Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o pronunciamento do Presidente José Sarney, durante a sessão de ontem do Senado Federal.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Manifestação sobre o pronunciamento do Presidente José Sarney, durante a sessão de ontem do Senado Federal.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, Flávio Arns, Garibaldi Alves Filho, Jarbas Vasconcelos, José Agripino, Lúcia Vânia, Pedro Simon, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2009 - Página 36796
Assunto
Outros > SENADO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • DISCORDANCIA, CONDUTA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, CRITICA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, DENUNCIA, MEMBROS, FAMILIA, SENADOR, DEFESA, ORADOR, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, OPINIÃO PUBLICA.
  • ANALISE, ETICA, MORAL, VIDA PUBLICA, ORADOR, COMPROMISSO, APRESENTAÇÃO, VERDADE, POPULAÇÃO, REPUDIO, CONDUTA, AMEAÇA, MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, DESRESPEITO, DEMOCRACIA, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, CONVOCAÇÃO, SENADOR, CAPACIDADE, EXERCICIO, FUNÇÃO, PRESIDENTE, COMISSÃO DE ETICA, IMPORTANCIA, AUMENTO, ESFORÇO, CONGRESSISTA, BUSCA, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ao longo do dia de ontem, eu não tive oportunidade de estar na sessão do Senado. Quando cheguei a Brasília, li amplo noticiário sobre o pronunciamento do Senador José Sarney, cujo tema central eram denúncias publicadas em jornais brasileiros - de maneira especial, em O Estado de S. Paulo - que envolviam membros da sua família. E, com a atitude do Presidente Sarney de, não como Presidente, mas como Senador, fazer certos comentários, sobre eles me permito tratar.

            Faz muitos anos, elegi-me Deputado Federal pela primeira vez. Antes disso, fui por duas vezes Deputado Estadual e, por três vezes, Secretário de Governo em Pernambuco. No primeiro mandato, líder da oposição, quando o PMDB era uma aliança de todos os partidos. No segundo mandato, como Secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do então Governador Miguel Arraes, quando Jarbas, Arraes, Marcos Freire e grandes lideranças pernambucanas se reuniam num único partido também, porque o PMDB tinha essa característica de frente, que depois foi se reduzindo.

            Desde muitos anos, conhecemos o Presidente José Sarney na minha família. Meu pai foi da antiga União Democrática Nacional. Foi Presidente do partido em Pernambuco, Deputado Estadual muitas vezes, Deputado Federal também. Meu irmão, depois, Deputado Federal por duas vezes, a primeira vez com 23 anos; depois, Deputado Estadual, Secretário do Governo Jarbas Vasconcelos na Prefeitura Municipal de Recife e assessor do Governador Jarbas Vasconcelos no Governo do Estado de Pernambuco.

            Fiz a minha vida parlamentar e fiz, ao mesmo tempo, como Deputado Federal, vida executiva, na medida em que fui Secretário, por três vezes, de três governos diferentes (duas vezes no Governo Miguel Arraes, uma vez no Governo Jarbas Vasconcelos).

            Nos anos em que fui Secretário, ordenador de despesas, presidente da empresa de Suape... nos meus mandatos de Secretário nunca se deu uma única denúncia contra o meu mandato, o meu exercício. Nunca houve uma denúncia sequer. Tampouco nenhuma reclamação nos Tribunais de Contas.

         Não é pouco. Cinco ou seis anos de mandato executivo sem uma única reclamação, nenhuma acusação, de um político que nunca fez questão de falar o seu ponto de vista. Eu sempre fui capaz de dizer o que penso. Conciliador por natureza, fui também afirmativo o tempo todo.

            Deputado Estadual em duas legislaturas; Líder do PMDB por três anos seguidos; depois, líder do PSB na Câmara; depois, Deputado Federal por três legislaturas; depois, Senador eleito, junto com o Senador Marco Maciel, na eleição de Governador de Jarbas Vasconcelos.

            No meu segundo ano de mandato, fui indicado para a Comissão Mista de Orçamento e fui relator de estradas. Durante quatro dias, discuti o meu relatório, que foi aprovado por unanimidade, por todos os partidos.

            Depois, amigo de Ricardo Fiúza, colaborei com ele, Deputado Ricardo Fiúza, que faleceu há dois anos. Num grande tumulto nacional, fui relacionado entre aqueles parlamentares que precisavam prestar contas da sua atuação na Comissão Mista de Orçamento perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

            Eu sou um político democrático. Enfrentei os desafios que apareceram. Fui para uma determinada participação em audiências que eram transmitidas pelo Brasil inteiro. A minha audiência se deu com a presença de todos os partidos. Foi a primeira e única audiência das primeiras e mais importantes audiências aprovadas não apenas pelo Congresso, mas também pela opinião pública. Levantamentos feitos naquela época por um órgão brasileiro de opinião pública afirmaram que o único depoimento público feito na televisão brasileira e aprovado pela população foi o que eu fiz.

            Alguns Senadores aqui presentes estiveram lá: Senador Eduardo Suplicy, por exemplo; Senador Aloizio Mercadante, que não está agora... O Senador Mário Covas estava lá. Grandes representantes da democracia brasileira estiveram presentes naquele meu depoimento, ao término do qual fui elogiado por todos, inclusive por meus adversários. Consensualmente elogiado, inclusive pela imprensa, inclusive pelas televisões nacionais.

            Ao término da chamada Comissão Parlamentar de Inquérito, a conclusão foi a de que, sobre o Deputado Sérgio Guerra, não havia razão para formar processo ou prosseguir a investigação. Nenhuma conclusão, nenhuma evidência, nenhuma interpretação que não fosse esta: sobre o Deputado Sérgio Guerra não havia o que investigar, além daquilo que tinha sido visto e comprovadamente rebatido.

            É claro que passei por maus momentos - não gostaria de passar por eles nunca mais -, mas é evidente que eu não fugi deles. Eu fui lá e dei os meus argumentos, no meu primeiro mandato de Deputado Federal. Falei dez horas seguidas, e todos me elogiaram ao término da minha palavra, sem exceção. Outros não apareceram, não foram sequer citados - foram comentados, mas não foram citados. Eu fui citado, apresentei-me para a investigação, cumpri com as minhas obrigações e tenho a honra de ter feito isso.

            Pensei em deixar a vida pública, porque aquele era um processo brutal, que eu reconheço brutal, um verdadeiro ataque especulativo. Mas eu encarei isso tudo, eu enfrentei isso tudo. Dois anos depois, me reelegi Deputado Federal, com uma votação muito maior do que a que eu já tinha tido na primeira.

