Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre discurso do Senador Aloizio Mercadante, no qual S.Exa. decide permanecer na Liderança do Partido dos Trabalhadores. Análise sobre o não recebimento pela Mesa do Senado do recurso contra o arquivamento de representações envolvendo o Presidente José Sarney.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Manifestação sobre discurso do Senador Aloizio Mercadante, no qual S.Exa. decide permanecer na Liderança do Partido dos Trabalhadores. Análise sobre o não recebimento pela Mesa do Senado do recurso contra o arquivamento de representações envolvendo o Presidente José Sarney.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 22/08/2009 - Página 37943
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, SENADO, DIVERGENCIA, LIDER, BANCADA, PRESIDENTE, DIRETORIO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PROPOSTA, AFASTAMENTO, JOSE SARNEY, CONGRESSISTA, PRESIDENCIA, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CRITICA, EXCESSO, INTERFERENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, RESISTENCIA, LIDERANÇA, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR.
  • CRITICA, PRESIDENTE, SENADO, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, POLICIA FEDERAL, TENTATIVA, OBSTACULO, TRANSMISSÃO, TELEVISÃO, REUNIÃO, CONSELHO, ETICA.
  • JUSTIFICAÇÃO, REGIMENTO INTERNO, POSSIBILIDADE, RECURSO REGIMENTAL, PLENARIO, DECISÃO, COMISSÃO DE ETICA, CRITICA, MESA DIRETORA, REJEIÇÃO, MATERIA, ANUNCIO, RENOVAÇÃO, RECURSOS, ENCAMINHAMENTO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TRATAMENTO, SAIDA, MARINA SILVA, FLAVIO ARNS, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AVALIAÇÃO, SUPERIORIDADE, PERDA, ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, SUCESSÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, em primeiro lugar, levo meu carinho ao Senador Mercadante. Sinto o peso da sua decisão, da sua meditação. Queira Deus que ele seja feliz nessa sua nova missão. Justiça seja feita: o Senador Mercadante, em toda essa sua caminhada, defendeu a tese de que seria importante o Presidente Sarney se afastar, ainda que se licenciando, e que se apurassem os fatos. Essa tese, o Senador Mercadante fez com que a bancada adotasse, e a sua bancada a adotou. Em duas notas, essa foi a tese defendida pela bancada do PT, sob orientação do seu Líder.

            Surpreendentemente, uma nota do Presidente do Partido determina à bancada uma posição contrária.

            O Senador Mercadante, na reunião do Conselho de Ética, quando o Senador Suplicy, fiel a sua tradição e a sua história, dizia que, se ele votasse, se chegasse a ele a oportunidade de votar, ele votaria com a tese da bancada, ele votaria pela aceitação das indicações para que fossem apuradas, naquele momento, o Senador Mercadante pediu a palavra e fez questão de dizer que o pensamento do Senador Suplicy representava o pensamento da bancada e o seu pensamento.

            Eu falo com profunda sinceridade: por que chegamos à situação em que estamos neste momento? Uma sexta-feira melancólica, parece até uma Sexta-Feira Santa ou um Dia dos Mortos.

            A Mesa, ontem, em uma atitude estranha... Um grupo de dez Parlamentares, entre os quais eu próprio, recorreu da decisão do Conselho de Ética. O Presidente Sarney - é compreensível - passou ao Vice-Presidente a decisão. O Vice-Presidente não estava, e a 2ª Vice-Presidente indeferiu.

            Primeira pergunta que eu faço é se havia essa urgência urgentíssima. Havia essa urgência urgentíssima? A não ser aquela de que se queria sepultar, de uma vez por todas, essa matéria. E a Mesa já entrou em novas teses, inclusive a reforma do plenário. Primeira grande decisão do Presidente Sarney e de sua direção, em seu início de mandato: vamos reformar o plenário. Que a opinião pública fique sabendo: nós vamos reformar o plenário. Vamos mudar! Vamos ter transformações profundas...

            Houve uma época em que o Camata, o Senador Camata, apresentou uma mudança no Regimento para terminar com a gravata e o paletó. Dizia o Senador Camata que isso era ridículo, que isso veio lá da Europa, da França, de países com um frio intenso; agora, nós, nesse calor enorme, todo mundo aqui com gravata e paletó... Vamos tirar! Eu vim a esta tribuna para dizer que eu era contrário, radicalmente contrário. O Senador Camata ficou me olhando, estranhando. Eu disse-lhe: “No futuro, até concordo. Mais adiante, Senador Camata. Hoje, não”.

            Se nós tirarmos a gravata e o paletó, o que sobra da tradição do Senado? O que nós temos, hoje, no Senado é a gravata e o paletó! Esta é a nossa tradição, quer dizer, o Senador da República... Se nós aparecermos aqui em mangas de camisa e de bermuda, não sobra nada.

