Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Solidariedade ao presidente do Senado em virtude das denúncias publicadas na imprensa.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Solidariedade ao presidente do Senado em virtude das denúncias publicadas na imprensa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2009 - Página 36590
Assunto
Outros > IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, IMPRENSA, EXCESSO, DIVULGAÇÃO, DENUNCIA, AUSENCIA, CONFIRMAÇÃO, VERACIDADE.
  • SOLIDARIEDADE, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, VITIMA, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, CRITICA, CONDUTA, SENADOR, DEFESA, INVESTIGAÇÃO, CONFIRMAÇÃO, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, aproveito a presença do Senador Alvaro Dia aqui para referendar suas palavras agora ditas. Acredito piamente no Senador Sérgio Guerra como sendo uma pessoa de bem e responsável. A notícia está escrita. Mas nem tudo que está escrito é aquilo que na realidade nós falamos - eu já passei por isso.

            Quanto ao Senador Alvaro Dias, no momento em que foi perguntado, respondeu que preferia tomar conhecimento mais profundamente. Isso mostra o senso de responsabilidade que tem o Senador Alvaro Dias, principalmente responsabilidade com o nome dele - tantos anos dando credibilidade a esse nome - e responsabilidade com esta Casa.

            Excelência, pela minha formação de berço e de família e pela minha formação de médico - porque ali é uma verdadeira doutrinação que recebemos -, nós não podemos fazer nenhum tipo de discriminação. Se entra uma autoridade num pronto-socorro, porque levou um tiro na cabeça, eu tenho que proceder como médico, independentemente de ele ser autoridade ou não; se entra um marginal com um tiro na cabeça, eu vou proceder da mesma maneira.

            Por que estou falando isso? Porque eu não aceito nenhum tipo de injustiça. Então, quando eu falo, eu falo tendo a sensação de que não estou sendo malicioso e de que a minha fala não está direcionada para A ou para B. Eu falo com a sensação de que tudo que estou vendo aqui...

            Eu ainda não me acostumei ao julgamento político. Sempre me acostumei ao julgamento da verdadeira justiça. Do político não me acostumei, visto que, por tudo que já li, e já ouvi, e já conheci da história, os julgamentos políticos são cruéis, e acredito que 90% deles foram injustos.

            Nós, aqui nesta Casa, temos que tomar cuidado, porque quem está jogando esta Casa na lama somos nós mesmos, com nossos discursos muitas vezes até inconsequentes, alguns deles irresponsáveis, alguns deles personalistas, alguns deles tentando defender a eleição do ano que vem.

            Sou candidato no próximo ano e, por isso, fico à vontade para dar meu ponto de vista independentemente de ele me prejudicar ou não na eleição, porque o povo do Amapá me conhece e sabe que não sou de ficar em cima do muro nem de agradar a esse ou àquele por uma questão. Respeito todos os Senadores e tenho certeza de que todos me respeitam, mas tenho de me posicionar.

            Quanto a essa questão relacionada ao Presidente Sarney, já me posicionei diversas vezes aqui. A questão do Conselho de Ética é o Conselho de Ética que julga. Tenho certeza absoluta de que aqui não está havendo acordo nenhum, mas, ainda há pouco, falei que a mídia já disse que está. Então, não vamos nos livrar nunca, assim como não vamos nos livrar nunca daquele título que deram para os atos não publicados na Internet, de atos secretos. Aquilo não é ato secreto. Secretos, sim, são os gastos dos cartões corporativos do Governo Federal. Aqueles são secretos, e ninguém ainda procurou saber quais são esses atos secretos.

            Mas vejo o seguinte: temos diversos poderes e a presença da imprensa nesse processo todo, principalmente o democrático - porque, no ditatorial, ela só pode festejar aniversários, falar de solenidades autorizadas pela censura. Noutro dia, ouvi falar o seguinte. Parece-me que foi Clodovil dando uma entrevista, Senador Cristovam: “Antigamente, nós tínhamos a imprensa e a imprensa marrom, a imprensa séria e a marrom. Só que hoje não se chama mais de imprensa marrom; chama-se de mídia”. Palavras do Clodovil Hernandes, numa entrevista que ele dava.

            Por isso, nós nunca mais ouvimos falar em imprensa marrom. Mas a imprensa, que é fundamental nesse processo todo... Aí se diz: “Cuidado, não fala da imprensa, porque depois vão começar a te perseguir”. Eu acho que não tem nada disso. Eu acho que cada um tem seu direito de se expressar. A imprensa é fundamental nesse processo todo. Nós vemos a imprensa como elementar, básica, para que nós possamos estar aqui falando à vontade.

            O Executivo toma as decisões dele lá, e faz o que bem entende. O Judiciário toma as decisões lá, e faz o que bem entende. Só vamos saber depois, quando canta no Diário Oficial deles.

            Nós temos que saber passar por isso. Nós estamos aqui no único local, que é o Legislativo, onde se pode debater. Vai-se à Câmara dos Vereadores, há debate; vai-se às Assembléias Legislativas, há debate. Nós ficamos muito expostos. Então, por isso, acredito eu, a preocupação de cada um consigo mesmo. Quer dizer, tem-se que ficar aqui medindo palavras para não ser mal-entendido e, no outro dia, não levar pau na imprensa.

            Mas eu sei que jornalistas, muitos que eu conheço aqui, que conheço, que eu digo, com os quais eu convivi, e tal, são pessoas do bem, são profissionais da mais alta qualidade, profissionais que realmente trazem a informação pela qual nos informamos.

