Discurso durante a 140ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Ano da França no Brasil e a ação das Alianças Francesas como agentes de difusão cultural em nosso país.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Ano da França no Brasil e a ação das Alianças Francesas como agentes de difusão cultural em nosso país.
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2009 - Página 38425
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, ANO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, ANALISE, SUPERIORIDADE, INFLUENCIA, CULTURA, HISTORIA, PAIS, ELOGIO, ATUAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, LINGUA FRANCESA.
  • SAUDAÇÃO, PARCERIA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, BRASIL, FABRICAÇÃO, HELICOPTERO, MODERNIZAÇÃO, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), PROJETO, CONSTRUÇÃO, SUBMARINO, ENERGIA NUCLEAR, CONVENIO, APERFEIÇOAMENTO, QUALIDADE, AGUARDENTE, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

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            O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Marcelo Crivella; Sr. Senador Romeu Tuma; Srs. Senadores aqui presentes, esta sessão teve a iniciativa do Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-França, Senador Sérgio Zambiasi, entre seus propositores.

            Saudamos também o Embaixador da Turquia, Sr. Ersin Ercin; os membros do corpo diplomático aqui presentes; a Diretora da Aliança Francesa, Srª Pascale Hualpa, enfim, todos os que nos honram com sua presença nesta manhã.

            A cultura brasileira é fortemente ligada à europeia pelas óbvias razões da colonização portuguesa, mas também o é pela forte presença da cultura francesa no mundo até o início do século XX, em especial.

            Berço de boa parte dos eventos, movimentos e fenômenos culturais que influenciaram o planeta, a França moldou, por seus princípios humanísticos, germinados na Revolução de 1789, e por seus avanços na ciência, muito do que o Brasil é hoje.

            Fato provavelmente desconhecido pela maioria do povo brasileiro deste século XXI é que as famílias nobres ou da alta burguesia brasileira utilizavam, até o final do século XIX, o francês como linguagem corrente em suas cartas familiares, e não o português.

            As famílias mais bem educadas, que podiam frequentar escolas ou que dispunham de preceptores domésticos, tinham como segunda língua de expressão corrente, tanto oral como escrita, o francês.

            Além disso, Sr. Presidente, a maioria das famílias abastadas enviavam seus jovens para estudar na França. Na verdade, ainda hoje, em menor número, mas muitos ainda vão também estudar seja na França, seja na Suíça, sempre buscando o ensino da língua francesa para sua formação. E, quando tal não lhes era possível, que pelo menos fossem viajar ao Velho Continente para conhecer a cultura do país.

            Berço de grandes pensadores, literatos e cientistas, a França tornou-se o centro cultural do planeta, uma espécie de Meca cultural, que deveria ser visitada por todo aquele que desejasse impressionar seu espaço social.

            Fertilizado pela prolífica cultura francesa, o Brasil desenvolveu elevado padrão cultural em suas elites, o que permitiu manter-se como País associado ao mundo culturalmente desenvolvido. O Imperador Pedro II, homem de vasta cultura humanística, escolheu o exílio em Paris, em vez da Lisboa de seus ancestrais paternos.

            A França, por sua vez, obedecendo à sua ambição de influenciar o mundo até os mais longínquos recantos, utilizou-se de um dos poucos instrumentos de influência que não é opressor para os demais povos. Criou a rede de Alianças Francesas para difundir o francês como língua de comunicação e a cultura francesa como instrumento de comunicação com outros povos.

            De fato, são muitas as famílias do Brasil que cursaram a Aliança Francesa, em alguns anos que seja. Ainda é muito grande sua presença neste momento. Fazia e faz parte da boa cultura o domínio da língua de Vítor Hugo, mesmo em tempos de inglês como fator de comunicação globalizada.

            Sr. Presidente, a expansão das culturas no mundo sempre se fez por meio da dominação territorial de povos sobre povos. Ainda hoje é assim, trocada a dominação territorial pela econômica. Dos antiquíssimos assírios, gregos ou romanos, passando por portugueses, espanhóis, britânicos ou franceses, chegamos a norte-americanos ou russos, nos anos recentes. Em todos os casos, a dominação territorial ou econômica acabou por se tranferir também para a cultural. E só vingaram e produziram frutos duradouros aquelas em que o dominado aceitou como positiva a interação com a cultura do dominador. Por isso, até hoje o Direito Napoleônico influencia o mundo ocidental. O pensamento cartesiano, da mesma forma.

            Hoje, Sr. Presidente, acabados os tempos de expansões territoriais pela força das armas, resta aos povos o meio da influência cultural. E nesse domínio a França é, inegavelmente, muito forte. Mas não pura e simplesmente pela ação da força opressora, mas porque os valores que estão impregnados na cultura são os da valorização do ser humano, tanto como indivíduo quanto pela coletividade.

            Obras fundamentais do engenho humano nos chegaram dos gauleses, como os magníficos textos de Victor Hugo ou de Voltaire, as maravilhas arquitetônicas de Le Vau ou de Le Corbusier, aqui já citadas pelo Senador Roberto Cavalcanti; as obras filosóficas de Sartre e assim por diante, para não ter de listar interminável rol de obras mestras de origem francesa.

