Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lembrança do transcurso da Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, celebrada em 20 de setembro. Anúncio da decisão de S.Exa. de desfiliação do PMDB.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Lembrança do transcurso da Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, celebrada em 20 de setembro. Anúncio da decisão de S.Exa. de desfiliação do PMDB.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Heráclito Fortes, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 19/09/2009 - Página 45476
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, REVOLUÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ANALISE, HISTORIA, BRASIL, LUTA, REPUBLICA.
  • APRESENTAÇÃO, CARTA, DESLIGAMENTO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMENTARIO, BIOGRAFIA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, ESTADO DO PIAUI (PI), PROTESTO, POLITICA PARTIDARIA, IMPEDIMENTO, CANDIDATURA, ORADOR, REELEIÇÃO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Zambiasi, que preside esta sessão de sexta-feira, 18 de setembro, iniciada às 9 horas, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros que estão aqui, no plenário, e que nos acompanham pelo fabuloso Sistema de Comunicação do Senado, quis Deus V. Exª, Senador Zambiasi, estar presidindo esta sessão, V. Exª que representa a bravura do povo gaúcho, povo de importância histórica.

            Há poucos dias, comemorávamos nós todos - não os gaúchos, mas os brasileiros - os 10 anos de batalha da Revolução Farroupilha. Mesmo os gaúchos não tendo ganho aquela batalha, o essencial é invisível aos olhos. Quem vê bem, Zambiasi, vê com o coração. Aquela batalha, que durou 10 anos, liderada por Bento Gonçalves, Geraldo Mesquita, traduziu as melhores conquistas que o povo brasileiro conseguiu. Eles queriam a República, o nascer da República, a queda do Império.

            Essa era a conquista primária dela, de tal maneira que atraiu a simpatia do líder internacional, que ficou para a história da democracia do mundo e da República, Giuseppe Garibaldi, que se prendeu por amor a uma mulher de Santa Catarina, provando a bravura e a coragem da mulher brasileira: Anita Garibaldi.

            Então, as forças imperiais, comandadas por Duque de Caxias, fizeram e impuseram a rendição dos gaúchos, depois de 10 anos.

            Também lá nasceram, e os gaúchos tiveram a inteligência de motivá-los, os negros. E os negros participaram dessa luta essencial para a República, para o nascer da República, com a promessa de que seriam libertados. Mas, Zambiasi, eles foram enganados. Foi um momento infeliz de Duque de Caxias. Apesar daquele compromisso com os negros do líder gaúcho que comandava a Farroupilha, Bento Gonçalves, eles não conseguiram a liberdade. Mas eles não saíram da luta. Ficou na História a bravura dos Lanceiros Negros.

            E, aí, nos rendemos, mas, de qualquer maneira, a República veio com esse sacrifício da guerra gaúcha. E, aí, vieram os grandes líderes de nossa Pátria.

            Mas eu, entendendo as coisas, quero dizer - e entendo, Geraldo Mesquita - que a instituição mais importante é a família.

            Eu entendo. A V. Exª, que tem entendimento em Direito, eu me curvo.

            Então, eu vejo que essa instituição, às vezes, deixa o cimento, que é o amor, de existir e desgarra-se um ou outro membro. Daí, o homem - a lei vem depois do fato - instituir o divórcio. Nessa instituição sagrada o próprio Deus botou seu filho, não o desgarrando do mundo. Botou-o numa família, na Sagrada Família: Jesus, Maria e José.

            Daí, o próprio Rui Barbosa está aqui a nos orientar e eu acho que, numa inspiração ímpar, ele disse: “A Pátria é a família amplificada”. Se nessa instituição, Zambiasi, desgarram-se os membros, no partido político também, nós temos de ter o entendimento, havendo justa causa, podem-se afastar.

            É neste instante que apresento ao Brasil e ao meu Piauí uma carta que, em síntese, traduz o meu afastamento do PMDB, partido, Zambiasi, a que, exaltado, digo: antes de Ulysses ser bravo, nós já éramos; tínhamos a bravura, lá na Parnaíba, dos gaúchos da Farroupilha.