            Com toda a sinceridade, o que eu dizia aqui, há um mês, de que cabia ao Presidente José Sarney ter a grandeza de se licenciar, e nós conduziríamos este processo com a tranquilidade necessária... É importante salientar: não foi nenhum Senador, não foi nenhum Deputado, não foi nenhum Líder, não foi o Estado de S. Paulo, não foi nenhum jornal que fez as denúncias contra o Senador Sarney. Isto é muito importante - e até muito engraçado. As denúncias saíram da Polícia Federal do Governo Lula. Do Governo Lula. A Polícia Federal vazou as informações para a imprensa, uma depois da outra. Uma depois da outra, foram aparecendo. Não foi nenhum Senador. O que o Senador Arthur Virgílio, Líder do PSDB, fez foi ler da tribuna as denúncias publicadas pelo Estado de S. Paulo, vazadas pela Polícia Federal.

            Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez; e lá se vai! Até que conseguiram. Ó Justiça brasileira! Um desembargador de Brasília voltou à época da ditadura e estabeleceu a censura. E essa decisão, até agora, não anda. O desembargador que examinou o recurso pediu vista. Agora, pode andar.

            O Senador Sarney preferiu enfrentar. Vai ficar marcado; vai ficar marcado na história deste Senado, porque não houve na história deste Senado uma intervenção tão grosseira, tão ridícula, tão incompreensível como a do Presidente Lula nesta Casa.

             Quando, no Conselho de Ética, passaram a acusar o Presidente do PT pela nota que ele mandou... Nem sei quem é o Presidente do PT! Mentira, claro que sei, mas ele não tem nenhuma responsabilidade. Ele fez o que o Lula mandou.

            Que posição fantástica do Presidente Lula nesse episódio! Que triste posição!

            Mas o Governo tem maioria ampla no Conselho de Ética. Ampla!

            O que a gente queria? Que o Conselho de Ética analisasse. A gente já sabia que o Conselho de Ética haveria de absolver o Presidente Sarney, mas que analisasse. Esta era a tese do Líder Mercadante: que se analisasse, que se investigasse.

            Reparem que o Senador Arthur Virgílio, por conta própria, independentemente de pedirem arquivamento - o Presidente pediu para arquivar -, fez questão de ir à tribuna e se defender. E fez uma análise, fez uma exposição do que ele era acusado e sua defesa.

            Por que o Presidente Sarney não fez o mesmo? Mas por que o Presidente Sarney não deu a esta Casa a oportunidade de sair com dignidade, que era a nossa proposta, a proposta de todos, a proposta da bancada do PT? Ele que expusesse, ele que analisasse, ele que explicasse, ele que dissesse: “Não, a Polícia Federal mentiu, não é verdade! Não, o Estadão... Não é verdade! Não sou o presidente perpétuo, sou o presidente de honra. Não tenho nada que ver com a fundação lá do Maranhão”. Ele podia ter dito isso, ele podia explicar.

            Ele podia explicar aquela reportagem que a TV Globo veiculou, do diálogo entre a neta e o filho. Poderia dizer o que era aquilo e que ele não tinha nada a ver com aquilo. Ele podia ter explicado.

            Ele tinha obrigação de explicar a questão referente ao seu neto.

            Tenho uma inveja cristã. Tenho dois filhos e não tenho neto. Quatro filhos, mas dois, formados. Como eu gostaria de poder dizer que meu filho se formou em Harvard, com curso de especialização na Sorbonne! Um rapaz com todas as condições de ter um futuro fantástico. Colocar o rapaz numa operação aqui, do Senado Federal! Ele tinha condição de explicar que ele não teve nenhuma participação nisso. Mas arquivar! E concordar com o arquivamento!

            Poderia fazer o que fez o Líder do PSDB. O Líder do PSDB, independentemente, exigiu, falou e fez a sua exposição. Por que o Presidente Sarney não fez isso? Por quê? Qual é a razão pela qual ele não fez isso?

            Marcar reunião do Conselho de Ética para a mesma hora de uma sessão no plenário, para que a TV Senado transmitisse a sessão do plenário, o que consta do Regimento, e não transmitisse a reunião do Conselho de Ética! E, quando a Comissão de Justiça criou uma comissão para falar com o Presidente Sarney para ele entender e suspender a reunião do Conselho de Ética e marcá-la para mais tarde, ou suspender a sessão do plenário, ele não quis nem receber a comissão! Tinha um jantar ou um almoço com o Presidente da República. Tivemos que fazer uma operação, que deu certo: suspendemos a sessão. Pedimos a votação e suspendemos a sessão no plenário, e a TV Senado transmitiu a reunião.

            E esta? Um grupo de dez Senadores faz um recurso para vir ao plenário. Houve uma modificação no passado, uma modificação que diz o seguinte: as decisões do Conselho de Ética encerram-se no Conselho de Ética. Não tem recurso para o plenário. Isso passa pela cabeça de alguém? Isso foi votado nesta Casa, Sr. Presidente. Um acordo de líderes. Um acordo de líderes! Eu não sabia; fiquei sabendo agora! Votou-se en passant - eu nem estava no plenário - uma decisão dessa natureza.

            Só tem uma coisa: pode o Regimento do Conselho de Ética dizer, pode o Regimento do Conselho de Ética mudar e dizer que não cabe recurso; mas o Regimento do Senado diz o seguinte: de todas as Comissões, cabe recurso ao plenário. De qualquer decisão de qualquer Comissão, cabe recurso ao plenário. E o que é a Comissão de Ética? É uma comissão. Dessa comissão cabe recurso ao plenário.

