Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória de Euclides da Cunha.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória de Euclides da Cunha.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2009 - Página 36625
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, EUCLIDES DA CUNHA (BA), ESCRITOR, IMPORTANCIA, OBRA INTELECTUAL, DESCRIÇÃO, LUTA, SUBSISTENCIA, POVO, REGIÃO NORDESTE, GUERRA, COMUNIDADE, MUNICIPIO, CANUDOS (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), PARTICIPAÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), INSTITUTO HISTORICO E GEOGRAFICO BRASILEIRO, CHEFE, COMISSÃO, RECONHECIMENTO, FIXAÇÃO, FRONTEIRA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PERU.
  • REGISTRO, INICIATIVA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE MORTE, COMENTARIO, APROVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, DENOMINAÇÃO, TRECHO, RODOVIA, ESTADO DO ACRE (AC), LIGAÇÃO, PAIS, INCENTIVO, EDIÇÃO, LIVRO, HISTORIA, EUCLIDES DA CUNHA (BA), ESCRITOR, HOMICIDIO, FILHO, JORNALISTA, PERIODO, DILIGENCIA, POLICIA, COMBATE, CRIMINOSO, REGIÃO AMAZONICA.

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            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Marconi Perillo, 1º Vice-Presidente desta Casa, que a preside nesta tarde, Srªs e Srs. Senadores presentes, Srª Senadora Fátima, Srªs e Srs. convidados, a memória é a história que se conhece e que não se esquece. A homenagem que hoje prestamos à memória de Euclídes da Cunha, no centenário da sua morte, não se destina só a celebrar o homem que revelou o Brasil atormentado, sofrido, desconhecido e “à margem da história” aos brasileiros de sua geração. De minha parte, trata-se também de um preito de gratidão àquele que tanto fez pelo Acre, ao chefiar, pelo Brasil, a comissão mista de reconhecimento e fixação dos limites entre o Brasil (através do Acre) e o Peru, missão que cumpriu, no início do século passado, por designação do Barão de Rio Branco, subindo o rio Purus até suas cabeceiras, com o sacrifício, quase, da própria vida. Mas, se não houvesse outras fundadas e justas razões para celebrar sua memória e comemorar sua história, bastaria a circunstância de ser o autor de Os Sertões, aqui já referido pelo Senador Marconi Perillo. Nenhuma outra obra da literatura brasileira granjeou a fama e o prestígio que essa lhe proporcionou, logo depois de lançada, em dezembro de 1902.

            No texto apresentado no seminário realizado em novembro de 2003, na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, com o sugestivo título Refletindo sobre os cem anos de Os Sertões, o crítico e professor Luiz Costa Lima lembra duas apreciações consagradoras. Na primeira, José Veríssimo escreveu:

O livro do Sr. Euclides da Cunha (...) é, ao mesmo tempo, o livro de um homem de ciência, um geógrafo, um geólogo, um etnógrafo; de um homem de pensamento, um filósofo, um sociólogo, um historiador; e de um homem de sentimento, um poeta, um romancista, um artista”. E completava: E poucos meses eram passados para que, em 6 e 18 de março, Araripe Júnior reafirmasse: “Os Sertões são um livro admirável, (...) único no seu gênero, se atender-se a que reúne a uma forma artística superior e original uma elevação histórico-filosófica impressionante.

            O que, Sr. Presidente, senão a genialidade justifica que, cem anos depois de sua morte, Euclides continue sendo cultivado, no Brasil e no exterior, pela obra que criou, pelos feitos que realizou e pela lucidez de sua inteligência tão intensamente revelada? Não celebramos aqui apenas o homem e sua obra, mas sua glória, sua história, os serviços inestimáveis que prestou ao País e a obra extraordinária que ele legou à posteridade. Nós não só o admiramos como o reverenciamos. Somos também, entre os demais brasileiros, os acreanos que, penhorados, lhe agradecemos a extraordinária herança de sua vida e a dimensão incomensurável de sua obra.