            Muito novo, em 1972 - Zambiasi, V. Exª nasceu em que ano? (Pausa.) Em 1949. Pois em 1972, eu liderava um grupo com Elias Ximenes do Prado contra o regime militar e a ditadura, e conquistamos a maior Prefeitura do Estado do Piauí, Parnaíba. Era Governador do Estado o militar Alberto Silva. Conquistamos a Prefeitura, pelo PMDB, com Elias Ximenes do Prado. Heráclito Fortes, lembro-me de um daqueles comícios - naquele tempo, Zambiasi, era risco de vida, porque tínhamos de enfrentar as baionetas -, e do maior orador político do Piauí. Eu nunca me esqueci quando, para encerrar a campanha, foram buscar Francisco Figueiredo Mesquita. Heráclito Fortes testemunha: foi o maior orador político que eu já vi. Olha, lembro-me do que ele disse no comício - isso foi em 1972. Figueiredo Mesquita, diante daquele mar de gente contra o regime militar, comandado por Alberto Silva, na sua cidade, eu muito jovem, e os três últimos oradores eram Francisco Figueiredo Mesquita, o candidato Elias Ximenes do Prado e eu.

           Heráclito é muito jovem, mas isso foi em 1972, e o Figueiredo Mesquita olhou aquela Avenida São Sebastião, com a coragem do povo parnaibano, que escreveu o 19 de outubro, o 13 de março, o Jenipapo, e disse assim, Heráclito: “A natureza inspira o poeta; e o povo, e o povo inspira o político”. Elias Ximenes do Prado, permita-me mudar o seu nome para Elias Ximenes do povo.

            Eu sei que depois eu fiz o discurso. E vou encontrar um fato histórico: Arena. Heráclito, esse fato é importante: eu era o penúltimo orador, e o Prefeito era o último. Conclamei, eu muito jovem, os companheiros liberais médicos, os paramédicos, para tirarmos aquela Prefeitura do regime ditatorial, que era comandado por Alberto Silva. Olha, Mesquita, eu quero dizer, então, que, depois, convivi com Petrônio Portella - lá no meu gabinete tem um retrato dele, um líder estudantil, Francisco Juriti, e eu. Petrônio Portella ficou encantado pela nossa coragem, Heráclito. Petrônio tinha assistido ao comício - ele era Presidente da Arena -, lá na guarita.

            Então, como o nosso lado estava mais forte, o comício - naquele tempo não havia horário, Zambiasi - prolongou-se pela madrugada, quando Petrônio Portella chegou justamente para olhar o comício. Ele fora, da Arena, convidado pelo Ribeiro Magalhães, para o comício de Alberto Silva, que era filho da terra. Terminou o comício, e o Petrônio, aquele animal político, como Aristóteles disse, o homem não teve conversa, deixou o Alberto e foi, curioso, ver. Depois ele me contou que viu o meu pronunciamento, naquele tempo, combatendo a ditadura. Ele me disse que voltou para Teresina convencido de que a gente ia ganhar e que havia surgido um líder no Piauí. O retrato dele mostra o apreço - e eu muito novo, ainda cabeludo, jovem -, e ele querendo me induzir na política do Piauí.

            A última vez em que o vi, está aí testemunha, foi quando Ministro, eu fui pedir o credenciamento de um hospital, que hoje é representado pelo Dr. Paulo Lage, e ele me disse o seguinte: “Olha, Mão Santa, eu não deixaria de comparecer - e eu estava tomando café com o João e larguei para vir atendê-lo -, porque V. Exª é uma das minhas bases.

