Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Presidente Lula por providências no sentido de impedir o fechamento da Clínica de Fisioterapia na cidade de Parnaíba, Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Apelo ao Presidente Lula por providências no sentido de impedir o fechamento da Clínica de Fisioterapia na cidade de Parnaíba, Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2009 - Página 37778
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), URGENCIA, PROVIDENCIA, IMPEDIMENTO, FECHAMENTO, INSTITUIÇÃO HOSPITALAR, FISIOTERAPIA, MUNICIPIOS, PARNAIBA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Augusto Botelho, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui no plenário do Senado da República e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado.

            Senador Augusto Botelho, eu nem ia usar da palavra hoje, mas acontece que este Senado é forte. Eu recebi aí, na Presidência, um telefonema de um médico que se formou comigo, Dr. Valdir Aragão de Oliveira, um médico muito honrado, trabalhador, homem de uma cultura firme, que nos ajudou, quando eu governava o Estado, a fazer de Parnaíba um polo universitário da saúde.

            Augusto Botelho, a política é um golfo de confusões. Como diz no livro de Dom Quixote de La Mancha, Sancho Pancha, ao governar Bravatária, Dom Quixote se voltou e perguntou: “E aí, Sancho Pancha, como é governar? Ele disse: “É um golfo de confusões”.

            Mas tenho motivos de satisfação. Fé sem obras já nasce morta. A minha é com obras. Saí do meu templo de trabalho, a sala de cirurgia, onde essas mãos guiadas por Deus salvavam aqui e acolá, numa Santa Casa de Misericórdia. Aí o destino me fez trilhar esses caminhos da política, tortuosos, mas a minha vocação primária é de médico, cirurgião de Santa Casa. E, de repente, eu era Governador do Estado do Piauí. E, com muita coragem, Augusto Botelho - e te ensinaram, até o Luiz Inácio. Depois de Deputado Estadual, elegeram-me Prefeito da minha cidade.

            Augusto Botelho, você sabe que eu tive foi medo. Esse negócio, a gente tem medo. Eu fui muito feliz como cirurgião, tive muitas possibilidades de estudo, e fui um cirurgião muito bom. Tive todos os cursos que você imagina. Fui para a minha cidade porque queria mesmo tomar conta de uma Santa Casa de Misericórdia. Propostas inúmeras, inclusive para Brasília, quando eu, recém-formado, nesse hospital do Ipase eu fiz pós-graduação e mestrado com servidores do Estado, com o Professor Mariano de Andrade...

            E, de repente eu fui Deputado, o povo me elegeu Prefeito da cidade.

            Augusto Botelho, eu tive medo, medo, medo. Mas eu tenho minhas crenças em Deus, no estudo, no trabalho, no amor. Então, eleito, já se aproximava o dia de tomar posse, e eu com medo. Aumentava o medo, e eu dizia comigo: “E agora, Mão Santa?” Estava tão bom na Medicina, cirurgião com grande prestígio na profissão. E agora? Vai é se lascar!

            Aí eu me debrucei nos livros, de madrugada, a estudar. Deixava a Adalgisa dormindo e ia para a bibliotecazinha estudar. Como nós aprendemos a estudar no nosso curso! Mas, dessa vez, eu estudava Administração. E, a cada dia que passava e se aproximava a posse, eu tinha mais medo. “E agora eu vou é me lascar, ser prefeito, de cirurgião pra prefeito, uma vida totalmente diferente, não é?”

            Lá pra madrugada, eu encontrei um livro, de Best&Taylor, depois de ter lido muitos livros, desde o primeiro, de Administração, de Henri Fayol, desde o DASP, de Wagner Estelita, sobre chefia e liderança, no governo da ditadura de Vargas.

            Mas aí, lá na madrugada, eu peguei um livro, depois de já ter estudado muitos, desesperado, com medo, um mago da Administração, Best&Taylor, capa amarela - outro dia encontrei um num sebo e revi. Aí, quando eu estava com medo, ele lá diz que administrar é fácil, é como o cirurgião: tem que ter coragem, tem que saber começar, terminar, tem que saber trabalhar em equipe, tem que realizar; num planejamento: designar, orientar, coordenar e controlar, como ensinou Henri Fayol. Isso o cirurgião tem na alma. O pré-operatório é o planejamento, não é? O transoperatório é a obra, e o pós-operatório que a gente faz é o controle. Está nos princípios de Administração: planejar, designar, coordenar, orientar e fazer o controle.