            É evidente! E o Presidente Sarney corre o risco de perder novamente. Ele já perdeu lá no Supremo quando não deixou criar a CPI. Não deixou criar a CPI, e o Presidente do Supremo mandou que ele criasse a CPI. Ele foi obrigado a criar. E esse assunto vai terminar no Supremo.

            Se tem um artigo no Regimento Interno que diz que de todas as comissões cabe recurso ao plenário, como é que da Comissão de Ética não vai caber? E uma Comissão de Ética que foi criada no meio da crise, quando as pessoas, por um lado e por outro, já entraram marcadas, compromissadas. No meio disso, a decisão da Comissão de Ética não vir para o plenário?

            E o Presidente Sarney, com uma rapidez total - mas por que essa rapidez quando todo mundo está vivendo a tensão, o drama e a dificuldade, todo mundo ainda está tenso e nervoso -, recebe o pedido de recurso, pede para entregá-lo ao 1º Vice. O 1º Vice, sabe-se, não estava aqui, e entrega-se para a 2ª Vice, e a 2ª Vice manda arquivar. Não recolhe nem para o plenário da Mesa. Nem a Mesa pode decidir. Toma a decisão por conta própria.

            Vai haver recursos para o plenário e no Supremo.

            Eu disse aqui, Sr. Presidente, quando eu e o Senador Jefferson Péres entramos no Supremo porque o Presidente Sarney mandou arquivar, não deixou criar a CPI, que nós íamos ganhar. Foi uma vergonha. Pela primeira vez na história, o Supremo mandou criar a CPI, e o Sr. Sarney foi obrigado a criá-la.

            Eu digo aqui: se não deixarem vir para o plenário essa decisão, o Supremo vai mandar vir, porque se está lá o artigo no Regimento Interno dizendo que de todas as comissões cabe recurso ao plenário, por que da Comissão de Ética não cabe? Mas decidir correndo? Correndo? Precisava isso? Não sei.

            O Presidente Lula, não sei se o jornal está confirmando, vai ao Acre hoje. O Presidente Lula vai ao Acre hoje.

            Olha, ilustre Presidente Lula, o que eu vejo nos pronunciamentos de Vossa Excelência é algo muito sério: a soberba. Vossa Excelência tem coisas positivas, eu sou o primeiro que tenho dito isso, realizações concretas, e eu sou o primeiro que tenho dito isso, mas a soberba está, realmente, indo ao clímax. Olha, eu não sei para onde Vossa Excelência quer ir, mas a grosseria com que Vossa Excelência tratou essa questão: “A Marina e eu temos uma amizade que vai além de partido político”, “O Senador do Paraná é muito encrenqueiro; se quer sair, que saia”!

         E, agora, vai ao Acre. Eu acho uma atitude grosseira de Sua Excelência. Por que ir ao Acre?

            Pois não, Senadora.

            A Srª Marina Silva (Sem Partido - AC. Fora do microfone.) - Senador...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É impressionante como eu e as pessoas com quem tenho conversado... Tenho recebido a manifestação, a presença e a possibilidade - que V. Exª, inclusive, disse que ainda não raciocinou, nem decidiu - de uma candidatura sua.

            Neste Brasil em que nós vivemos, V. Exª é uma figura muito rara. Muito, muito rara. Eu sempre digo: V. Exª é um Lula muito melhorado. Nasceu em condições mais difíceis do que o Lula. O Lula, guri, veio para São Paulo, teve as chances, cursou o Senai e abriu a carreira de líder sindicalista. V. Exª estava ali, no seringal, 16 anos, analfabeta, sua saúde prejudicada, e entrou numa luta. Chico Mendes, V. Exª... Uma menina, 16 anos! Analfabeta, tinha ideia, tinha princípio e construiu um futuro. Ali, com Chico Mendes, criou, no Brasil, a mentalidade do desenvolvimento sustentável. Contra tudo, contra todos, V. Exª foi adiante. Vereadora, entrou no PT com um grupo extraordinário de pessoas que entraram no PT.

            Sim, V. Exª tinha o seu sonho e, de corpo e alma, lutou por ele. Na hora da oposição, quando V. Exª iniciou a sua caminhada, não passava pela cabeça de ninguém que nem PT nem Lula chegariam à Presidência da República. Seria muito mais normal que fechassem, que terminasse todo mundo na cadeia ou coisa parecida. V. Exª foi. Foi para o Ministério, suportou situações agressivas como aquela... Onde é que está o Ministro coordenador da Amazônia? Onde ele foi parar? Entre a Ministra do Meio Ambiente e o ilustre cidadão que de Harvard veio e para Harvard voltou, o Presidente Lula entrega a chefia da coordenação àquele rapaz. E V. Exª saiu. Mas tentou lutar, até o momento em que V. Exª viu que o caminho era a saída.

            Olha, eu tenho lido, tenho visto e tenho recebido telefonemas dos velhos companheiros do PT, que estavam lá na sua formação. É triste ver a mágoa que eles estão sentindo.