            Antonio Araújo, o atual secretário do Marco Maciel, à época era secretário do Petrônio. Está aí a Adalgisa, o Paulo Lage (o Mário Lage morreu), que Heráclito conhece, o irmão do médico, para testemunhar. O Adalberto Correia Lima, que nos acompanhava, morreu, mas está aí o Antônio Araújo, que viu. Aí eu disse: “Petrônio, você sabe, eu sou Deputado Estadual, e na minha vida, o mais que eu chego é em Piracuruca, Buriti dos Lopes. E ele, Petrônio, de em riste, disse assim, Mozarildo - este foi o meu último encontro, está aí o Antônio Araújo, que era secretário e que hoje é do Marco Maciel; Petrônio morreu, e o inteligente Marco Maciel pegou o Antônio Araújo, ele nasceu em Floriano -: “Mão Santa, você vai ser tudo o que quiser no Piauí”. Aí foi o último encontro, e ele me disse isso com o dedo em riste. Ele só falava com dedo em riste. Eu digo: “Não, eu trouxe a Adalgisa porque a gente fica só em Piracuruca, Piripiri, como Deputado Estadual”. Ele disse: “Não. Antônio Araújo, vá mostrar o Palácio da Justiça a D. Adalgisa”. Foi desse jeito. Aí fomos resolver o problema do credenciamento do hospital. Ainda hoje dizem, mas eu não tenho nada com esse hospital. Eu não sou sócio. Foi uma ação pelos médicos. Entrei lá como cirurgião.

            Mas eu quero lhe dizer o seguinte: aí tivemos a nossa luta.

            Eu posso, aqui, me apresentar ao Brasil e ao Piauí, e dizer, Mozarildo, como o Apóstolo Paulo: “Percorri o meu caminho; preguei minha fé e combati o bom combate.”

            Mas, enfim, apresento esta carta, este manifesto ao Brasil e ao Piauí: o meu desligamento do PMDB, que não é aquele dos meus sonhos, de Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar; de Tancredo, que se imolou pela democracia; de Juscelino, humilhado, mas hoje exaltado, sofrendo as consequências da liderança oposicionista contra a ditadura; de Teotônio Vilela, moribundo aqui, com câncer, que dizia: “resistir, falando; falar, resistindo”, e ainda de Ramez Tebet. Não é mais aquele PMDB. Não é mais aquele PMDB, Geraldo Mesquita, que, em 1974 - atentai bem, brasileiras e brasileiros! -, sem nenhuma condição, lançou Ulysses, o anticandidato. Ulysses lançou-se por aquele partido em 1974, mais para dar um sinal. Ele dizia: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Mas estão morrendo afogados.

            E Deus é tão bom que um quadro vale por dez mil palavras. Geraldo Mesquita, um partido que, por negociações escusas, imorais e indecentes, recusa-se a participar da batalha eleitoral com um candidato próprio na Capital, Brasília, não é aquele dos nossos sonhos, dos meus sonhos, dos sonhos do povo brasileiro.

            Então, para cumprir esta etapa da minha vida, pela primeira vez, vou fazê-lo por escrito - está ouvindo, Zambiasi? -, porque não sou afeito a isso.

Irmãs e irmãos do Piauí, “Piauí, terra querida, filha do sol do Equador, pertencem-te a nossa vida, nosso sonho e nosso amor...”

Agradeço a Deus ter nascido no Piauí, casado no Piauí, ter filhos no Piauí e fazer amigos no Piauí.

Ausentei-me do Estado na juventude, de 1958 a 1968, para buscar ciência para, com consciência e ciência, servir a nossa gente. Sou orgulhoso por ter exercido bem a minha profissão de médico e cirurgião e de ter recebido dos pobres o aposto de Mão Santa.

O destino levou-me a exercer a política. Afirmo que não me envergonho de nenhum ato nos mandatos que recebi do povo: Deputado Estadual, 1º Suplente de Deputado Federal, Prefeito de Parnaíba, duas vezes Governador pelo voto direto.

Em 2002, em condições adversas, o povo do Piauí nos elegeu Senador da República com 664.680 votos, mandato que estamos exercendo com a grandeza que o Piauí merece.

Recentemente, foi gratificante ouvir um Presidente de outro partido, o Partido do Heráclito, Democratas, o Deputado Federal Mainha, dizer, num encontro de outro partido: “Tenho percorrido o Brasil e emocionado senti que o País quer o Mão Santa no Senado da República. O Piauí não pode decepcionar o Brasil”. Foi dito por um Deputado de outro partido que não é o meu, que hoje é liderado do Heráclito e preside o Democratas. Interessante que um partido que não é o meu reconhece.