            Aí eu vi que, por isso, Juscelino tinha dado certo, e também um Governador do meu Estado que morreu aqui discursando, Dirceu Arcoverde, médico-cirurgião, que tinha sido tão bom. Aí eu tomei coragem. Era um cirurgião, ele dava os exemplos com os cirurgiões. Tem que começar e terminar. E nós, cirurgiões, numa anestesia, numa ráqui, tem que saber começar e terminar. É o mesmo com as obras. Aí, eu fui com coragem!

            Fui um Prefeito bom, muito bom, tanto que, dois anos depois, fui Governador do Estado, contra tudo e contra todos: 4 prefeitos, contra 141 do meu Estado. Na minha cidade, eu tive 93,84% dos votos contra o Governador, contra o Prefeito. E governei.

            Mas a maior obra que eu fiz - e eu digo para o Augusto Botelho se chegar a governar, com as suas virtudes, o seu Estado - foi plantar a semente do saber.

            Talvez eu ganhe aí o pódio, a medalha de ouro: o maior desenvolvimento universitário deste País. Deus me permitiu criar 400 faculdades, 36 campi universitários em cidades do interior. O vestibular, o último que presidi, 65 mil brasileiros sonharam em ser doutor no Piauí. Oferecia 13 mil vagas. Bastou para um quarto disso. E, entre elas, eu criei a primeira faculdade de Fisioterapia.

            Deus prepara os homens. Augusto Botelho, já Governador do Estado, a minha mãe, com quase 83 ou 84 anos, teve uma fratura de colo de fêmur e precisou de fisioterapia. Nós não morávamos na capital, mas em Parnaíba, e eu ia e via aquele sofrimento da minha mãe. É Deus preparando e dando um sinal. Realmente, ela tinha o filho Governador; o outro, mais poderoso, Presidente da Federação da Indústria e do Comércio; o outro, Diretor da Sudene; uma professora; a outra, no serviço social do Sesi. Ela tinha os filhos que podiam...

            Mas eu vi ali, no sofrimento da mamãe, como era caro uma recuperação. Ia governador, ficava ela rezando as Ave-Marias, e eu vendo os fisioterapeutas. As enfermeiras se revezavam, a fisioterapia... e como era caro! Mas os filhos dela podiam. Inclusive eu, que era o Governador do Estado, o mais novo, os outros mais poderosos. Mas eu via ali aquele sofrimento: fisioterapia e tal.

            Tive, então, uma bursite, no interior, e o Secretário de Saúde, Dr. Paulo Lage, me levou ao Dr. Marcelino Martins, fisioterapeuta e acupunturista. Eu, conversando com ele - com o quadro ainda da minha da minha mãe, Governador do Estado -, uma bursite. Deu uma injeção, ele fazia fisioterapia e acupuntura também, uma mistura, ele sabia misturar. Eu fiquei tão satisfeito e perguntei: “Marcelino Martins, e os honorários?” Ele: “Ah, eu não vou cobrar de você”. Aí, conversando com ele, eu perguntei... Eu pensei que o Piauí tinha uma Faculdade de Fisioterapia, porque a Federal, a Estadual eu estava fazendo crescer, a ser uma das mais importantes do Brasil. E ele disse que não tinha, e eu fiquei surpreso, porque, na minha concepção, a Universidade Federal teria. Ele disse que não. Eu disse: Pois, eu vou lhe pagar melhor. Nós vamos criar uma faculdade de fisioterapia e você vai ser o diretor. Aí, criamos. Eu vendo o sofrimento. E expandiu-se. Só se fazia fisioterapia no Hospital Getúlio Vargas, na capital. Aquele sofrimento do interior. E o Piauí, que é longo e comprido, uma pessoa necessitando... Porque a gente tem a impressão que só velho precisa. Não é não! Acidente vascular cerebral dá em jovem. Aqueles mutilados, com poucos anos, os acidentados, ir para a capital? E aí nós criamos. O Marcelino Martins criou.

