Discurso durante a 140ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Ano da França no Brasil e a ação das Alianças Francesas como agentes de difusão cultural em nosso país.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Ano da França no Brasil e a ação das Alianças Francesas como agentes de difusão cultural em nosso país.
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2009 - Página 38430
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, ORADOR, HOMENAGEM, EXERCITO, BRASIL, RESPEITO, SENADO, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • HOMENAGEM, ANO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DEMOCRACIA, DIRETRIZ, LIBERDADE, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE, COMENTARIO, OBRA CIENTIFICA, FILOSOFIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Romeu Tuma, Sr. Presidente da Comissão de Relações Exteriores - o Senador mineiro Eduardo Azeredo -, meus senhores do Brasil e da França, encantadoras mulheres da França e do Brasil, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de televisão.

            Romeu Tuma, acabei de receber essa homenagem do Exército Brasileiro, e eu digo que não é para mim; isto aqui é pelo respeito que o Senado da República tem no Exército Brasileiro, desde o nascedouro, porque o Patrono do Exército é Duque de Caxias, e ele foi Senador do Império. Ele é um dos nossos, como Rui Barbosa. E também não deixa de ser, no meio de tantos Parlamentares, um motivo de orgulho para o meu Piauí, Estado que represento.

            Mas vim, deixei o coquetel, porque não podia faltar a esta sessão, bem idealizada pelo nosso Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senador Eduardo Azeredo, esse mineiro brilhante, e, quis Deus, presidida pelo símbolo maior de virtudes de nosso Senado: Romeu Tuma. Uma Casa que tem um Corregedor como Romeu Tuma... Um quadro vale por dez mil palavras. Esse homem foi o xerife no momento mais difícil da nossa história: a transição democrática. E os franceses sabem como são difíceis essas transições.

            Sabemos que lá começou o movimento por “liberdade, igualdade, fraternidade”; o povo mostrando que é soberano, que é forte. Com esse grito, caíram os reis do mundo todo. Passados 100 anos, esse grito chegou aqui ao Brasil. Mas chegou. Então, não poderia faltar.

            E lá, como é difícil fazer essa democracia. Como é difícil! E ela é caracterizada... Antigamente, o governante era um Deus na Terra. Chegou um a dizer “l'État c'est moi”. Como Deus, seria um governador lá do céu. Mas o homem, com a inteligência francesa do Direito, dividiu o poder - somos um desses Poderes - e instituiu a alternância do poder; se não houver isso, não há democracia.

            Quis Deus estar Heráclito Fortes aqui, que também foi Presidente dessa Comissão de Relações Exteriores. Eu fui membro; o Presidente foi o Heráclito, com uma competência extraordinária.

            Mas o que queremos afirmar aqui é a importância da França. Este País aqui - eu sou pai da Pátria, nós somos os pais da Pátria - está em democracia pelo Senado da República. Eu que estou dizendo. E pelas forças militares também. Daí a nossa... Só. Só. Aqui não passa. E nós apostamos nisso, mas não porque apostamos na história. A nossa cultura vem da Grécia. O homem é um animal político. A democracia é direta. Não dava certo. Não poderia dar certo. Começava, Heráclito, às cinco horas da manhã - já pensou o Flexa Ribeiro lá? E lá havia vinho e tudo, não acabavam as reuniões da democracia direta.

            Foi melhorada na Itália, e a evolução foi lá nas ruas da França, 1789, antecedida por luminosidades.

            Voltaire, que era Parlamentar, mesmo no regime monárquico de lá, dizia e disse, mostrando a grandeza do Parlamento... Até nas monarquias, como é na Inglaterra, como foi que nos antecedeu, como Voltaire dizia... Heráclito, sabe o que Voltaire dizia e este povo não aprendeu? “À majestade tudo, menos a honra.” Aqui tem de saber isso.

            Ontem, eu presidia, quando eu vi aqui, eu me lembrei de Voltaire, e digo agora: Voltaire disse que achava bonito ele dizer aquilo, mas não discordava. Discordava de tudo que o opositor estava dizendo, mas daria a vida para ele ter direito de dizê-lo. E é isso que nós aprendemos. E foi isso. E a França que fez, e nós viemos aqui dizer o significado disso, influencia em todos nós. E vou ser prático. Todos nós.

