Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre pesquisas realizadas acerca das dificuldades do Estado do Piauí, em que se destacam os problemas da violência, do desemprego e da corrupção.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações sobre pesquisas realizadas acerca das dificuldades do Estado do Piauí, em que se destacam os problemas da violência, do desemprego e da corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2009 - Página 36583
Assunto
Outros > ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, INTERNET, CONFIRMAÇÃO, DIFICULDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), AGRAVAÇÃO, PROBLEMA, VIOLENCIA, DESEMPREGO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.
  • LEITURA, CONVITE, CAMARA MUNICIPAL, MUNICIPIO, JAICOS (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, AUDIENCIA PUBLICA, DEBATE, PROBLEMA, SEGURANÇA PUBLICA, REGIÃO.
  • LEITURA, MATERIA, INTERNET, DIVULGAÇÃO, APURAÇÃO, PROCURADOR DA REPUBLICA, ESTADO DO PIAUI (PI), DENUNCIA, GOVERNADOR, SECRETARIO DE ESTADO, MALVERSAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, FAVORECIMENTO, ELEIÇÕES, DEFESA, NECESSIDADE, PUNIÇÃO, PRISÃO, RESPONSAVEL, ATO ILICITO, COMBATE, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Senador Paulo Paim, que preside esta reunião de segunda- feira, Parlamentares, brasileiros e brasileiras aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Professor Cristovam, tenho aqui dois livros. E quero sintetizar. Ortega y Gasset disse que o homem é o homem e as suas circunstâncias, e V. Exª está de acordo. Mas quero sintetizar este livro todo - não sei se V Exª leu - O Choque do Futuro e A Terceira Onda (Pausa.) Já leu. Mas Rui Barbosa disse que aprendemos quando lemos sete vezes, esquecemos as sete e saímos para a oitava.

            Então, vou só lembrar: Alvin Toffler, A Terceira Onda, capitulo 27, “O Mausoléu Político”.

         Atentai bem! Como nós aqui temos nos últimos instantes, vamos dizer, confrontado opiniões diversas, eu queria só lembrar o que o autor diz, ô Professor Cristovam, lá no capítulo “Mausoléu Político”: “Então, estão tornando o Congresso, outrora síntese de debates cuidadosos e ponderados, no alvo do riso de toda a nação”.

            Agora, Professor Cristovam, o autor se refere ao Congresso dos Estados Unidos e da Inglaterra. Atentai bem para o nosso raciocínio: estão tornando o Congresso, outrora síntese de debates, cuidadosos e ponderados, no alvo do riso de toda a nação.

            E vai mais adiante. O autor, que admite que estamos vivendo a terceira onda - a primeira foi a agricultura, dez mil anos; os quatrocentos anos da onda industrial, e essa agora, da desmassificação da comunicação, da desmassificação da religião, da desmassificação das lideranças políticas. E ele vai mais e diz assim:

Foram projetados num mundo intelectual, que é quase inimaginável - um mundo que foi pré-Marx, pré-Darwin, pré-Freud e pré-Einstein.

Esta é, pois, a questão política mais importante, por si só, que nos defronta: o envelhecimento das nossas instituições políticas e governamentais mais básicas.

         E termina: “Teremos que inventar novas instituições - como os pais fundadores da América fizeram há dois séculos”.

         É isto: o mundo da terceira onda é muito acelerado; nós somos muitos lentos. Isso é o que está havendo nessa desmassificação. Então, não é aqui, no Senado, Papaléo. É a estrutura criada para vivermos esses momentos democráticos - não somos nós - que ficou obsoleta.

         Mas queria, então, citar outro, um presente para V. Exª oferecer à nossa Marina, que faz crescer o Senado e a política: Inabalável, livro de Wangari Maathai, líder ambientalista que ganhou o primeiro Prêmio Nobel. Tem até uma frase aqui para V. Exª, que, hoje já hasteou esse ideal de novas lideranças libertárias, ambientalistas, independentes. Diz aqui a autora, que recebeu seu primeiro Prêmio Nobel, mulher, preta, ambientalista: “É incrível o que conseguimos realizar quando somos obstinados o bastante”. Então, V. Exª, que já hasteou a bandeira da simpática candidata.

