Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca do início da campanha eleitoral para o pleito do ano que vem.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA SOCIAL.:
  • Reflexões acerca do início da campanha eleitoral para o pleito do ano que vem.
Aparteantes
João Tenório.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2009 - Página 43326
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, BRASIL, PREJUIZO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), COMENTARIO, VISITA, MUNICIPIOS, INTERIOR, DIVERSIDADE, CANDIDATURA, GOVERNADOR.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPOSIÇÃO, CANDIDATO, DESPREPARO, SUCESSÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AUSENCIA, ESTUDO PREVIO, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, RETROCESSÃO, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, PROGRAMA ASSISTENCIAL, BOLSA FAMILIA, SUGESTÃO, APERFEIÇOAMENTO, ENTREGA, GESTÃO, PREFEITO, AUMENTO, RENDA, ENCAMINHAMENTO, TRABALHO, TENTATIVA, CONTROLE, VIOLENCIA.
  • PROTESTO, AUSENCIA, ATUALIZAÇÃO, TABELA, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), REDUÇÃO, INVESTIMENTO, SAUDE PUBLICA, ESTADOS, IGUALDADE, PROBLEMA, EDUCAÇÃO, PERDA, QUALIDADE, ENSINO, CRESCIMENTO, ATUAÇÃO, ESCOLA PARTICULAR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Flávio Torres, que preside esta reunião de segunda-feira, 14 de setembro, Parlamentares presentes e brasileiras e brasileiros que estão aqui no plenário do Senado e que nos assistem pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado.

            Senador Flávio Torres, a bem da verdade, nós vivemos hoje um momento político, Antonio Carlos Valadares. Sua Excelência o Presidente Luiz Inácio antecipou. Eu tenho 66 anos de idade e já me candidatei algumas vezes. Ganhei eleições, perdi. Eu nunca perdi foi a vergonha e a dignidade. Mas o diferencial disso foi que o Presidente, o grande líder, antecipou as eleições. Senador Flávio Torres está em clima de eleição o País, e Antonio Carlos Valadares, V. Exª que é um homem de alta reflexão, isso aqui não vai ser uma corrida de cem metros rasos, duzentos, não. Vai ser uma maratona. Não é nem aquela maratona de 42 km, é uma maratona gigantesca, porque começou muito antes.

            Para as eleições, já está todo mundo em campanha. Todo mundo em campanha. Só se fala em política, os governos que estão aí, João Tenório, estão atrapalhados com os envolvimentos de campanha, que prejudicam uma administração, o País todo. Não vou dizer que ele fez isso conscientemente, mas o fato nunca antes, como ele diz, nunca dantes, como Camões... João Tenório, vai ser um maratona. E o custo, um desserviço, má administração.

            Olha, lá no meu Piauí é que a zorra é maior.

            Então, realmente, eles chamam de base aliada. Não tem nada de aliada, não. É uma base que juntou um bocado de gente. Mas eles mesmos acusando eles mesmos. O negócio está feio.

            Olha, Antonio Carlos Valadares, nós somos pais da Pátria, estamos fazendo uma análise de quem estudou muita coisa. O prejuízo que o nosso Presidente da República deu à democracia foi imensurável. Primeiro, tirar uma candidata do bolso. Isso não existe mais. Já tínhamos esquecido isso. Os Estados Unidos deram exemplo. Quer queiramos ou não, o nosso modelo democrático é esse, Luiz Inácio. O Rui Barbosa foi lá para a Inglaterra, viu o bicameral, a democracia bicameral, representativa; da Inglaterra, a monarquia; e o presidencialismo do seu filhote Estados Unidos. É esse que nós vivemos.

            Mas, bem aí nos Estados Unidos, o Partido se aproxima do povo, os candidatos nasceram com a força do povo. O Barack Obama nunca pensou em ganhar uma convenção. Não era o favorito, ele pensava daqui a oito anos. Mas as primárias vão aquecendo, o povo, participando, vai discernindo.