A nossa luta foi inspirada nos grandes líderes, que não hesitaram em ter a necessária coragem de ser Oposição. São eles Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Pedro Simon, Celso Barros, Chagas Rodrigues, Wall Ferraz, Severo e Oscar Eulálio.

Hoje, sou condenado em meu Estado, pelo meu Partido, por fazer uma oposição responsável em defesa de uma melhor segurança pública, da saúde para todos, de uma educação pública de qualidade, oportunidade de empregos para jovens e adultos, queda da CPMF, fim das injustiças aos aposentados e combate à corrupção, que Ulysses Guimarães chamava de cupim da democracia.

Foi ao PMDB defensor desses e de outros ideais a que me filiei. Destinei em emendas orçamentárias mais de 122 milhões para obras no Piauí. Hoje, publicamente, membros do Partido ligados ao PT e dependentes dele reprimem e ameaçam com legenda a ser negada quem se mantém fiel ao programa do Partido e aos princípios democráticos da liberdade. Declaram claramente nos órgãos de comunicação que o PMDB não terá candidato a Senador.

Estou mudando de sigla partidária para ter o direito de ser candidato e continuar sendo a voz do Piauí no Senado. Como sempre, a minha confiança está no povo. Durante a minha vida pública, juntos cantamos “O povo é o poder”.

Saio de coração partido, agradecendo a todos, filiados ou não, que no passado, até em condições adversas, apoiaram e receberam o meu irrestrito apoio. Não podendo citar todos, vou simbolizá-los nas Lideranças dos Deputados Estaduais Mauro Tapety, João Madison, Moraes Souza Filho e Ana Paula Carvalho.

Concluo com o cântico bíblico do Rei Davi: “O senhor é meu pastor e nada me faltará”. Mesmo com a alma ferida, continuo acreditando no filósofo que diz: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano”. Inspirados no rei Roberto Carlos, da minha geração, eu e Adalgisa abraçamos todos os piauienses, cantando: “Eu quero ter um milhão de amigos”. 

Oh Deus, abençoe o Piauí e a nossa gente.

         Com a palavra, para um aparte, o Senador Mozarildo Cavalcanti; depois, Geraldo Mesquita.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa, quero dizer que o emocionado discurso de V. Exª... Emocionado no sentido de que claramente V. Exª demonstra a tristeza de sair de um partido que ajudou a fundar e que ajudou a engrandecer. Essa saída de V. Exª já aconteceu com outros parlamentares, mas eu considero V. Exª um símbolo maior, dado o empenho, a luta de V. Exª no Senado. V. Exª sai do partido porque o partido não quer que V. Exª seja candidato a Senador, não quer a reeleição. Isso mostra, inclusive claramente - e eu gostaria que eles refletissem sobre isso - a necessidade de os Ministros do TSE refletirem sobre a fidelidade partidária. Porque eles impuseram essa fidelidade - e eu não quero dizer que eles tenham se equivocado - o TSE, o STF, ao interpretar a Constituição dizendo que o mandato pertence aos Partidos. Só que é preciso que, após essa eleição de 2010 - não antes, porque estamos sob a emoção da eleição -, façamos uma reforma política e partidária para durar mais. Uma das coisas que se tem de abordar é isto: o caciquismo político, os donos dos partidos no âmbito local. Você que é parlamentar pode, de repente, ser “cassado” pelo partido; cassado de ser candidato. Ora, uma pessoa como V. Exª, que é conhecido em todo o Brasil! Eu sou testemunha, Senador Mão Santa. Fiz uma campanha para a Maçonaria neste País inteiro, e onde eu chegava todo mundo perguntava por V. Exª. No Piauí, nem tenho dúvida, porque há muitos piauienses que moram em Roraima, todos falam muito bem de V. Exª. E o partido fechar as portas para V. Exª é um absurdo. Isso leva, realmente, repito, a que não só nós reflitamos, mas que o Supremo Tribunal Federal e o TSE reflitam, porque fidelidade, como disse o Senador Flávio Arns ao se desligar do PT, tem que ser de mão dupla. Qual foi o ato de infidelidade que V. Exª fez à doutrina e ao programa do Partido? Nenhum. V. Exª foi fiel, como sempre diz, ao PMDB de Ulysses Guimarães. Então, eu quero aqui me solidarizar com V. Exª. Assim como está acontecendo com V. Exª, está acontecendo em vários Estados. E eu vou dar um exemplo: no meu Estado, o PT está fritando a candidatura do Senador Augusto Botelho, porque ele entrou depois de eleito. Ele foi eleito pelo PDT e foi para o PT. Mas, como tudo que ele faz na vida, faz de uma maneira muito seria, ele se dedica ardorosamente a votar com o PT sempre. E o PT local, por arranjos de outros partidos, está trabalhando para que o Senador Augusto Botelho não tenha legenda. Então, realmente, Senador Zambiasi, nós temos que trabalhar logo após as eleições de outubro do ano que vem para fazer uma reforma política que discipline isso. Que não sejam, por exemplo, só os dirigentes que definam quem vai ser e quem não ser. Agora, imagina, Senador Mão Santa, se passar essa história de lista fechada. V. Exª até seria candidato, se pudesse, a Deputado Federal numa eleição proporcional; mas seria, com certeza, o último da lista. Portanto, não seria eleito nunca. Então, é preciso que a gente faça uma reflexão madura. E quero dizer a V. Exª que estou solidário com o ato de V. Exª, que demonstra a sua coragem, que, mesmo com o coração sangrando, deixa o partido que o senhor sempre escolheu e por que sempre lutou.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço, Mozarildo, o apoio neste instante difícil da nossa vida política, principalmente por V. Exª significar muito. V. Exª simboliza aquilo em que eu gastei os melhores anos da minha vida, dedicando-me à ciência médica para aprender a exercê-la. V. Exª simboliza uma vida muito parecida com a minha, porque procurou fazer da ciência médica a mais humana das ciências e ser um benfeitor. E tem significado importante a sua palavra, porque V. Exª é hoje reconhecido em todo o País e no Piauí como um dos maiores líderes dessa instituição secular e vitoriosa, que é a Maçonaria. Agradeço.