            A seguir, o Deputado Luiz Eduardo Magalhães e o Senador José Sarney, então Presidente do Senado, formaram uma comissão para reestruturar o sistema de orçamento no Senado. Dessa comissão participaram vários Senadores que aqui ainda participam do Senado. Volto a falar do Senador Suplicy, do Senador Aloizio, do ex-Senador Amin. Foi indicado para Presidente da comissão de sete ou oito Deputados e Senadores, julgados qualificados para discutir a matéria, o hoje Prefeito José Fogaça, indicado pelo Senador José Sarney; para Relator da comissão, foi indicado pelo Deputado Luiz Eduardo Magalhães o então Deputado Sérgio Guerra, que aqui está presente, falando hoje.

            Desenvolvi minha atividade parlamentar o tempo todo. Nenhuma acusação. Moro na mesma casa, do mesmo jeito, tenho quase os mesmos amigos. Só não posso dizer que tenho as mesmas convicções porque quem pretende ficar no mundo de hoje com as convicções exatamente como são o tempo todo, evidentemente, perde a lucidez. Eu as renovei e continuo renovando-as, mas no mesmo campo. Nunca fui governista, nunca apoiei governo por apoiar. Na minha vida, eu tive muito mais momentos de oposição do que de governo.

            Continuo assim e espero sair disso nas próximas eleições com a ajuda do povo, como muita gente do Brasil espera. Mas uma coisa é certa: tomei uma lição que não vou esquecer nunca. A melhor circunstância, a circunstância que vale a pena, não é a circunstância do preconceito nem a do prejulgamento, muito menos a da omissão. O que vale a pena é assumir posições, defendê-las e sustentá-las; enfrentar o combate, travá-lo com coragem e determinação até que o resultado se confirme. Nada de omitir o direito para o combate, o direito para a discussão, de impedir que ele se dê. Nenhum pretexto para isso.

            Nunca, na minha vida, cassei o mandato de ninguém, por uma questão íntima. Acho que o Senado não é para isso, que a Câmara não é para isso, que o Parlamento não é para isso. Se, para ser Senador, tenho de cassar mandatos, não serei Senador nunca, nem Deputado, nem parlamentar. Acho que esse é o campo da Justiça e não o campo do Parlamento. Porém, todo enfrentamento deve se dar, toda discussão deve ser feita. É claro que há muita injustiça, muitas afirmações que não se comprovam; que se desenvolvem muitos ataques especulativos. Isso tudo é verdade, mas para que esta democracia na qual vivemos valha a pena para a gente que tem confiança no que faz, o importante é que a discussão seja aberta, que não se use a aritmética, que não se use o direito simples da maioria. A maioria é conjuntural; a Justiça não. Fundamentos democráticos são muito mais importantes do que afirmações precárias de maiorias eventuais que muitas vezes escondem objetivos que não são democráticos. Essas lições, a história já nos deu dezenas de vezes, para trás, de forma dramática, aqui no Brasil também e fora dele.

            Agora, o que eu não aceito, eu não admito de forma alguma é o expediente de transformar Senado democracia, Senado Parlamento, num quadro em que as pessoas, a pretexto da discordância, promovam a revanche, promovam a ameaça, promovam a distribuição fortuita de notas e informações fraudulentas para ameaçar quem quer que seja.

            Eu não tenho coragem física para enfrentar o Senador, meu amigo, Wellington Salgado. Eu não teria nenhuma chance de lutar com ele, nem vontade para isso, mas eu discuto com ele o que ele quiser em qualquer lugar e não vou ficar inimigo dele por isso. Como com qualquer outro Senador aqui. Não fiz na minha vida inteira uma acusação, sequer, a uma pessoa que não pudesse provar. No Senado - estamos aqui há seis anos -, não me lembro de ter feito ataque pessoal a quem quer que seja. Combate, enfrentamento, fizemos o tempo inteiro, mas agressão, ameaça, isso não é coisa de gente séria, isso não é coisa de democrata, de nenhum partido.

            Eu não sou contra os chamados grupos de pressão, contanto que a pressão se dê pelas ideias e não pela agressão; contanto que o combate se dê pela discussão e não pela ameaça. Grupos que trabalham assim não são democráticos, não merecem estar sentados aqui e manter os seus mandatos de Senadores. Os que trabalham assim deviam se apresentar assim à opinião pública, sustentar os seus pontos de vista nas eleições que virão daqui a pouco. Vamos deixar que o povo decida, vamos deixar que o povo escolha.

            E é do ponto de vista do povo que me preocupa, neste instante, a questão do Senado. Um Senado com 70%, 80% de julgamento abaixo da crítica; dá para conviver com isso? Senadores que não andam nas ruas porque são mal vistos; dá para conviver com isso? Um julgamento total de que todos estamos, de alguma maneira, comprometidos com muitas coisas que não são verdadeiras - mas que outras são verdadeiras o são - com responsabilidades de um tamanho ou de outro, mas gerais; nada disso. O nosso grau de comprometimento não é igual. Uns são mais, outros são menos comprometidos. Uns sempre mandaram aqui, outros nunca mandaram aqui, como, por exemplo, o Senador Sérgio Guerra. Eu nunca mandei aqui. Eu tenho relação de amizade, estima e consideração pelo Presidente José Sarney, mas jamais lhe fiz um pedido pessoal; nem ao Senador Renan, que também foi Presidente; nem ao meu Líder Arthur Virgílio ou ao meu companheiro Tasso Jereissati. Eu nunca fiz isso. Eu sempre defendi os pontos de vista que eu tenho. Muitas vezes, eles são bem aceitos; outras, não.

            Presidente de um Partido complexo, eu aposto, trabalho, durmo e acordo para que esse Partido tenha unidade, objetivos e consistência democrática. Respeito a opinião de todo mundo. Todos podem falar e todos devem ser ouvidos. Tenho imensa dificuldade para decidir entre companheiros, mas, desde que a decisão se dê no interesse mais amplo, democrático, sou capaz de tomá-la.

            Não foi fácil para mim pedir ao Presidente José Sarney que se afastasse por sessenta dias. Talvez eu tenha sido dos últimos a apoiar essa idéia. Jamais lhe fiz uma crítica pessoal. Tenho por ele estima e consideração pessoal, repito, e também por sua filha, de quem me considero amigo. Não misturo a relação pessoal com a relação política.