            Ô Romeu Tuma, eu estudei em Colégio Marista - é uma organização do Padre Champagnat, lá da França. E tive como tutor um grandão, Louis Du Bois. Heráclito, às cinco horas da manhã, ele batia duas palmas, e a gente tinha de se levantar, uma preguiça doida, botar a toalha e tomar banho, estudar. Às seis horas, ele permitia rezar, senão... Louis Du Bois. Ele me deu um livro, que eu reputo o melhor. Outro dia, eu andei atrás, para dar para o meu irmão Paulo de Tarso, viu, Heráclito? Não encontraram. Aí o César Fortes, que era meu assessor e estudou na França, eu pedi, e ele tirou uma cópia. Só tinha na Câmara.

            André Malraux, esse Louis Du Bois me deu. “Arte de Viver: A Pequena Filosofia da Vida”. Eu vim aqui pra dar esse conselho. Outro dia, dei esse livro para o meu irmão. Cada pai dê de presente para o seu filho. Eu pude. Fui privilegiado, estudei em colégio de cultura francesa, do Padre Champagnat. O meu tutor era esse Louis Du Bois.

            Cinco capítulos: “A Arte de Pensar”. É o meu pensamento. Se ele pensa grande, vai ser grande. Se não pensa, pequeno ele vai ser, se terráqueo. O pensamento é que constrói.

            “A Arte de Trabalhar”. Olha, você não me venha aqui com negócio de telefone celular, pedi agora. Porque ele diz: cuidados inoportunos. Ele já disse que telefone é um bicho inoportuno. Por isso, eu fico aqui atento e tudo. Cuidado, ele cita lá. E a gente vê e tal. E é verdade. Esse negócio de telefone, eu vou contar, tem de ter a ordem, porque isto aqui também é um lema positivista de Auguste Comte. A mocidade estudou no Colégio Lafayette, do Rio de Janeiro. Era “amor, ordem e progresso”. Tiraram o amor, envergonhado. Era bom demais. Nós vamos é botar, não é, Romeu Tuma? Amor, a primeira idéia. E era amor, ordem e progresso, esse lema positivista de Augusto Comte, da Filosofia francesa. Então, é essa a nossa arte de pensar, arte de trabalhar. E eu vou à França. “A Arte de trabalhar”. Uma homenagem a Napoleão, um militar, o homem que deu o Código Civil à França, o Código de Napoleão, o grandioso.

            Eu vou fazer também, para ensinar, fazer minhas as palavras de Napoleão e oferecê-las ao meu País, como presente da França à nossa cultura.

            Senador Leomar Quintanilha, Napoleão disse: “Conheci os limites dos meus braços, conheci os limites das minhas pernas, conheci os limites da minha visão, mas não conheci o limite do trabalho”. Que capacidade!

            Depois de “Trabalhar”, tem um capítulo: “A Arte de Comandar”, Romeu Tuma, “A Arte de Amar”. É bom o livro dele.

            Aliás, você é o nosso Embaixador aqui. Não se encontra. O apelido do meu assessor é Sorbonne, porque ele andou estudando lá. E ele arrumou aí na biblioteca. Não tem nem na do Senado. Tirei uma cópia e a dei para o meu irmão. Vamos reimprimir isso.

            Eu li, naquela fase de internato, do Irmão Louis Du Bois, no Colégio Marista de Fortaleza. “A Arte de Amar”. Heráclito, ele disse lá no livro.

            Atentai bem. A batalha do amor nunca está ganha. Que verdade!

            Romeu Tuma, ele diz lá que a mulher é como um violino. É, a mulher é como um violino...

            Ó Romeu, em que você está pensando? Olha, na normalista. É a esposa dele. A minha também.

            Aí ele diz que o marido a toca como um ceguinho. Você já viu um ceguinho na porta da igreja? E vem o amante e toca o violino, dá todas as cordas. Você tem de ser o amado, o amante da sua esposa.