            Mas isso aí é uma chamada de atenção para nós. Eu não posso, Senador Paulo Paim, lá no meu Estado, pegar um jornal - há muitos -, de repente, ler algo sobre um adversário meu, e ir aos outros meios de comunicação dizer: olha, está aqui, o Fulano é corrupto, porque o jornal tal disse.

            Há uma história, que já aconteceu muito, que articulam - não é o caso - uma notícia ruim contra o cidadão para ter matéria para a próxima eleição. Aí dão a notícia contra o cara. Já saiu. O interessado já guardou. No outro dia dizem: “Olha, não foi isso”, tentam reparar aquilo, mas não interessa. Já foi motivo de matéria para a eleição seguinte. Não estou dizendo que seja isso. Mas vejo que o limite, o poder, esse grande poder, que é o poder da imprensa, na mão de maus profissionais, é muito perverso. É muito perverso! E eu aqui lamento profundamente, profundamente, que Senadores se despersonalizem e achem que devem dar, única e exclusivamente, resposta a outras pessoas e, não, à sua consciência. Não interessa quem seja. Quer dizer, martirizam a sua consciência em prol de um benefício pessoal: “Se eu for contra isso, não me elejo no ano que vem”. Isso aí é terrível!

            Mais ainda, quando falei na história da notícia para a campanha. Não vamos mais fazer isso! Já chega! O ser humano não pode ser injustiçado. Só quem sabe o que é uma injustiça é quem a sofreu. Só quem sabe o que é uma injustiça e sem direito a voz é quem já passou por ela. E todos nós estamos sujeitos a passar.

            Eu, sinceramente, lamento profundamente. Lê-se uma notícia no jornal e já se transforma aquilo em verdade. Hoje não é possível mais se fazer isso. Existem equívocos, existem más informações, existe ansiedade de se dar uma notícia, hoje principalmente, com a forma que temos de comunicação, sem checar.

            Outro dia, um jornalista me telefonou - olhem -, passei uns dez minutos esclarecendo tudinho, mas, no outro dia, a notícia era completamente diferente do que falei. Então, será que temos que dar uma entrevista gravando o que se está falando para depois contestar? Não. Eu dou credibilidade até que me provem o contrário.

            Então, Senador Paulo Paim, lamento profundamente que pessoas que conhecemos aqui, a maioria delas, estão aqui no Senado e são pessoas conhecidas nacionalmente, são pessoas que já têm uma vida pública a serviço da população de muitos e muitos anos. Essas pessoas não se podem apequenar na sua condição de experiência, de vivência, de preparo intelectual, não se podem apequenar e pegar uma notícia de jornal e transformá-la logo numa notícia séria, mandando apurar a vida particular de um companheiro. Isso é inadmissível! Isso eu não suporto! Acho que já estourou o limite da tolerância. Como o Senador Sarney aqui falou, poderia ser ele, poderia ser V. Exª, poderia ser o Senador Mão Santa, poderia ser eu, o Senador Cristovam, poderia ser qualquer um de nós a ficar sujeito a uma suspeita. 

            Da feita que sai na imprensa, Senador, não existe mais jeito. Está condenado. Quem é que vai ficar acompanhando até aquele se defender e dizer que é inocente? Ninguém! Fica com a condenação. Viu? Fica com a condenação.

            Quero, aqui, deixar este lamento de um médico, que está Senador hoje, que foi eleito pelo seu Estado sem nenhum tipo de recurso - eu não tinha nenhum carro, nenhum sonzinho, para dizer meu nome e meu número, viu? E vou me candidatar ano que vem e não tenho medo de falar dos meus sentimentos, da minha coerência e de mostrar, com isso, que nós, políticos, quando assumimos o cargo... Primeiro, aqui dentro, ninguém foi selecionado, previamente, pelo seu caráter. Ninguém. Cada um foi selecionado pelo que o povo acredita. Então, nós temos todo tipo de caráter no Congresso Nacional e nas Câmaras. Agora, não é depois de 36 anos, que é o limite... Se se estabelece limite é porque essas pessoas são tidas, pelo menos, como pessoas já equilibradas, vividas, que não vão fazer nenhum tipo inadequado de ação incompatível com a Casa.

            Para mim, esta Casa é um templo sagrado da democracia. Esta Casa jamais receberá, pelo menos de mim, qualquer tipo de alimentação ou incentivo para tumultuar este ambiente. Este ambiente está tumultuado por nossa causa, porque as ações a serem tomadas serão tomadas e julgadas em foro competente.

            Então, eu quero deixar registrado e lamentar a sistematização de uma verdadeira perseguição política - considero isso; podem anotar - ao Senador Sarney; é assim que caracterizo. Com essa agora, está traçado: é perseguição política. Querem fazer a cassação política dele. Esta Casa não é uma Casa de golpes, Excelência. Esta Casa já recebeu muitos golpes, mas não é Casa de dar golpes. Por isso, lamentavelmente, não posso falar o que querem ouvir. Tenho de falar o que sinto, o que julgo, o que lamento. Realmente, deveria ao menos haver - já que não há respeito político, em conseqüência de muitas questões que antecederam a eleição do Presidente Sarney - respeito ao ser humano, ao Sr. José Sarney, à família do Sr. José Sarney, respeito, enfim, ao cidadão. Quem desrespeita está provocando ser desrespeitado. Aqui na Casa, vamos respeitar uns aos outros. Vamos questionar em alto nível, procurar os erros e punir seja lá quem for, Presidente ou não, mas punir aqueles que merecem ser punidos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2009 - Página 36590