            Do ponto de vista político, eu descobri, quando começamos a discutir em quem votar para Presidente do Senado - e eu estava junto com Arthur Virgílio - que não era possível votar na chapa do Presidente José Sarney, porque a discussão que nós tivemos, ou que começamos a ter, não foi como o Presidente José Sarney esperava que fosse; até, na minha opinião, torceu que fosse. A gente estava obrigado a fazer um padrão de discussão que para o PSDB não servia. Não estou condenando os que o fizeram, mas para nós não servia.

            Nós nos afastamos e votamos no PT. Nada mais complicado para nós. Vamos enfrentar o PT daqui a pouco. Temos discordâncias diárias com o Partido dos Trabalhadores, mas votamos no candidato do PT e não nos arrependemos disso. Não porque o nosso coração fosse mais dele do que do Presidente José Sarney, mas porque nós entendemos que, naquele instante, era o melhor caminho para o Congresso, para que o Congresso quebrasse toda uma tradição, toda uma base, que não deve ser atribuída a José Sarney ou a ninguém isoladamente, mas a um conjunto, base da qual participamos nós com mais intensidade ou com menos intensidade, com mais responsabilidade ou com menos responsabilidade. Mas uma base que não dá para sustentar do ponto de vista público.

            Não é questão de um jornal, dois, três ou quatro; de um jornalista ou de dois, três ou quatro. É uma questão do que pensa a população brasileira. E não é só a elite que encontramos no aeroporto. É o povo inteiro que nos pergunta: “O que vocês vão fazer desse Senado? O que vocês estão fazendo nesse Senado?”

            Daqui a um ano e meio, ou menos do que isso, já temos de andar por aí para dizer em Pernambuco, no Ceará, em todo lugar: “Eu quero ser Senador para fazer isso ou aquilo. Prometo à população que vou trabalhar dessa forma para produzir esse resultado.”

            Eu, sinceramente, não sei mentir. Sou um mentiroso de péssima qualidade. Não vou fazer isso. Se não houver o que dizer, o que prometer, o que discutir, como criar um ambiente favorável ao voto, tenho certeza de que nenhuma das nossas campanhas será vitoriosa.

            Não dá para este Senado funcionar assim. Infelizmente, as medidas que estão sendo tomadas agora deveriam ter sido tomadas há muito tempo. É claro que o Presidente José Sarney sofre um ataque muitas vezes injusto. Mas é claro que esse ataque não foi tratado de forma democrática aqui. Não é importante, Presidente, que os acontecimentos que não tenham a ver exatamente com a vida do Senado levantadas contra José Sarney ou contra a sua família, não sejam exatamente assuntos do Senado? Não é verdade!

            O Presidente do Senado ou o Senador Sérgio Guerra ou o Senador Arthur Virgílio são homens públicos. Tudo o que acontecer comigo, com o Arthur, com o José Sarney, com o Senador Jarbas Vasconcelos é questão pública e nós temos de esclarecê-la. Se vamos cassar alguém? É claro que não. Se vamos discutir esses fatos? É claro que sim. Se os fatos são fracos, eles vão ceder; se não se sustentam, se não têm conteúdo, eles não agüentam. Se eles têm realidade, verdade, eles vão surgir e vão se consolidar. Essa é a lição da democracia, dos Parlamentos. Não há outra.

            E eu tenho pelo Presidente José Sarney muita estima, sincera. Esse negócio de falar e não pensar não é da minha natureza. Agora, o Presidente José Sarney tem uma biografia. Eu o conheci há muitos anos. Eu menino e ele já um pouco mais velho do que eu. Foi e é um homem democrático. Ele deu várias lições aos brasileiros. Dirigiu uma transição dramática; foi o Presidente da República; fez tentativas relevantes de mudança econômica; tentou ajudar as regiões, entre elas, a minha, o Nordeste; sempre foi cordial, sempre foi absolutamente civilizado, tem espírito público, tem respeito pela cultura do seu País, ele próprio contribui com ela. É um brasileiro que merecia uma boa imagem para o seu País e para ele próprio. Mas não estamos fazendo isso aqui. Nós estamos destruindo a imagem do Presidente José Sarney, e nós estamos nos destruindo também. Nós estamos nos afundando progressivamente em um prodígio de insensibilidade. Amanhã vamos votar no Conselho de Ética. Qual era a diferença em botar no Conselho de Ética um Presidente que pudesse honrar o Conselho de Ética, que tivesse capacidade de discernir, que se impusesse pela autoridade, pelo respeito e pela sua própria vida? Não estou falando mal do Presidente atual, mas ele não tem essas qualidades. Poderia ser alguém que chegasse lá e pelo seu peso atribuísse ele próprio valor ao Conselho de Ética. Isso se os critérios para formação do Conselho não fossem aritméticos: PMDB tem quatro; não sei quem tem três; se o PT não votar “sim”, vai acontecer assado.

            Será possível? É esse o nosso papel? É isso que estamos fazendo aqui?

            São interesses externos ao povo, à população no sentido mais geral, à democracia, ao Congresso e aos partidos como verdadeiros partidos. São interesses de grupos, grupelhos que vão se acomodando nos seus interesses com cotoveladas de para um lado e para o outro.

            Nada disso se fez.

            Fala-se em tropa de choque. Não tenho nada de pessoal contra os que estão citados - até alguns são meus amigos - mas não pode haver tropa de choque. Choque de quê? São pontapés? Ameaças? Não vale! Ideias sim! Vamos discutir nossas ideias.

            Ora, o PT foi um Partido que surgiu de uma luta das mais brilhantes da história democrática de todo o Ocidente. Um grande Partido, que surgiu do povo. Seu Presidente da República saiu lá de Pernambuco, da pobreza, virou Presidente da República; instalou um grande movimento sindical no Brasil e está aí presidindo essa besteira, dizendo coisas como disse ontem a respeito de um papel e de uma agenda de candidata à Presidência da República e de uma ex-diretora de uma instituição pública. Que País é este?

            Porém, a conta toda fica aqui no Congresso. O Presidente vai lá e diz: Vocês estão vendo, os Senadores não sabem trabalhar. Esse pessoal não fala sério. E o Presidente da República estava falando sério quando defendeu a Ministra Dilma, no episódio da moça, da Receita, que prestou depoimento, hoje, cujo único erro foi falar a verdade? Ela estava lá, intimidada, mas não deixou de dizer o essencial: que uma Ministra de Estado, do principal Ministério do Governo, foi lá para interferir a favor de um grupo. Não importa que o grupo seja A, B ou C; seja de minha Liderança, de Arthur Virgílio, de José Agripino ou de José Sarney. O que importa é que não podia fazer isso! Não tinha de ir perguntar à Receita nenhuma quando é que terminaria a investigação contra quem quer que fosse. Que Presidente é esse? Que democracia é essa? Que Ministra é essa?