            Com a palavra Geraldo Mesquita Júnior.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Meu querido amigo Senador Mão Santa, eu nunca estive tão constrangido como estou hoje. Acho até que hoje pela manhã, em razão do seu pronunciamento, deveria estar aqui presente, obrigatoriamente, a maioria dos seus colegas do PMDB aqui no Senado, o Presidente Michel Temer, por quem V. Exª lutou bravamente para fazer Presidente do Partido, o Presidente Sarney, o Líder Renan Calheiros; enfim, deveriam todos estar aqui, quando nada, para agradecer a V. Exª por esse tempo todo em que V. Exª, aqui no Senado Federal, exercitou um direito que é sagrado, o direito da convicção, o direito da independência, o direito sagrado de entender que, mesmo dentro de um partido que faz parte da base de sustentação do Governo, V. Exª se deu o direito de exercer seu mandato com dignidade e com independência. Todos eles deveriam estar aqui hoje para lhe agradecer por isso. V. Exª engrandeceu o PMDB, um partido que anuncia previamente que não lançará candidato ao Senado. É preciso que o povo do Piauí reflita muito acerca dos dirigentes locais desse partido. Eu acho que só quem pode dizer se o Senador Mão Santa deve voltar ao Senado ou não é o povo do Piauí. Ninguém mais, Senador Mão Santa, tem esse direito. Se um partido renuncia à possibilidade de ter uma chapa de Senador para representar bem o seu povo, esse partido chegou ao rés do chão - ao rés do chão. É uma vergonha um negócio desse. Eu imagino como estão as cabeças das pessoas no Piauí, que ouvem o seu pronunciamento, que acompanham a sua luta em permanecer no PMDB, seu partido e, a partir dele, se lançar mais uma vez candidato a Senador; como estão as pessoas que vêm acompanhando as conversas que V. Exª vem tendo, a luta que V. Exª vem tendo de convencer os dirigentes partidários de que o partido não pode abrir mão de uma postura dessa. Fico imaginando como estão as cabeças dessas pessoas, que hoje percebem que essa luta que V. Exª travou foi praticamente inútil, porque bateu na parede da subserviência. V. Exª bateu na parede da truculência, Senador Mão Santa. Isso é uma truculência. Isso é uma truculência! Alguém pode até discutir aspectos do seu mandato, mas para mim ninguém poderia ter o direito... E, quando falo ninguém, refiro-me ao partido, ao PMDB, e principalmente aos dirigentes locais no Piauí. Ninguém poderia ter o direito de negar-lhe legenda, de negar-lhe a aspiração de ser mais uma vez candidato ao Senado pela sua terra e pelo seu partido. Essa é uma posição subserviente daqueles que não têm convicção político-ideológica, que se movem tão-somente por interesses circunstanciais. É uma vergonha o ponto a que nós estamos chegando, Senador Mão Santa. O Senador Mozarildo dizia há pouco que o TSE deveria refletir sobre o que está acontecendo em nosso País no campo político-partidário. Os partidos estão perdendo aquilo que eles tinham de melhor; estão perdendo a ligação com programas; estão perdendo a ligação com doutrinas; aliás, estão perdendo absolutamente tudo. Hoje, você já não distingue, Senador Mão Santa, no leque de partidos que nós temos no País, matiz ideológico, matiz programático, porque parece que as coisas estão sendo jogadas dentro de um liquidificador e batidas até virar tudo uma pasta só. Uma pena o que está acontecendo! De fato, nós precisamos