Pronunciamento de Pedro Simon em 17/08/2009
Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Manifestação em defesa da história do jornal O Estado de S.Paulo, em razão das críticas do Presidente José Sarney. Considerações a respeito da crise no Senado Federal.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IMPRENSA.
SENADO.:
- Manifestação em defesa da história do jornal O Estado de S.Paulo, em razão das críticas do Presidente José Sarney. Considerações a respeito da crise no Senado Federal.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/08/2009 - Página 36593
- Assunto
- Outros > IMPRENSA. SENADO.
- Indexação
-
- SOLIDARIEDADE, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VITIMA, CRITICA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, MOTIVO, DENUNCIA, AQUISIÇÃO, EMPREITEIRO, IMOVEL, FAVORECIMENTO, FAMILIA, SENADOR.
- DEFESA, NECESSIDADE, CONSELHO, ETICA, EFICACIA, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CRITICA, INTERESSE, ARQUIVAMENTO, CONTINUAÇÃO, CRISE, SENADO.
- QUESTIONAMENTO, CONDUTA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, PERMANENCIA, FUNÇÃO, OPOSIÇÃO, INVESTIGAÇÃO, AGRAVAÇÃO, CRISE.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paim, Srs. Parlamentares, eu ia falar sobre essa matéria, mas não posso deixar de iniciar abordando o pronunciamento do Presidente Sarney.
Eu entendo a sua mágoa, eu entendo o seu pronunciamento, eu entendo o seu sentimento, mas eu não posso aceitar silenciosamente as agressões feitas ao jornal O Estado de S. Paulo. Eu não analiso o fato em si, esse do apartamento, embora a maioria dos fatos que têm sido apresentados por O Estado de S. Paulo sejam fatos investigados pela Polícia Federal. A Polícia Federal do Presidente Lula é que fez o levantamento. Todo esse dossiê que vem sendo publicado veio da Polícia Federal.
O fato da fundação, o fato de sobrinha, de neto... Tudo que vinha sendo feito até ontem era descoberto por investigação da Polícia Federal do Presidente Lula. Eu não posso aceitar. Pode até ser um equívoco, grave, lamentável, com relação ao apartamento. Mas logo o Presidente Sarney, admirador e fã tão entusiasta ao longo da história do O Estado de S. Paulo, agora quando lhe atinge, dizer que O Estado de S. Paulo é aquilo que ele disse? Não.
Pois eu estou aqui para me lembrar do velho Estadão, na época da ditadura, na época do arbítrio, na época da violência. Claro que o Presidente Sarney não se lembra dessa época, pois estava lá do lado do Governo. Eu li e reli Dona Benta e aprendi muita receita de comida nas páginas do O Estado de S. Paulo, onde foram proibidas notícias pela ditadura. Eu li e reli muita coisa de Dom Quixote de Cervantes nas páginas do O Estado de S. Paulo, publicadas na proibição de matérias pela ditadura. O Estado de S. Paulo é um patrimônio deste País.
Eu já tive muitas críticas, duras, amargas, feitas a mim pelo O Estado de S. Paulo. Quando o Presidente Tancredo Neves anunciou o Ministério, dizendo que o Ministro da Agricultura seria Pedro Simon, a capa do caderno de agricultura de O Estado de S. Paulo era um caixão de defunto e o Pedro Simon, Ministro da Agricultura, ali enterrado. Morreu a agricultura no Brasil. E a charge embaixo: “Pergunta ao Pedro Simon se ele sabe distinguir uma melancia de uma maçã.” Nem por isso deixo de reconhecer a importância de O Estado de S. Paulo. Não! Venho nesta hora e neste momento dizer que o jornal O Estado de S. Paulo tem uma história e uma biografia de luta e de resistência e que o Sr. Sarney, durante toda sua história, foi amigo dos Mesquita, apoiou os Mesquita.