           A única pessoa que não tem o que explicar é a moça da Receita. Essa não tem o que explicar. Essa é limpa! Disse a verdade; não se afastou dela. Qual o interesse que ela tinha de inventar? Qual o objetivo que ela teria de inventar, em uma circunstância dessas, quando ficou claro, hoje, que ela não queria dinamitar quem quer que fosse. Ao contrário, a informação que nós temos é a de que ela é uma pessoa que tem toda uma cultura política, toda uma vida política mais para o lado do PT do que para o nosso. Há uma grande confusão instalada.

           Um democrata como José Sarney vem aqui para reclamar de um jornal! Pode até reclamar, mas as questões que o jornal publica devem ser esclarecidas aqui. Pode até ter razão, mas as questões que forem publicadas naquele jornal ou em qualquer jornal sobre as quais a opinião pública tem ponto de vista devem ser esclarecidas no Congresso, por todos nós, especialmente pelo Presidente do Senado, porque é o Presidente de todos nós e que, quando eleito, teve o compromisso de todos nós de colaborar com ele e que tem condições reais, potenciais e históricas para presidir o Senado do Brasil, como já o fez, de forma qualificada.

           Então, nós não podemos continuar nesse jogo de precariedade, de limitações, de improvisações que agridem as pessoas, que ameaçam as pessoas e que não servem para nada, não constroem coisa nenhuma!

            O que constroi as coisas é respeito pelos outros, respeito pelo ponto de vista dos outros, é entender que pode e deve haver discordâncias e caminhar com elas, é exercer a maioria quando for o caso de exercê-la. Esmagar, nunca; trucidar jamais; fazer barulho por fazer barulho, também não. Honrar o ponto de vista do povo.

            Algumas pessoas chegaram para mim e disseram: “Sérgio, o Senador Tasso jamais devia ter pedido desculpas”. Não foi apenas uma pessoa, foram centenas de pessoas. Ora, o Senador Tasso - eu disse ontem, digo hoje e direi amanhã - é um grande homem público. Podem ficar certos: foi incompreendido quando mudou o tom da discussão aqui pela democracia do Brasil e pela democracia do Senado. Mas deu a todos nós uma lição de democracia enorme. Suas qualidades são cem vezes maiores do que os seus defeitos. Uma, duas, três vezes? Não, cem vezes maior! E queria dizer com todo o coração que acusações devem ser feitas no conteúdo e na forma democrática e com a responsabilidade pública de quem acusa, assumir a sua acusação e discuti-la publicamente. Mas por debaixo do pano, soltando uma notinha por ali, uma notinha por aqui... Olha, vai acontecer uma coisa com você, três dias depois acontece, isso é conversa de vagabundo e não de homem público.

            Então, tive a vontade de falar hoje. Talvez não fosse conjunturalmente recomendável...

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - ...mas não dá para continuar neste ambiente, continue o Presidente Sarney, não continue o Presidente Sarney; vote assim um partido, vote assim um outro partido; uns sejam mais compreendidos, outros não. Todos somos incompreendidos, todos estamos errando. Quem está levando a vantagem, quem está ganhando a discussão é a ação primitiva de gente de quem não pratica a democracia.

