Discurso durante a 142ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso dos 110 anos de existência da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso dos 110 anos de existência da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Marisa Serrano, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2009 - Página 38773
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, PARENTE, GERALDO MESQUITA JUNIOR, SENADOR.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), COMENTARIO, CONTRIBUIÇÃO, FAMILIA, ORADOR, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, REGIÃO, SAUDAÇÃO, RIQUEZAS, EMPENHO, COMPROMISSO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, RESPEITO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadores e Srs. Senadores, Campo Grande, Capital do meu Estado e também minha terra natal, completa hoje 110 anos de existência.

            Antes de vir para cá, estava ouvindo uma intervenção, ainda no rádio, do Senador Geraldo Mesquita quando ele parabenizava uma tia por estar completando um século, a tia Maria Meira. Eu não poderia deixar de fazer um comparativo dos 110 anos de vida de Campo Grande com o século da tia do Senador Geraldo Mesquita. E não poderia deixar, meu amigo Senador Geraldo, de dar também para ela, que teve uma bênção divina de viver tanto tempo, os parabéns desta tribuna, associando-me à sua alegria pessoal e à alegria de toda sua família.

            Nestes 110 anos de vida de Campo Grande, nós não poderíamos deixar de mandar nossa mensagem aos que nasceram e moram na minha cidade, Campo Grande, parabéns porque foram capazes de construir uma cidade com excelente qualidade de vida ao longo desses anos, inclusive com a ajuda de grandes lideranças. Uma delas se encontra presente neste plenário, foi vice-prefeita da nossa capital e hoje representa Mato Grosso do Sul nesta Casa, a eminente Senadora Marisa Serrano.

            Aliás, ela me pede um aparte e eu não poderia deixar de franqueá-lo.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Valter Pereira. Bom, eu disse a V. Exª que eu ficaria aqui, porque queria aparteá-lo, para, junto com V. Exª, parabenizar a nossa cidade, a nossa capital, Campo Grande. Cento e dez anos parece que é muito tempo, mas a cidade é um bebezinho ainda, está começando. Há pessoas descendentes do fundador que estão lá...

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - E aqui.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - E aqui também, V. Exª é uma delas, trabalhando e lutando, com uma ligação de sangue muito próxima. E queria dizer que não nasci em Campo Grande, como V. Exª. Eu nasci em Bela Vista, na fronteira com o Paraguai, mas vim cedo para Campo Grande. Campo Grande acolhe as pessoas com uma gentileza e com uma força de amor à terra muito grande. Tenho certeza de que todos aqueles que vieram, não só do Estado, para morar em Campo Grande, mas de outras regiões do País, e de outros países - quantos países estão representados na nossa cidade morena -, nos dão, essas pessoas todas, um orgulho imenso, porque todos nós ajudamos a construir Campo Grande. Então, quero parabenizar V. Exª pelo enfoque dado a nossa cidade, parabenizar V. Exª e sua família por serem descendentes daqueles que fundaram Campo Grande, dos mineiros que vieram fazer de Campo Grande essa cidade importante para todo o País. E quero dizer também que nós nos orgulhamos, como V. Exª acabou de dizer, de ser a nossa uma cidade com excelente qualidade de vida - é a única capital do País que não tem favelas. É uma cidade que cresce e se desenvolve com uma amplitude enorme. A coisa mais bonita de se ver é o pôr-do-sol em Campo Grande e, também, os seus vastos horizontes. Portanto, quero me juntar a V. Exª nos parabéns à Cidade Morena, à cidade de Campo Grande, pelos seus cento e dez anos. Obrigada.

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Obrigado a V. Exª pelo aparte que faz e tenho a certeza de que a sua presença neste momento tem como único objetivo fazer a sua saudação a nossa querida Campo Grande, um Município progressista e hospitaleiro que, como muito bem pontuou V. Exª, apostou alto na força do migrante.

            Por isso nele fincou raízes gente do mundo inteiro para fazer brotar da terra roxa a riqueza que hoje desfrutamos. A propósito, Sr. Presidente, pesquisa recente divulgada pela revista Exame aponta Campo Grande como a 28ª cidade com melhor infraestrutura do País. Dentre aquelas que foram avaliadas como cidades de boa infraestrutura, Campo Grande se destaca como a 28ª.

         As primeiras informações sistematizadas sobre a região de Campo Grande datam de 1870.

            Honra-me, Senador Gerson Camata.

            O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - O Senador Geraldo Mesquita estava inscrito antes de mim, Exª.

