Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória de Euclides da Cunha.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória de Euclides da Cunha.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2009 - Página 36639
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, GERALDO MESQUITA JUNIOR, SENADOR, UTILIZAÇÃO, VERBA, INDENIZAÇÃO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, ESTADO DO ACRE (AC), MODERNIZAÇÃO, BIBLIOTECA, APOIO, PUBLICAÇÃO, LIVRO.
  • CUMPRIMENTO, PRESENÇA, SENADO, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, EUCLIDES DA CUNHA (BA), ESCRITOR, CONCLAMAÇÃO, NECESSIDADE, EMPENHO, COMBATE, SECA, REGIÃO NORDESTE, COMENTARIO, SEMELHANÇA, ESFORÇO, POPULAÇÃO, CAMPO MAIOR (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), LUTA, CONSOLIDAÇÃO, INDEPENDENCIA, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Geraldo Mesquita Júnior, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem aqui e pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Geraldo Mesquita Júnior, minhas primeiras palavras são de reconhecimento pelo que V. Exª simboliza neste Senado.

            Senador Marco Maciel, com toda certeza e convicção, digo que nenhum de nós gasta melhor sua verba indenizatória do que Geraldo Mesquita Júnior. Fui ao seu Estado, o Acre - a capital, Rio Branco -, e vi o funcionamento de uma biblioteca formal com o lado modernizado, em que aparecem o computador, a Internet. E a mocidade, atraída, a buscar a cultura.

            E, mais ainda: de quando em quando, ele pega sua verba de direito, de publicação, diferentemente de nós, que fazemos publicação pessoal de nossas ações aqui; ele publica livros, cujos autores são: um, renomado no Brasil; e outro que ele quer fazer nascer na sua Amazônia.

            Acompanhei. Trata-se de um plano cultural extraordinário, no qual devemos nos inspirar.

            Então, serei breve, muito breve. E breve, muito breve, foi a vida de Euclides da Cunha. Ouvi os oradores e vi a obra do autor. Comentei: mas, como é que pode?! Quarenta e dois anos! É um Leonardo da Vinci abrasileirado. Leonardo da Vinci também era engenheiro, engenheiro militar; e entrou nas artes, na cultura, na inovação e engrandeceu a Itália. Este aqui, engenheiro militar, engrandeceu o Brasil em pouco tempo.

            Todos crescemos, e ele nos tirou o complexo do Nordeste, do semiárido, das secas.

            Vimos como se retiravam os nordestinos, e aquela história, que era humilhante para a nossa gente, estimulava-nos e nos dava força - e nos deu. O sertanejo é, antes de tudo, um bravo. Isso que nos trouxe até aqui. Essa bravura faz o Brasil todo se inspirar na nossa participação.

            Quis Deus, hoje, estar aqui - e acho que eles tiveram essa motivação, esse cântico de Euclides da Cunha - o Prefeito da cidade histórica da unidade do Brasil. Está ali João Félix, de Campo Maior.

            Atentai bem: sei da luta, sabemos do sonho, da fé, do ideal de Antônio Conselheiro. Nós sabemos. Ele disse: “Nossa vida é sempre garantida por um ideal, uma aspiração superior a realizar-se.” Sabemos da bravura, mas também não foi menor a do povo do Piauí, com esse ideal de unidade em batalha sangrenta nos campos de Campo Maior, de Jenipapo, minoritários como os comandados de Conselheiro, como a Guerra de Canudos, nós, minoritários, contra o exército de Portugal, que queria dividir este País em dois. O Sul ficaria com o filho, Pedro, e o Norte seria de D. João VI.

            Então, com esse mesmo ideal, fomos à luta. É lógico que inferiorizados, mas os portugueses, vendo a bravura dos sertanejos de Campo Maior, no Piauí, de Parnaíba e de Oeiras - éramos bravos -, foram para o Maranhão. O país seria Maranhão, ligado a Portugal. Se hoje é grandão, é pelo ideal do povo do Piauí.

            Quis Deus estar ali o Prefeito João Felix. Bravo Prefeito!

            Olha, orgulho-me de, quando governei o Piauí, Geraldo Mesquita Júnior, ter criado 78 novas cidades. Povoados foram transformados em cidades, além do que se vê, César Borges: avenidas, praça para namorar, mercado para comercializar, hospital para a saúde, escola para educar, cadeia para a ordem.

            “O essencial é invisível aos olhos”, é transformar o homem do campo em líder. Ali está um Vereador, Vice-Prefeito e Prefeito. E ele transformou, com seu estoicismo, a cidade de Jatobá do Piauí. O povo reconheceu e ele é Prefeito da capital da cidade-mãe, Campo Maior, cidade da mais bela história, história de bravos.

            Mas o que nós queremos dizer, aqui, é o seguinte: esse foi o Euclides da Cunha.