            Aqui nós invertemos. Houve um retrocesso. O Presidente tirou uma candidata sem razão nenhuma, sem estrutura nenhuma de vida política. Isso não é assim, tem que ter uma vida política. Para você ser papa, tem que ser seminarista, tem que ser padre, bispo, arcebispo, cardeal e papa. É a mesma coisa. Não disputou nada, não sabe nada. Aí, quando ele caiu na realidade, porque realmente ele é um líder popular... Mas o homem do Ibope, que tem trinta anos acompanhando, disse que ela tem 20%. Luiz Inácio já fez muito: são 19% dele, e 1% dela. Está definido.

            Então, a emenda está pior do que o soneto, Senador João Tenório. Para ele recuperar... E ele ficou assim, vamos dizer, na soberba antes de apresentar a candidatura para o Partido, para os seus coligados, porque o nome veio assim como a fumaça, que vem do fogo. Mas, sair assim do bolso, isso é um retrocesso.

            E aí na corrida, Senador João, na soberba, começou a campanha. Digo isso entristecido, porque só se fala em campanha. E os custos, João Tenório - você é porque tem muito dinheiro e é usineiro. Nunca teve isso. Porque já disputamos. Eu até sou prático e, para ensinar, eu sempre antecipei. Por exemplo, lá na minha cidadezinha Parnaíba, João Pedro, não tem aquele réveillon? Quando tocava o Hino Nacional, o cumprimento já era um pedido de voto. Tocava no réveillon, mas já era antes. Agora, já começou o negócio. Olha, fui a uma festa religiosa que tem em Santa Cruz do Milagre, no Piauí. Não está perdendo para Canindé, não. Fui até lá e fiquei encantado. Santa Cruz do Milagre. É uma cidade interessante do Piauí. Está uma Canindé. Fui muito mais a Canindé, porque meu nome é Francisco, paz e bem.

Onde houver ódio, que eu leve o amor;

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;

Onde houver discórdia, que eu leve a união;

Onde houver dúvida, que eu leve a fé;

Onde houver erro, que eu leve a verdade;

Onde houver desespero, que eu leve a esperança;

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

            Fiz até um programa, quando eu era Governador. Era o Luz Santa. Os pobres não pagavam. Fui a Santa Cruz dos Milagres. O Prefeito é Neto. Rapaz, é um moreninho enxuto! Os repórteres chegaram para ele, pedindo que contasse um fato, que essa Santa Cruz fazia milagres. Aí ele chegou para a reportagem e disse: “Você quer um?” O Prefeito, um moreninho de bicicleta, ganhou dos poderosos. Aí o jornalista, amigo, disse que só um milagre, não é? De bicicleta. Mas não vem ao caso. Eles dizem, mas não sabem nem contar. A história já foi contada, meu pai contou, meu avô contou e meu bisavô contaram. Aqueles tempos de Antonio Conselheiro, do Padre Cícero - sabe essas histórias? Diz que chegou lá um cara com uma cruz rústica, rústica e mandou um caboclo enterrá-la. Agora, não deu instrumentos, nem ferramentas. “Não, você pega aí uma estaca de pau.” “Mas como é que eu vou furar aqui, esse barro duro aqui nessas rochas?” “Você tem que ter fé, a fé faz tudo, fé.” Eu sei que o caboclo acabou enterrando essa cruz, e aí se sucederam e tal. Mas é uma fé extraordinária!

            Mais interessante - eu fui lá -, mais interessante que políticos e tudo... É um negócio... Meu nome é cristão, mas tem gente que não tem afinidade; meu Francisco é um nome cristão. Mas a campanha alastrou-se. No Piauí, já temos cinco candidatos a governador em campanha, cinco em campanha! E cada um... Quer dizer, ó Luiz, eu não vou dizer que foi .... Mas é um fato, eu estou contando. Antecipou e está longe. Olhe, falta mais de um ano. Bote esses custos de serviços, porque os órgãos administrativos, ô Flávio, se comprometem, os prefeitos, o Governador do Estado. As brigas entre eles lá no Piauí estão horríveis. É um deputado acusando o outro, que foi secretário e só quer para ele; do mesmo lado, está entendendo? Porque as vantagens já começaram.

