Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre decisões da Senadora Marina Silva e do Senador Flávio Arns, anunciadas hoje, de deixarem o Partido dos Trabalhadores. Leitura de artigos publicados na imprensa, de autoria do Dr. Dráuzio Varella, intitulado "Beco sem saída" e de Frei Betto, intitulado "Catilina abusa de nossa paciência".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre decisões da Senadora Marina Silva e do Senador Flávio Arns, anunciadas hoje, de deixarem o Partido dos Trabalhadores. Leitura de artigos publicados na imprensa, de autoria do Dr. Dráuzio Varella, intitulado "Beco sem saída" e de Frei Betto, intitulado "Catilina abusa de nossa paciência".
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2009 - Página 37643
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, ENTREGA, CARTA, ORADOR, MARINA SILVA, SENADOR, MANIFESTAÇÃO, AMIZADE, RESPEITO, DECISÃO, RETIRADA, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONTINUAÇÃO, PARCERIA, LUTA, JUSTIÇA, ETICA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, AVALIAÇÃO, SUPERIORIDADE, PERDA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • APREENSÃO, DECISÃO, FLAVIO ARNS, SENADOR, RETIRADA, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, ARQUIVAMENTO, CONSELHO, ETICA, REPRESENTAÇÃO, REU, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, ANALISE, REDUÇÃO, BANCADA, COBRANÇA, CIDADÃO, POSIÇÃO, ORADOR, REFERENCIA, CRISE, LEGISLATIVO.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, MANIFESTAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, FRUSTRAÇÃO, CONDUTA, CLASSE POLITICA, IMPUNIDADE, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS, PERDA, ETICA, CAMPANHA ELEITORAL, FALTA, IDONEIDADE, CANDIDATO, AUSENCIA, INCENTIVO, PARTICIPAÇÃO, CIDADANIA, EXPECTATIVA, EXERCICIO, LIBERDADE DE IMPRENSA, DEFESA, DEMOCRACIA.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, SACERDOTE, TRANSCRIÇÃO, TRECHO, HISTORIA, ANTIGUIDADE, IGUALDADE, PERDA, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA, OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, SENADO, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Exmo. Sr. Presidente, Senador Flávio Torres, prezado Senador Vauldir Raupp, hoje aconteceram fatos de extraordinária relevância para a história do Senado e para a história do Partido dos Trabalhadores. Um dia que vai merecer uma reflexão de profundidade, sobretudo de nós, Senadores do PT, com o povo brasileiro. Ainda mais porque, na manhã de hoje, a Senadora Marina Silva anunciou aquilo que nos transmitiu nas últimas semanas, mas de forma definitiva, a sua decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores para ingressar no Partido Verde. Nós já havíamos transmitido à Senadora Marina, e hoje fiz questão, mesmo em meio à entrevista em que ela anunciava a sua saída, de entregar-lhe uma carta manuscrita dizendo do meu carinho e respeito pela decisão dela. Transmiti a ela o quanto ao longo das últimas três décadas fomos companheiros, atuamos juntos.

            Eu estive no Acre no final dos anos setenta, início dos anos oitenta, e ali conheci Chico Mendes, que era como que um precursor e professor de Marina Silva, e pude acompanhar as suas decisões de ingressar no Partido dos Trabalhadores. A partir de 1995, tive na Marina Silva uma companheira extraordinária aqui no Senado. Éramos cinco - eu fui o primeiro Senador do PT, de 91 a 94, de 95 a 98 - naquela oportunidade, e tive a honra de, logo no primeiro ano, ouvir Marina Silva, José Eduardo Dutra, Heloísa Helena e Lauro Campos dizerem a mim: “Olha, você, neste primeiro ano, continuará como Líder”. Então, eu fui Líder da nossa Bancada; mas, depois, ela foi também a nossa Líder, assim como José Eduardo Dutra. Eu me tornei um amigo especial dela por causa de nossa afinidade.

            Então, hoje, eu quis transmitir à Senadora Marina Silva o quanto continuaremos juntos pelos ideais de realização e aplicação dos princípios de justiça, da busca da verdade, da ética, de como realizar, no Brasil, um desenvolvimento sustentável, com muita preocupação com o meio ambiente, e quão importante será que nós possamos continuar a ouvir de S. Exª as suas lições, como as histórias que ela tanto nos ensinou, as histórias da floresta, da Bíblia Sagrada.