            Ontem, na Globo News, teve um debate entre o Deputado Mentor e o professor Chico de Oliveira. O professor Chico de Oliveira foi às lágrimas ao se referir que, com V. Exª, saíam do PT os princípios da ética e da seriedade. E o Mentor dizia: quem quer sair, saia, o partido continua crescendo.

            Ir ao Acre hoje? Imagino o discurso que o senhor...

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF. Fora do microfone.) - Amapá.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele vai ao Amapá ou ao Acre?

            A Srª Marina Silva (Sem Partido - AC) - Como?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Lula, aonde vai hoje?

            A Srª Marina Silva (Sem Partido - AC) - Ao Acre.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ao Acre. É ao Acre, também. Ir ao Acre hoje? Parece que estou vendo: “Meus amigos, a minha amizade com a Marina vem de longe, não é partidária, é muito profunda. Mas ela segue o seu rumo”. E ele fica com o Sarney.

            O PT viveu o seu dia trágico. Sai a Marina e sai muita gente. Nós vivemos agora o novo PT: o PT do ufanista Lula, do Presidente Sarney, do Renan, do Collor, o PT pragmático, o PT que vale tudo. Pobre MDB! Diz o Lula que fez tudo isso, porque, tendo o Sarney com ele, ele terá o MDB. Então, vale a pena.

            A Marina caiu fora. A maneira ridícula com que ele se referiu ao Senador Arns, que representa os velhos líderes das comunidades de base, que foi onde o PT iniciou, sob o comando de Dom Evaristo Arns, que transformou as comunidades de base em núcleos do PT.

            Sei que Dom Evaristo está doente, não está bem, mas eu pedi, eu gostaria de fazer uma visita a ele. Pedi e gostaria muito de visitar o Dom Evaristo. Gostaria de saber o seu pensamento, ele, que participou tanto daquele momento, como ele vê esse novo PT, sem os ambientalistas, sem os intelectuais, sem as comunidades de base. Lá estão os líderes sindicais, lá está a CUT. Mas não é a CUT querida, da luta, da resistência; da CUT que me lembra, na época do PTB, agarrada nos cargos, os chamados pelegos sindicais. Só que agora é muito diferente. Agora, os homens da CUT estão na Petrobras, no Banco do Brasil, nos cargos mais importantes e mais influentes deste País.

            Com prazer, querida Marina.

