Pronunciamento de Romeu Tuma em 26/08/2009
Discurso durante a 142ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem a Bartolomeu de Gusmão, o "Padre Voador", pelos 300 anos da descoberta da possibilidade de elevar objetos mais pesados às alturas, pela utilização de balões. (como Líder)
- Autor
- Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem a Bartolomeu de Gusmão, o "Padre Voador", pelos 300 anos da descoberta da possibilidade de elevar objetos mais pesados às alturas, pela utilização de balões. (como Líder)
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/08/2009 - Página 39016
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, CRIADOR, TECNOLOGIA, TRANSPORTE, OBJETO, ESPAÇO AEREO, COMENTARIO, BIOGRAFIA, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESCOBERTA, CRIAÇÃO, AEROSTATO, DESENVOLVIMENTO, AVIAÇÃO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente.
Srªs e Srs. Senadores, primeiro, quero cumprimentar o Senador Demóstenes pela análise jurídica que fez dessa lei que tem sido discutida fora de hora. Ele fez uma bela análise jurídica sobre o problema.
Mas, hoje, estou aqui a pedido do próprio Comando da Aeronáutica.
Desde tempos imemoriais, o homem tentava deslocar-se como os pássaros, o que possibilitaria transpor com mais facilidade as matas, os rios, os montes e os mares.
A mitologia grega nos brindou, por isso mesmo, com a lenda de Ícaro, muito conhecida. Segundo essa lenda, Ícaro chegou a voar com asas confeccionadas com penas de pássaros e cera, mas, por voar alto demais, a cera acabou por derreter e Ícaro morreu no mar.
É uma simbologia interessante - não sonhar alto demais -, mas também reflete a necessidade de adequarmos os equipamentos por nós desenvolvidos aos propósitos aos quais deverão servir.
Depois, sabemos do projeto da hélice voadora elaborado pelo gênio Leonardo da Vinci ainda do Renascimento, há cinco séculos, projeto que foi aproveitado e desenvolvido, com grande utilidade e maior sucesso, somente no século XX. Aqui, trata-se do helicóptero.
O homem descobriu que poderia elevar-se aos ares há exatos trezentos anos. E o autor dessa proeza foi nada mais nada menos do que um brasileiro nascido na cidade de Santos: o padre, cientista e inventor Bartolomeu de Gusmão.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Bartolomeu Lourenço de Gusmão deve ser considerado maior ainda se levarmos em conta que cresceu numa colônia em que os recursos intelectuais eram parcamente distribuídos, uma terra em que a aquisição de conhecimentos era extremamente difícil, devendo os mais afortunados deslocar-se até a Europa para obter uma educação mais esmerada.
Filho de Francisco Lourenço e Maria Álvares, batizado em 19 de dezembro de 1685 na Igreja Paroquial da Vila de Santos, Bartolomeu cursou as primeiras letras na própria Capitania de São Vicente, no Colégio São Miguel, o único estabelecimento de ensino da região. Mas foi no Seminário de Belém, em Cachoeira, na Capitania da Bahia, que prosseguiu nos estudos e onde despertou para a profícua carreira de inventor.
Aí, o estudante já demonstrou sua capacidade de criar soluções fundadas em idéias engenhosas. O edifício do seminário ficava sobre um monte de mais ou menos cem metros de altura, e a água que o abastecia tinha de ser buscada em vasos num brejo próximo. Bartolomeu desenvolveu um maquinismo para levar a água do brejo até o seminário por meio de um cano longo, fato que causou admiração até no próprio reitor, Alexandre de Gusmão. O aparelho foi denominado pelo próprio inventor como “carneiro hidráulico”, nome que é utilizado até os dias atuais. Nessa época, Bartolomeu contava apenas treze anos. Em 1699, terminado o seminário em Belém, transferiu-se para Salvador, então capital do Brasil, onde ingressou na Companhia de Jesus, mas dela retirou-se em 1701, antes de se formar jesuíta.
Em 1702, depois de uma viagem a Portugal, onde impressionou a todos com seus dotes intelectuais, retornando ao Brasil, retomou os estudos para o sacerdócio, sendo ordenado em 1708.