            Eu fui Governador do Estado do Piauí. Eu quero lhe dizer que eu fui convidado para vice, mas eu não era a pessoa... Vamos dizer, a opção primeira era o professor Wall Ferraz, do PSDB, Prefeito da capital, professor honrado, três filhos... Agora, ele disse que eu era o melhor vice para ele. Botou um comunista. Fez pesquisa. Botou um do PT que hoje é Deputado Federal. Botou um comunista. Na pesquisa, quando ele botava o meu nome, melhorava. Mas ele era Prefeito de Teresina, não tinha ganho uma. Vamos dizer... Começava mudar a lei. Mas, no fim, ele não quis deixar. E eu fui. Não era o segundo, não; nem o primeiro, nem o segundo. Tinha um Senador Chagas Rodrigues, pessoa brilhante; foi cassado na Revolução, voltou, foi Senador, foi Vice-Presidente aqui. Na hora lá, ele disse: “Olhe, já estou com idade avançada. Acho que isso é bom para aquele menino que foi Prefeito de Parnaíba”. Porque ele era de Parnaíba. São as coisas... Mas foi a convenção. Cheguei lá na convenção, isso foi uma decisão às vésperas, não tinha nem retrato. “Como é que vai ser candidato a Governador?” Não tinha nem retrato. Foi assim. Eu quero dizer... Aí só teve um jeito.. Rapaz, quando eu era prefeito... Jogou-me na campanha na véspera. Para sair ali, há uns mil. Interessante que outro dia eu fui a uma cidade do Piauí, São João da Serra, e tem esse retrato. Eu disse: “Rapaz, isso é raro! Eu era Prefeito”. Porque ele foi à convenção, e aqueles partidários... Mas foi em julho do ano de 1994.

            Olhe que vai ser duro. Olhe, não está mole, não. Isso é do Piauí, mas também do Brasil todo.

            No Piauí, já há cinco candidatos a Governador nesta altura. Quando eu fui candidato, quero dizer que fui já na véspera da convenção. Campanha boa, três meses. Agora, está o País todo. E aí estraga. Mas quem não está fazendo campanha está na frente: o José Serra, que está cuidando do Governo dele. Isso dá uma reflexão. E o Luiz Inácio tem essa popularidade? Tem. É a maneira de viver, a afetividade do povo.

            Agora, no meu entender - e entendo bem, João Tenório, e não é pouco, não; eu entendo bem das coisas -, a maior obra do Presidente foi o salário-mínimo. Não é o que os aloprados estão pensando. Isso tem muito a ver aqui conosco. Sempre trabalhamos para aumentá-lo - ele era de US$70,00 -, com o Paulo Paim. E houve o que Rui Barbosa disse: a valorização do trabalho e do trabalhador. Ele vem antes, ele é que faz a riqueza. E foi a distribuição.

            Esse programa, realmente, alastrou-se, e é uma caridade. Ninguém é contra a caridade - fé, esperança e caridade. Mas eu, se chegar a Presidente - e isso seria bom para você, João Tenório, para tudo, porque eu entendo das coisas -, eu pegaria... Eu fui prefeitinho; o Luiz Inácio não foi. Fui governador; ele não foi. Olha, João Tenório, caridade para 13 milhões de pessoas... É muita gente. Atentai bem: Portugal, nossa pátria mãe, tem 9 milhões de habitantes. Você vê o número.

            Agora, eu entendo que o trabalho é que dignifica. Aquele negócio, eu acho que devia estender; se eu fosse o Luiz Inácio - e seria bom para o País - eu colocaria esse povo para estudar e para trabalhar, que é em que eu acredito e é o que me fez estar aqui. Seria simples. Não é difícil não, Luiz Inácio. É que V. Exª está rodeado de aloprados por todos os lados.