            A Sra. Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Senador Pedro Simon, em primeiro lugar, quero agradecer a forma respeitosa e amorosa com que V. Exª se dirige a mim. Este é um momento, de fato, muito difícil. Acho que um grupo de Senadores tem tentado dar uma contribuição aqui, nesta Casa, entendendo o que é melhor para a sociedade brasileira, o que é melhor para o Congresso, particularmente ao Senado, e o que é melhor, no nosso entendimento, para o próprio Presidente José Sarney. Advogo a idéia de Shakespeare que diz que o contrário de injustiça não é justiça, é amor. Toda justiça que não se pratica com amor, não é justiça, é vingança. E o que nós queremos - e eu particularmente quero - com relação à proposta que encaminhamos, de afastamento temporário do Presidente Sarney, tinha um princípio de justiça baseado não em vingança, mas naquilo que as instituições devem fazer e a sociedade deve fazer para reparar os erros. Infelizmente, nós estamos na situação a que chegamos: um grupo de onze Srs. Senadores, inclusive eu, assinaram um recurso ao plenário da Casa. Eu espero que ele prospere, para que, de acordo com essa visão do que é melhor para o Brasil, do que é melhor para o Congresso e do que é melhor para a figura histórica do próprio Presidente Sarney, se dê um encaminhamento à altura da crise que nós estamos vivendo. Durante esse processo, doloroso, de tomada de decisão de sair ou não do Partido dos Trabalhadores, muitos dos jornalistas que nos acompanham no dia a dia me perguntavam: “Senadora, sua decisão é em função desse episódio?”. Eu não gosto de fazer o discurso fácil, o discurso populista, que muitas vezes somos tentados a fazer para ganhar ponto com a sociedade. Eu disse: a crise é grave, há um problema grave que precisa ser resolvido, mas a minha decisão está ligada a uma questão mais ampla do que a crise, que é o que pensamos para o Brasil como um todo, um projeto de desenvolvimento sustentável que atenda às questões sociais, econômicas, culturais e políticas, incluindo a reforma política, que pode dar um encaminhamento estruturante para a crise que nós estamos vivendo. Eu, no momento oportuno, vou me pronunciar dessa tribuna, após esse processo que vivenciei. A decisão tomada pelo Senador Aloizio Mercadante... Eu acabo de chegar do Estado do Pará. Ouvi o Senador Mercadante. Tentei chegar aqui a tempo para fazer-lhe um aparte e dar o meu testemunho do quanto, dentro da bancada, ele se esforçou para manter uma posição que é essa que acabei de mencionar, por entender ser a melhor para o Congresso, ser a melhor para o Brasil e, inclusive, para a governabilidade, porque a governabilidade não se estabelece a qualquer custo e a qualquer preço. Quando ela acontece dessa forma, pode prejudicar a própria governabilidade. O que eu ia dizer ao Senador Mercadante é que eu respeito a decisão dele. O que ele expôs aqui só demonstra a dificuldade que teve de enfrentar essa questão, pelas relações, a conversa que teve com o Presidente, a carta que recebeu. Respeito e vou me reservar a dizer para ele o que penso desse episódio, porque ele é uma figura pública que tem dado uma grande contribuição para o Brasil e que não merece passar o que está passando. Este é um testemunho que eu quero dar. Também para dizer que minha posição política continuará sendo a mesma, de não ir pelo discurso fácil. Quando o Sr. Fernando Henrique era o Presidente da República e eu aqui desta Casa, na minha agenda, em alguns momentos, alguns companheiros sugeriam que eu não encaminhasse algumas matérias que eram muito difíceis para mim. Eu entrava nos lugares e era vaiada, agredida, por causa da medida provisória que ampliou a reserva legal. Nunca me esqueço, lá em Rondônia, de uma audiência pública em que todos gritavam e me vaiavam. Eu imaginava que, se descesse, possivelmente seria estraçalhada, embora fosse apenas uma pessoa. De toda a bancada do governo que estava lá, não tinha um para defender a posição de ampliar a reserva legal. Eu, da oposição, estava defendendo. As pessoas diziam: “Por que você está defendendo? É o Governo do Fernando Henrique, você está se queimando”. E eu dizia: “estou defendendo porque a posição é correta; defendo porque eu também faria a mesma coisa se estivesse no governo”. Eu acho que é isso fazer política pensando naquilo que é melhor para o Brasil, e não naquilo que é melhor para as circunstâncias que a gente está vivendo ou com a qual se quer faturar. A mesma posição eu vou manter aqui em relação ao Presidente Lula, porque não é uma questão de circunstâncias. Hoje, meu querido Senador Simon, tem uma matéria no jornal O Globo que não foi feita por nenhum desses jornalistas que nos acompanham aqui. Foi um correspondente lá do Estado do Pará que colocou na primeira página algo que é inteiramente incoerente com tudo o que eu disse e coloquei na carta que assinei embaixo. A manchete é a de que eu disse que o Governo é insensível para as questões sociais. E pega uma série de frases de uma palestra que dei, em um contexto de uma análise que eu faço da Amazônia, da questão das hidroelétricas, e as coloca ali. Digamos que, quanto às frases pinçadas, mal direcionadas, ainda vá lá! Mas dizer que eu, Marina Silva, disse que o Governo do Presidente Lula é insensível às questões sociais! Eu que já disse, inúmeras vezes, desta tribuna e em todas as manifestações que fiz, que foi a melhor política social que tivemos; que saímos de R$8 bilhões para R$30 bilhões investidos em política social; que precisamos fazer ajustes em relação à porta de saída, mas que só é possível porta de saída hoje porque teve uma porta de entrada. Eu não sei qual é o objetivo do jornalista, se é mostrar que sou uma pessoa incoerente ou completamente ignorante de dizer uma coisa no Pará achando que não viria para cá. Eu não disse aquela frase, não disse daquele jeito, e já pedi aos organizadores do evento, que gravaram toda a minha palestra, que me mandem as fitas, porque vou mandar uma carta para o jornal, que sempre me trata com respeito, assim como os jornalistas que aqui fazem a cobertura, porque confesso que não entendi. Por que estou dizendo isso? Porque saí do Partido dos Trabalhadores, mas compreendo todos os avanços que tivemos. Mas não consigo compreender os retrocessos que estamos vivenciando agora. E devo dizer, Senador Pedro Simon, que estou muito impactada com tudo isso que está acontecendo, porque a mudança com que o Brasil tem sonhado e tem buscado tem a contribuição do Partido dos Trabalhadores, do Presidente Lula, de