Acho interessante. A matéria é mentirosa? Tomara Deus que seja! Mas e as outras matérias, que vêm se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo? Será que a fórmula é falar, alguém responder aqui da tribuna e encerrar o assunto? Por que não permitir que o Conselho de Ética faça o levantamento? O normal de um Estado democrata - ouvi o Senador que me antecedeu falando em democracia -, seria que esses assuntos fossem investigados no Conselho de Ética; que fossem analisadas as acusações e a defesa.
Primeiro, o presidente do Conselho de Ética foi eleito com toda a Mesa em fevereiro, e só foram eleger o Conselho de Ética em junho, quando as representações foram feitas. E se escolheu da maneira que se sabe: uma tropa de choque com dez votos ali garantidos e a determinação em arquivar. Mas arquivar?! O Presidente Sarney tem o direito de exigir que o Conselho de Ética faça a investigação. Porque arquivar por uma tropa de choque... Se fosse um Conselho de Ética composto por ilustres Parlamentares independentes e imparciais, cada um com o seu pensamento, com a sua idéia, com a sua filosofia, com a sua cabeça, tudo bem. Mas a gente sabe.
Aliás, nós estamos vivendo um momento fantástico. A imprensa publica que o PMDB está exigindo do Presidente Lula que ele determine ao Líder Mercadante que tire dois representantes do Conselho de Ética do PT, porque esses dois são candidatos a Governador e não querem votar, e coloque dois representantes: um do PMDB, que é o Líder Jucá; e outro, que é o ilustre representante do Rio de Janeiro. Mudar a composição! Ó, velho PT, quem te viu e quem te vê! O PT retirar do Conselho de Ética, abrir mão de seus representantes no Conselho de Ética para botar representantes de outros Partidos, para arquivar as representações...
O Presidente Sarney falou tão bonito, tão brilhante aqui. Por que não vai pedir que o Conselho de Ética se reúna? São dez a cinco, maioria tranquila, serena. Mas permita que se debata, que se discuta, que se explique a situação. Não!
Olha, o Presidente Sarney devia estar preocupado. Fala-se tanto em pesquisa. São 74% da pesquisa dizendo que ele deve sair e 68% dizendo que ele é responsável pelas acusações feitas.
Ora, esta Casa nunca foi santa. É verdade que o Sr. Darcy Ribeiro dizia que o Senado era muito bacana, melhor do que o céu, porque para ir para o céu precisa morrer, e para vir para esta Casa não precisa morrer. Eu diria que nós estamos vivendo um momento em que esta Casa é pior do que o inferno. Sem morrer, estamos vivendo o inferno aqui, no Senado, pelo deboche, pela ridicularização.
A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco preparou uma reunião para amanhã; não vai sair. Transferiram porque querem vir ver, amanhã, a reunião da Comissão de Constituição e Justiça.
Eu nunca vi. Eu nunca vi esta Casa se rebaixar ao ponto em que ela está. Eu nunca vi. Olha, querer ganhar no grito? Querer ganhar sem justificar, sem debater, sem analisar?
Dizem - não sei - que o grupo avançado, a tropa de elite, também está organizando um esquema de advogados, delegados, etc e tal, para fazer um levantamento de dossiês com relação aos Parlamentares desta Casa. As informações chegam: Fulano, cuidado com isso! Beltrano, cuidado com aquilo!
Mas onde é que nós estamos? Onde que nós estamos? Eu mesmo, nesta tribuna... O Sr. Collor - eu o interpelei, a Mesa já entregou ao Sr. Tuma, e ele que responda - disse que já tem fatos graves com relação a mim e que vai dizer quando bem entende. Não, ele é obrigado a dizer. Podia ter guardado para si e dissesse quando bem entendesse, mas, se falou daqui, tem que dizer.
Cobraram de mim por que eu não falei, por que eu não respondi o negócio de “engula” e não sei mais o que e não sei mais o quê. Eu pensei rápido. Vou entrar nessa linguagem? Vou entrar nesse estilo para no fim aparecermos eu e o Collor numa fotografia que para mim não me servia?! Ele que ficasse com a linguagem dele. Mas ele vai ter que responder.
