Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro das comemorações hoje, em sessão solene do Congresso Nacional, do Dia do Soldado.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro das comemorações hoje, em sessão solene do Congresso Nacional, do Dia do Soldado.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2009 - Página 39706
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, HOMENAGEM, DIA, SOLDADO.
  • COMENTARIO, HISTORIA, IMPORTANCIA, FORÇAS ARMADAS, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jefferson Praia, que preside esta reunião, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui no plenário do Senado da República ou que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, o Senado da República comemorou hoje, 27, o Dia do Soldado, numa sessão, Jefferson Praia, muito bonita, presidida pelo Presidente Sarney, em homenagem ao soldado brasileiro. As autoridades... Tivemos a oportunidade de ouvir o Hino Nacional e os Hinos das Forças Armadas. Foi uma sessão do Congresso. O meu Partido, o PMDB, foi representado por um Deputado Federal e um Senador, e o Senador não quis tirar a oportunidade: o Paulo Duque falou em nome do nosso Partido.

            Eu aprendi, no colo de minha mãe, que a gratidão é a mãe de todas as virtudes e quis Deus estarem aqui, presentes nas galerias, dois extraordinários homens da cultura e profissionais da comunicação do nosso Piauí: o Helder Eugênio e o Antonio Rodrigues.

            Então, nós, no dia 25 de agosto, Dia do Soldado, fomos agraciados pela maior comenda que eles têm. Está aqui, eu a coloquei. Duque de Caxias, o Pacificador. Então, é muito honroso e eu entendo que ninguém melhor do que eu poderia dizer para o Brasil o significado disto.

           Atentai bem: 81 Senadores e eles me chamaram para que eu recebesse, neste difícil momento por que passam a credibilidade da classe política e o Congresso, essa homenagem.

            Realmente, aqui temos o Zózimo Tavares, que é um jornalista extraordinário, que revive Carlos Castello Branco na sua cultura, na sua firmeza, colocando, aqui, o nosso General Enzo Martins Peri, que hoje esteve aqui.

            Hoje, nós vivemos, Jefferson Praia, o que aquele professor americano, Alvin Toffler, escreveu no livro A Terceira Onda: na primeira, o homem vivia da agricultura, há dez mil anos; depois, a segunda onda é a da indústria; e a terceira é essa, da desmassificação da comunicação, dessa eletrônica e tal.

            Então, a desmassificação da comunicação. Hoje, surgiram, com essas tecnologias da eletrônica, esses portais, esses blogs: Correio do Norte, também do Piauí; AZ; GP1; Portal O Dia e tal.Quis Deus que o mais importante estivesse aqui: o 180graus. Deus escreve certo...

           Mas o significado disso eu teria de dizer. Olha, primeiro, a Medalha do Pacificador, Caxias. Ele foi Senador também, ele não foi só Ministro da Guerra, não foi o que recebeu, o pacificador. Ele, Senador da República também, nos deu um grande ensinamento.

            Então, Suplicy, as três Forças estavam aqui. Eu ia demonstrar a importância das nossas Forças Armadas na nossa democracia e na nossa vida.

           Somos felizes pelos militares que temos e vou defender a tese. O que somos resulta do nascimento da democracia na Grécia, democracia direta em que o povo ia, Mozarildo, às praças. Aristóteles disse que o homem é um animal político. Mas era muita confusão, o povo todo nas praças, Helder Eugênio para falar. Começava de madrugada e à noite - naquele tempo, já tinha vinho, já tinha cerveja - não terminava e não dava. Isso foi aperfeiçoado na Itália. Passou a democracia a ser representativa. O símbolo do grande Senado romano, como Rui é o nosso, era Cícero, que dizia: “O Senado e o povo de Roma.” Nós podemos dizer: “O Senado e o povo do Brasil.”