            Agora, vamos ao nosso pronunciamento. Paim, eu vi umas pesquisas no Piauí, como todo mundo está vendo. Papaléo, se a eleição fosse hoje... Quando há muitos candidatos, varia, não é? O Ciro Gomes ali, vizinho... Mas se for Governo, Dilma Rousseff, e Oposição, José Serra, ô, Papaléo, sabe qual é o placar no Piauí? Sessenta por cento a vinte por cento. Só os dois. Quando entra Ciro Gomes, do Ceará... Eu mesmo uma vez votei no Ciro Gomes. Ele é vizinho, nasceu em Sobral, fronteira com o Piauí.

            Agora, o que eu quero dizer é o seguinte: hoje vemos essas pesquisas; nelas foram avaliadas as dificuldades do Piauí, do Governo do Piauí, que é do PT.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Para quem a diferença, Senador?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sessenta por cento para José Serra; 20%, Dilma, se fosse hoje. José Serra: 60% dos votos no Piauí, Dilma: 20%

            GP1 fez uma pesquisa das dificuldades que o Piauí vive - e o Piauí é Brasil. Talvez sejam as mesmas do Rio Grande do Sul, mas cada Estado tem suas particularidades. Aqui, o do Cristovam é diferente: é capital, tem a maior renda per capita. Mas, no Piauí - não sei como é lá no seu Amapá, Papaléo -, primeiro é a violência. Eu sempre adverti para essa questão no Brasil. Não estou contra ninguém, não. Eu sempre disse que a violência é uma barbárie. Não existe, não existe, não existe no mundo civilizado isso, Paim.

            E não vamos pensar em Primeiro Mundo, rico, não. Bem aí, no Uruguai, são mais civilizados; bem aí, na Argentina nós conseguimos andar, eu com Adalgisa, às 4h da madrugada, namorando, saindo de um tango. Aqui, no Brasil, é impossível isso. Vá, Cristovam, com a sua amada andar na Cinelândia, na antiga Ouvidor. Não é possível! No meu Piauí, que era, há dez anos, pacato, de repente - isso foi muito mais rápido do que gripe do porco que está aí -, a epidemia da violência alastrou-se.

            Então, o Norberto Bobbio já dizia que o mínimo que um governo tem que dar o seu povo e que o povo tem que exigir é segurança à vida, à liberdade e à propriedade. Respondam-me, brasileiros e brasileiras. No Piauí, a violência é hoje, e nunca havia sido, o principal fato negativo. Eu sempre via desemprego, saúde e educação, mas a violência passou a ser o primeiro; o temor, a intranquilidade na segurança.

            Eu não sei, Cristovam, onde você estudou, mas eu estudei no Rio de Janeiro, nos anos 60. Papaléo, eu me lembro que eu namorava ali no aterro do Flamengo, de noite. É bom; os carros passando... Hoje, quando eu conto isso, ninguém acredita. Ali, no Parque do Flamengo. Como era bom! A Adalgisa, eu acho, nem tinha nascido, mas eu estudava lá... Hoje, a violência, lá no meu Piauí, lá na minha cidadezinha de Parnaíba, é aterrorizante; são crimes, são barbaridades.

            Bancos têm sido fechados no Piauí em algumas cidades porque são repetidamente assaltados. Há farmácias que são assaltadas seis vezes por mês. Eles não fazem alarde porque aí vão perder o pouco da freguesia que tem. Eles me informaram, Pedro Simon, que vendem mais hoje por telefone, porque o povo tem medo de ir lá à noite. Então, mudou-se a violência, a falta de segurança, que nunca antes no Piauí, mas que hoje está lá.

            O outro é o desemprego. A violência é tão grande, tão grande... Pedro Simon, entendo que essa democracia será salva quando as câmara municipais forem as catedrais da democracia, quando o povo for chamado para participar. E eu venho aqui, orgulhoso do Poder Legislativo, da Câmara Municipal de Jaicós, Piauí. É uma cidade antiga do Piauí, onde foi criada uma das primeiras escolas - de um padre. A situação é de tal maneira, Papaléo, tão grave nessa cidade interiorana que recebi o seguinte convite:

Poder Legislativo, Câmara Municipal de Jaicós-PI.