tantas pessoas, e não podemos perder o rumo em relação a isso. A governabilidade, o ganho das eleições não é apenas um cálculo eleitoral de quantos palanques se terá nos Estados e Municípios, quanto tempo de televisão, quantos apoiadores. Terá que ser mais que um cálculo, terá que ser um olhar para os brasileiros, que, com certeza, irão cobrar de cada um de nós aquilo que estamos fazendo aqui ou em outros lugares. De sorte que quero cumprimentar V. Exª, agradecer pelo apoio respeitoso, agradecer - no meu pronunciamento vou me referir à bancada - todo o acolhimento. Mas eu queria fazer este aparte a V. Exª para dizer que, antes de ser filiada ao PT, eu já era do PT lá nas comunidades de base. E é em nome dessa trajetória que eu vim aqui dar um abraço no meu companheiro, o economista Aloizio Mercadante. Em muitos momentos dessa trajetória, quando eu não tinha respostas para as equações que nos eram colocadas sobre política econômica, era ele que tinha a coragem de vir a público e defender as nossas teses; teses que foram mudadas, ressignificadas, e que, hoje, estão dando uma contribuição à altura do que é o Brasil, ainda que precise de mais aperfeiçoamentos. Mas, com certeza, esta crise que nós estamos vivendo terá reflexos, desdobramentos profundos na história do Brasil, da democracia, do Congresso Nacional. Eu não sei como podemos sair desta crise, mas os eleitores do Brasil terão a oportunidade de nos fazer sair dela em 2010. E, ontem, no debate com os jornalistas, porque era um encontro com jornalistas, eles me perguntaram: “Senadora, que pauta a senhora sugeriria?”. E eu disse que minha sugestão é que as pessoas começassem a perguntar para os eleitores qual é o Senador ou o Deputado que eles querem ver aqui em Brasília, porque as pessoas, às vezes, não fazem esse vínculo. Escolhem baseadas nos interesses locais, baseadas nos interesses imediatistas, e depois ficam cobrando que, aqui, no Senado, tenhamos o grande debate, os maiores e melhores representantes. Se essa ligação não for feita na hora da escolha, nunca vamos ter as pessoas que o Brasil precisa ter nessa tribuna, como está agora V. Exª. Muito obrigada.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu já estou vendo, ainda que seja só em dois minutos: esse tom da Senadora Marina numa candidatura a Presidente da República vai marcar fundo. Porque é isso que o povo está esperando. O povo cansou do PT, do PSDB, daquele “Lula e não Lula”. O povo quer uma mensagem de fé, de amor e de esperança. Meus cumprimentos! V. Exª, sem querer - mas a imprensa vai publicar -, deu uma mensagem do que seria V. Exª candidata à Presidência da República.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, para mim, o mais importante do que disse a Senadora Marina é a idéia de um olhar diferente ao futuro. É isso que caracteriza a fala dela ao longo de todo esse período. E é isso que fez com que o Senador Mercadante não renunciasse. Ele manteve o mesmo olhar que vem sendo utilizado pelo Presidente Lula, pelo Governo, pelo Partido dos Trabalhadores. E o Brasil precisa de um novo olhar para o futuro. Para mim, de todas as frases do Senador Mercadante, a mais impactante foi quando ele disse: “Isso não pode se perder na governabilidade”. Isso eram os sonhos do PT, ao longo dos anos em que ele participa do PT, e que foram perdidos, porque ele disse que o PT perdeu os sonhos. Ele disse. Eu já digo, há muitos anos, que o PT perdeu o vigor transformador, o gosto pelas mudanças do País; que perdeu ou mudou o olhar dirigido ao futuro. O olhar do PT, o olhar do Governo Lula é o olhar da aceleração em direção a esse crescimento enlouquecido que nós temos nas últimas décadas no mundo. O olhar da Senadora Marina não é o olhar da aceleração, é o olhar da inflexão da história do Brasil, onde o crescimento vem acompanhado da distribuição da renda, do respeito à natureza, do fortalecimento do sistema social. Eu até discordo da Marina quando diz que o Lula tem muita preocupação social. Ele tem muita preocupação com a assistência social. Ele é um Presidente da rede de proteção social, ele não é um Presidente da escada de ascensão social. Mas esse é um detalhe da nossa enorme identidade. Eu fiquei triste, como brasileiro, ao ver o Senador Mercadante ter trocado duas coisas, uma pela outra: ele trocou a chance de ser o grande líder de um novo PT, que some todas as qualidades do futuro com a maturidade do presente. Ele trocou isso para ser um líder sonâmbulo. Ele vai ser um líder sonâmbulo nesta Casa, porque ele vai ser o líder da aliança, Senador Augusto Botelho, com Renan, com Sarney. Ele vai ser o líder do diálogo com essas pessoas. Ele não vai ser o líder da transformação. Agora, se ele tivesse optado por deixar a liderança, aqui dentro, do PT - e continuado no PT, sim -, ele viria a ser o líder de um novo PT. E podem perguntar: por que eu e a Marina não tentamos isso? Porque nós não somos paulistas. A transformação do PT terá que vir de São Paulo. Pena que é em São Paulo, aparentemente, onde o PT está mais acomodado com o atual quadro de realidade, com o atual quadro da simples e pura aceleração! Aceleração que se defende desde o tempo de Juscelino. Os militares vieram para viabilizar a aceleração, para impedir as mudanças das reformas de base que, daqui, pela idade, o senhor e eu devemos ser dos poucos que ainda têm isso na cabeça. A ditadura veio para continuar a aceleração. E continuou, com muita eficiência, concentrando a renda, destruindo a natureza, deixando o povo abandonado. Não está muito diferente de hoje, salvo com a competência do Lula para fazer isso com mestria, aceleração com estabilidade monetária, continuando o que vinha antes. E também o aumento da generosidade - que para mim é uma qualidade, não é um defeito -, da generosidade com os pobres, graças à transformação da Bolsa Escola em Bolsa Família. A Bolsa Escola era um instrumento de transformação. A Bolsa Escola era uma escada social. A Bolsa Família é uma rede de proteção social. Agora, eu quero concluir, Senador, dizendo que, para mim, a causa de tudo isso é outro erro do PT. O PT transformou o maior líder que este País já teve, que se chama Luiz Inácio Lula da Silva, em um semideus. O PT não olha mais para o Lula como um líder, mas como um deus. O discurso do Mercadante mostra isso. Todos os argumentos que ele usou foram para renunciar. Todos, sem exceção. Agora, veio uma carta; e essa carta mudou todos os argumentos. Isso é como se a gente ouvisse um chamado de Deus. Um chamado de Deus vai contra todos os nossos