            Portanto, eu aqui registro que para nós, do PT, a perda de Marina é algo dramático, algo que precisa ser pensado, mas eu quero que a Senadora Marina continue. E essa é a expressão daquilo que todos nós... Somos doze Senadores do PT, até hoje de manhã éramos doze, mas conforme leu o próprio Líder Aloizio Mercadante, na semana passada, uma nota em nosso nome, consideramos que a Senadora Marina continuará conosco. E quero aqui registrar que não é nosso desejo que a Senadora Marina seja, por qualquer forma, por parte da direção do PT, colocada na Justiça Eleitoral da parte do PT, reivindicando que ela deixe de ser Senadora, porque, para nós, ela continuará sendo uma companheira de ideais, de objetivos e de anseios, ela que foi Ministra do Meio Ambiente.

            Mas não posso também deixar de registrar que, na tarde de hoje, o Senador Flávio Arns, diante do resultado do que aconteceu ali no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, anunciou, após a decisão do arquivamento da representação relativa ao Presidente José Sarney, a disposição de deixar de ser do nosso Partido.

            E eu, ao longo desses anos, tenho tido no Senador Flávio Arns um companheiro de muita afinidade. Ele que aqui nos traz preocupações tão relevantes, como, por exemplo, toda a sua preocupação com as pessoas com necessidades especiais e com os que são portadores de alguma deficiência, ele que na área social, inclusive como sobrinho de Dom Paulo Evaristo Arns e Dona Zilda Arns, pessoas que são símbolo da defesa da cidadania, dos direitos humanos neste País, da atenção para com as crianças. 

            Então, quando Flávio Arns chegou aqui nós nos demos tão bem e sempre interagimos de uma maneira tão positiva, e me preocupa, caro Senador Flávio Arns, a sua decisão, porque fico pensando que, quando iniciamos esta legislatura éramos quatorze. Havia o Senador Cristovam Buarque conosco, havia a Senadora Ana Júlia, que, ao candidatar-se a governadora, então tivemos o companheiro José Nery, do PSOL, mas era o suplente dela. Se porventura tornarmo-nos apenas dez a partir da semana que vem, então, claro, isso nos preocupa e deve causar assim uma reflexão.

            Eu gostaria, inclusive, de transmitir, e o Senador Flávio Arns hoje aqui está ao lado do seu chefe de gabinete, Aires Pereira das Neves Júnior, que justamente tive a honra de ser convidado para estar na sua banca de tese amanhã, na Unilegis, sobre a eficiência e aprendizagem organizacional - caso do gabinete do senador, onde ele transmite uma série de lições nessa tese aqui e de reflexões sobre como melhorar administrativamente o Senado. E me sinto bem com o fato de o senhor ter me convidado para estar na defesa da tese porque estou aprendendo com o seu trabalho.

            Mas, Sr. Presidente, ainda no último sábado e domingo, foram publicados pela Folha de S.Paulo dois artigos que merecem ser lidos, pensados, registrados e que estão no centro da preocupação, Senador Flávio Arns, de V. Exª, da Senadora Marina e de todos nós que estamos, inclusive, transmitindo hoje ao Senador Aloizio Mercadante, que teve um posicionamento, como o meu... Eu transmiti que seria oportuno, como o Senador Flávio Arns, que o Presidente José Sarney pudesse ter se licenciado e ido ao Conselho de Ética dar as suas explicações antes mesmo de termos votado o recurso. Mas, infelizmente, a sugestão que formulei foi atendida pelo Senador Arthur Virgílio, mas não pelo Senador José Sarney.