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Honra-me, então, Senador Geraldo Mesquita.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AP) - O Senador Camata, como sempre, muito gentil. Mas, Senador, se eu não o aparteasse, eu poderia ser considerado até descortês com V. Exª, porque V. Exª, como se diz no popular, me fez um agrado enorme ao fazer também referência aos cem anos que completa hoje minha querida tia Maria Meira. Eu queria lhe agradecer pelo registro, pela referência que V. Exª faz, muito carinhoso, por sinal. Mas eu queria compartilhar com V. Exª e também com a Senadora Marisa da alegria de festejar os 110 anos de sua capital. V. Exª, com isso, demonstra o carinho enorme que tem. Eu adoro o meu Estado. Sou menino de Rio Branco, nossa capital. Eu me criei em Rio Branco, adorando o meu Estado. Mas a gente tem sempre um carinho especial pelo lugar onde a gente foi criança, onde foi jovem e exerceu por tanto tempo atividades. Portanto, meus parabéns, primeiro ao povo de Campo Grande, por mandar aqui para o Senado Federal pessoas de nível como V. Exª, como a Senadora Marisa e tantos outros que por aqui passaram. E meus parabéns ao povo de Campo Grande pela data de hoje, quando se festejam os 110 anos dessa grande capital do Brasil. Muito obrigado.

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Em nome da população de Campo Grande, tenho que agradecer a V. Exª pela gentileza de suas palavras.

            Mas eu me reportava, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao ano de 1870.

            Nessa ocasião, soldados que retornavam da Guerra do Paraguai tomaram conhecimento da existência de terras férteis para a lavoura e para a criação de gado. A notícia correu boca a boca e chegou até a figura de José Antônio Pereira, lá em Monte Alegre, no sertão de Minas.

            Esse José Antônio Pereira, Senador Gerson Camata, era meu bisavô, avô do meu pai. Era um velho destemido que, logo em seguida, reuniu toda a sua prole e agregados e rumou para as conhecidas terras chamadas de Campo das Vacarias. Ali construiu o Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, depois Campo Grande, hoje capital de Mato Grosso do Sul. Fez esse longo percurso em carro de boi, que levava os pertences da família Pereira, dos meus ancestrais, que aportaram nessa região em 1872.

            Cansados e cheios de esperança, os pioneiros escolheram como lugar de pouso a confluência de dois riachos, de dois córregos: o córrego Prosa e o córrego Segredo.

            Num desses ribeirões, dei minhas primeiras braçadas em água corrente, quando criança, em época em que Campo Grande ainda guardava aquela feição de pequena cidade do interior.

            Ao longo dos anos, outras famílias também escolheram as cercanias de Campo Grande para estabelecer suas fazendas e para desenvolver outras atividades econômicas. Vieram, como lembrou aqui a Senadora Marisa, árabes, portugueses, espanhóis, japoneses e tantos outros. Junto com os forasteiros estrangeiros chegaram compatriotas paulistas, gaúchos, nordestinos, povos que ajudaram a formar a identidade plural da sociedade campo-grandense.

            O progresso do velho Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, como era chamado, propiciou que, em agosto de 1899, conquistasse a sua emancipação política. Nessa época, a rigor, o Município crescia e prosperava, com o comércio de gado impulsionado pelas fazendas de criações e mesmo de lavouras em todas as suas imediações nos campos limpos, nos campos virgens das Vacarias.

            Mais tarde, torna-se, inevitavelmente, o centro de comercialização de gado, de onde partiam comitivas seguidas conduzindo boiadas para o Triângulo Mineiro em direção ao Paraguai e, mais tarde, a São Paulo. A abertura da estrada boiadeira que iria ligar Campo Grande às barrancas do Paraná acabou inaugurando essa rota para São Paulo. O novo e promissor mercado incrementava a atividade pecuária e descortinava novas oportunidades de intercâmbio comercial.

            Outro fator de progresso para Campo Grande e para o então Estado de Mato Grosso foi a chegada, em 1914, da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Em 1921, com a transferência do Comando da Circunscrição Militar, até então sediado em Corumbá, a cidade viveu uma nova fase de desenvolvimento econômico, cultural e político. Nove anos depois, a capital de Mato Grosso do Sul já contava com, aproximadamente, doze mil habitantes. Já dispunha de agências bancárias, correios, diversas repartições públicas, escolas, luz elétrica, telefone e clubes recreativos.

            Durante o episódio da Revolução Constitucionalista de 32, Sr. Presidente, a cidade passa a centralizar todas as ações políticas e estratégicas daquela região, que circundava Campo Grande, mercê de sua posição geográfica e de sua logística. Não hesitou em se alinhar às forças rebeldes de São Paulo. Declarou-se ali, em que pese o curto período, a fundação do Estado de Maracaju, elegendo Campo Grande a sua nova capital. O renomado médico Vespasiano Martins, que, mais tarde, veio a ser Senador da República, foi indicado como primeiro Governador do Estado. No entanto, com a vitória das forças legalistas, frustra-se, provisoriamente, aquela chama que se espalhava pelo Estado em favor da divisão de Mato Grosso, que seria retomada anos mais tarde.

            Esse episódio, Sr. Presidente, demonstra que a autonomia política e administrativa do território que veio se transformar no Estado de Mato Grosso do Sul era, de fato, uma aspiração, um sonho antigo da população da nossa região.

