Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a gritaria com que alguns presidentes latino-americanos receberam a notícia da instalação de supostas novas bases militares norte-americanas na Colômbia.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Considerações sobre a gritaria com que alguns presidentes latino-americanos receberam a notícia da instalação de supostas novas bases militares norte-americanas na Colômbia.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2009 - Página 42282
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, JUSTIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, AMERICA LATINA, OPOSIÇÃO, DECISÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INSTALAÇÃO, BASE MILITAR, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, INEXATIDÃO, COMPARAÇÃO, INTERVENÇÃO, MOTIVO, RENOVAÇÃO, ACORDO INTERNACIONAL, COOPERAÇÃO TECNICA, COMBATE, TRAFICO, DROGA, GRUPO, GUERRILHA, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, AMEAÇA, SOBERANIA.
  • APREENSÃO, CRESCIMENTO, TRAFICO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), REGIÃO AMAZONICA, ALEGAÇÕES, DEFESA, AUTONOMIA, INDIO, INCENTIVO, SEPARAÇÃO, NACIONALIDADE, BRASILEIROS, OBSTACULO, PROTEÇÃO, FRONTEIRA.

            O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, a gritaria com que alguns presidentes latino-americanos - descontado o Brasil, que adotou uma posição combinando firmeza com elogiável cautela - receberam a notícia da instalação de supostas novas bases militares norte-americanas na Colômbia pouco ou nada tem de justificável, a não ser como forma de distrair a atenção dos problemas internos que enfrentam em seus países.

            Não faltou, na última reunião da Unasul, a União de Nações Sul-americanas, quem vislumbrasse o fantasma, exumado do túmulo da Guerra Fria, de uma nova “intervenção ianque no continente”. Esquecem-se os arautos da confrontação que, caso estivessem interessados numa intervenção na América do Sul, os Estados Unidos não teriam a mínima necessidade de criar bases na Colômbia.

            O que o presidente Álvaro Uribe fez não foi abrir o território de seu país para uma entrada maciça de forças norte-americanas. Ele simplesmente renovou um acordo de uma década, que permite a presença de algumas centenas de militares americanos em bases no seu território, para combater o narcotráfico, o que inclui as ações das chamadas Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Apesar do nome, hoje elas não passam de um bando de traficantes de drogas que tentam se encobrir sob um confuso manto ideológico para camuflar atividades criminosas.

            O próprio Uribe já enviou a seus pares um documento em que ressalta que as bases são "colombianas, com autoridade colombiana e sob jurisdição colombiana”, mas com cooperação técnica dos Estados Unidos, e que elas jamais servirão a "um objetivo unilateral" de Washington.

            Assim, o documento final da reunião da Unasul não serve a propósito algum quando afirma que "a presença de forças militares estrangeiras não pode ameaçar a soberania e a integridade de qualquer nação sul-americana e, em conseqüência, a paz e a segurança na região". Não temos, atualmente, em nosso continente, tropas de outro país que constituam ameaça à paz e a segurança regionais.

            Temos, sim, bandos de supostos guerrilheiros, como é o caso das Farc, na Colômbia, e de remanescentes do Sendero Luminoso, no Peru, que descobriram no tráfico de cocaína uma ótima fonte de renda, e têm o mau hábito de não respeitar fronteiras. Até porque, quando se trata de vender drogas, não é habito de traficantes considerar a existência de limites territoriais, a não ser para elaborar estratégias de burlar um eventual aparato de vigilância fronteiriça.

             Esta é a real ameaça à estabilidade da região, conjugada à atuação de Organizações Não-Governamentais estrangeiras na Amazônia, financiadas por fundações estrangeiras, inclusive dos Estados Unidos. São elas que, com base na Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, que a Organização das Nações Unidas aprovou, defendem uma perigosa autonomia para imensas extensões territoriais na fronteira amazônica, sob a alegação de que devem ficar sob controle indígena.

            Para essas organizações, os índios não são cidadãos brasileiros - devem ter direito a suas próprias “nações”, mantidas sob seu controle, sem direito à entrada de brancos, mesmo que sejam soldados para defender as fronteiras nacionais. Para as Farc e grupos assemelhados, a defesa de tal conceito é um presente dos céus, pois facilita imensamente sua ação, deixando o campo livre para que o tráfico se expanda sem restrições.

            Em vez de nos preocuparmos com a presença, aliás pouco significativa em termos numéricos, de militares norte-americanos na Colômbia, deveríamos prestar atenção à difusão do conceito de “nações indígenas”, termo que o próprio presidente Lula rejeitou.

            Os responsáveis por essa conceituação escondem interesses tão diversos e escusos quanto a biopirataria, a evasão de divisas, a lavagem de dinheiro, o tráfico de drogas, armas e não há limites territoriais a serem considerados narcotráfico não é o verdadeiro risco a nos ameaçar. Os perigos são o próprio narcotráfico - e as atividades dele derivadas -, junto com a atuação de organizações que ocultam propósitos escusos.

            É contra esses inimigos que a América Latina deveria unir esforços, para evitar que a desenvoltura com que operam assuma dimensões ainda maiores. Aí, sim, eles não poderão ser controlados - por nós mesmos ou com ajuda norte-americana, russa, ou de quem quer que seja -, pois será tarde demais.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2009 - Página 42282