Jaicós(PI), 13 de agosto de 2009.

“Excelentíssimo Senador,

Ao cumprimentar V. Exª, venho convidá-lo a participar de Audiência Pública a ser realizada em 19/08/2009, quarta-feira, a partir das 9h, prédio da Câmara Municipal de Jaicós, localizada à Rua Desembargador João Mota, nº 256 Bairro Centro/Jaicós-PI, para tratar da temática: Segurança Pública no município de Jaicós.

A audiência foi sugerida através de requerimento de autoria da Vereadora Maria da Penha de Morais Wanderley e aprovado por unanimidade nesta Casa Legislativa.

Informo ainda que com a aprovação do requerimento houve a realização de reuniões com representantes da sociedade civil e comerciantes, que sugeriram a data acima citada.

Sendo o que tinha a encaminhar e contando com a confirmação de Vossa presença, expresso votos de apreço e consideração.

Atenciosamente,

José Acelino da Silva”. [sic]

        Então, é isto: a violência; e a Câmara Municipal da cidade de Jaicós, por seu Presidente e pela Vereadora Maria da Penha, dá o exemplo. Isso é o que todas as Câmaras têm de fazer - já vi anunciadas outras do Piauí -, para frearmos a violência e chamarmos o povo para as Câmaras Municipais. Entendo que o Vereador é um senador municipal, e o Senador é um vereador federal, e as Câmaras têm de ser como as catedrais, as igrejas da democracia.

        O outro item foi o desemprego.

        Senador Papaléo, o desemprego no Piauí é alarmante. Essa é a nossa preocupação. Lembro-me de quando o Secretário de Indústria e Comércio do meu Governo era o Senador João Vicente Claudino.

            Olhem que, juntos, nós implantamos cerca de 200 indústrias. Saiu o Piauí do que se diz “primeira onda da agricultura” para a “segunda onda industrial”. Se não bastassem 27 fábricas de castanhas que criamos, várias indústrias de guaraná. Lá só tinha a Cervejaria Antárctica e, de repente, colocamos a Skol e colocamos a Brahma. Dezenas de fábricas de refrigerantes locais, três extraordinárias indústrias: a fábrica de cimento Nassau, a fábrica de soja que fomos buscar lá em Santa Catarina, a Bunge Multinacional, a maior empresa, que trouxe capital e que dinamizou o plantio de soja, e uma grandiosa fábrica de bicicleta do próprio grupo de Claudino. Isso proporcionou muito emprego.

            O Governador do Estado, numa miopia, aliás, cegueira mesmo, em quem todos nós tínhamos esperança, porque o Presidente era do mesmo lado, entrou naquela conversa: plantar mamona para fazer biodiesel. José Agripino contestou. Eu endossei dizendo que não haveria economicidade.

            Passaram-se os anos, houve propaganda, gastos irresponsáveis, incomensuráveis... Criaram três no Piauí. As três faliram, não foram adiante, porque eles não ouviram o Senado da República. José Agripino, com sua competência de administrador - e ele foi diretor de uma multinacional em São Luís do Maranhão, para produtos extraídos de vegetais -, dizia que não havia economicidade. E eu também, pela minha formação médica, sabendo dos preços dos medicamentos oriundos, carimbava as conclusões de José Agripino. O Governo teimou. Paim, foram anos e anos de investimento... Desilusões. Hoje, milhares de desempregados, decepcionados.

            E o terceiro e último é a corrupção.

            A corrupção é aquilo que Ulysses Guimarães dizia, atentai bem: “a corrupção é o cupim que corrói a democracia”.

            Então este Portal GP1, cuja matéria passo a ler, é hoje o que a terceira onda diz, Senador Paim: desmassificação da comunicação. Ela não é mais um não, ela está dividida. E o GP1 um dos grandes portais diz: Procurador da República apura denúncia contra o governador Wellington Dias”.

