Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o novo marco regulatório para o petróleo do pré-sal. Necessidade de uma maior discussão dos projetos que tratam do pré-sal. (como Líder)

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Considerações sobre o novo marco regulatório para o petróleo do pré-sal. Necessidade de uma maior discussão dos projetos que tratam do pré-sal. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2009 - Página 41618
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, RETIRADA, REGIME DE URGENCIA, TRAMITAÇÃO, PROPOSTA, REGULAMENTAÇÃO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, IMPORTANCIA, EXTENSÃO, PRAZO, DEBATE, MATERIA, CONGRESSO NACIONAL, GARANTIA, CONTRIBUIÇÃO, CONGRESSISTA, APERFEIÇOAMENTO, PROJETO.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, EX-DIRETOR, DIRETOR, AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO (ANP), EMPRESA, GAS, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, INICIATIVA, GOVERNO, ADOÇÃO, MODELO, PARTILHA, GESTÃO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, PROVOCAÇÃO, RETROCESSÃO, TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO, FORNECEDOR, REPUDIO, ORADOR, FALTA, INTERESSE, GOVERNO FEDERAL, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, INEFICACIA, BUSCA, ALTERNATIVA, CONTROLE, EMISSÃO, GAS CARBONICO.

            A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pela liderança. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula apresentou, nesta semana, a proposta do novo marco regulatório para o petróleo no Brasil, com um discurso ufanista de que os recursos auferidos serão usados para combater a pobreza.

            O lançamento - todos certamente concordamos - foi uma senha para que, depois de 14 meses em gestação no interior do Governo, a sociedade brasileira participe do processo.

            Sem forçarmos muito a nossa memória histórica, verificamos que há 61 anos foi criado o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, que deu origem à campanha “O Petróleo é nosso!”.

            Mais uma vez, com as descobertas que podem alçar o nosso País à posição de 8º exportador de petróleo do mundo, o assunto volta à tona, com o mesmo nível de emocionalidade.

            Nesta oportunidade, faço, como quase toda a sociedade brasileira, algumas considerações sobre o assunto. Pela própria falta de profundidade do momento da discussão, falo sobre a amplitude das questões que se levantam, acima de tudo.

            Quer o Governo queira ou não, teremos que usar mais do que os 90 dias que nos foram dados como prazo para a discussão. A Lei do Petróleo tramitou no Congresso Nacional durante um ano. A discussão da Lei do Gás levou dois anos e nove meses para ser concluída. Analistas concordam que o marco regulatório do pré-sal é um tema muito mais complicado pelas implicações políticas e econômicas.

            Em nome da sociedade brasileira, de seu amadurecimento político e do processo de construção de sua cidadania, esta Casa tem o dever de exigir mais tempo para se manifestar.

            A criação de uma nova estatal, a Petro-Sal, para gerir a riqueza dos novos campos, e a capitalização da Petrobras, aumentando a participação governamental no seu controle, são sintomas de que o Governo pretende ampliar sua ingerência na exploração dos novos campos do pré-sal.

            O tom político, nacionalista e estatizante, marcou a cerimônia de lançamento da proposta do Governo para a exploração do petróleo na camada pré-sal. O modelo de partilha proposto pelo Governo e a colocação da Petrobras como operadora única da exploração são alguns dos temas polêmicos.

            A Agência Nacional do Petróleo ficou com o papel bastante reduzido com a proposta do novo marco regulatório para exploração do pré-sal. As mais importantes funções executadas pela ANP no atual modelo de concessão passarão a ser feitas principalmente pelo Conselho Nacional de Política Energética, Ministério de Minas e Energia e pela nova estatal, a Petro-Sal, no modelo de partilha a ser adotado.

            O ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, David Zylbersztajn, em entrevista ao jornal O Globo de hoje, critica a falta de argumentos para mudar regime de concessão. Palavras de David:

         “Nas futuras áreas, se aprovadas no Congresso, as regras previstas no projeto, há novas situações onde a ANP pode se tornar um braço de auxílio. A dúvida é sobre o papel da agência reguladora com a Petro-Sal. Quando se tem uma estatal como a Petro-Sal controlando as atividades do pré-sal e o ritmo como tudo será feito, ela, a Petro-Sal, se torna uma ANP do B e o poder da ANP fica reduzido neste caso”.

            Zylbersztajn acrescentou, ainda, que:

Ficou faltando o Governo apresentar com cálculos, com alguma planilha, algo que mostrasse o real motivo de substituir o modelo de concessão pelo modelo de partilha. Essa conta não foi feita e, até agora, ninguém perguntou sobre ela. O modelo de concessão se mostrou eficaz todos esses anos e a arrecadação é significativa. Foi com esse modelo, inclusive, que se chegou ao pré-sal.

            Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo de terça-feira, Marco Tavares, diretor da Gas Energy, avalia que a nova regulação, além de muito ruim, é absurda. Ele disse que as consequências desse modelo será “um enorme desincentivo à tecnologia e ao desenvolvimento de fornecedores.A existência de fornecedor ou comprador único não é boa em nenhum lugar. Comprador único é monopsônio.”

            Senhoras e senhores, especialistas afirmam que o processo de partilha é inferior ao da concessão. Na concessão há leilão público, transparente, e vence o melhor preço. Na partilha será uma burocracia que vai decidir com opacidade, ou coisa pior, dependendo do Governo.

            Qual o verdadeiro papel da Petrobras na nova proposta? Qual o quinhão que lhe caberá pesquisar? Qual a transparência em relação a esses aspectos particulares?

            O debate para a proposta, se houve, foi intramuros. Não foram ouvidos os Governadores, os Municípios, as organizações, os especialistas. O Governo ouviu apenas a si mesmo.

            Outro viés extremamente importante e que, infelizmente, foi totalmente ignorado é a questão ambiental. Exatamente neste momento em que o mundo procura alternativas urgentes e se esforça para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o Governo ignora o tema.

            Sr. Presidente, senhoras e senhores, a fórmula do marco regulatório criada, que não é consenso nem dentro do Governo, levou catorze meses em discussão. De repente, resolvem enviar ao Congresso Nacional quatro projetos, em regime de urgência, dando 45 dias à Câmara e 45 dias ao Senado para discutir e votar os projetos de tamanha importância. É uma tremenda desconsideração para com o Congresso Nacional e para com a própria população brasileira, que é a mais beneficiada com os debates que se abrirão aqui nesta Casa.

            O Governo precisa recuar. Prometeu a governadores que retiraria o regime de urgência e, depois, decidiu enviar os projetos em regime de urgência constitucional. Acredito que é fundamental, em um primeiro momento, retirar a urgência desses projetos para que nós possamos debatê-los aqui em profundidade e oferecer a contribuição do Parlamento brasileiro no aprimoramento das propostas que são de tamanha importância para o futuro do País e que não podem ser objeto de deliberações precipitadas.

            De nossa parte, os Parlamentares, não temos o direito de usurpar da sociedade o direito de participar dos debates sobre o marco regulatório.

            Nós temos a obrigação de estabelecer o mais profundo debate nesta Casa, para dar a sociedade o direito de opinar sobre a lei do pré-sal, que é um patrimônio do povo brasileiro.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2009 - Página 41618