O Sr. Renan, com relação a mim, primeiro disse: “A mágoa do Simon com o Senador Sarney é porque o Simon queria ser Vice-Presidente do Tancredo e nunca perdoou porque o Tancredo escolheu o Sarney”. Mas que coisa ridícula! Todo o Brasil sabe que, naquele momento, para ser Vice do Tancredo, tinha que ser alguém da Arena que rachasse a Arena. O que o Tancredo não queria, o que nós não queríamos era o Sarney, que era o Presidente da Arena, era o homem que representava muito daquilo de que nós achávamos o contrário. Nós preferíamos o Marco Maciel. Nós preferíamos o Nelson Marchezan. Mas dizer que alguém do MDB pensava em ser Vice-Presidente àquela altura é ridículo!
Depois, o Sr. Renan disse que, quando eu era Ministro da Agricultura, houve uma importação de carne imprópria vinda lá da Rússia e que eu era o responsável. Fazia seis meses que eu não era mais Ministro da Agricultura quando esse acidente aconteceu. Não tenho a mínima ideia do que se tratava.
Depois, referiu-se a um filho meu de uma empresa... Ridículo! Ficou provado, claro, que a empresa que meu filho presidiu, um banco do povo, uma instituição espetacular do Rio Grande do Sul, só tem mérito e elogio, não tem uma vírgula. E assim estão pegando “a”, “b”, “c” e “d”.
Agora, reunir o Conselho de Ética, não! Debater o Conselho de Ética, não! Mas essa mágoa do Presidente Sarney... Ele devia dizer: “Eu exijo que o Conselho de Ética se reúna. Eu exijo que aceite as representações, e eu quero respondê-las”. Até porque ele tem a maioria, dez a cinco. Ou dizer assim: “Eu gostaria de aceitar, mas não aceito, porque o Conselho de Ética é viciado, estão contra mim, querem me condenar”. Mas não é isso, é o contrário: o Conselho de Ética está louco para absolvê-lo. Alguém tem alguma dúvida de que ele seria absolvido? Ninguém tem dúvida. Mas pelo menos se saberia o seu conteúdo. Pelo menos ele teria o direito de se defender.
Eu dizia, 15 dias atrás, em uma segunda-feira que nem hoje: Presidente Sarney, eu acho que o senhor deve renunciar, porque, se o senhor não renunciar, eu não sei o que vai acontecer. Dias muito negros, horas muito difíceis, dramáticas, nós vamos viver, porque estão querendo imaginar de deixar essa situação para que o recesso apague tudo. Não vai apagar. E não apagou. Vemos hoje que o que eu dizia era real. E se alguém pensa que o Conselho de Ética, arquivando as representações, terminou, meu Deus... São os mesmos que pensavam que, rejeitando as ‘Diretas Já’, tudo tinha terminado; e não terminou. Rejeitaram as ‘Diretas Já’, com o Congresso cercado pelas tropas; rejeitaram as ‘Diretas Já’, uma Arena e o PDS do Presidente Sarney na frente. Mas o povo foi à rua, os caras pintadas foram à rua. E o Tancredo se elegeu Presidente.
Arquivar e deixar as coisas continuarem como estão? Esta Casa nunca foi santa. Teve graves e sérios problemas ao longo do tempo. Mas, cá entre nós, esta crise que nós estamos vivendo, no período de dramaticidade, de doloroso pesar, de anarquia completa, tem um inicio, e de lá não parou até aqui.
O Presidente Sarney elegeu-se Presidente. Aliás, aquela Presidência foi interessante: foi a primeira vez em que ele se elegeu Presidente. O Senador Iris Rezende comprou roupa nova, discurso pronto, e veio para a reunião da Bancada, porque ele era o candidato certo de que ganharia. Naquela vez, foi o Presidente Fernando Henrique. Telefonou para Senadores, inclusive da região do próprio Estado de Goiás, Mato Grosso do Sul, e inverteu alguns votos. Iris voltou de roupa nova para casa, e Sarney foi eleito.