            Ouço o Senador Arthur Virgílio.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Sérgio Guerra, eu não esperava de V. Exª outra forma de pronunciamento, a não ser essa da afirmação e, ao mesmo tempo, da ponderação, que é também a sua marca. Considero legítimo que o jornal, em tendo convicções, faça acusações ao Presidente Sarney como a qualquer outro homem público. E considero legítimo que se reconheça o direito de o Presidente Sarney se defender, porque, mais do que um direito, é um dever o homem público acusado explicando topicamente cada ponto de acusação de que padece. Estou aqui com um jornal, geralmente a Folha de S. Paulo, “ANJ completa 30 anos de luta contra a censura”. Até já houve episódios que envolvem censuras ao Jornal o Estado de S. Paulo. Eu vejo que há um erro de método e esse erro de método, a meu ver, não tem servido em nada para ajudar ao próprio exercício do Presidente Sarney na Presidência desta Casa. É um erro de método. Eu não fui denunciado ao Conselho de Ética por qualquer coisa que eu tenha feito ou não tenha feito e, sim, porque eu não silenciei a minha voz, e, sim, porque estava incomodando. Isso foi dito com clareza: reciprocidade, enfim, uma linguagem que eu não entendo bem. E algumas outras pessoas foram pinçadas, e V. Exª foi uma delas. Poderia V. Exª ter tido, no que o Presidente Sarney chamou de agruras, defeitos e até condenações morais e não as teve. Se não tivesse tomado a atitude que tomou, não teria sido chamado ao debate nos últimos tempos e no dia de ontem. Então, é um método. Falam em dossiês. E é uma coisa noturna, sibilina, covarde, porque fulano detém dados e eu não detenho, obviamente que tem vantagem para o fulano. Eu não tenho. Essa administração não pertence a mim. Falam em 15 jornalistas lendo a vida de todos nós nos últimos 15, 20, 30 anos, nos nossos Estados, enfim. Até gostaria que me dessem o que leram sobre o mim para ver se eu componho a minha biografia, enfim. Mas não são métodos - V. Exª tem razão -, de homens públicos, são métodos de pessoas que estão vendo um página da história se virar por cima delas - essa que é a verdade - e que não prevalecerão se imaginam que essa fórmula lhes dá longevidade. Pessoas que se acostumam a consultar as ruas, de consultar o espírito das pessoas que estão lá fora imaginando que jeito os senadores serão ou não serão capazes de dar ao Senado da República. Eu ouvi hoje com muita tranquilidade a discussão na reunião de bancada sobre se V. Exª deveria falar ou não. E só ao final, depois de perceber a sua disposição, concordei, mas é o que eu queria mesmo, que V. Exª falasse por entender que V. Exª tem o dever e o direito de se explicar, de não deixar dúvida sobre dúvida. Mas eu volto, Presidente Sarney, Senador Sérgio Guerra, ao método. Se V. Exª quiser usar o mesmo termo “agruras”, V. Exª foi chamado ao debate porque resolveu falar ou não seria incomodado. Se alguém imagina que isso vai levar este Senado a algum momento mais saudável na sua vida, está redondamente enganado, está contribuindo para ser coveiro deste Senado, se alguém imagina que é possível que se chegue algum tipo de harmonização das situações e da convivência aqui dentro por essa via. De repente, alguns - isso é um equívoco brutal - se arvoram em poderosos, enfim - e a gente já viu cada coisa acontecer - e imaginam que, por essa via, ficam enfrentando só aquela meia dúzia de sempre, porque os outros não querem se intrometer no debate em função do dissabor por que vão passar. V. Exª ontem me dizia: “Poxa, eu estou enfrentando problema de saúde, não sei nem se fico ou se não fico mais aqui. Não sei se vale.” Eu lhe digo do meu desencanto com isso aqui. Desencanto brutal mesmo. Eu comentava, ontem, com o Líder Mercadante. Os primeiros quatro anos desse Governo Lula, de debates nossos aqui, foram debates encantadores. Nós tínhamos uma outra perspectiva de luta, de ação, de discutir o Brasil. Agora, denúncia séria, bem fundamentada é para ser examinada, e na hora. E não é para ser negociada, não é para negociar a minha com a sua; a sua se não a minha, e se não a minha, também não a sua. Esse método sepulta o Senado e sepulta qualquer perspectiva de relacionamento decente entre Senadores aqui dentro, até porque é preciso haver decência de ambas as partes para se ter uma convivência que seja harmônica, que seja correta. Portanto, meus parabéns a V. Exª. O tom que V. Exª emprega é o justo. E V. Exª não é Presidente do nosso Partido por falta de confiança nossa em V. Exª; é Presidente porque há um conjunto, que, muito majoritariamente, confia na sua ação, confia na sua integridade e confia na sua coerência. Confia na sua prudência, mas confia na sua coragem. Não a coragem do nada, do ar, mas a coragem de quem se assume. V. Exª se porta como homem público e eu, aqui, o reverencio como o homem público que V. Exª é. Então, volto a dizer uma coisa muito simples: o jornal tem o direito de criticar o Presidente Sarney quantas vezes quiser e a mim se quiser - mil vezes o Presidente e duas mil, se quiser, a mim. Tem. Não é proibido disso. Tem. Lutei muito para que houvesse liberdade de imprensa neste País. Tem o direito e pode continuar criticando. O Presidente Sarney tem o direito e o dever de se defender e V. Exª, o direito e o dever de ir à tribuna para não deixar pairar dúvidas em relação a quaisquer etapas da sua vida. Tenho a impressão de que, se isso for entendido com clareza, vamos ter um ambiente muito mais desanuviado aqui dentro, porque, como está, é uma brutal ilusão alguém imaginar que grito acaba com alguma coisa. Não acaba. Simplesmente, o que acaba é resposta adequada, resposta firme, resposta serena e resposta verdadeira para quaisquer indagações que sejam feitas sobre a vida pública dos homens públicos. A vida privada de homens públicos não me interessa, mas a vida pública de homens públicos interessa a todos nós. Meus parabéns a V. Exª. Sinto muito orgulho de tê-lo como Presidente do meu Partido.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Quero agradecer a palavra do Senador Arthur e creditá-la à nossa amizade. Estou aqui falando não porque tenho interesse conjuntural nisso, fosse importante para nós, do PSDB, marcar um tento de um lado e um tento do outro. Tenho a convicção íntima - posso estar equivocado - de que é preciso um esforço para melhorar a mim mesmo e ao Senado de maneira mais ampla.

