Discurso durante a 140ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem de pesar, pelo falecimento do grande poeta, compositor, teatrólogo e jornalista amazonense Aníbal Beça, aos 62 anos.

Autor
Jefferson Praia (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: Jefferson Praia Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar, pelo falecimento do grande poeta, compositor, teatrólogo e jornalista amazonense Aníbal Beça, aos 62 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2009 - Página 38437
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, COMPOSITOR, AUTOR, TEATRO, JORNALISTA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, MUSICA, CULTURA.

            O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Pela ordem, Sr. Presidente.

            O povo amazonense, sua cultura, sua arte, suas letras, sua imaginação e sua sensibilidade estão de luto pelo falecimento do nosso grande poeta, compositor, teatrólogo e jornalista Aníbal Beça, aos 62 anos. Ele morreu na manhã de hoje, terça-feira, vítima de complicações renais e de diabetes.

            Nascido em 13 de setembro de 1946, Aníbal Beça ocupava a cadeira de número 28 na Academia Amazonense de Letras. Homem múltiplo, ele se dedicava tanto na vida contemplativa quanto no dinamismo de seu papel de grande animador cultural amazonense.

            Percorreu, com o costumeiro brilho e o seu carisma comunicativo e generoso, todos os postos das redações de todos os jornais manauaras. Também dirigiu a produção da TV Cultura do Amazonas e atuou como consultor da Secretaria de Cultura do nosso Estado. Foi Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Manaus.

            Líder classista de proverbial representatividade e legitimidade, vice-presidiu a União Brasileira de Escritores (seccional do Amazonas), além de presidir o Sindicato dos Escritores Amazonenses.

            Aníbal Beça amava a música popular como expressão máxima do talento daquele “saber de experiência feito” (como dizia Camões) da nossa gente mais pobre, excluída das oportunidades educacionais neste País, infelizmente ainda formado por maioria de não leitores que compensam sua marginalização educacional com musicalidade e ritmo fora de série.

            O povo do Amazonas e de todo o Brasil teve a felicidade de conhecer Aníbal Beça pelas suas numerosas contribuições ao cancioneiro pátrio.

            Já em 1968, “o ano que não terminou”, na famosa fórmula do escritor Zuenir Ventura, vencia ele o I Festival da Canção do Amazonas, o primeiro de uma série de 18 primeiros lugares em eventos semelhantes aqui e lá fora.

            Representou o nosso País no 8º Festival de Joropo de Villa Vicencio, na Colômbia, em 1969, e, no ano seguinte, foi o único artista amazonense a se apresentar no saudoso Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, com a música “Lundu do Terreiro de Fogo”, na voz poderosa da querida e eterna Sapoti (Ângela Maria).

            Longa é a lista dos outros grandes intérpretes que tiveram a honra de gravar suas músicas, dentre eles: As Gatas, o coral do Joab, Raízes Caboclas, Lucinha Cabral, Pedro Callado e Grupo Tynbre, para ficar apenas em alguns poucos nomes famosos.

            Apaixonado pelo Carnaval, Aníbal Beça prestigiou com seu talento a ala dos compositores das escolas de samba Reino Unido da Liberdade e Sem Compromisso. Esta última deve a ele, pelo enredo e pelo samba “Joana Galante - Axé dos Orixás”, o seu único primeiro lugar.

            Em 1999, recebeu justa homenagem da mesma escola de samba Sem Compromisso, com o enredo “Aníbal Bom à Beça”.

            Na cultura erudita, obteve o reconhecimento de figuras referenciais, como o poeta Carlos Drummond de Andrade que, em 1987, comentou: “Li Filhos da Várzea, os Poemas-Pôster e os Haicais afetuosamente a mim dedicados. Obrigado por tudo, meu caro poeta. É de coração aberto que lhe desejo a maior receptividade do público para a bela poesia que está elaborando e que, espero, marcará seu nome como um dos que engrandecem o cultivo artístico do verso”.

            A previsão do poeta maior frutificaria, poucos anos depois, em 1994, quando o livro “Suíte Para os Habitantes da Noite” venceu o 6º prêmio Nestlé de literatura brasileira, concorrendo com 7.038 obras de todo o País, na categoria poesia. No ano seguinte, essa obra foi publicada, no Rio, pela editora Paz e Terra.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toda uma tarde triste como a de hoje seria insuficiente para arrolar toda a riqueza do legado artístico de Aníbal Beça. Por isso, prefiro encerrar a minha homenagem e a dos outros Senadores que fazem parte da Bancada do Amazonas, Senador Arthur Virgílio e Senador João Pedro, por aqui, enviando nossas sinceras condolências à sua família e deixando com os ilustres Pares uma breve amostra de sua arte eterna, a poesia “O Destino”:

            Em cerdas de seda arremeto em pausa

            Meu coração toca arremato em pouso

            Música de pasto linha de nervura

            Nervos de galope todo corpo é frouxo

            Na ravina clara todo corpo é fúria

            As línguas de fogo são galhos erguidos

            Incendeiam tufos tuas mãos ardentes

            Brasas de gramínea regendo canteiros

            Amornam primícias e a secreta rosa

            No rubro casulo desvela essa tosa

            Um sol veste orgasmo nas ervas das águas

            E se põe arco-íris remato regaço

            E o jato de curva molhado regaço

            Alavanca a anca tão umida/mente

            Em forte arremesso sereno adormeço

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2009 - Página 38437