            Agorinha, eu recomendava ele para o Senador Mauro Fecury, que ele está com problema. “Rapaz, ali está o Maranhão. É um espetáculo”. Ele diz que vai telefonar. O nosso Senador, com problema.

            Mas essa faculdade foi elogiada, e eu a acompanhei como Governador. Senador Augusto Botelho, aí eu expandi o centro de fisioterapia numas dez maiores cidades do Piauí, inclusive, a primeira na minha cidade - Mateus, primeiro os teus.

            Pois, o Dr. Valdir Aragão acabou de telefonar que o Governo, o Governo do PT lá está fechando a fisioterapia do interior. Por isso, que eu digo: “Livrai-nos”. Por isso, que eu rezei. Olha, a gente só faz uma vez na vida: nascer e morrer. Por essas coisas... Não é nada contra Luis Inácio, que eu votei nele.

            Mas o Dr. Valdir Aragão, que simboliza trabalho, foi professor universitário, ajudou-nos a implantar na Parnaíba uma Faculdade de Enfermagem, de Odontologia, acompanhava esses instrumentos de saúde, fisioterapia. Eu não ia falar hoje. Telefonou aí. Estão fechando. Aí eu digo. Aí é que o Luiz Inácio vai ter a decepção. Este PT... Ontem nós vimos o Flávio Arns, o Flávio Arns, Flávio desabafar o que assiste e o que vê.

            Então, é isso. Então, eu venho aqui pedir ao Presidente da República, na sua generosidade, na sua sensibilidade. Uma vez ele me contou e disse: “Tome conta do meu menino”. Mas o menino dele é travesso. O menino mente. O menino não tem visão.

            Então, é isso. O Dr. Valdir Aragão me telefonou. Eu disse: “Rapaz, isso é muito paroquial. Tem que ser os Deputados Estaduais”. Mas eles cooptaram. É naquele regime de uma dependência que não se clama. Eu digo: “Rapaz, não fica nem bem. É paroquial”. Mas eu não podia deixar o povo a sofrer. Se Parnaíba, que é a melhor, está nessas condições - defasada, fechando, sem condições -, avalie as outras cidades. E isso eu sei.

             Então eu venho aqui pedir ao Presidente da República sensibilidade que falta ao Governador do Piauí. É muita ignorância! A ignorância pensa que comprando os meios de comunicação. Está entendendo? Todos, todos, todos, cooptando o Poder legislativo porque não tem praticamente Oposição.

            Mas eu venho falar em nome dos que sofrem. Eu relembro aqui a minha mãe. Peço até aos céus, a Deus, com quem ela está, que haja um movimento das lideranças, principalmente da Assembléia do Estado do Piauí.

            Fui Deputado Estadual na ditadura. Éramos 24; tinha uns 6 extraordinários deputados oposicionistas. Tinha uns seis. Quem não se lembra de Oscar Eulálio? Quem não se lembra de Temístocles, o pai? Quem não se lembra, vamos dizer, de Bruno dos Santos? Quem não se lembra Elias Ximenes do Prado? Quem não se lembra de todos os outros. Deoclécio Dantas. Havia um lá de Floriano, farmacêutico, um grande orador. Quer dizer, na ditadura tinha 6 bravos e 24 oposicionistas.

            Então, nós esperamos que dê um grito, um clamor, primeiro no Poder Legislativo da Parnaíba, uma Oposição para não deixar fechar a fisioterapia dos nossos deputados.

            O exemplo daqueles que foram Oposição, grandiosos Deputados, no próprio regime da ditadura.

            E o grande líder, que foi ícone desse movimento, o Dr. Marcelino Martins, advertia que, quando criamos a faculdade, nós, com a nossa visão de futuro, criamos também um ambiente de trabalho, um campo de trabalho para os fisioterapeutas.

            Então essas são as nossas palavras em defesa dos que sofrem. Que o Ministro da Saúde, o Presidente da República, não deixem desamparados os que sofrem, os que sentem essa desgraceira denunciada aqui pelo médico Dr. Waldir Aragão, o fechamento da Clínica de Fisioterapia na Cidade de Parnaíba.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2009 - Página 37778