            Senador José Agripino, Senador Jarbas e Senador Tasso. Senador José, pela ordem.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Senador Sérgio Guerra, eu quero dizer a V. Exª que não vou aceitar se, amanhã, alguns órgãos de imprensa disserem que o discurso de V. Exª foi um discurso de quem baixou as armas, porque tem acontecido, com frequência, confundirem atitudes sensatas, equilibradas, maduras, democráticas, que muitos de nós têm tomado aqui, com baixar as armas, como se política fosse beligerância. O que tem acontecido neste Senado - e olhe que sou Senador já há três mandatos, tenho uma experiência larga - é que denúncias de fora para dentro sobre companheiros nossos têm gerado exacerbações e provocado denúncias aqui dentro, numa atitude absolutamente deplorável, como se as acusações intestinas fossem purgar a Casa. Muitas vezes, coisas fabricadas, cheirando a chantagem, a injustiça profunda, a meias verdades, nos obrigam a - o que é próprio do homem público - nos expormos, a procurarmos nos explicar. O homem público só está preparado para desempenhar a vida pública quando está preparado para prestar conta de qualquer ato de sua vida, com humildade. Se ele é objeto de acusação, ele tem que estar absolutamente consciente de que ele tem que se prestar ao esclarecimento. Não que isso seja favor, é obrigação dele, mas desde que a acusação seja leal, que ela tenha fundamento e que não seja movida a chantagem. Isso tem acontecido. V. Exª disse, no começo de sua fala, uma coisa que eu acho que tem que ser objetivo nosso. Amanhã o Conselho de Ética deve se reunir para apreciar doze processos. A minha Bancada já está com o rumo tomado. Eu não sei qual vai ser o resultado e vou esperar o resultado para ver se vale a pena participar desse Conselho de Ética ou não, porque de uma coisa estou convencido: denúncias ou acusações contra parlamentares não podem continuar sendo apreciadas por parlamentares; têm que ser apreciadas pela Justiça, e pela Justiça de forma implacável, para acabar inclusive com esse processo de destruição intestina no próprio Parlamento. É claro que é penoso Senador condenar Senador, Deputado condenar Deputado, mas, se houve dolo, tem que haver a condenação, e tem que haver pela instância certa, correta, que tem que ser a Justiça. Este é o pensamento que eu guardo. Eu quero, com isso, fazer a apreciação do discurso de V. Exª: moderno, equilibrado, sensato. V. Exª é um dos bons valores desta Casa. É Presidente de um partido, de um grande partido político, um homem que se dá ao respeito, que resolve comunicar à sua Bancada que vem fazer uma manifestação, vem abrir a sua alma, vem expor a seus colegas e à Casa a sua indignação e o seu desconforto. Agora, fique certo de uma coisa: V. Exª continua a merecer o apreço da Casa, o apreço do meu Partido e o apreço do Brasil.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Senador Jarbas.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Sérgio Guerra, o seu pronunciamento, como já alegaram os oradores que me antecederam, Arthur Virgílio e José Agripino, é grande, como sua atuação aqui nesta Casa. V. Exª disse que teve dúvidas se deveria, ou não, ir à tribuna hoje. Foi fundamental a sua presença. O que V. Exª diz, em linhas gerais? Que essas coisas que reinam no Senado, no plenário e fora dele, não podem continuar. Não pode continuar porque está levando o Senado da República a uma total e completa degradação. Não é mais a questão da mídia. É a questão, como V. Exª colocou, de forma muito clara, da reação da opinião pública, do rico, do pobre, do empregado, do desempregado. Há uma repulsa generalizada da população com relação aos episódios do Senado. E quem viu, por exemplo, hoje, pela manhã, o episódio da vinda da ex-Secretária da Receita Federal a esta Casa, pensa que deve ter piorado mais ainda, ou acentuado mais ainda, essa repulsa. Os senadores da base governista se transformaram em verdadeiros delegados de polícia: intimidaram a senhora Lina, quase que a ameaçaram. Uma mulher segura, firme, transparente, determinada, contou um fato que tem começo, meio e fim contra uma pessoa que está, reiteradamente, mentindo, que é a Ministra Dilma Roussef: mentiu com relação ao dossiê contra o Governo de Fernando Henrique Cardoso - já tinha ameaçado, em São Paulo, perante um grupo de empresários, fazer isso; depois, não teve a coragem de assumir e deu a explicação, através da Dª Erenice, de que era apenas um banco de dados; depois, falsificou grosseiramente o seu currículo - uma coisa vergonhosa - e disse que não tinha conhecimento. Agora, deve estar arrependida por ter dito que a ex-Secretária da Receita Federal havia mentido. A base do Governo fez o que V. Exª viu hoje. V. Exª participou da reunião da Comissão de Constituição e Justiça. Não pude estar lá, mas V. Exª viu. É preciso, Senador Sérgio Guerra, dizer as coisas com a clareza que V. Exª colocou, sem agredir e sem abrir mão dos seus princípios. V. Exª é, por formação, uma pessoa que busca a conciliação e, muitas vezes, é até mal-entendido. V. Exª sabe disso. V. Exª busca o entendimento, busca alargar uma visão maior de funcionamento de uma Casa como esta. Sabemos por que V. Exª foi à tribuna na tarde de hoje: por causa de uma referência feita aqui, ontem, pelo Presidente da Casa ao defender-se de mais uma acusação do jornal O Estado de S. Paulo. Entendo que é natural, que é legítimo que o Presidente ocupe essa tribuna do plenário para rechaçar uma denúncia que considera infundada, mais uma contra ele. Entendo também que não é o local próprio. O local próprio seria onde correm os processos contra ele, as denúncias contra ele, que é no Conselho de Ética. A base do Governo diz que esse conjunto é um conjunto frágil de denúncias, e se é frágil, derrota-se. Ainda hoje, o Líder do Governo, Senador Romero Jucá, ao interpelar o Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, o Senador Demóstenes Torres, disse que estava em busca de um procedimento para que a Casa pudesse funcionar bem. E por que não aplicar esse procedimento no Conselho de Ética? O procedimento no Conselho de Ética é o mais impróprio possível. O Presidente não deixa o Conselho funcionar, os membros escolhidos também não o deixam funcionar, gritam, ameaçam, levam na pressão. E a gente vai até aonde com isso? É muito difícil a situação da Casa, Senador Sérgio Guerra, muito difícil. O pronunciamento de V. Exª é um pronunciamento que traz luz, que indica caminhos, porque V. Exª tem sido assim a vida inteira. Quando aqui cheguei, V. Exª já tinha esse procedimento, e tem acentuado, tem aprofundado esse procedimento. É preciso que pessoas com a sua cabeça, com a sua dimensão possam, junto a outras pessoas aqui dentro, fazer com que a gente saia desse estrangulamento em que se encontra o Senado da República. A gente não pode continuar nisso, dia a dia, com mais denúncias, com mais cobrança, com mais repúdio nas ruas. Daqui a pouco vai ter Senador sem poder andar. Como frisou V. Exª, não é só em aeroportos e restaurantes, é nas ruas. É aquilo que dissemos: é o rico, é o preto, é o branco, é o desempregado, é o que tem posses, é o que não tem posses, todos, questionam o funcionamento desta Casa. Por isso, quero parabenizar V. Exª, incorporar minhas palavras ao discurso de V. Exª e, sobretudo, mais uma vez, apresentar minha solidariedade pela sua sobriedade e sua correção.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Agradeço pela palavra, Senador Jarbas Vasconcelos.

            Ouço o Senador Tasso Jereissati.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Sérgio Guerra, disse aqui o Senador Arthur Virgílio que se orgulha de ter V. Exª como Presidente do nosso Partido, e eu queria aqui repetir ipsis litteris o que disse o Senador Arthur Virgílio. E não só pelo seu espírito público, não só pelo seu enorme talento em dar contribuições à discussão democrática e às discussões dos temas mais importantes que passam nesta Casa, mas pela muito especial facilidade também de V. Exª de organizar as ideias e, em algumas poucas frases, colocar muito bem o que está ocorrendo. E V. Exª, mais uma vez, foi extremamente feliz agora. Colocou, de maneira muito simples, o que está acontecendo nesta Casa. A imprensa colocou nas ruas - não fomos nós, da Oposição; ninguém da Oposição fez acusação alguma a nenhum Senador, a ninguém - uma série de acusações. Por iniciativa nossa, mas, na maioria das vezes - vamos ser sinceros -, pressionados pela opinião pública, viemos aqui cobrar explicações dessas denúncias, mas não viemos nunca acusando ninguém, e sim cobrando explicações dessas denúncias, já que esta Casa vive dessa opinião pública. O que deteriorou o processo de vez foi que, em vez de as explicações virem, veio toda uma série de ameaças, uma série de intimidações, uma série de provocações para aqueles que cobravam essas explicações, fazendo com que, de uma maneira para mim até surpreendente, um homem com a história de S. Exª o Presidente Sarney, o homem da grande conciliação da ditadura para a democracia, viesse se escoltar aqui numa chamada tropa de choque, que nada mais, nada menos faz aqui do que agredir e ameaçar os outros companheiros, seja com grito, com violência, com ameaças ou com dossiês, tornando o ambiente desta Casa, além de irrespirável, muito mais irrespirável ainda para a opinião pública, que está assistindo a todo esse espetáculo. Evidentemente, V. Exª veio aqui agora, mais uma vez, em função de uma dessas ameaças, fazer essa colocação, de um lado, muito clara, muito sincera e de coração muito aberto - e tenha a certeza de que todos aqueles que o ouviram falar aqui ficaram tocados com o seu depoimento -, mas profundamente exemplar, porque, se todos que fossem de alguma maneira acusados de alguma coisa fizessem o mesmo e não saíssem aqui de tacape na mão, agredindo a quem lhe cobrasse alguma coisa, com certeza esta Casa não estaria vivendo a crise que está hoje. Esta Casa só vive a crise que está vivendo hoje em função desse clima que foi criado ao redor de uma discussão que não tem a menor racionalidade, que não tem o menor espírito público dentro da discussão e apenas o espírito da agressão, da ameaça e da intimidação. V. Exª hoje colocou isso com muita clareza, e eu acho que coloca quase de maneira definitiva o que deve ser feito para que, de uma vez por todas, possamos recomeçar a reconstruir a imagem desta Instituição, tão importante para o País.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Agradeço as palavras do Senador Tasso e ouço o Senador Flávio Arns.