            O que o Brasil e os intelectuais brasileiros devem a Euclides, a ponto de criarem a categoria de “euclidianos”, aqui e no exterior, o Acre lhe deve pelo coroamento da obra de Plácido de Castro. Se Plácido liderou, Senador Marco Maciel, a epopéia dos patriotas que se tornaram brasileiros pela força, de arma em punho, Euclides, com a têmpera dos obstinados, presidiu a delegação mista brasileiro-peruana que, seguindo a trilha dos pioneiros, desbravou e tornou conhecido o Alto Purus, demarcando, depois de séculos, as desconhecidas fronteiras entre o Peru e o Brasil. Era a última fronteira não conhecida, não demarcada e ignorada pelo País. O livro, tornado famoso, já o tinha consagrado. Renunciando à glória que conquistara, coube a ele tornar realidade o ideal que fez do Brasil, pela ação do Barão do Rio Branco, um dos poucos países da era contemporânea que traçaram, pela diplomacia, pela negociação e pelo arbitramento, as fronteiras do seu vasto território.

            Quem, Sr. Presidente, senão Euclides da Cunha, se embrenharia pelo desconhecido por onde antes se aventuraram Manoel Urbano e o inglês Chandless, para definir, com as armas pacíficas do Direito Internacional e dos dois Tratados, o de Petrópolis, em 1903, e o de limites Brasil-Peru, no ano de sua trágica morte, as fronteiras ao longo das quais convivemos desde então pacificamente com nossos vizinhos? Nem a malária, Senador Arthur Virgílio, que cobra o seu preço trágico aos que ali se aventuraram, o abateu.

            O jornal O Estado de S. Paulo, que na época de Euclides da Cunha era A Província de São Paulo, prestou um enorme serviço à causa da cultura do País quando instituiu 2009, este ano, como o “Ano Euclides da Cunha” e reeditou os artigos por ele publicados a partir de 22 de dezembro de 1888. A série, comentada pela Professora Drª Walnice Nogueira Galvão, considerada a maior especialista em sua obra, foi inaugurada pelo Suplemento Especial que circulou com a edição do jornal de 5 de abril deste ano. Nele, o jornalista Daniel Piza e o fotógrafo Tiago Queiroz reconstituíram, ao longo do rio Purus, a expedição chefiada por Euclides, em 1905, contendo o mesmo roteiro da viagem de Euclides e da missão brasileiro-peruana.

            A viagem-reportagem é encimada pelo trecho da carta de Euclides a José Veríssimo, datada de 9 de junho de 1904, em que se lê: “Não desejo Europa, boulevard, os brilhos de uma posição, desejo o sertão, a picada malgradada e a vida afanosa e triste de pioneiro”. A “vida afanosa e triste do pioneiro”, Srªs e Srs. Senadores, foi a vida de Euclides, que descobriu o Brasil que os brasileiros não conheciam e do qual nem sequer tinham ouvido falar. Primeiro, o rincão recôndito de Antônio Conselheiro e sua trágica Vendéia, como Euclides o denominou e descreveu, aludindo aos desvãos esquecidos do interior da Bahia. Depois, a Amazônia ignota ao longo do Purus, onde se refugiam, ainda hoje, os descendentes dos kaxinauás, desbravadores da região de que o país só tomou conhecimento graças à coragem, ao espírito pioneiro e à bravura de Euclides da Cunha, cuja história e cuja memória reverentes hoje lembramos, louvamos e homenageamos.

            Este ano, as iniciativas de O Estado de S. Paulo, que devem culminar este mês com o seminário internacional sobre a obra euclidiana e uma edição especial relativa ao encontro em seu Caderno Cultural, serão encerradas com uma série de edições especiais entre setembro e dezembro.

            Outros jornais têm dedicado generosos espaços para reverencial esse gênio da literatura que foi Euclides da Cunha. O caderno Mais - estou com ele aqui -, da Folha de S.Paulo, de 2 de agosto deste ano, é todo ele dedicado ao mestre. Da mesma forma, o caderno Prosa e Verso, do jornal O Globo do último dia 15, é verdadeira homenagem ao grande escritor, pela multiplicidade e riqueza de informações que oferece aos leitores.