            Nós somos filhos do povo, do voto e da democracia, de tal maneira que essa democracia que temos aqui... Este Senado é aperfeiçoado, porque um dos nossos, mostrando as confusões de um regime democrático, que nós, pela inteligência brasileira, embora tardiamente, pois levou cem anos para aquele grito do povo das ruas - “liberdade, igualdade e fraternidade” -, grito esse com que caíram todos os reis que viviam no absolutismo... Um deles chegou a dizer: “L´etat c´est noi”. Esse grito chegou ao Brasil cem anos depois, mas chegou, e os militares, no Império, garantiram a unidade deste País, comandados por Caxias, o militar, o Senador. Ele deixou um grande ensinamento para todos nós, que revivo: não humilhar os vencidos. Daí a comenda ser do Pacificador.

            Vários movimentos foram conflagrados aqui. Vencemos invasões de povos estrangeiros, debelamos movimentos nacionais - o maior deles a Revolução Farroupilha -, enfrentamos guerras externas - a da Tríplice Aliança - e ele deu um ensinamento que devemos trazer: não humilhar os vencidos.

           Não bastasse, na mesma época, um ensinamento muito oportuno que aprendemos da força militar, a Marinha - quanta objetividade -, um ensinamento para hoje: o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever.

           E vivemos um dos líderes que combateram o movimento que extrapolou os ideais democráticos: a ditadura Vargas, que o livro de Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, demonstra-nos que, mesmo que o ditador seja uma pessoa bondosa, trabalhadora, competente e generosa, a ditadura não é um regime bom. Memórias do Cárcere está aí, de Graciliano Ramos.

            Então, surgiu um militar da Aeronáutica, para dar o grande ensinamento dos dias de hoje. Nasci em 1942. Criança ouvi o eco, o som a respeito desse militar, o Brigadeiro Eduardo Gomes, destronando a ditadura. Ele dizia: “O preço da liberdade democrática é a eterna vigilância”. E nós aprendemos. O Senado da República, este Senado, foi a eterna vigilância.

            Graças a este Senado este País não saiu agora - ô Senador Casagrande - da nossa cultura democrática. A nossa cultura é a da Grécia; a da Itália do Renascimento; a da França da liberdade, igualdade, fraternidade; a da Inglaterra. Então, esse homem, exilado daqui pelo Marechal de Aço, foi para a Inglaterra e aprendeu a democracia bicameral. Por isso, este País é bicameral. E mostrando grandeza, porque, lá na Inglaterra, o rei havia fechado o Parlamento. Mas ele entrou, Senador Casagrande, em guerra com a Escócia e a Irlanda, e não tinha dinheiro. Ele reabriu o Parlamento, o Rei Carlos I, porque os parlamentares tinham credibilidade para conseguir dinheiro, para a Inglaterra enfrentar e vencer a guerra. Eis que surgiu o líder do Parlamento, Oliver Cromwell, que concordou em reabrir o Parlamento, mas impôs uma condição: jamais o rei estaria acima da lei. Aí nasceu a primeira convivência da democracia em um regime monárquico parlamentar. De lá, nasceu seu filhote, os Estados Unidos. Regime também bicameral.

            E Rui Barbosa, no exílio, na Inglaterra, aprendeu isso tudo e trouxe para nós. Essa é a nossa cultura. Por isso, Senador Casagrande, nós não temos nada a ver com a história de Cuba; nada a ver com a história da Venezuela, de Chávez; nada a ver com os aprendizes; Correa, do Equador; Moralez da Bolívia; com o padre reprodutor do Paraguai; a Nicarágua e a confusão de Honduras. Essa é a nossa cultura.

            E os militares, por que estão sendo homenageados? Ô Casagrande, em nenhum instante, nem o Marechal Deodoro, nem o Floriano Peixoto - o Marechal do aço -, nem o Hermes da Fonseca, nem os cinco militares - atentai bem! -, porque o que caracteriza a democracia é a divisão de poder. Ouve. Que o Executivo era forte, era forte. Mas existiu o Judiciário e existiu esta Casa. Fechou-se rapidamente. Uma delas, Senador Casagrande, sou testemunha, porque eu estava ao lado do maior dos Senadores que por aqui passou, o piauiense Petrônio Portella - ele fez votar uma reforma do Judiciário -. Mandaram os canhões. Fecharam. A imprensa foi a Petrônio Portella - e eu estava do lado dele -, e ele só disse uma frase: “Este é o dia mais triste da minha vida”. Aprendi, Casagrande, que a autoridade é moral. Os militares foram refletir e reabriram a Casa. “Este é o dia mais triste da minha vida.” Ele só disse isso, Casagrande. Eu estava do lado dele. Aí eu vi que a autoridade é moral.