Ele constituiu essa cúpula e comandou um grupo que está até hoje. Primeiramente, ele por dois anos, e, depois, Antonio Carlos. Antonio Carlos, Jader e Renan foram obrigados a renunciar à Presidência. E outros renunciaram ao próprio mandato para não ser cassados. Resolveu-se a crise, mas não se tentou melhorar o Senado. Não se buscou normalizar a vida do Senado. Não se procurou esvaziar as coisas que estavam acontecendo. Isso foi crescendo, crescendo, e chegou agora.
Agora, quando achamos que o Presidente Sarney deveria afastar-se para iniciar o entendimento, ele quer fazer as reformas com ele. Não entende S. Exª que ele não reúne hoje as condições de fazer as transformações necessárias. Ele deveria entender. Ele deveria compreender. Seria um gesto importante dele a renúncia da Presidência. Mas parece que ele prefere ficar e assistir ao Senado cair na cabeça de todos nós a ter um gesto de grandeza de renúncia.
Eu entendo. O Presidente Sarney é uma pessoa que foi afortunada pela sorte a vida inteira. Gurizinho ainda, derrotou uma aristocracia que havia no Maranhão e dominou de lá para cá. Ganhou todas. E aqui ganhou todas. Ficou na Arena até o último dia, Presidente da Arena e do PDS até o último dia. Assinou ofício no MDB.
(Interrupção do som.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele levando o General Leônidas lá no hospital, convenceram o Dr. Ulysses de que ele é que deveria assumir, como Vice-Presidente, embora não tivesse Presidente, porque o Dr. Tancredo não tinha tomado posse.
Nesta Casa, três vezes, com o apoio do Fernando Henrique, com apoio do Lula e, agora, com a garantia do Lula, se elege Presidente. As coisas sempre deram certo para ele. Quando vejo a mágoa dele agora, eu compreendo. Faz parte da vida, às vezes, ter alguma mágoa. Quantos tiveram mágoa o tempo inteiro.
O culpado maior disso tudo se chama Presidente Lula. E a minha querida Ministra pode pagar o preço. O que o Presidente Lula tinha de mandar a Ministra Dilma, de noite, na casa do Sarney, dizer para ele não renunciar, quando ele queria renunciar? E o Presidente lá, no exterior, diz para a Ministra: “Vá lá e peça para ele não renunciar”. O que o Presidente Lula tinha de fazer, o que a ditadura não fez, intervindo nesta Casa, como interveio na bancada do PT, humilhando a bancada do PT?
Felicito o Líder Mercadante. Ele sofreu. Sofreu. Está sofrendo, tentando contemporizar entre o que a consciência diz e o que as suas bases dizem, o que a sociedade diz, e dá um voto de confiança ao Presidente Lula. Nenhuma preocupação do Presidente Lula em bater duro no Senador Mercadante. Ele representa ele e mais um, e não mais do que isso. Não. Ele representa a maioria da bancada do PT.
E, agora, exigir que a bancada do PT afaste dois titulares da Comissão de Ética para arquivar as representações? Isso é o atestado de óbito do velho PT. Isso é a certidão de nascimento do novo PT, se isso vier a acontecer.
Não sei, Sr. Presidente. Não sei. Não tenho nenhum ressentimento com relação ao Presidente Sarney. Muitas vezes me cobram. Você foi ministro do Sarney? Fui, indicado pelo Tancredo. Quando assumiu o Sarney, houve uma determinação do MDB de que todos deveríamos assumir, porque quem dava credibilidade ao Sarney era o Ministério do Tancredo. E, com o Dr. Sarney na Presidência, tive uma convivência muito respeitosa. Sempre disse isso. Com relação ao meu relacionamento no Ministério da Agricultura com S. Exª, S. Exª teve uma atitude... Não vi uma vírgula que interferisse no meu Ministério com relação a falta de dignidade e a falta de seriedade. E já contei desta Casa um episódio envolvendo um amigo seu e amigo do Tancredo, presidente do IBDF, filho de um ilustre poeta da Academia Brasileira de Letras, amigo íntimo de Tancredo, envolvido num escândalo. Eu o levei à renúncia, à demissão, e, quase com lágrimas nos olhos, o Sarney assinou a demissão.