            Na nossa geração, as escolas eram muito boas - eu sei que o mundo mudou. Eram elitizadas, mas tinham uma predominância do ensino religioso, plantando o saber e a educação. Todos nós estudamos nesses colégios muito bons: ou eram maristas, ou eram salesianos, ou eram jesuítas ou diocesanos. Todos nós líamos muito, aprendíamos. Eu me lembro que fui obrigado a ler, no ginásio, o pernambucano Gilberto Freyre - o Marco Maciel está aí -, como Euclides da Cunha retratava o Brasil, suas histórias, suas dificuldades, e, de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala. Depois, eu li Sobrados e Mucambos. Li Graciliano Ramos, que nos incutiu o amor à democracia. Graciliano Ramos escreveu Memórias do Cárcere, durante a ditadura de um homem extremamente bondoso e sábio, que era Getúlio Vargas, e nós chegamos à conclusão de que ditadura nenhuma é boa. Está lá em Memórias do Cárcere. Não precisamos nem ler Elio Gaspari sobre a ditadura militar.

            Foram importantes o Euclides da Cunha, o Gilberto Freyre e o Graciliano - e o meu Piauí, amante da cultura.

            Marco Maciel, eu quero fazer um pedido a V. Exª. A Academia Brasileira de Letras, a que V. Exª pertence e a que o nosso homenageado Euclides da Cunha pertencia - ficou na cadeira de Castro Alves, que também viveu muito pouco, a metade do que viveu Graciliano -, tem um piauiense, filho do poeta Da Costa e Silva, que disse:

Piauí, terra querida,

Filha do sol do Equador,

Pertencem-te a nossa vida,

Nosso sonho, nosso amor!

            Na luta, o teu filho é o primeiro que chega, como nós chegamos, na independência deste Brasil.

            Então, o filho, Alberto da Costa e Silva, Embaixador, que gosta muito de escrever sobre a influência africana na nossa cultura, é ilustre, mas eu queria lembrar outro escritor brasileiro a V. Exª, por quem venho, aqui, pedir em nome do Piauí, que o admira como o grande líder do Nordeste: Assis Brasil. Esse Assis Brasil, saído lá da minha cidade, fez o livro Beira Rio Beira Vida, em 1965, premiado pelo Walmap.

            Geraldo Mesquita, eu fazia residência em cirurgia, no Rio, e na Cinelândia eu o comprei. Quando eu vi, fiquei perplexo. Era ele contando a vida de um marinheiro de água doce, a navegação do Rio Parnaíba e a prostituição - filho de peixe é peixinho -, mostrando como se prostituíam. Assim como Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala. Ele foi premiado.

            E eu fiquei perplexo, porque o nome dos personagens eram de pessoas vividas. Aí, vamos dizer, botaram o livro no Index, ouviu, Geraldo Mesquita? Houve um cerco para que ninguém o lesse, porque ele contava veracidades da civilização de Parnaíba e do Piauí ribeirinho. Esse livro, sem dúvida, foi premiado e eu vim aqui para enaltecê-lo.

            Mas ele tem, ô Marco Maciel, Nassau, sangue e amor nos trópicos. Ninguém escreveu melhor sobre Nassau. Ele tem Bandeirantes, os comandos da morte, Os que Bebem com os Cães e A Filha do meio-quilo. Então, que V. Exª se lembre, na próxima vaga, de buscar esse piauiense, que vai honrar como Alberto da Costa e Silva, como Carlos Castello Branco e outros. Como Evandro Lins e Silva, maior nome da literatura, iguala-se no Direito.

            Então, são essas as minhas palavras. É tanta a grandeza que eu queria render essa homenagem, que é reconhecida por mim no começo, e pela família de Euclides de Cunha. A família doou ao nosso Geraldo Mesquita Júnior, simbolizando o afeto e a gratidão por esta homenagem, esse livro que ainda não li: À Margem da História. Vi suas citações, aqui, que dizem o seguinte:

Para o digno Senador Geraldo Mesquita Júnior, a família de Euclides da Cunha oferece, com estima.

Maria de Lourdes Cunha T. Andrade, Denise da Cunha Tostes, Camila da Cunha T. Alves, Amanda da Cunha T. de Andrade, Bruno da Cunha T. de Andrade, Marcela da Cunha T. Alves, Carlos Alberto de Andrade, Joel Bicalho Tostes.”

            Isto aqui simboliza o apreço, o reconhecimento da família por esta homenagem de Geraldo Mesquita Júnior que, em boa hora, relembra aqui os cem anos do falecimento. Hoje é 18, ele faleceu em 15 de agosto de 1909.

            Mas sua obra é tão... Daí, Marco Maciel, eu invocar Leonardo da Vinci. V. Exª e todos nós sabemos que ele era engenheiro e militar, sonhou que o homem voasse, fez tanques de guerra, fez pontes. Ele fez cidades na Itália. Milão foi fortificada por Leonardo.

            Esse homem foi extraordinário e nossos agradecimentos, em nome do Piauí e do Nordeste. Ele fez, eu diria, o seguinte... Atentai bem para o que ele disse, que é muito atual. Ele disse que nós tínhamos de nos dedicar por cem anos a combater a seca. Foi ele que falou da necessidade de açudes. Em 1904, ele propunha uma guerra dos cem anos contra as secas do Nordeste, que incluía a exploração científica da região, a construção de açudes, poços, cisternas, estrada de ferro e o desvio das águas do Rio São Francisco para as regiões afetadas pela seca.

            Então, o nosso agradecimento a esse que eu considero o Leonardo da Vinci da história do Brasil.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2009 - Página 36639