            Para isso é que existe prefeito, João Tenório. Eu fui prefeitinho. E os prefeitos são gente boa, os prefeitos são honrados, os prefeitos são decentes, os prefeitos são dignos. Eu fui prefeito. Rapaz, é uma luta! É o dia a dia, é o sofrimento, é a casa. Eu e a Adalgisa nos devotamos. Tanto é assim que eu saí da prefeitura da minha cidade, João Tenório, e, dois anos depois, nessas circunstâncias - eu nem tinha sido preparado -, fui candidato a Governador e tive 93,84% dos votos da cidade de que fui prefeito.

            Então, o prefeito se devota. A maioria é devotada. Eu os conheço. Eu fundei no Piauí 78 novas cidades. Então, eu os conheço.

            Eles quiseram inventar a roda. O homem é gente boa, esse Patrus Ananias - ele teve sorte - é um homem de bem. É um homem honrado, é um homem digno. É um cabra... Mas não precisava. Isso ele tinha de ter entregue aos prefeitos. Os prefeitos é que sabem das coisas. A gente sabia de tudo, eu e a minha mulher. Olha, o prefeito sabe tanto que eu vou contar uma coisa, João Tenório. Não existe quem saiba mais. Muitos são os chamados e poucos os escolhidos.

            Olha o José Dirceu, com todo respeito, eu não tenho nada contra, só na história. Sabe que o José Dirceu fugiu, foi exilado - e o homem do PV, o Gabeira, seqüestrou. Então, ele veio para o Brasil, fez plástica e foi para o Paraná - você vê na biografia dele. Lá arrumou uma namorada com quem depois casou. Ela era funcionária da prefeitura. O prefeitinho - digo com amor - chegou para ela e disse: “Esse homem é estranho - prefeito sabe tudo -, não é normal, só toma um copo de cerveja, não toma mais”. Começou a ver. Ele era namorado dela, da funcionária. Aí o prefeito desconfiou que aquilo estava fora da normalidade. Para você ver, Luiz Inácio, o que é um prefeito. Aí, a mulher apaixonada - eu estou falando com todo o respeito; estou contando um fato - chegou, e o prefeito disse: “Não, isso não está certo. O comportamento dele está esquisito, até a maneira de se conter ao beber”. Aí ele foi em cima dela: “Quem é ele mesmo? Ele me é estranho”. Para você saber o que é um prefeito. Aí ela, apaixonada, disse: “Não, é meu primo; é um primo meu”. Aí, o prefeito: “Bom, se é primo, é de confiança”.

            Então, o Luiz Inácio deveria entregar essas bolsas para 5.564 prefeitos. Diluía, não diluía? O prefeito pegaria aquela gente que está recebendo “x”, daria mais “y”; pediria ao Governador que desse “z”. Aumentaria o dinheiro, mas encaminharia o cidadão para o trabalho. Se ele é forte, poderoso, vai ser guarda municipal, vai ser vigia da praça. Se é mulher que entende da culinária, da cozinha, vai fazer a merenda escolar, vai trabalhar no serviço social, nos abrigos de velhos. Se é do campo e sabe plantar, vai cuidar do jardim das praças públicas.

            Os prefeitos, João Tenório - ouviu Luiz Inácio? -, quando nasceu o serviço social, eles colocavam esse pessoal, encaminhavam ao trabalho. “Comerás o pão com o suor do teu rosto”, disse Deus. O Apóstolo Paulo disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”. O trabalho dignifica; e eu digo, Luiz Inácio, como médico. Hoje, o trabalho é usado pelos psiquiatras.

            Mas, de qualquer jeito, ele granjeou... Eu aprimoraria esse serviço, mas o povo aplaude a caridade. Nós estamos fazendo uma análise. Agora, que não está bom, não está não, Luiz Inácio. Olha essa pesquisa do Serra. Tem de se fazer uma reflexão. Por quê? Se tivesse bom, não seria este o resultado. Porque o governo é muito vulnerável, e vou dizer primeiro em quê: segurança.