            O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Senador Sérgio Guerra, quero, por meio do pronunciamento, deixar também externada a concordância completa, a absoluta solidariedade com a análise que V. Exª faz da situação. Eu diria que foi feita com absoluta tranquilidade, segurança, pensando no bem da Instituição, analisando o que vem acontecendo dentro da Instituição, o papel que vem sendo desempenhado por Senadores, a questão da tropa de choque, a questão da condução dos trabalhos no Conselho de Ética, a investigação, os procedimentos, que deveriam acontecer de maneira absolutamente tranquila, transparente, segura, como uma rotina que o Parlamento pudesse desenvolver. Penso, Senador Sérgio Guerra, que sua abordagem foi perfeita no sentido do encaminhamento que deveria acontecer para se buscar absoluta tranquilidade, a transparência que a população espera, a investigação dos casos, o esclarecimento daquilo que, de forma verdadeira, fundada ou não, vinha sendo levantado, para que haja segurança no trabalho a ser desenvolvido. Aquilo que o Senador Tasso Jereissati colocou é o grande objetivo: como podemos trabalhar em uma instituição tão importante, tão necessária como o Senado Federal, em um clima de respeito da população. Existe uma absoluta falta de respeito, falta de credibilidade por aquilo que vem acontecendo dentro do Senado Federal. Não é culpa da população; é culpa nossa, porque não estamos conseguindo ser capazes de lidar, de maneira adequada, com as situações que vêm sendo externadas, principalmente pelos meios de comunicação. Mas quero dizer a V. Exª que a abordagem foi perfeita, tranquila, segura, pensando no bem da Instituição, e esse é o caminho. Teríamos de seguir, percorrer esse caminho e recuperar o papel de fundamental importância que o Senado Federal deve desempenhar para a sociedade brasileira.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Agradeço as palavras do Senador Flávio Arns. Se o Presidente permitir, ouvirei o aparte da Senadora Lúcia Vânia e concluirei.