argumentos, e a gente segue. Um chamado de Deus vai contra tudo o que a gente deseja, quer fazer, e a gente segue o chamado de Deus. Foi a sensação que eu tive com o discurso do Senador Mercadante. A transformação de um líder em deus ou semideus é um passo à tragédia na biografia desse líder e também na história do País, até porque é muito rápida a transformação de um deus em ditador. Às vezes há ditadores que não precisam usar armas, basta usar as cartas. Há ditador que não precisa de armas; usa a carta, usa o argumento, usa o carisma, mas sem o Congresso, sem o respeito às estruturas partidárias: ele, por cima de tudo isso, planando. Hoje, o que a gente vê é que nós somos governados pelo “Plula”, o partido do Lula. É o “Plula”, não é o PT, nem é também o PMDB. Ele conseguiu juntar tudo isso no “Plula”, e colocou, acima desse “Plula”, uma figura que paira como um semideus na vida política nacional. Claro que ele não conseguiria isso se não fosse um líder carismático, competente; se não fosse o senso de responsabilidade que tem tido e que faz dele um bom Presidente - salvo na política, em que nós regredimos. O Presidente Lula avançou na economia; avançou no social, do ponto de vista assistencial; deu, sim, uma inflexão positiva na política externa. Mas o Presidente Lula provocou um retrocesso político ao fazer com que o PT troque, como disse o Mercadante, os sonhos pela governabilidade; ao fazer com que os partidos deixem de ter fronteiras entre eles; ao fazer com que a ideologia seja motivo de riso; ao fazer com que não haja mais respeito a princípios. Isso é uma tragédia política. O Brasil pode até estar indo bem, mas está indo num mau caminho. Isto é o que a Marina representa: um olhar diferente. É o olhar de um futuro diferente. Aquele que diz: “Está indo bem”, mas para um lugar errado, não está vendo isso. Está indo bem, mas está continuando a concentração da renda, porque a distribuição que dizem aí, Senador Simon, é a mesma coisa que houve em 1851, quando se proibiu o tráfico dos escravos: era uma lei para inglês ver. A verdadeira distribuição é a escola igual para todos, é o fim da fila nos hospitais, é o sentimento de empoderamento do povo. Isso a gente não está vendo. A gente está vendo uma distribuição tênue de renda. Mas uma distribuição tênue de renda não muda a qualidade de vida do povo. Muda o nível de consumo, o que já é bom. Não sou contra, absolutamente, a generosidade. Não consigo ver um pobre sem dar esmola, apesar de ter feito uma grande campanha, como Governador, chamada “Não dê esmola, dê cidadania”. Criei um sistema para proteger os pobres. Mas não consigo... Então, nesse sentido sou favorável ao Presidente Lula. Ele tem uma dimensão de generosidade maior do que os de antes, os que vinham da elite, mas não adquiriu a ideia da transformação social para fazer uma escada social. Por quê? Porque, na sua cabeça, a pobreza se acaba fabricando-se mais automóveis. É um contrassenso para hoje, que servia há 50 anos: a gente faz mais automóveis, cria mais empregos, que geram renda, e esses trabalhadores podem até virar Presidente da República. Como ele. Isso foi há 50 anos. Hoje, não se tem emprego para se fazerem automóveis, são robôs que fazem. O emprego está lá nos Estados Unidos, onde se fazem robôs. É a indústria do conhecimento, que nós não temos; que não se tenta fazer no Brasil, porque ela só virá quando todos estiverem em boas escolas. Todos, porque cada um que não vai para a escola é um gênio perdido. Então, fiquei muito triste de ter perdido agora, mas não morreu ainda, a esperança que tenho de o PT vir a ser um grande partido, com todos os sonhos do passado e todas as experiências e bom senso do presente. Eu achava, quando estive aqui, de manhã, e ouvi o começo do discurso do Mercadante, que estava diante de quem poderia liderar essa reforma, mas ele não vai conseguir fazer isso, sendo o líder do diálogo com as forças mais retrógradas que há aqui, nesta Casa. Ele vai ser o líder do diálogo, não o líder da construção do novo. E aí concluo, lembrando o tema principal de seu discurso, que tem a ver com isto também: que ele vai ter que conviver, mesmo se dizendo contra, com a ideia de que é preciso arquivar denúncias. Mesmo dizendo que é contra, não há como ele não carregar nos braços e nas mãos a responsabilidade pelo fato de que foram três Senadores do PT que engavetaram a possibilidade de se analisarem as denúncias - porque não estava em jogo cassar ninguém. Ele vai ter que conviver com isso, e acho que é um desperdício numa pessoa que tem não só a experiência dele, mas também o que demonstrou aqui, que para mim é o mais importante hoje: a angústia dele. Essa angústia é que é a criadora do futuro. Essa angústia é que é a fonte do novo, mas se você estiver no lugar onde o novo pode surgir. E o lugar que ele escolheu não vai permitir, Senador Augusto Botelho, surgir o novo. Mais fácil surgir esse novo no lugar onde estiver Marina... E outros, que ainda espero que surjam candidatos, com um olhar novo, diferente. O problema, Marina - Senadora, desculpe-me -, a senhora disse corretamente: é tudo uma questão de para onde olhar e de que Brasil vemos lá adiante. Não estão querendo ver que é preciso um novo Brasil. Estão achando que basta corrermos depressa, rapidamente, aceleradamente, com o mesmo Brasil das oligarquias dessas décadas todas. Por isso, espero que candidaturas como a da Marina e outras que possam surgir, como a da Heloisa, tragam esperanças, para que a gente possa votar, olhando para um futuro diferente, e não apenas votar, olhando se as pernas estão acelerando bem.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu agradeço muito o aparte de V. Exª. Queria apenas fazer um comentário. Também me surpreendi com o tom do pronunciamento do Líder do PT. Mas não concordo com V. Exª no sentido de que, obrigatoriamente, ele tenha que seguir a posição do diálogo de cabeça baixa com o Lula. Ele mostrou no episódio, do qual saiu de cabeça erguida. Ele debateu, lutou, esforçou-se contra um esquema organizado: primeiro, o PMDB; segundo, o PT Cá entre nós, depois as oposições meio que se entenderam, mas ele manteve a posição. Ele pode aceitar e ficar na liderança, e ser isso que V. Exª acha que é o que vai acontecer. Mas sempre tenho um fio de esperança e acho que ele pode continuar resistindo. Num PT em que hoje ninguém tem coragem de dizer “não” ao Lula, ele pode tentar fazer isso. É difícil! Uma bancada tumultuada, cada um para um lado. É difícil, mas não é impossível. Talvez seja essa a questão dele.

