Discurso durante a 142ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solicita ao presidente José Sarney esclarecimentos sobre uma entrevista na qual acusa o PSDB como responsável pela crise do Senado.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Solicita ao presidente José Sarney esclarecimentos sobre uma entrevista na qual acusa o PSDB como responsável pela crise do Senado.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2009 - Página 38789
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, ESCLARECIMENTOS, ENTREVISTA, IMPRENSA, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), RESPONSAVEL, INICIO, CRISE, SENADO.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Presidente, eu queria lhe solicitar um esclarecimento. Há um diálogo que a televisão brasileira divulgou, no qual V. Exª responde a algumas perguntas, mais ou menos assim:

Sarney: Isso é uma luta política, que está muito clara, está aberta, e que, na realidade, se tornou desta maneira...

Monforte: Luta política de quem? Quem está contra o senhor? Que forças são essas? A oposição não é.

Sarney: A oposição não é?

Monforte: A oposição aproveitou o que saiu na mídia.

Sarney: A oposição iniciou aqui dentro essa luta política.

Monforte: Mas puxada pelas informações da Polícia Federal. Foi a Polícia Federal que levantou...

Sarney: Não, a oposição levantou essa luta política desde o momento em que perdeu a eleição para que eu, junto com...

Monforte: Mas a oposição, que o senhor diz...

Sarney: Foi o PSDB. Foi o PSDB que levantou [inclusive aquele cartão vermelho ontem aqui].

Monforte: E o PT. O senhor provocou a crise dentro do PT exatamente por isso. O PT está contra o PMDB, como o PMDB está contra o PT.

Sarney: Sim, porque há uma ala do PT que nunca aceitou que eu tivesse apoio do Presidente Lula.

Monforte: Mas então não é só a oposição.

Sarney: Mas se fixou na oposição. O PT não fez nenhuma representação contra mim.”

            Presidente, os fatos não são esses. Os fatos são absolutamente diferentes. Primeiro, o PSDB jamais governou o Senado Federal. Ele não foi, em nenhum momento, nem Presidente, nem administrador deste Senado. Segundo, não foi o PSDB que levantou acusações e críticas à atual gestão do Senado ou ao Senado em gestões anteriores. Essas críticas foram levantadas na imprensa.

            Terceiro: não foi o PSDB o primeiro partido a solicitar o afastamento do Senador José Sarney. Partidos aliados dele o fizeram antes, a exemplo do PT, que, por uma ou outra razão - seguramente o Líder Mercadante é capaz de informar -, mudou de opinião.

            Presidente, o PSDB não tem, nesse caso da luta que se desenvolve aqui, no Senado, nenhuma preocupação pessoal, em nenhum momento. O PSDB jamais conspirou contra o mandato de V. Exª.

            Quarto: o PSDB sempre reconheceu o direito ao contraditório e não prejulgou ninguém. Nossa posição sempre foi, do começo até o fim - e será até o final, sem mudança de atitude - a posição de solicitar, sempre, que denúncias feitas sejam esclarecidas; de que, no Senado e na vida pública, o que se fala lá fora tem de ser respondido aqui dentro e de que a imprensa cumpre, da sua forma, o seu papel, e cabe a nós cumprirmos, aqui dentro, nosso papel.

            O PSDB não levantou crise, reconhece que a crise não tem começo, meio e fim no Presidente José Sarney, mas entende que este Senado está - e continua a estar - em estado de crise. Em estado de crise, porque é inconcebível que um senado, em uma democracia, viva momentos como o que vive hoje o Senado brasileiro e que tenha sobre ele o julgamento que a opinião pública tem dele.

