazer: distorce fatos e faz com que aquilo que pode não ser realidade passe a ser realidade. V. Exª se tem havido aqui com muita propriedade, quando bate mesmo naquilo que deve bater, criticando as ações erradas feitas no seu querido Estado do Pará, ou melhor, nosso querido Estado do Pará. Em 1996, Senador Mário Couto, passei cerca de quatro meses dirigindo interinamente a unidade da Procuradoria da Fazenda Nacional, a quem sirvo até hoje...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - (...) e nunca fui tão bem tratado na minha vida. O paraense é uma pessoa afável, educada, cordata, trabalhador inclusive. Dou aqui o testemunho dos meus colegas, lá no Estado do Pará, que atuam na Procuradoria, servidores, procuradores. Enfim, eu acho que a gente precisa verificar, Senador, primeiro, se isso procede, se isso tem correspondência com a realidade, porque - e não se trata de ser mulher ou homem - é uma autoridade do seu Estado, é um adversário político seu. E, repito, não se trata de ser mulher ou homem. Eu não me atenho a esse aspecto. Eu acho apenas que V. Exª, de certa forma, desculpe a sinceridade, desqualifica um pouco o seu discurso quando vai em cima de uma notícia de jornal que reproduz um fato como esse. E V. Exª não precisa disso. V. Exª não precisa disso. Perdoe-me a franqueza.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É verdade, Senador.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Bastam os fatos que V. Exª traz aqui, diariamente, para que nós tomemos contato com a realidade do Estado do Pará. V. Exª não precisa disso. Eu acho que V. Exª precisaria refletir sobre isso, porque o mal-estar que me causa, quando V. Exª entra nesse campo, acho que causa também a muitos dos seus conterrâneos. Eu acho que V. Exª não precisa disso e deveria fugir dessa linha, porque nela não constrói. Desculpe a franqueza e a sinceridade.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não há nada que desculpar. Até é bom que V. Exª tenha colocado isso. Primeiro, saiba que eu também tenho uma profunda admiração por V. Exª; segundo, Senador, aí está um Senador que está falando, Geraldo Mesquita, sem conhecimento da causa. Aqui está, do outro lado, um Senador, na tribuna, falando com conhecimento de causa.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - (Intervenção fora do microfone.)

         O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu o escutei, eu o escutei, por favor. Eu o escutei, eu o escutei. Eu o escutei cinco minutos, atendo à sua fala. Deixe-me falar!

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Não... Eu estou dizendo o seguinte. Olhe...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Vou escutá-lo de novo.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - O que nós temos ouvido é que V. Exª se reporta sempre...

            O SR. MÁRIO COUTO (PDB - PA) - Vou escutá-lo de novo.

            O Sr. Geraldo mesquita júnior (PMDB - AC) - O que nós temos ouvido é que V. Exª se reporta sempre a uma notícia de jornal, a uma determinada charge, a uma notícia de jornal. Estou me pautando nisso Senador.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Errou. Aí está um Senador do Acre , bem distante do Pará, sem ter nenhuma preocupação, acho eu, com o seu governo, porque nunca o vi falar aqui, nunca vi V. Exª defender o seu Estado aqui, sem conhecer o meu, sem estar com dor profunda no coração, como eu estou.... Ah, se V. Exª soubesse o quanto dói ver um amigo, ver um parente, ver uma irmã, por exemplo, do Senador Papaléo, um parente, cair morto numa rua! Ah, se V. Exª sentisse essa dor, V. Exª não diria isso, não tocaria neste assunto na minha frente, Senador.

            Eu respeito e amo o meu Estado Senador. Eu conheço o que digo, e tudo que digo, digo de cátedra. O jornal é uma complementação do meu discurso. Ainda ontem tive conhecimento de uma grande farra em Marabá. Isso é uma falta de respeito ao meu povo, que morre, que cai. Não estou falando de nenhuma mulher; estou falando de uma governadora responsável pela segurança do meu Estado, responsável pela saúde do meu Estado Senador. Não venha Senador, não venha! Eu o respeito muito, Senador.

            Gosto de V. Exª, mas respeite o meu Estado. Aqui, não! Respeite o meu Estado. Essa é a minha dor. De que falo aqui é da minha dor. Falo disso aqui porque o sinto na pele, sinto no coração, Senador. V. Exª não sente, não lhe dói, não lhe causa mal-estar; causa ao Mão Santa, por exemplo, o Governo do Estado dele. V. Exª é tranquilo. Nunca vi V. Exª falar do seu Governador. Está tudo bem no Acre. No Pará, não está. Não sou adversário de ninguém; sou defensor do Pará. Não diga que sou adversário de ninguém. Sou defensor do meu Estado. Não tenho adversários, não, Senador. Meus adversários, Senador, são aqueles que maltratam o meu Estado, que derrubam os meus irmãos, que matam os meus irmãos. Esses são os meus adversários, Senador.

            Desculpe-me, Senador.

            Obrigado, Senador Mão Santa.


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