           De sorte que, apesar de ter sido uma decisão do regime autoritário, a criação do meu Estado exprimiu aquele sonho da população que compunha a região sul de Mato Grosso.

            Ainda, no início dos anos 1960, Campo Grande já abrigava a sua primeira instituição de ensino superior. Começavam, nessa época, as atividades das Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso, transformadas, mais tarde, na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Nessa mesma década, inaugura-se a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. O campus instalado em Campo Grande passa a oferecer cursos nas áreas de saúde, ciências exatas e ciências tecnológicas.

            Honra-me, Senador Mozarildo!

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Valter, eu queria cumprimentar V. Exª pela abordagem da criação do Mato Grosso do Sul, da importância do Mato Grosso do Sul hoje. V. Exª manifestou a posição de que, embora tenha sido criado no regime militar e por um ato, digamos, do Executivo, quero dizer que esse é um dos maiores exemplos - eu sempre o cito - de felicidade, de êxito na redivisão territorial do País. O Mato Grosso, que compreendia o Mato Grosso atual e o Mato Grosso do Sul, era um gigante ingovernável, pode-se dizer assim. E hoje, passado pouco tempo...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - ...o Mato Grosso do Sul é um Estado pujante, e o Mato Grosso, remanescente, também prosperou.

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Os dois ganharam.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Exatamente, os dois ganharam. Assim se deu também com o Tocantins em relação a Goiás, sem falar, por exemplo, em Roraima, Amapá e Rondônia, que eram territórios federais e passaram a Estado. Portanto, eu gostaria muito que esse discurso de V. Exª servisse para inspirar a Câmara dos Deputados para aprovar decreto legislativo já aprovado aqui, no Senado - três de minha autoria -, que propõe a redivisão territorial dos três maiores Estados do Brasil: o Amazonas, o Pará e o Mato Grosso. O Mato Grosso, mesmo já tendo sido dividido, sozinho, ele é quase equivalente à área dos sete Estados do Sul e do Sudestes juntos. Esses três Estados juntos, Mato Grosso, Pará e Amazonas, representam mais do que 50% da área do País. São três Estados com área territorial maior do que 50% do País. Com essa geografia, não vamos desenvolver o País nem eliminar desigualdades regionais.

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - V. Exª tem razão, porque a experiência que tivemos lá foi das mais bem sucedidas. Mato Grosso temia uma situação caótica e acabou tendo prosperidade até maior do que a de Mato Grosso do Sul.

            Mas eu falava da universidade que se instalara em Campo Grande, a Universidade Estadual, que, mais tarde, transformara-se na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FUFMS), Sr. Presidente.

            Na década seguinte, na década de 1970, criou-se o Centro de Ensino Superior Professor Plínio Mendes dos Santos, conhecido como Cesup, antecessor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, conhecida como Uniderp.

            (Interrupção do som.)

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Sob a ótica mais geográfica, cabe ressaltar que Campo Grande ocupa posição excepcionalmente privilegiada. Localizada no centro do Estado, situa-se em ponto equidistante de seus extremos Norte, Sul, Leste e Oeste. 

            Além disso, sua localização coincide com o divisor de águas das duas grandes bacias: a bacia do Paraná e a bacia do Paraguai, facilitando a implantação de atraente sistema intermodal de transporte.

            Com efeito, Sr. Presidente, tão privilegiada posição tem contribuído para o processo de consolidação da capital em polo de desenvolvimento regional.

            Não gratuitamente, graças a seu solo avermelhado e seu clima tropical, a cidade é carinhosamente alcunhada de “cidade morena”. Mais que isso, Campo Grande, hoje, possui uma boa estrutura metropolitana, dispondo de uma ampla rede hoteleira, com bons restaurantes a oferecer variados pratos típicos. Afinal de contas, é por Campo Grande que começa toda a aventura turística daqueles que se propõem a conhecer o Pantanal.

            Em suma, Sr. Presidente, na visão do poeta local, Campo Grande floresce realçando as cores fortes dos ipês amarelos e roxos, enquanto o cimento se ergue em forma de casas, prédios e fábricas, pedindo licença ao verde para ocupar um lugar na paisagem. O que antes existia apenas na imaginação de pioneiros visionários é, hoje, o melhor lugar para se trabalhar e viver.

            Para encerrar esta modesta homenagem, Sr. Presidente, gostaria de reiterar que Campo Grande, como bem sabemos, é uma cidade viva, que pulsa no compasso de um desenvolvimento que reverencia a natureza e respeita o bem-estar das pessoas. Como aqui foi muito bem lembrado pela Senadora Marisa, cidade onde não existem mais favelas.

            À minha cidade morena, faço esta calorosa saudação por mais este aniversário; e o faço com a expectativa de que seu compromisso com a modernidade ecologicamente sustentável, com o progresso e com a independência política não seja apenas cortina de fumaça, mas, sim, compromisso com sua gloriosa história e com a memória dos seus altivos pioneiros.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Modelo1 7/18/248:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2009 - Página 38773