            Tanto é que esse homem foi o escolhido para a transição democrática. Era ele. Ele ia ser o primeiro presidente civil; Tancredo Neves, seu vice. Ele confessou. Ele iria pelo PDS; o Tancredo pelo PP. Venceria o colégio eleitoral o PMDB. Ele se imolou. Senador Mozarildo, ele tinha um pulmão só e teve um enfarte. Não quis fraquejar. Não quis mostrar. Então, ele se imolou e morreu em seguida. Aí foi galgado para essa transição Tancredo, que também se imolou, que trouxe o Presidente Sarney, que, com sua tolerância, conseguiu fazer a transição na paz. Mas foi Petrônio Portella! Ainda hoje querem combater o ícone que deu o passo mais avançado: a Lei da Anistia. Esse foi o passo mais importante.

            E os militares? Eu quero dar o testemunho ao Brasil. Senador Eduardo Suplicy, eu conheci Castello Branco pessoalmente. Eu tive uma namorada, no Ceará, da família de um general, e o Castello era o superior dele. Então, conheci. Ô homem de bem! Ô homem sério! Ô homem honrado o Castello Branco! Eu o conheci. O julgamento é meu. E, depois, eu vivi, no Ceará, lá me formei. As raízes dele são piauienses. Aquela Batalha do Jenipapo, que hoje é comemorada pelo Exército, foi ele que conheceu a luta dos bravos piauienses com os cearenses para expulsar os portugueses do solo brasileiro e garantir a unidade nacional a este País, que seria dividido em dois. Então, foi Castello Branco que mandou que aquele 13 de março fosse comemorado nacionalmente pelo Exército como uma batalha da unidade.

            Conheci Ernesto Geisel, Mozarildo. Ô homem austero, sério, correto! Eu o conheci. Era Governador de Estado aquele que aqui discursou e aqui tombou: Senador Dirceu Arco Verde, que tombou em seu primeiro discurso. Meu amigo, inclusive fui Deputado Estadual para ajudá-lo a eleger-se Senador. Ele tombou no primeiro discurso. E era Geisel o Presidente. E conheci João Batista Figueiredo. Olha, eu o conheci na intimidade. Era Deputado Estadual João Batista Figueiredo, Presidente Lucídio Portella, irmão mais velho de Petrônio Portella. E o Lucídio nunca bebeu, não gosta de beber e não sei quê. E o nosso Presidente João Figueiredo foi lá por duas vezes para inaugurações, e havia um jantar na casa do Governador. O Governador não bebia, e o Presidente queria tomar uísque. Então, o Presidente chamava alguns para fazer companhia ao João Batista Figueiredo: Juarez Tapety, Gerardo Lages, eu; ouvíamos música, in vino veritas. Eu conheci o Figueiredo na intimidade. In vino veritas. Não podia passar as intimidades que a gente conversava. Mas, na minha psicologia, que sou médico, um grande homem, um homem de bem, um idealista, um militar.

            Deram uma missão para ele, Mozarildo: “Vai lá e faz a abertura”, o Geisel disse. Era como se dissesse para ele: “Vai para o Haiti”, e ele ia; “Vai para o Iraque”, e ele iria. Ele era militar. Mas puro. Cidadão de bem, honrado. Eu o conheci na intimidade, por duas vezes. Bebemos até, lá no Piauí, na casa... Ele era o que era. Ele nunca passou uma imagem diferente. Ele foi um militar. Primeiro, a melhor vida militar era a dele e a do Luiz Carlos Prestes. E o Geisel o recrutou e disse: “Faça a abertura”. Ele veio e fez. Ele não foi educado como nós, para ter essa tolerância política, mas fez a abertura.