            Eu quero, inclusive, transmitir ao Senador Valdir Raupp... Eu gostaria de ler essas palavras porque avalio que são muito importantes para nós como um alerta, de pessoas que captam o sentimento do povo. Eu, por toda parte por onde tenho andado, Senador Flávio Arns, as pessoas... Posso estar ali no parque andando, na rua, na porta de um restaurante ou de um cinema, por onde eu estive andando pelo Brasil, e viajo muito, as pessoas, meus amigos, telefonam e dizem: “Eduardo, o quê que você vai fazer ali no Senado Federal? Vai deixar as coisas aconteceram? Você não vai bater na mesa como você costumava fazer sempre?” Eu aqui quero dizer...E aqui, Senador Valdir Raupp, eu leio, por exemplo, este artigo do Drauzio Varella, que externa um sentimento que é comum a muitas pessoas:

            "Beco sem saída

            Nos quase dez anos desta coluna, leitor, nunca escrevi sobre política. Adotei essa conduta por reconhecer que há profissionais mais preparados para fazê-lo e por considerar que médicos envolvidos em educação, na área de saúde pública, devem ficar distantes das paixões partidárias.

            No entanto, os últimos acontecimentos de Brasília foram tão desconcertantes e chocaram a nação de tal forma, que ignorá-los seria omissão. No trato da administração pública, chegamos a níveis de desfaçatez e de imoralidade assumida incompatíveis com os princípios éticos mais elementares.

            Para os que ganham a vida com o suor do próprio rosto, é revoltante tomar consciência de que parte dos impostos recolhidos ao comprar um quilo de feijão é esbanjada, malversada ou simplesmente desapropriada pela corja de aproveitadores instalada há décadas na cúpula da hierarquia do poder.

            Mais chocante ainda é a certeza de que os crimes cometidos por eles e seus asseclas ficarão impunes, por mais graves que sejam. Do brasileiro iletrado ao mais culto, todos nós temos consciência de que o rigor de nossas leis pune apenas os mais fracos. É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico parar na cadeia, diz o povo, com toda razão.

Uma noite, na antiga Casa de Detenção de São Paulo, ao fazer a distribuição de um gibi educativo sobre Aids, perguntei [diz Drauzio Varela], à porta de um xadrez trancado, quantos estavam ali. Um rapaz de gorrinho de lã, curvado junto à pequena abertura da porta, respondeu que eram 17. Diante de minha surpresa por caberem tantos em espaço tão exíguo, começou a reclamar das condições em que viviam. Às tantas, apontou para a TV casualmente ligada no horário político, no fundo da cela, na qual discursava um candidato:

- Olha aí, senhor, dizem que esse homem levou 450 milhões de dólares. Se somar o que todos nós roubamos a vida inteira, os 7.000 presos da cadeia [do Carandiru], não chega a 10% disso.

Essa realidade, que privilegia a impostura e perdoa antecipadamente os deslizes cometidos pelos que deveriam dar exemplo de patriotismo e respeito às instituições, serve de pretexto para comportamentos predatórios (se eles se locupletam, por que não eu?), gera descrédito na democracia e, muito mais grave, a impressão distorcida de que todo político é mentiroso e ladrão.

Considerar que a classe inteira é formada por pessoas desonestas tem duas conseqüências trágicas: votar nos que “roubam, mas fazem” e afastar da política cidadãos que poderiam contribuir para o bem-estar da sociedade.

De que adianta documentar os crimes se os criminosos ficarão impunes e retornarão nas próximas eleições ungidos pela soberania do voto popular?

Como renovar a classe política num país em que quase dois terços da população não tem acesso à informação escrita, em que empresários financiam campanhas de indivíduos inescrupulosos, comprometidos apenas com os interesses de quem lhes deu dinheiro, e no qual as mulheres e os homens de bem se negam a disputar cargos eletivos, porque não querem ser confundidos com gente que não presta?

É evidente que os políticos brasileiros não são os únicos responsáveis pelo estado a que as coisas chegaram. Antes de tudo, porque muitos são honestos e bem intencionados; depois, porque o clientelismo que os cerca é uma praga que nos aflige desde os tempos coloniais. Os que se aproximam dos políticos para pedir empregos públicos, nomeações para cargos estratégicos, favores em negócios com o governo ou para oferecer-lhes subornos, por acaso são mais dignos?

Esse é o beco sem saída em que nos encontramos: os partidos aceitam a candidatura de indivíduos desclassificados, os empresários financiam-lhes a campanha (muitas vezes com os assim chamados recursos não declaráveis), o eleitor vota neles porque "não faz diferença, já que todos são ladrões" ou porque podem conceder-lhe alguma vantagem pessoal, a Justiça não consegue nem sequer afastar do serviço público os que são flagrados com as mãos no cofre, e, para completar a equação, as pessoas de bem querem distância da política.