            Quanto a segurança, João Tenório, vou raramente à minha cidade, onde o povo me fez Governador, por dois mandatos, e Senador. Aí, quando quis ir à casa do Dr. Valdir - meu amigo, estudamos juntos -, JoãoTenório, eu não a reconheci, porque as casas que eram todas como você vê em Coral Gables, em Miami, como se vê no Uruguai, com jardins abertos, com muros baixos. Rapaz, agora, é tudo muro alto. Se é casa de rico, colocam aquela rede elétrica que dá choque; se é médio ou pobre, também fazem muro alto e colocam aqueles cacos de vidro em cima. Eu fui e não reconheci a casa do meu amigo.

            Na minha memória, era aquele jardim, com muro baixo. Mas agora não se vê mais. Então, por causa da violência, de sequestro, rapto, as famílias não têm segurança mais, no meu pacato Piauí! Na Bahia, vocês viram agora. Todo dia isso se reproduz. Eu não sei lá no seu Estado, João Tenório, mas, o meu Piauí está violento.

            Olha, João Pedro, o hábito, a tradição maior era aquele negócio de velório, sentinela. Não se faz mais, não, em Teresina. Outro dia, eu cheguei lá e disseram: “Rapaz, morreu o Dr. Paulo” - um amigo. Eram, mais ou menos, seis horas ou cinco e meia, eu disse: “Adalgisa, vamos de noite ao velório”. Quando eu cheguei, Flávio Torres, para o velório, disseram: “Nós já o enterramos”. Eu disse: “Mas enterraram como? Ele não morreu às cinco e meia?” Eles disseram: “Bem aqui, no vizinho, foram fazer um velório de noite, entraram lá e roubaram até o defunto, sapato e tudo”. Então, está todo mundo apavorado no Piauí. É comerciante que fecha loja, é homem da farmácia que diz: “Senador, eu estou ganhando dinheiro porque compram pelo telefone. O pessoal já não vem mais de noite”. As pizzarias, os restaurantes... Então, a violência é grande, João Pedro. Por isso, o povo sonha com a alternância.

            Outra que nós temos de dizer...

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Senador, V. Exª me permite um pequeno aparte?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permito, porque V. Exª enriquece o Senado e o Brasil com o trabalho de empresário vitorioso que V. Exª é.

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Muito obrigado. Na véspera de esta Casa ser convocada, convidada para discutir a reforma política, de certa forma, fico com uma pulguinha atrás da orelha, porque, toda vez que o Governo quer sair do foco de coisas realmente importantes - e mais importantes até do que uma reforma política -, ele joga esse assunto como tema a ser discutido. A reforma tributária está aí, morreu, acabou, e ninguém faz nada. Talvez seja a coisa mais importante e mais urgente que deveria acontecer neste País, a fim de se relançar o crescimento efetivo e sustentado. Enfim, estamos na véspera de iniciar uma discussão forte, com votações consequentes, da chamada reforma política. E é uma satisfação muito grande, além de me causar uma tranquilidade, ver homens como V. Exª, com a experiência que tem, passando de Prefeitinho a Governador do Estado, a Senador da República, cobrindo, digamos assim, todo esse arco político. Sem sombra de dúvida, assim como está fazendo neste momento, V. Exª dará contribuições importantíssimas para que essa discussão tenha sentido, tenha objetivo e encaminhe-se da melhor maneira possível. E o que é muito importante, Senador, V. Exª não só vai fazer isso, como já está fazendo, mas também vai transmitir ao povo brasileiro, como ninguém neste Senado consegue fazê-lo, pela sua facilidade de colocação, por falar, digamos assim, a língua do povo... Digo isso pela minha terra. V. Exª, tirando os Senadores alagoanos que são de lá, é seguramente o Senador mais conhecido. Se V. Exª fosse candidato em Alagoas, ia fazer um calo de sangue grande em muita gente lá, tenho certeza absoluta.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu ia pedir voto a V. Exª.