Não, não guardei nenhum ressentimento, pelo contrário. Amigo pessoal, eu tenho que dizer que, com relação a mim, não vi um fato de irregularidade com relação ao Presidente Sarney.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agora, o que me magoa muito hoje é o Presidente da Câmara, é a cúpula do MDB, que vive essa tragicomédia. V. Exª com véspera de não ter legenda no seu Estado, porque eles querem fazer um acordo lá com o PT. No comando, uma vela para o Lula e outra vela para o Serra; uma vela para a Dilma e outra vela para o PSDB, porque o Lula tem 80% da pesquisa popular, mas o Serra tem 45% na pesquisa para a presidência da República.
E o que se diz, Sr. Presidente, é que o PMDB não vai ter candidato a presidente e não vai ter candidato a vice: vai ter um grupo lá com o Serra e um grupo lá com o Lula e com a Dilma. E quem ganhar...(Fora do microfone.) A única coisa certa é que o MDB fica no Governo, assim como está: agachado, humilhado em troca de cargos, de favores, de benesses.
Esse é o Presidente Sarney, esse é o Renan, esse é o Jader, esse é o Presidente do Partido e Presidente da Câmara dos Deputados. Essa é a triste realidade do meu Partido. E, nesse episódio, com toda a sinceridade, para fazer o discurso emocionado que fez, só faltou a conclusão. E a conclusão do Presidente Sarney era uma só: “Eu exijo que o Conselho de Ética analise as treze proposições. Eu exijo, porque vou explicar, vou debater, vou analisar”.
(Interrupção de som.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Assim não dá. O Estadão é proibido de publicar, porque um ilustre desembargador de Brasília aparece nas páginas de um jornal de todo o Brasil como amigo pessoal do Presidente Sarney e veta que o Estadão continue a publicar. Publicar o quê? As conclusões de uma comissão especial da Polícia Federal.
O Presidente vem magoadíssimo porque o jornal publica uma outra matéria. A única coisa que o Presidente não diz é que ele quer que se esclareça. “Vamos esclarecer, vamos esclarecer.” Ele tem o direito de que se esclareça. A não ser que não queira.
Dou minha solidariedade à mágoa do Presidente Sarney, mas dou minha solidariedade ao Estado de S. Paulo.
Há lutas fantásticas. Eu me lembro porque estava do outro lado. Fomos enfrentados por aquele jornal nas horas duras que este País viveu.
Acho que este Senado vive o momento mais sério de toda a sua existência. Este Senado já foi fechado. Aquartelaram e fecharam este Senado, mas os Senadores saíram de pé daqui. Fecharam na ditadura, na violência. Muitos saíram cassados desta Casa,...
(Interrupção do som.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ....Senadores biônicos vieram para cá. Mas agora não! Agora somos nós que estamos na berlinda! Somos nós que temos que decidir! Somos nós que temos que dar a resposta! Somos nós que temos que ter a coragem de fazer uma reformulação real e objetiva na vida deste Senado!
Eu não nego: nesta Casa não tem inocente, a começar por mim. Quando estive num programa, o jornalista - aquele, aliás, brilhante - me perguntava: “Mas, Senador, esse tempo todo o senhor está lá, e o senhor não sabia?” É difícil responder à sociedade. “E o senhor não sabia?”
É difícil nós explicarmos à sociedade, Sr. Presidente, que, dali da Mesa, se ...
(Interrupção do som.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... a ata. Não precisa ler, eu concordo em não a ler, e nós votamos, e na ata está escrito: “Estão em votação as decisões da Mesa do Senado do dia tal”, e não diz quais são. E lá estão os atos secretos, e lá estão não sei mais o quê, e não sei mais o quê. E nós, por omissão e por irresponsabilidade, deixamos passar.