           Atentai bem, Mozarildo, nós estamos aqui para fazer justiça. O que é a democracia? No meu entender, e entendo bem, aqui é o lugar para se dizer que somos os pais da Pátria. A democracia é a divisão de poder. Teve. E alternância de poder. Que eles fizeram eleição indireta, fizeram. Que eles se alternaram, se alternaram. Isso é o que caracteriza uma democracia. E o do Piauí foi considerado. Petrônio Portella, a sua luz, o homem convocado para ser Presidente, o primeiro civil, a anistia, Ministro da Justiça, um ícone da redemocratização, Presidente desta Casa por duas vezes. E mais: buscou um filho do Piauí, de Parnaíba, filho de carteiro com costureira. Com nove anos de idade abria a fábrica do meu avô. Mania de primeiro lugar. João Paulo Reis Velloso, vinte anos sendo a luz, o farol para o regime militar. Progressos muitos na tecnologia, na comunicação, nas estradas, nas pontes, nas coisas, na educação... Eu estudei no período... Nunca faltou a uma aula de Medicina. Fiz pós-graduação também em um hospital público, do Governo, o Hospital do Servidor do Estado, que era uma das melhores escolas de pós-graduados que existia na América do Sul.

            Então, o que queremos dizer é isto: com muito orgulho uso esta medalha. E dizer ainda o seguinte: João Paulo Reis Velloso deu grande ensinamento a serviço dos militares. Vinte anos de mando, nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Isso mostrou ao País e ao mundo as virtudes de nós piauienses. E aqui nós estamos.

            E todos, todos deram ensinamento. O Sr. Deodoro, o Sr. Floriano Peixoto, o Dutra - que eu vi, tinha nascido. Que ensinamento belo! Ô Mozarildo, ele entrou no lugar do Getúlio. Só um quadro para mostrar o ensinamento dos militares a nós. Muito oportuno e atual para esses aloprados que estão aí a assaltar este País.

            Dutra, no apagar do seu governo, eleito Getúlio, voltando nos braços do povo, chamou o genro e disse: “Veja uma casa para eu morar”. Entregou a faixa, entrou no carro do genro. Aí, era um sobrado grande. Ele parou e não quis adentrar. Disse: “Não tenho dinheiro para pagar essa casa. Como você faz isso?”. O Marechal Dutra, ex-Ministro da Guerra, ex-Presidente, sentiu que não tinha. Aí o genro disse - e esta é uma passagem bonita -: “General, Marechal, você pediu que eu resolvesse o problema. O senhor não vai pagar. Foi um amigo seu que lhe emprestou, nesta fase de transição”. Então, saiu nessas condições o Marechal.

            São essas homenagens que eu quero dizer. E não bastava isso tudo, esses ensinamentos, por aqui passaram brilhantes militares. Caxias foi Senador. Quem não tem saudade de Jarbas Passarinho, que ainda vive, Senador, cinco vezes Ministro deste País. Virgílio Távora, lá do Ceará, casado com uma parente minha, Moraes Correia. Exemplos deles.

            Então, queremos encerrar manifestando os agradecimentos de todos nós brasileiros pela seriedade daqueles homens, eles são o povo, eles são filhos de famílias, como nós, os militares, e têm competência para entrar no terceiro ano.

            Analise o que é o ITA, em que sonhei entrar, o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, a Embraer, a Marinha e o nosso Exército, além das missões de segurança, os inúmeros Batalhões de Engenharia a construir neste País. Lá no meu Piauí tem dois Batalhões de Engenharia. Mas o mais importante eles sempre garantiram, que foi manter hasteada esta Bandeira, com a mensagem positivista “Ordem e Progresso”, isso que sonhamos para o nosso Brasil.

            E agradecemos a participação das três Forças Armadas, que hoje foram homenageadas no Senado.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2009 - Página 39706