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Então é essa maneira de levar ao povo, com a facilidade que V. Exª tem para fazer com que essa discussão tenha efeitos, tenha consequências e seja, sobretudo, um debate sobre o tema. Não adianta fazer discursos aqui completamente complexos, porque a população não toma conhecimento. Não é que não tome conhecimento: não entende o que se está dizendo. E V. Exª, pela maneira clara e direta como fala a língua do povo, vai fazer com que aquilo que se discute aqui seja espalhado pela sociedade brasileira, fazendo com que a sociedade tenha participação nesse processo com reflexões acerca do tema. Parabéns por sua demonstração absoluta de conhecimento de todo o arco: de Prefeitinho de Parnaíba até o grande Senador que V. Exª é.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço e incorporo todas as palavras desse grande homem de experiência, que representa a grandiosa Alagoas.

            A segurança está aí. Norberto Bobbio - V. Exª é professor -, do Senado da Itália, o mesmo de Cícero, o Cícero nosso, que dizia: “Pares cum paribus facillime congregantur” - violência acarreta violência. É isso que está no Brasil. É muito oportuno. Lá, há uns Senadores vitalícios escolhidos - Norberto Bobbio recentemente. Mas o mínimo que se tem de exigir de um governo é a segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

            A saúde é outra: não está boa. Sou médico. Formei-me lá no seu Ceará, em 1966, na Universidade Federal do Ceará. Atentai bem à saúde! Está bom. A Medicina, os profissionais, no Brasil, avançaram muito. Mas está bom para nós que somos Senadores, para quem tem um plano de saúde, para quem tem dinheiro. E para o pobre? Olhem as filas... Não se consegue.

            O SUS. Eu trabalhei no SUS. Ninguém, Luiz Inácio, sabe mais do que eu. Eu eduquei meus filhos. Mas eram tabelas que a gente tinha dignidade. Eu encontrei um primo meu, médico parteiro, filho de Vicente Correia, lá: Pelo amor de Deus, fale do SUS!

            Olha, tem consulta ainda a R$3,00, de acordo com a especialidade. Um parto é R$20,00. O SUS não atualizou a tabela. Então os médicos hoje não estão atendendo. Um pobre fazer uma cirurgia em especialidade? Não faz porque não vão os médicos. Porque eles têm que ganhar a vida também, eles são corretos. Então a tabela é ridícula, João Tenório.

            Ele cobra R$5,00 mas eu dou R$10,00 para poder dizer que o engraxate de Teresina... E tem consulta a R$3,00, de clínica.

            Às vezes, João Tenório, é coisa fácil, mas um médico passa um dia num caso complicado para chegar a um diagnóstico. Então, as tabelas são ridículas. O SUS, sua intenção, sua origem... Mas não foram atualizados os honorários dos profissionais. Então, para quem tem dinheiro, para quem tem sistema de saúde, está bom; mas para quem não tem, olhem as filas. E tratamento especializado? Então a saúde, mas por quê? Está aqui, está aqui, Luiz Inácio. Não são palavras para dizer “Não, o Mão Santa...” E vou mesmo, estou nas oposições, eu espero alternância no poder. No meu Estado, que foi uma desgraça total e no...

            Olha aqui: “Verba da saúde paga almoço de preso e farda”. Isso não evoluiu. Tá ouvindo? Em 16 Estados, os Governadores investem em saúde menos do que a lei... E o meu Piauí, em que o Governador é do PT, é um dos que só investem 7% - e é para ser 12%. Então, está aí. Essa é a realidade hoje. Não é só ele, não. São 16, embora o do Piauí seja um dos piores que está aqui. Dinheiro desviado e tal.