Em 1705, pediu à Câmara da Bahia a patente para seu aparelho de anos atrás, o “invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quisesse levar”. A patente, concedida em 1707 pelo Rei Dom João V, foi a primeira outorgada a um brasileiro.
Em 1708, já na condição de sacerdote, retornou a Portugal. Em 1709, requereu patente para um “instrumento para se andar pelo ar” - hoje conhecido como aeróstato ou balão -, que foi concedida em 19 de abril do mesmo ano. Devido à divulgação do invento por grande parte da Europa com estampas fantasiosas, em que aparecia como uma barca com formato de pássaro, esse invento acabou se tornando conhecido por “Passarola”.
Foi somente em agosto de 1709 - há trezentos anos, portanto - que Bartolomeu de Gusmão fez as cinco primeiras experiências, perante a Corte portuguesa, com balões de pequena dimensão. O protótipo utilizado na primeira experiência, 3 de agosto, pegou fogo antes de subir. Em seguida, Bartolomeu de Gusmão fez outras, sendo a quarta experiência feita em espaço aberto, no Terreiro do Paço (hoje Praça do Comércio) e, desta vez, o balonete elevou-se a grande altura, fazendo um pouso suave minutos após. E ele foi até a quinta experiência.
Os testes tiveram prosseguimento. A experiência realizada em 3 de outubro de 1709 no pátio da Casa da Índia contou com um aparelho maior, apesar de ainda insuficiente para carregar um homem e demonstrou a viabilidade da invenção. O aeróstato atingiu grande altitude, flutuou por um espaço de tempo considerável, que não foi medido, e pousou sem problemas. Das quatro experiências realizadas com esse aparelho, três foram assistidas, seguramente, pelo Rei D. João V e sua Corte.
A descoberta da possibilidade de elevar objetos mais pesados às alturas valeu a Bartolomeu de Gusmão o epíteto de “Padre Voador”.
Esses balões não se popularizaram à época porque tinham algumas características que desaconselhavam sua utilização: eram considerados perigosos, porque desprovidos de controle, e podiam provocar incêndios. Esses pontos inibiam a construção de um modelo maior, tripulável.
Foi com a descoberta de Bartolomeu de Gusmão que os irmãos Montgolfier contaram para fazer a primeira subida do homem em balão, em 4 de julho de 1783, em aparelho ainda rudimentar e que se baseava na idéia de lastro para controle de altitude.
Mais tarde, com o desenvolvimento do know-how do vôo em balões, passou a ser utilizado um maçarico de chama regulável para aquecer o ar dentro dos balões. Assim, os mais recentes se utilizaram da variação térmica controlada, dando maior segurança às pessoas que se aventuravam no balonismo.
Os balões mais modernos utilizam gás não-aquecido, como o hidrogênio, o hélio, a amônia e o gás de carvão. O mais utilizado, principalmente em dirigíveis, é o hélio, porque proporciona maior segurança.
Aliás, a glória de comprovar a dirigibilidade dos balões pertence a outro grande inventor brasileiro, Alberto Santos Dumont, sobejamente conhecido e aclamado por nós como “Pai da Aviação”.
Foi ele que contornou a Torre Eiffel em 19 de outubro de 1901, retornando exatamente ao ponto de partida, o campo de Saint Cloud. Um percurso de 30 quilômetros foi feito em menos de 30 minutos, uma das condições que lhe valeram o prêmio de cinquenta mil francos, patrocinado pelo então magnata do petróleo Henry Deutsch de La Meurthe.
É necessário ressaltar a importância de Bartolomeu de Gusmão pela invenção do primeiro aparelho que permitiu ao homem elevar-se no ar. E 2009 é um ano extremamente adequado para as homenagens, tendo em vista que representa três séculos dessa descoberta. E mais: por ser o autor da façanha um brasileiro nascido em nosso território ainda no tempo do Brasil Colônia.
Cumprimento a Aeronáutica por ter lembrado essa façanha de Bartolomeu de Gusmão, pelos 300 anos da invenção e do uso do balão.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
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