A esperança está na prática da democracia. Se a Justiça não pune os que se apropriam dos bens públicos, a liberdade de imprensa é a arma que nos resta, a única que ainda os assusta.

            Eu acho importante inclusive ressaltar a relevância da liberdade de imprensa, que está hoje machucada pela ação que tenta impedir o jornal O Estado de S. Paulo de divulgar aspectos importantes daquilo que se passa no Brasil.

            Mas ainda quero completar. Eu ainda liguei para o Dr. Drauzio Varela, perguntando a ele: “Mas, Drauzio, meu caro amigo, não gostaria de considerar a hipótese de se candidatar, dado o conhecimento que a população tem, o quanto você é respeitado, a potencialidade enorme, seja como Parlamentar, Deputado, Senador ou Governador?” E ele me disse: “Eduardo, eu tenho a minha vocação de médico, de educador. É a minha propensão. Então, não gostaria de mudá-la.

            Mas acho que ele aqui traz palavras de alerta para todos nós.

            Senador Flávio Arns, eu sei da relevância daquilo que quer nos transmitir daqui a instantes, mas eu somo essas palavras para a nossa reflexão ao alerta de Frei Beto publicado no domingo: “Catilina abusa de nossa paciência”. Com isso vou encerrar, Senador Valdir Raupp.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indagou Marco Túlio Cícero ao Senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato.

Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disso conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”

“Ó tempos, ó costumes!”, exclamou Cícero, movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?

Jurista, Cícero se esforçou para que Catilina admitisse os seus graves erros: “É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia”.

Se Catilina permanecia no Senado, não era apenas a vontade própria que o sustentava, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: “Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?”

Cícero não temia ameaças e expressava o que lhe ditava o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto. (…) Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo na tua vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação? (…) Refiro-me a fatos que dizem respeito não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria doméstica e à tua má fama, mas sim aos superiores interesses do Estado e à vida e a segurança de todos nós”.

Os crimes de Catilina escancaravam-se à nação. Seus próprios pares o evitavam, como assinalou Cícero: “E agora, que vida é essa que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão vasta assembléia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou?

Se isso, desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação do silêncio?”

Catilina fingia não se dar conta da gravidade da situação. Fazia ouvidos moucos, jurava inocência, agarrava-se doentiamente a seu mandato.

“Se os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te receiam”, bradou Cícero, “eu, por Hércules, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu, a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos, preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes, que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na alma e no coração?”

Cícero não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: “Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E não poupou os políticos que, apesar de tudo, apoiavam Catilina: “Há, todavia, nesta ordem de senadores, alguns que ou não veem aquilo que nos ameaça ou fingem ignorar aquilo que veem.”

Acuado, Catilina se refugiou na Etrúria e morreu em 62 a.C. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, foi assassinado em 43 a.C. Um século depois, Calígula, desgostoso com o Senado, nomearia senador seu cavalo Incitatus, com direito a 18 assessores, um colar de pedras preciosas, mantas de cor púrpura e uma estátua, em tamanho real, de mármore com pedestal em marfim.

            Eu sei que as palavras de Frei Beto são muito fortes. Ele, que foi um assessor especial nos primeiros anos do Governo Lula, depois avaliou que precisava melhor colaborar de longe, escrevendo as suas reflexões, ainda falando como um companheiro, amigo de ideais e procedimentos, e sobretudo uma pessoa que tem procurado alertar o Presidente Lula com respeito às questões éticas na vida política.

            E assim, Sr. Presidente...

            Desculpe, Senador Valdir Raupp, ter me alongado um pouco mais, mas avaliei que era importante hoje poder externar este sentimento, porque acredito que, de todo o Brasil, estão a nos dizer: “Senadores brasileiros, Senadoras brasileiras, olhem, tomem cuidado!” Esta Casa, o Senado Federal, precisa se justificar perante o povo brasileiro com uma atuação exemplar.

            Nós, que temos a responsabilidade de fiscalizar os atos do Poder Executivo, precisamos aqui, em nossa Casa, dar o exemplo de transparência, de probidade e de preocupação com a ética na vida política, na vida administrativa.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2009 - Página 37643