            Arquitetura, engenharia, literatura, filosofia, matemática, física, medicina, direito, não há campo no qual a genialidade francesa não tenha e não continue a se manifestar para o benefício de todos.

            Quero especialmente citar também e me derter um pouco no campo tecnológico, em que há grande presença da França aqui no Brasil. Eu, que sou representante do Estado de Minas Gerais, testemunho, há muitos anos, a presença da fábrica de helicópteros - única fábrica de helicópteros da América Latina -, que está localizada em Itajubá, no sul de Minas Gerais, e que terá agora uma grande expansão, com novos investimentos para a fabricação de helicópteros maiores dentro desta joint venture, dessa participação da tecnologia francesa com uma empresa brasileira. Assim, temos tido um avanço muito importante.

            Ainda agora, temos também a participação francesa no processo de modernização da Força Aérea Brasileira - já na área dos jatos. Temos a participação também na área dos submarinos, na questão de o Brasil avançar na tecnologia nuclear. Portanto, são campos diferentes em que se vê a presença da tecnologia francesa. Muitas são as empresas que estão aqui trabalhando, que estão gerando emprego no País, de forma que, nesse setor, é muito importante que estejamos sempre também lembrando. Por isso me detive um pouco mais nele.

            Quero lembrar, inclusive, que meu Estado é um grande produtor de cachaça. Lá encontram-se as melhores cachaças do Brasil. Poucos sabem que a cachaça teve uma melhoria de qualidade exatamente por convênios assinados com o governo francês. Exatamente a tecnologia que os franceses usam nos seus vinhos foi transferida para os produtores mineiros através da associação que, com o apoio do Governo, modernizou a produção. Saímos daquela produção, às vezes até sem condições sanitárias ideais, para a produção hoje muito melhor da cachaça mineira, que é tão admirada e que, sem dúvida alguma, é a melhor. Perdoem-me os representantes dos outros Estados, mas a cachaça mineira evoluiu muito exatamente por causa da tecnologia francesa, não é Senador? O Senador Leomar Quintanilha concorda comigo que a mineira é a melhor cachaça mesmo.

            Quero continuar, lembrando que o Brasil, moldado no berço da cultura europeia, viu-se fortemente influenciado pela capacidade irradiadora da cultura francesa, seja por meio do que nos chegava de Portugal, seja no que diretamente sorvemos de Paris.

            Com isso, Srªs e Srs. Senadores, o povo brasileiro se moldou no melhor do pensamento humanístico, tornando-se essa gente tolerante com a diferença, pacífica por natureza, aberta por formação. Não é por razões meramente econômicas, oportunistas que surgiu a ideia de fazer do ano de 2009 o ano da França no Brasil. Recentemente, tivemos o ano do Brasil na França. E neste próprio ano de 2009, dentro desta comemoração,

            Sr. Presidente, não é por razões meramente econômicas ou oportunistas que surgiu a idéia de fazer, do ano de 2009, o ano da França no Brasil. Recentemente, tivemos o ano do Brasil na França. Neste próprio ano de 2009, nessa comemoração, o orador oficial das solenidades de Tiradentes, em Ouro Preto, foi o Embaixador da França no Brasil, que lá realmente fez um belo discurso, lembrando toda essa ligação da liberdade, toda a inspiração da Revolução Francesa para a libertação do Brasil, para a independência do Brasil, para o movimento capitaneado por Tiradentes. Lá, nós nos emocionamos ao ouvir o Hino da França, de maneira tão bem expressada na praça de Ouro Preto, de maneira muito forte, lembrando toda essa importância da ligação entre Brasil e França.

            De fato, a França já se encontra em nosso País desde o século XVI. Se, no início, foram incursões de conquista territorial, rapidamente fracassadas, restaram as raízes culturais, essas duradouras e prolíficas, já que moldaram o pensamento brasileiro de modo permanente.

            Assim, comemorar a França no Brasil não é demonstração de servilismo diante de outra nação, mas o reconhecimento orgulhoso de que soubemos incorporar à cultura brasileira o que de mais nobre se produziu no país europeu.

            Queremos aqui lembrar a imagem de Asterix para demonstrar a inventividade de seus autores, que souberam, com maestria dos grandes escritores e desenhistas, retratar, de modo lúdico, o que de mais genuinamente francês se consegue observar no cotidiano do país gaulês.

            Sr. Presidente, com essa pequena nota final, saúdo o povo francês, que sempre nos acolheu com generosidade e que tantas demonstrações de apreço tem dado ao longo dos séculos em relação ao jovem povo brasileiro.

            A amizade mútua que une franceses e brasileiros se reflete na comemoração deste Ano da França no Brasil, e simboliza a indissolubilidade que une esses povos amigos.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, senhores e senhoras aqui presentes, lembrando que essa amizade entre Brasil e França é, sem dúvida, um dos motivos que fazem com que o Brasil seja um país mais humano, mais alegre, onde a fraternidade e a solidariedade são muito fortes.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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