            E a educação? V. Exª que é educador, esse negócio de aí... Esses militares, eu não sei nesse lado aí, vamos dizer, de liberdades, eu não vou entrar; mas a educação era boa, doutor! Eu me formei na Universidade Federal do Ceará. Nunca houve um dia de greve, nunca faltou uma aula, eu aprendi tudo. Eu fui monitor de fisiologia. Nunca houve um dia sem aula. E, depois, saí de lá e fui fazer pós-graduação em hospital do Governo, Hospital do Servidor do Estado, o Ipase do Rio de Janeiro. Tornei-me cirurgião nas coisas públicas. Então, era organizado.

            E hoje, o que houve, doutor? E é bom V. Exª... Luiz Inácio, isso não está certo. Quer dizer, eu me formei em uma universidade federal do Governo e a pós-graduação foi no Hospital do Servidor do Estado. Cirurgião, residência médica, e tal. Do Governo.

         Hoje, Tenório, atentai bem para a gravidade, V. Exª que é do ensino! Em 1990, Luiz Inácio, o MEC disse que, das dez melhores universidades do Brasil, sete são públicas e três, privadas. Em 1990. Em 2000, eu era Governador: das dez melhores, sete são privadas e três públicas. A UESPI do Piauí estava no meio, que eu a fiz crescer. O Manassés reconheceu. Era de lá e reconheceu. Das três, a do Piauí estava no meio.

            Mas aí proliferaram essas universidades privadas. Um curso de Medicina hoje, Tenório, nas escolas privadas chega a R$4 mil ao mês. Ao mês. Medicina. Como pode o povo com esse salário, o pobre? Então, piorou muito para o pobre. No meu tempo, acabei de dizer, era a universidade federal, a igualdade e tudo.

            E na saúde vai ficar essa elite. E está aqui: “Verba da saúde paga almoço de preso”. Segurança. E a educação está se tornando da elite. Floresceram as universidades privadas. Essa é a verdade. Pode-se fazer uma reflexão no Piauí. Então, é isso que queremos.

            Eu queria dizer o seguinte. “Entenda a desenfreada política de desmonte da Uespi”. E o Governo é do PT. Desmonte. Quando eu governava o Piauí, ela dava 13 mil vagas, hoje está dando três mil.

            Xavier pediu intervenção do Governo Estadual na Uespi e ataca a reitora, ele é da base aliada, ele é Deputado Estadual, é do Governo, ele é um homem bravo, é formado em Farmácia e Direito. Pede aqui, quer dizer, é o PT na educação.

            Outra coisa que tenho que salientar aqui é o seguinte: olha isso aqui, esse negócio... Quando governei eu criei a Secretaria do Meio Ambiente, só criei uma, para distanciar daqui esse tráfego; eles criam dificuldades para ganhar propinas. Vai lá com vinte soldados, fecha uma cooperativa agropecuária. Antes da secretaria orientar a higiene, lá na base, a vaquinha, se quem está colhendo tem doença, não. Então, o Governo está aqui, e o desemprego é enorme na Parnaíba. Irregularidades na invasão do Delta do Parnaíba. É a indústria maior de pasteurização, com 20 mil litros de leite.

         O feijão tem outro negócio, que o Governo não comprou e toneladas e toneladas não são comercializadas para quem cultiva. E o pior é o lado moral.

            Olha os e-mails que vivemos hoje. “Wellington Dias corre o risco de ser cassado também, diz jornalista”. É um jornalista que diz e aponta aqui que o caso dele é muito pior do que o do Governador Marcelo Miranda.

            E porque é do PT estão enrolando.

            Então, esse é o quadro. Isso aqui é o que acontecia naquele livro de Ernest Hemingway, “O Velho e o Mar”. Ele dizia: “A Maior estupidez é perder a esperança. O homem não nasceu para ser derrotado; ele pode até ser destruído.” Isso é de Ernest Hemingway. Mas a maior estupidez é perder a esperança. Diante de tantas mazelas que o Governo do Partido dos Trabalhadores tem feito no Estado do Piauí, o que resta é a esperança, a esperança da alternância do poder lá e no Brasil.

            Era o que eu tinha a dizer.


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