            Eu sei, e “A Arte de Envelhecer”. Que coisa bela! E a nossa dependência é tão grande... Por isso que eu persisti nessa luta democrática contra os ideais daquele que queria o terceiro, o quarto mandato, daqueles que queriam repetir Fidel Castro; Chávez; o Correa, do Equador; o Morales, da Bolívia; o padre reprodutor, do Paraguai; o da Nicarágua; e o rolo que está em Honduras.

            Não foi de cego nenhum, Leomar Quintanilha. Eu sei. A nossa cultura é outra. A nossa cultura é da Grécia. A nossa cultura é da Itália, onde, no Senado, dizia Cícero: “Eu, o Senado e o povo de Roma”. Nós podemos dizer: O Senado e o povo do Brasil. Nós podemos.

            Então, a nossa era aí. Passa na França! Passa na França! E esse moço aqui. Houve aqui também, não foi só lá. Lá rolaram cabeças, mas aqui também. É difícil a democracia. O segundo General, Floriano Peixoto, a quem chamavam de aço, era duro, mais duro do que o Médici. O Rui Barbosa saiu de uma cadeira dessas com medo dele, foi para Buenos Aires. Não gostou e foi - já sabia francês - para a Inglaterra. Aí, ele aprendeu o inglês. Não só o inglês, mas a Constituição inglesa bicameral, que fez o rei Carlos I se curvar. É! É preciso saber, meu Presidente. Carlos I, então, que tinha fechado o Parlamento da Inglaterra, viu-se numa guerra. Não tinha credibilidade para buscar dinheiro, aí pediu para reabrir o Congresso, o Parlamento inglês. Aí, ele abriu. O líder de lá, Oliver Cromwell, disse: “Eu abro, mas jamais na Inglaterra o Rei vai ficar acima da lei”. Nisso, Rui Barbosa foi para lá. Aprendeu, aprendeu a democracia presidencialista do filhote da Inglaterra - os Estados Unidos.

            E essa é a nossa cultura. Nós somos isso. Eles que estavam enganados, estavam aí, gritando. Está aí, pressão, e nós aqui confiados. E este País pode ter demorado a chegar ao grito de liberdade, igualdade e fraternidade, 100 anos. Mas nós somos mais inteligentes, a democracia foi mais rápida e se aperfeiçoou. É esta Casa. Essa campanha toda é contra isto. Foi o que o Chávez fez: a primeira coisa foi fechar o Senado, porque eles querem mesmo é se perpetuar no poder. E aqui o poder é moral, nós somos povo, nós somos filhos da democracia e do voto. E nós temos moral. Bastava focalizar agora para o nosso Presidente. Quantas lutas esse homem enfrentou; 12 mil greves neste País na transição. Sarney era Presidente.

            Então, este é o nosso País, do Louis Du Bois, mas eu sintetizaria o seguinte: a nossa dependência é tão grande, ô Cristovam, que o maior dos nossos filhos... Eu não ia citar todos dependentes como eu, direta ou indiretamente, o apaixonado por Paris, pelas francesas, pelo perfume, pelo vinho, pelo champagne; eu não ia citar; eu ia simbolizar... Nós somos o melhor filho da cultura da França, o filho maior desse País: Juscelino Kubitschek. A sua formação, a sua cultura e a sua visão foram do povo francês.

            Juscelino Kubitschek, no Senado, foi cassado, humilhado, mas nunca largou o grito de liberdade, igualdade e fraternidade. Nós estamos aqui respirando Juscelino Kubitschek. Romeu Tuma, foi oferecido a ele continuar no Governo, mas Juscelino, fiel à divisão do poder, fiel à alternância do poder, não quis. Curvou-se aqui. Fez seu último discurso político nesta tribuna, dizendo que jamais canhões ou qualquer força enterrariam a democracia que construímos. E esse é o exemplo maior para citar.

            Então, queremos dizer o seguinte: comemorar o Ano da França no Brasil, não é o ano, não; tem de ser todos os anos.

            Nós somos a melhor gente da história do mundo. Brasil e França, exemplo maior da democracia! (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2009 - Página 38430