“O procurador da República no Piauí, Antônio Cavalcante de Oliveira, remeteu ao procurador geral da República, Roberto Gurgel, o processo contra o governador Wellington Dias e quatro de seus secretários por uso de máquina pública em proveito próprio, com fins eleitorais.

A denúncia gerou ainda a abertura de um inquérito da Polícia Federal para apurar as declarações do deputado estadual Xavier Neto na tribuna da Assembléia Legislativa alegando que os secretários Fernando Monteiro, da Defesa Civil; Hélio Isaías, do Trabalho e Empreendimento; Robert Rios, da Segurança Pública e Assis Carvalho, da Saúde, estão cooptando lideranças públicas com dinheiro público.

Uma cópia do despacho do Ministério Público Federal foi também encaminhado ao Ministério Público Eleitoral para dar ciência do fato investigado, porque envolve questões eleitorais.

A denúncia foi feita pelo advogado Antônio de Deus Neto que ocasionou a abertura do procedimento administrativo [...] Ele disse que o processo vai tramitar em Brasília por causa do foro privilegiado do governador Wellington Dias. Além disso, há indícios de corrupção passiva e ativa com a utilização da máquina pública em proveito próprio, para cooptar apoio político eleitoral. ‘No despacho diz ainda que a maioria destes recursos federais é oriunda de programas, de projetos, convênios e contratos’, afirmou o advogado Antônio de Deus.

O processo foi remetido para Brasília no dia 7, com pedido de investigação da Polícia Federal. ‘A representação foi fundamentada na declaração do deputado Xavier Neto, na tribuna da Assembléia. Teve uma grande repercussão na imprensa e subsidiou a representação. Há fortes indícios de materialidade de crime. O inquérito da PF é para materializar o crime anunciado pelo deputado’, comentou Antônio de Deus, que vai atuar como assistente do Ministério Público.

Assistimos com freqüência as denúncias da prática de corrupção com utilização de dinheiro público estadual e federal no Piauí. Este quadro de impunidade não pode continuar no Estado. É preciso que encontrado efetivamente a culpabilidade dos gestores públicos, que respondam como qualquer pessoa civil com a devolução do dinheiro e com a prisão dos responsáveis pelos atos ilegais’, completou o advogado denunciante”. [sic]

            Presidente Sarney, eu trouxe um livro aqui e o li para o Professor Cristovam. Esse negócio de Senado já foi previsto, então, para que V. Exª saia daqui. E eu diria, com uma sabedoria que eu aprendi: “A inveja e a mágoa corrompem os corações”.

            Há muita inveja de V. Exª, da sua trajetória política, da sua trajetória intelectual. É o único brasileiro, na história, a presidir esta Casa... Agora, eu tenho que dizer que a ignorância é audaciosa. É audaciosa.

            Então, eu trouxe este livro para o Cristovam. Chama-se A Terceira Onda. E no Capítulo 27 do livro, o subtítulo é O Mausoléu Político. O autor é Alvin Toffler. Ele diz simplesmente o seguinte - serei breve, é só para terminar: “Os políticos parecem inúteis para estancar as tendências, sempre desligados dos seus líderes”.

         E ele conclui aqui este capítulo dizendo o seguinte - e nós vamos terminar.

“Esta é, pois, a questão política mais importante, por si só, que nos defronta: o envelhecimento das nossas instituições políticas e governamentais mais básicas.”

            E diz: “...estão tornando o Congresso, outrora o centro de debates cuidadosos e ponderados... no alvo do riso de toda a nação.”

            As nações, Presidente Sarney, a que se refere, são os Estados Unidos e a Inglaterra.

            Então, são estruturas obsoletas.

“Teremos que inventar novas instituições - como os pais fundadores da América fizeram há dois séculos”.

“O homem é o homem e a sua circunstância. Estamos vivendo a circunstância da terceira onda, essa onda que mudou o mundo, que fez a desmassificação da comunicação, da liderança, da religião. Houve uma aceleração e essas casas são tardias, são obsoletas. Compete a todos nós termos novas inspirações como tiveram os do passado”.

            São essas as nossas palavras, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2009 - Página 36583