realmente de uma reforma política, tão falada nesta Casa, neste Parlamento, durante tantos anos, e que nunca acontece. Ouvindo o aparte do Senador Mozarildo, ocorreu-me de nós introduzimos, no ordenamento jurídico, a possibilidade de um percentual da população protocolar, mediante a assinatura de um milhão, dois milhões, seja lá quantos forem, no Congresso Nacional, uma proposta de lei. E nós temos leis decorrentes de iniciativa popular aprovadas pelo Congresso. Estou propondo, por exemplo, que 2% da população brasileira possa subscrever um requerimento para a instalação de uma CPI no Congresso Nacional. E por que não introduzirmos no ordenamento jurídico a possibilidade de um percentual da população do seu Estado subscrever um requerimento para que V. Exª possa ser candidato avulso a um cargo eletivo qualquer? Acho que devemos pensar. Estou colocando isso apenas a título de reflexão. Porque uma coisa é certa, Senador Mão Santa: precisamos fazer alguma coisa para que esse quadro mude; não podemos permanecer alimentando a ditadura das direções partidárias. Direção partidária tem que ter outro propósito, tem que ter o propósito de coordenar o partido, no seu Estado, no seu Município, no seu País, para que o partido tenha uma atuação cada vez melhor perante a população brasileira. Direção partidária não é direção de clube; é algo completamente diferente, Senador Mão Santa. Aliás, ela tem que refletir, necessariamente, as forças políticas do partido. Hoje em dia, sabemos que isso não existe, isso é uma balela, não é? Portanto, Senador Mão Santa, repito o que eu disse no início do meu aparte: hoje é um dos dias em que me sinto mais constrangido nesta Casa. O PMDB perde um... Esse negócio de dizer que perde um grande quadro parece conversa mole. O PMDB perde um cidadão brasileiro, piauiense, bravo, obstinado, que aqui enxergou a perspectiva de como atuar, fazendo oposição clara, decente, consciente. Agora, se isso é proibido, se isso deve lhe custar, inclusive, a possibilidade de V. Exª não ser mais candidato, então, Senador Mão Santa, o que tenho a lhe dizer é que não desista. Não desista, não! Tenho certeza absoluta de que, no partido para o qual vai, V. Exª vai ser recebido de braços abertos. O povo do Piauí irá entender o porquê dessa mudança. O povo não é besta! O povo sabe o que está acontecendo. V. Exª, talvez, não possa dizer isto, mas eu vou dizer: o povo do Piauí tem de saber que os dirigentes locais do PMDB são entreguistas, são subservientes a um esquema que leva apenas à satisfação de interesses pessoais. É isso o que o povo do Piauí vai perceber daqui a pouquinho. Ele precisa ter essa consciência, para que valorize, cada vez mais, o mandato de V. Exª. Tenho certeza absoluta de que, esteja onde estiver, no partido em que estiver, V. Exª terá o apoio de seus conterrâneos e de suas conterrâneas, que gostam de V. Exª, que admiram o trabalho de V. Exª, mesmo com uma crítica aqui e acolá. E isso é natural: ninguém consegue agradar a todos. Mas faço votos de que V. Exª seja muito feliz. E, nos intervalos que eu tiver na nossa campanha lá no Acre, vou dedicar alguns dias para ir ao Piauí e, junto com V. Exª, dar meu testemunho do que V. Exª fez aqui no Senado Federal, para que o povo do Piauí saiba, mais uma vez, o grande representante que teve aqui no Senado Federal. Muito obrigado e boa sorte!