Mas nós temos a obrigação de retificar, de mudar essas coisas. Nós temos a obrigação de estabelecer uma norma para o Senado que vem. E, com todo o respeito, com o Presidente Sarney não dá, porque foi com ele que tudo isso começou. E, durante quinze anos, três vezes ele é Presidente, e, outras tantas, é homem dele. Não é ele que vai fazer essa reforma.
(Interrupção do som.)
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu pensei que, quando ele falou, o encerramento de suas palavras seriam estas: “Vamos lá para o Conselho de Ética; eu quero ver isso ser discutido lá no Conselho de Ética”. Mas não. O que a imprensa está informando é que a pressão é dura em cima do PT para mudar os nomes.
Eu fico pensando: pessoas como V. Exª, por quem eu tenho o maior respeito, pela sua dignidade, pela sua correção, e outras tantas pessoas nesta Casa, eu fico pensando qual é o raciocínio. Será que eu estou tão por fora, eu sou tão aéreo, eu estou caminhando nas nuvens que a gente não sente essas coisas que estão acontecendo? Ou será...
(Interrupção do som.)
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...a tropa de choque quando reúne, quando agrega e quando fecha, não há nada que entre, porque é uma ordem, e cada um tem que a cumprir.
Eu não sei, mas é uma pena que esta Casa esteja vivendo esses dias.
Eu não sei, mas o sofrimento do Presidente Sarney não termina com o arquivamento da ação. Se S. Exª pensa que arquivar os requerimentos da Comissão de Ética termina o seu sofrimento, eu diria que começa. Eu diria que começa. É mesmo que amanhã, Sr. Presidente.
Negaram o que era natural. Negaram o que era natural: ouvir a representante, a ex-Diretora do Ministério da Fazenda, lá na Comissão de Justiça. Vamos ver o que vai acontecer, Sr. Presidente. Vamos ver o que vai acontecer.
Mas seria muito bom, e isso eu dizia quinze dias atrás, antes de estourar a tormenta do arquivamento: vamos tentar a paz antes da radicalização.
Eu não sei se ainda é tempo, Sr. Presidente. Eu não sei se ainda é tempo. Eu não sei se o Presidente Sarney tem a grandeza de renunciar. Não acredito. Não acredito. Eu não sei se esse comando da tropa de choque ou tropa de elite tem um minuto de calmaria, de equilíbrio e de bom senso. Eu não sei. O que eu sei é que eu sinto que, neste momento, há um sentimento de que as coisas não podem continuar. Não é o problema de PSDB e PT, Lula, Serra, Fernando Henrique e Lula... Não é esse o diapasão dessa briga que estão dizendo que é a eleição do ano que vem. Não é isso não, Sr. Presidente. Há um esgotamento da paciência da sociedade, há uma saturação com relação a essas coisas que estão acontecendo. Eu não creio que a sociedade vá parar, Sr. Presidente.
Essa agora de proibir que entrem no Senado visitas tradicionais... Não estou falando... Mas proibir visitas tradicionais? Todas as pessoas que vêm do Brasil inteiro, que vêm a Brasília conhecer o Congresso...
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Senado proibiu. Pode ir na Câmara. No Senado, não pode. Mas o que é isso, meu Deus do céu? Mas o que é isso? Estão proibidas. Duas pessoas do Rio Grande do Sul telefonaram para mim para perguntar se eu conseguiria fazer com que elas visitassem o Senado. A resposta é que poderia ter a visita pessoal ao meu gabinete, se viessem sozinhos, mas uma caravana daquela oficial, uma visita acompanhada por um representante da Casa não pode.
Vamos nos esconder feito tatu embaixo da terra até quando, Sr. Presidente?
Vamos ver amanhã. Amanhã é a Comissão de Constituição e Justiça. Vamos ver o que dirá a senhora. Vamos ver quarta-feira. O Presidente, Sua Alteza o Duque, Presidente da Comissão de Ética, é uma pessoa previsível no seu objetivo, a gente sabe, mas imprevisível na forma de agir. O que fará não sei. Sinceramente, não sei. O que eu sei é que nós estamos caminhando por um caminho de volta difícil.
Obrigado, Presidente.
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