            É claro que, nas manchetes dos jornais de hoje, aparece a Srª Marta oferecendo-se para ser candidata ao Senado na vaga dele. Reparem como o esquema... E a imprensa de hoje já dizia que o Lula já tinha candidato, que era o Senador do Amazonas o candidato a líder.

            O problema é um, Lula: soberba. E, no PT, as pessoas que pensam diferentemente terminam saindo.

            Repito o que disse a Frei Betto quando ele disse que tinha saído ali do conselho do gabinete do Lula: “V. Exª tinha que ficar lá. V. Exª tinha que ficar lá, porque, se os bons saem, os outros ficam”. E ele disse que não mais tinha condição, que ele tinha chegado a um momento tal que, se ficasse, ele só ia criar uma situação de constrangimento. E ele preferiu sair a ficar.

            Eu digo, com toda a sinceridade: os males são dois. O primeiro é o Lula na sua soberba. Não é chegar lá, e o Obama dizer: “Você é o homem, você é o maior líder político popular do mundo”. O Lula está achando que é, e isso está fazendo com que ele não tenha a modéstia de entender que, por mais importante que seja, mais alto o cargo, maiores as condições, a gente sempre tem que aprender. E, se ele parasse com um grupo realmente para analisar, ele entenderia que essa jogada foi muito cara. O entendimento com o MDB e o entendimento para as eleições do ano que vem dependem de mil circunstâncias, mas jogar o PT na vala comum...

            Como diz V. Exª, os três votos seriam os votos que impediram o debate. Não é acusar, não foi a decisão; foi impedir o debate. O Lula não tinha o direito de expor o seu partido a isso, mas é que ele está num pragmatismo onde é soma e...

            Convidado pelo Prefeito de Goiânia, ele vai inaugurar uma série de casas populares. Vai lá e lança a candidatura do Meirelles a Governador de Goiás. Agora, chama o Prefeito para vir fazer um acerto, um entendimento.

            Eu não sei - talvez a Senadora Marina possa dizer - quem no PT pode se aproximar do Lula, nessa vaidade dele, e ter uma conversa de igual para igual, no sentido de: vamos conversar, vamos conversar. Quem? Uma que é assim é a Ministra Dilma, mas a Ministra Dilma está amarrada porque ela é a candidata. E, justiça seja feita, bem ou mal... Eu acho que mal, porque esses últimos acontecimentos do Presidente Lula vão influir negativamente na candidatura da Srª Dilma...

            Agora, eu digo, Sr. Presidente: vão reunir a Mesa e esquecer o passado; vão pensar no futuro. V. Exª não estava aqui. Primeira decisão da Mesa: vamos reformar o plenário, vamos reformar o plenário, tem algumas infiltrações, não sei o quê. É piada, Sr. Presidente! É piada!

            Se o Presidente Sarney, nesta altura, ele que é o grande vitorioso, tivesse a modéstia de reconhecer, pelo menos, como fez o Arthur Virgílio... Foi lá, fez o pronunciamento, deu as explicações. E o caso dele é diferente. O caso do Presidente Sarney, arquivaram sem discutir. O caso dele, não. Ele debateu, ele fez a exposição. E o Líder do PMDB falou que estava plenamente convencido, aceitou as explicações.

            Eu peço, com toda a sinceridade... Eu estou em uma situação muito... Eu não sei o que fazer. Não sei. O PMDB está aí... Agora, o Mão Santa aqui, o outro lá. Não dão legenda. Colocaram a posição do PMDB de que o arquivamento do Presidente Sarney significa que o PMDB está fechado com o PT. Eu não sei como vai terminar. O que eu sei é que alguma coisa deverá ser feita. E acho que haverá de ser feita.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/08/2009 - Página 37943