            Registro, também, com enorme prazer, que a Editora da Universidade de São Paulo publicou, ano passado, a obra Discurso, Ciência e Controvérsia em Euclides da Cunha, contendo as doze conferências pronunciadas no seminário a que já aludi, na Universidade do Texas, por iniciativa do professor Leopoldo Bernucci, doutor em Literatura Latino-americana pela Universidade de Michigan e atualmente titular da Cátedra Russell H. e Jean Fiddyment em Estudos Latino-americanos da Universidade da Califórnia, em Davis, Estados Unidos, obra que me foi presenteada pelo meu querido amigo e professor Octaciano Nogueira Filho.

            Coadjuvando essas homenagens, mais modestamente, já havia proposto atribuir-se o nome de Euclides da Cunha ao trecho acreano da BR-364, que corta o Estado do Acre de ponta a ponta, ligando-o ao restante do País. Propus, por meio do Projeto de Lei nº 27, aprovado na Câmara dos Deputados no último dia 11 deste mês, na forma do PL nº 1.832. Recordo que, ao comunicar a iniciativa à família de Euclides da Cunha, recebi, Senador Mão Santa, generosa carta de agradecimento, assinada pelo Dr. Joel Bicalho Tostes. Estou com a carta aqui em mão. Antes, a família de Euclides já havia me presenteado com um exemplar do livro À Margem da História, com as assinaturas de herdeiros de Euclides da Cunha, como é o caso de Maria de Lourdes Cunha T. Andrade, Denise da Cunha Tostes, Camila da Cunha T. Alves, Amanda da Cunha T. de Andrade, Bruno da Cunha T. de Andrade, Marcela da Cunha T. Alves, Carlos Alberto de Andrade e o próprio Joel Bicalho Tostes.

            Além disso, fiz publicar pela Gráfica do Senado, em minha cota pessoal, no ano de 2006, o livro O Acre e a Vida Dramática de Euclides da Cunha, que se refere, logicamente, ao grande escritor, mas, em particular, Senador Marco Maciel, à passagem de seu filho mais velho pelo Acre, Sólon da Cunha, assassinado em Tarauacá, quando realizava diligência policial contra bandidos.

            Por último, a exemplo do que já fizéramos em 2003, por ocasião das comemorações do centenário do Tratado de Petrópolis, meus auxiliares, liderados pelo fiel amigo Prof. Octaciano da Costa Nogueira Filho, garimparam, reuniram e trataram todos os documentos que, após apreciação do Congresso Nacional, deram origem ao Tratado de Limites Brasil-Peru. Essa obra, pela sua abrangência e importância, foi inserida na coleção Edições do Senado Federal, da qual se tornou o Volume 127 - está à disposição das senhoras e dos senhores na bancada -, já disponível àqueles que querem saber um pouco mais de Euclides, do Purus e da epopéia que foi reunir as informações necessárias à fixação dos limites entre o Brasil e o Peru.

            Ao juntar-se a todas essas homenagens, o Senado Federal cumpre, com esta solenidade, o dever de lembrar às atuais e às futuras gerações a epopéia de um brasileiro que devotou a vida a serviço de seu País, arrostando toda série de percalços por ele superados com resignação, obstinação e a determinação que só os fortes possuem e que só os mais lúcidos são capazes de empreender. Ele era, como o sertanejo que descreveu, “antes de tudo um forte”, que merece nosso respeito, nossa gratidão e nosso reconhecimento, materializado nesta simples, mas sincera homenagem de reconhecimento.

            Por último, quero fazer referência ao DVD que também está disponível nas bancadas, onde as senhoras e os senhores se encontram, que fala da vida de Euclides. É um trabalho muito bem feito pela Beatriz de Mendonça, que o organizou e elaborou, juntamente com seus companheiros e companheiras.

            Quero agradecer o inestimável apoio que tivemos, para a realização desta sessão, da Ana Clara Badra, da Luciana Vega, que, juntamente com a Amanda e a Renata, atuam no Senado Cultural. E digo que, sem essas pessoas, sem o apoio daqueles que atuam na Mesa do Senado e sem a colaboração da minha equipe, teria sido muito mais difícil chegarmos até aqui e realizarmos esta sessão.

            Sr. Presidente, era o que tinha a dizer, com os nossos agradecimentos. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2009 - Página 36625