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço. E é muito significativo: ontem, eu e Adalgiza rezávamos pelo sétimo dia da perda do pai de V. Exª, lá na Igreja Dom Camilo de Lellis.

            E queria dizer o seguinte: por que é muito importante? O pai de V. Exª, no Céu, deve estar feliz e orgulhoso com o filho. É como diz o Livro de Deus, Senador Mozarildo Cavalcanti: “A árvore boa dá bons frutos”. V. Exª sintetiza aqui - e eu sempre disse àqueles homens, amantes do Direito - um dos pensamentos mais nobres de Abraham Lincoln, que disse: “O homem político tem que ter caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no Direito”. E V. Exª sintetiza aquela mensagem de Abraham Lincoln, que chega aos nossos dias. Muito obrigado.

            Heráclito Fortes, companheiro do Piauí, vou lhe dar o disco de Roberto Carlos, que é da minha geração - você é mais novo -, com a música “Meu irmão camarada”.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Estou assistindo a este pronunciamento de V. Exª e tomando conhecimento do desfecho de uma novela já há algum tempo anunciada. É lamentável, sob todos os títulos, que V. Exª, que, durante mais de uma década, foi a maior estrela do Partido do Movimento Democrático Brasileiro no Piauí, terá que deixá-lo por conta da sua própria sobrevivência política. É lamentável! Mas eu me lembrava aqui, Senador Mão Santa, de um diálogo que testemunhei entre Dr. Tancredo com um companheiro - permita-me não divulgar - num momento como este. Um Senador comunicava ao Dr. Tancredo, àquela época - a época da criação do PP, depois da fusão do PP com o PMDB, naquele período -, que teria de deixar, por motivos locais, a sigla. Na época era o PP. O Dr. Tancredo disse a ele o seguinte - e que pode aplicar-se muito bem num caso como esse: “Companheiro, é muito melhor ver um amigo em pé do outro lado do rio do que de cócoras do lado da gente”. De forma que acho que V. Exª está tomando uma decisão que, tenho certeza, não era a que queria e que não seria a melhor para o coração de V. Exª, mas que é a possível, e a política é a arte do possível. Torço para que V. Exª alcance os seus objetivos, seja feliz nessa nova empreitada, até porque, Senador Geraldo Mesquita, o prestígio do Senador Mão Santa já extrapolou as barreiras do Piauí. Sou um homem que viaja pelo Brasil inteiro e tenho muita alegria e muita felicidade de ver, aonde chego, as pessoas me perguntarem pelo Mão Santa e repetirem, com riqueza de detalhes, pronunciamentos e a atuação do Mão Santa aqui no plenário do Senado. Acho que esse é um valor que precisaria ter sido avaliado pelo partido que V. Exª deixa agora. Não quero entrar no mérito, até porque já fui do PMDB e infelizmente tive de deixá-lo em circunstâncias que não vêm ao caso agora. Mas acho que V. Exª, para onde for, levará um quadro extraordinário, pela liderança, pela luta e, acima de tudo, pela maneira de atuar no Senado da República. Fique certo de que nós vamos estar juntos nesta campanha, o destino nos está empurrando para isso. Só espero que a campanha de V. Exª seja exclusivamente no Estado do Piauí, que V. Exª não seja convocado para outras missões. De qualquer forma, fique certo de que terá, na presença deste companheiro, com quem tem tido uma convivência fantástica durante sete anos... Quero lembrar uma coisa aqui, Senador Mozarildo. Veja como as coisas, às vezes, acontecem no Piauí: quando me elegi Senador junto com Mão Santa, nós nos elegemos por coligações diferentes; o Mão Santa, fazendo uma força danada para eleger Wellington Dias, até que conseguiu, e eu, do outro lado, perdi. E aí a imprensa do Piauí dizia que eu e o Mão Santa iríamos viver brigando aqui no Senado. Nós estamos aqui, há sete anos quase, e nunca houve o menor desentendimento. Acho que isso, inclusive, é uma coisa que frustra muito alguns, principalmente os que fazem a imprensa marrom no Piauí, V. Exª sabe bem do que se trata. Agora já começam a anunciar: que se preparem porque vamos nos desentender na campanha. Quer dizer, é uma futurologia desnecessária, sem pé nem cabeça. É um gosto que, tenho certeza, não vamos dar a essa gente. De forma que eu me solidarizo com a decisão de V. Exª. Sei que ela é penosa, sei que V. Exª sofreu muito para ter que tomá-la, mas, na falta de alternativa, nada lhe restou a não ser procurar um novo caminho. Que V. Exª seja feliz e que o Piauí reconheça esse seu gesto. Muito obrigado.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Heráclito, nós agradecemos muito, e quero dizer e confessar aqui a admiração que tenho por V. Exª.