            A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Senador Sérgio Guerra, eu gostaria de cumprimentá-lo pelo pronunciamento e dizer que V. Exª, nesta tarde, com o seu equilíbrio, com a sua sensatez, transmite o pensamento de todos que estão nesta Casa. A inquietação que ronda cada um de nós é insuportável. Acho que nós chegamos ao ponto em que é preciso dizer um basta a tudo isso. Não dá mais. Eu acho que é um inteiro desrespeito à opinião pública, um inteiro desrespeito a nós mesmos o que está acontecendo aqui. E V. Exª transmite isso com muita propriedade. Portanto, eu o cumprimento, solidarizo-me com V. Exª e quero que esse discurso sirva não apenas para que seja feita uma reflexão, mas para que tenhamos uma ação concreta para pôr fim nesta situação que estamos vivendo nesta Casa. Muito obrigada.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Senador Garibaldi.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Sérgio Guerra, queria apenas dar um depoimento rápido, porque V. Exª, no início do seu discurso, falou que havia comparecido à Comissão de Orçamento, e naquela comissão eu ocupava uma função. Eu era, na verdade, relator da área social; todas as dotações da área social passaram por essa subcomissão, da qual eu fui relator. E V. Exª, que enfrentou algumas acusações com relação ao Instituto Pio Guerra - instituto que tomou o nome do seu pai -, deu um depoimento absolutamente claro, objetivo, que não deixou dúvidas. É tanto que não houve, depois da sua palavra, desdobramentos. E eu não poderia deixar de dizer isso no dia de hoje, quando V. Exª relembra aquele fato.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Senador Pedro Simon, por favor, com a palavra.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - É uma pena, Senador, que hoje, véspera de uma reunião tão importante que nós teremos amanhã no Conselho de Ética, o assunto seja um debate de uma matéria superada, a qual nós não temos ideia de por que está aparecendo. Muito estranho essa forma de querer misturar: uma hora sou eu; outra hora é V. Exª; outra hora é não sei quem... Muito estranho isso! Eu acho, com toda a sinceridade, que nós temos de apurar tudo! Não há por que não apurar tudo! Mas, apurar não é lançar os casos para botar tudo para debaixo do tapete: é o senhor; sou eu; é o fulano; é o beltrano... Bota-se tudo para debaixo do tapete. Amanhã é um dia muito sério, muito sério! Eu não sei, ainda, qual é a ação do PT; não sei qual vai ser o procedimento dos membros do Conselho de Ética, mas eu sei que, se a solução for, pura e simplesmente, de arquivar, amanhã talvez seja o dia mais triste da História do Senado. Mais do que o dia em que esta Casa foi fechada, porque esta Casa foi fechada com o nosso protesto, foi fechada pela violência, pelo arbítrio dos homens de uma ditadura militar. Mas, agora... Esses fatos que apareceram e que aparecem todo dia... Não me passa pela cabeça, eu creio que a maioria não deve nem ser verdade. Mas, não querer apurar?! Se a imprensa toda só está falando nisso, todos os jornais, se todas as televisões... Pesquisas de opinião pública, no Rio Grande do Sul, da Rádio Gaúcha: 93% acham que se deve fechar o Senado Federal. Em uma hora que nem esta, nós vamos, pura e simplesmente, debochar da opinião pública e arquivar? Nós vamos, simplesmente, dizer não? E, neste dia, nesta terça-feira, às vésperas dessa reunião, talvez a mais importante no decurso desse processo, nós estamos aqui discutindo, porque há dez anos não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje é a hora de discutir o que fazer amanhã. E perguntar o que o Líder do PT vai fazer amanhã. Se, na verdade, o PT... O Senhor Lula vai chantagear o seu Partido, exigindo o que a imprensa está publicando: que Senadores do PT não querem fazer parte. Então, amanhã nós podemos ter o atestado de óbito do velho PT. Se retirarem dois Senadores do PT para botarem dois - um do PMDB e outro do Rio para votarem pelo arquivamento -, amanhã é o atestado de óbito do PT. E desta Casa, meu Deus! Meus Deus! Sinceramente eu não entendo, eu não consigo entender. Numa Comissão, onde o Governo tem dez, tem uma maioria tranquila, não tem nenhuma dúvida, não tem nenhum medo, não tem nenhuma interrogação, mas pode acontecer uma surpresa. Nós não podemos arriscar porque pode acontecer algo diferente. Mas nós sabemos que não. A tropa de elite está ali; são dez, tranquilos, serenos. Eu não tenho nenhuma dúvida na absolvição de todas as questões com relação ao Presidente da Casa. Não tenho nenhuma dúvida! Mas arquivar, arquivar, não deixar discutir, não deixar expor, não analisar... Era o caso de o Presidente da Casa exigir: “Eu quero me defender. Eu quero discutir. Eu quero analisar. Estão mexendo com a minha honra, com a minha dignidade. Eu quero expor. Em que dia eu vou responder?” Mas não deixar falar, ir para o arquivamento!? E o que é mais grave é que a Bancada do PT, em duas oportunidades, deu nota dizendo que quer o afastamento. Eu não me lembro de nenhum general, presidente de plantão que tenha feito uma intervenção tão esdrúxula no Senado como o Lula está fazendo e exigindo! Pelo amor de Deus! Olha, é um momento muito grave esse. É um momento muito triste. É um momento que talvez... O que está crescendo hoje - em São Paulo, foi no dia 11 de agosto - é um movimento no sentido de “para que duas Casas? Chega uma! Para que esta Casa Revisora que só atrapalha? Dez mil funcionários! Só está atrapalhando”. Essa tese está crescendo. Tanto que o Sr. Ministro da Justiça, o Sr. Tarso Genro, defende essa tese internamente no PT. No Congresso do PT, o Ministro Tarso Genro defende a tese. E a tese dele não é nem por causa da crise que nós estamos vivendo. Ele defende a tese de que o PT deve ser extinto, e não há razão de existir PT.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP. Fora do microfone.) - O Senado, e não o PT.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Perdão. O PT ainda existe. É o Senado. “Não há razão para existir Senado. Para que Senado?” Um outro ilustre líder do PT, seu amigo, o nosso querido companheiro, defende uma página de jornal: “Para que Senado?” E isso está crescendo, Sr. Presidente, isso está crescendo. Olha, faz 15 anos. Assumiu o Presidente Sarney, Presidente. Eu nunca me esqueço daquela eleição. O Íris Rezende, Senador de Goiás, veio de roupa nova para o desfile.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP. Fazendo soar a campainha.) - Senador Simon, eu pediria a V. Exª que concluísse o seu aparte que já tem oito minutos e o Regimento...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu agradeço a gentileza de V. Exª até porque eu iria falar demais, já falei o suficiente. Muito obrigado.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Presidente José Sarney, eu quero lhe agradecer o tempo que me facultou aqui. Dizer dos apartes que me foram feitos, a atenção daqueles que me ouviram, dizer que o nosso Partido, o PSDB, sabe o que vai fazer amanhã e era importante que o PT soubesse também. Um Partido como o PT com a luta que fez, com a importância que tem, com as responsabilidades populares que tem, com a história que tem, ele teria que saber o que vai fazer amanhã e dizer aqui hoje, discutir aqui. O que nós queremos é discutir, é não colocar nada embaixo do tapete, mas discutir as coisas e dizer que o dia de hoje é importante também por conta de um programa da Fundação Getúlio Vargas, que é bem-vindo, esse e outros programas, para que isto aqui possa ter outra organização, outro futuro e outra perspectiva.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Sérgio Guerra, permite-me um aparte?

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Quero consultar o Presidente Sarney, por mim...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É um breve aparte, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Senador Suplicy eu pediria a V. Exª que fosse muito breve, o orador já está na tribuna há 1 hora e 03 minutos. De maneira que nós temos ainda uma lista de oradores aqui e alguns vieram pedir à Mesa que cumprisse o Regimento.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É verdade, Senador Sérgio Guerra, eu com o Senador Pedro Simon, fomos autores do requerimento que formou a CPI do Orçamento em 1993. E quando V. Exª aqui recordou que prestou um longo depoimento naquela Comissão Parlamentar de Inquérito, sim, é verdade que estávamos, os Senadores Mário Covas, acho que estava o Deputado Aloizio Mercadante, o Senador Pedro Simon, que era um dos proponentes e autores do requerimento e membro daquela CPI, e eu também. Então, lembro-me de ter ouvido V. Exª com atenção, com respeito e procurou esclarecer muitos daqueles episódios. E V. Exª, ao aqui recordar aqueles episódios, lembra da importância de se procurar esclarecer todos os episódios. Então, eu ainda há pouco transmiti a proposição seguinte: que possamos no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, antes mesmo da votação do recurso, convidar as pessoas, no caso, o próprio Senador José Sarney, o Senador Arthur Virgilio, que são objeto das representações, que possam esclarecer qualquer assunto que...

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Suplicy, estou inteiramente às ordens.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Está bem. Mas é a sugestão que eu formulei no espírito daquilo que V. Exª colocou.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Quero agradecer a atenção de todos e dizer ao Presidente Sarney que a minha palavra tem um objetivo só: primeiro, explicar que lá em casa a gente teve uma orientação do meu pai, que o senhor conheceu, de ter firmeza no ponto de vista e de segurá-lo, desde que tenhamos convicção; segundo, que nenhum de nós aqui torce por uma política de terra arrasada, de destruição, de desestruturação; e, terceiro, que tudo tem perspectiva quando a democracia se levanta, as pessoas respeitam as pessoas, as ideias respeitam as ideias e a discussão se dá como deve ser feita.

            Se esse for o caminho, vamos sair dessa dificuldade e construir novas perspectivas. Se o caminho não for esse, for o caminho da aritmética e não da ética, da volta para um lado, da volta para outro, não vamos a lugar nenhum. Vamos discutir, vamos ver as coisas e concluir, com justiça, o que deve ser resultado do nosso trabalho.

            Obrigado pela atenção.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2009 - Página 36796