            Não é uma coisa real atribuir um julgamento público à imprensa e apenas a ela. E vou dar um exemplo disso: o Presidente Lula é o principal autor, e não o PSDB, da crise que hoje se desenvolve aqui. E o Partido dos Trabalhadores é a principal vítima da crise que se desenvolveu aqui. O Presidente Lula continua com elevados índices de popularidade e tem enfrentado uma forte oposição da imprensa, nesse aspecto, no Brasil inteiro. Se o Presidente Lula reclama da imprensa, como reclama da Justiça, como reclama do Senado é porque o Presidente Lula se julga uma personalidade acima do bem e do mal e não considera, como deveria, o valor das instituições. Ele é muito transitório na sua atitude em relação ao Congresso. Nesse episódio mesmo, várias vezes fez defesa pública do Senador José Sarney, logo a seguir disse que a questão era do Senado, para depois dizer ao contrário. Nessa atitude, ele enlouqueceu o PT de vez, porque o PT nunca resolveu o seu problema de ser um partido vinculado a interesses absolutamente não republicanos e de ser um partido que tem compromissos populares assumidos ao longo de sua história. Essa contradição o PT não resolveu. O PT jamais explicou por que, quando assumiu o governo, lá atrás, não ajudou a estimular uma reforma política no Brasil e, em vez disso, promoveu o “mensalão”, que é o pai e a mãe não do PAC, mas de todas as crises que se desenvolvem no Congresso.

            Agora, Presidente, o PSDB não tem nada com isso. O PSDB não radicalizou sua posição. O PSDB defendeu sempre uma atitude respeitosa com todos. O PSDB sabe o que combate e sabe por que combate. Em nenhum momento nós fomos o Partido, como V. Exª afirmou, que produziu essa crise. Jamais houve isso em nenhum lugar. Estranho que tenha ouvido isso do Presidente José Sarney, que é o Presidente do Senado, a quem sempre consideramos e respeitamos. Atitudes de divergência, atitudes de debate, de democracia têm que ser consideradas e respeitadas no seu devido padrão.

            Nesta semana começou, aqui no Senado, a escolha do homem mais honesto do Brasil. Aqui, agora, há uma concorrência para saber quem é mais honesto do que os outros, quem foi mais combativo do que os outros, quem mais defende o povo, quem é mais íntegro. Nós sabemos quantos aliados nós tivemos nessa luta que nós perdemos, aritmeticamente, aqui no Senado. Não foram muitos. Foram muito poucos. Posição firme nós respeitamos no PMDB, mesmo não aceitando a sua atitude, porque teve uma posição antes, durante e depois da crise. Posição firme nós não aceitamos naqueles que dizem uma coisa hoje, outra coisa amanhã e que não se definem dentro nem do primeiro compromisso e nem do segundo. Agora, a nossa atitude, de ponderação, muitas vezes criticada, dessa atitude nós não nos afastamos. Nós votamos no Senador Tião Viana, nós mantivemos a nossa posição, nós apoiamos o Presidente José Sarney, tão logo ele ganhou a eleição, porque entendemos que o seu compromisso era indispensável para a melhoria do Senado. Tentamos ajudar nisto - muitas vezes, eu próprio -, mas consideramos absolutamente injusta, absolutamente equivocada a palavra do Presidente do Senado quando afirma que o PSDB está na origem dessa crise. Nem o Presidente José Sarney e nem ninguém aqui tem autoridade para dizer isso; nenhuma autoridade, nenhuma responsabilidade para dizer isso. É muito estranho que o senhor tenha feito isto. Nunca ouvi isto do senhor, pessoalmente, e estranho que o senhor tenha feito isto na imprensa, na televisão.

            Seguramente, fatos podem ter justificado; talvez uma atitude menos... Não uma atitude, mas algum nervosismo, alguma falta de tranquilidade, no instante em que foi perguntado. Mas seria importante que o senhor dissesse a nós hoje se o PSDB, de fato, foi o Partido que produziu, desenvolveu esta crise aqui, porque isso está muito mal, essa questão está mal explicada pelo Presidente José Sarney e não pode permanecer dessa forma.

            Nós do PSDB, e eu, como Presidente do Partido, não aceitamos isso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2009 - Página 38789