            Olha, V. Exª lembra muito meu pai. Infelizmente, ele não foi desta época em que se pode ficar elegante, como V. Exª, com cirurgia. Mas meu pai era assim, do tipo de Jô Soares, gordinho, alegre, gostava de receber.

            Nunca me esqueço, Senador Geraldo Mesquita: no aniversário dele, 18 de maio, ele recebia ao meio-dia os operários todos - ficavam bebendo - e à noite seus amigos, da sua classe social. Está vendo, Heráclito? Papai gostava de comer bem e de tomar um vinho. Gostava, feliz. Agora, a grande virtude dele sabe qual era? Fazer amigos. E vou lhes confessar: não há quem tenha mais essa capacidade do que o Heráclito. Foi o maior amigo de Tancredo Neves, o maior amigo de Ulysses Guimarães, de Renato Archer, do filho de Antonio Carlos Magalhães - e sou testemunha. Jogaram-me contra o Antonio Carlos Magalhães, e quem nos aproximou foi o Heráclito pela amizade com o filho dele.

            E sempre, Heráclito, quando vou ao seu gabinete, eu me entusiasmo por aquela carta do Rolim, porque o meu pai era orgulhoso das amizades. E ele tem uma carta do Rolim, do comandante Rolim, dizendo que, dos cinco maiores amigos dele, o Heráclito era um deles.

            Mas quero dizer - Heráclito, isso importa: todo mundo ficou perplexo porque Wall Ferraz me apoiou para Governador. O Wall Ferraz foi o maior líder da capital, ô Zambiasi: Prefeito por três vezes, um quadro do PSDB extraordinário. Ainda hoje governa Teresina. E ele foi me buscar.

               Sabe por quê, Heráclito? Eu me lembro muito bem de que, um dia, andando na campanha, ele me disse: “Meu pai era muito amigo do seu pai. Meu pai gostava do seu pai”. Então, esse dom de amizade, que V. Exª tem, e é um dom, está longe de ver que é a maior herança.

               Então, todo mundo ficou perplexo. Como eu não era do partido do Wall, e ele com o quadro de muita gente boa, por que ele foi buscar o Mão Santa? E, no meio da campanha, um dia, ele disse: “Meu pai [o pai dele era Raimundo] era muito amigo do seu pai, de quem gostava muito, falava bem dele”.

           Então, eu acho que isso passou para nós, e o que V. Exª faz é um dom, com naturalidade. Está longe de imaginar. Então, eu agradeço, Zambiasi.

            E, para terminar, eu canto aqui o que aprendi no colo de minha mãe, poeta. Eu sempre disse: Não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa. E ela me ensinou, Adelmir Santana, a Canção do Tamoio, I-Juca Pirama:

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

            Forte e bravo é o povo do Piauí!

            (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/09/2009 - Página 45476