Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com os municípios de todo o país, que vivem quase que exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL.:
  • Preocupação com os municípios de todo o país, que vivem quase que exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias, Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 17/09/2009 - Página 44271
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, INTERIOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ENCONTRO, PREFEITO, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÕES, MICRORREGIÃO, DEPOIMENTO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FALENCIA, ANUNCIO, FECHAMENTO, PREFEITURA, DEPENDENCIA, RECURSOS, FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICIPIOS (FPM), INFERIORIDADE, REPASSE, IMPOSSIBILIDADE, TRANSFERENCIA, VALOR, CAMARA MUNICIPAL, ATENDIMENTO, COMPROMISSO, SAUDE, EDUCAÇÃO.
  • SAUDAÇÃO, SUPLANTAÇÃO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA, PROTESTO, ONUS, PREFEITURA, ISENÇÃO, IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI), PERDA, FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICIPIOS (FPM), DESCUMPRIMENTO, GOVERNO, PROMESSA, COMPENSAÇÃO, COBRANÇA, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), LIBERAÇÃO, RECURSOS, ANUNCIO, MOBILIZAÇÃO, BANCADA, LOBBY, DEFESA, MUNICIPIOS, AMEAÇA, OBSTRUÇÃO PARLAMENTAR, REPUDIO, DESRESPEITO, GOVERNO MUNICIPAL, ESPECIFICAÇÃO, CRESCIMENTO, DEMANDA, SERVIÇOS PUBLICOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, obrigado pela oportunidade da fala.

            Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente, eu vou manifestar uma preocupação que não é minha, não é do Senador Romero Jucá, não é de V. Exª, não é do Senador Mão Santa, não é do Senador Arthur Virgílio, do Senador Geraldo Mesquita, Romeu Tuma, ou de todos os presentes neste plenário. É uma preocupação das unidades da Federação que contato mais estreito têm com a população: os Municípios do Brasil.

            Eu estive, neste final de semana, no meu Estado; como faço todo fim de semana, estou na capital e vou ao interior, mantendo contato com os Prefeitos. Nesta semana, fui a Ielmo Marinho, para a Feira do Abacaxi. Lá encontrei os Prefeitos de Ceará-Mirim e Afonso Bezerra. Na segunda-feira, recebi o telefonema de dois Presidentes de associações municipais, que me ligaram em tom de desespero: o Presidente da Amlap e o Presidente da Associação dos Municípios da Região do Trairi. Eles estavam como eu nunca tinha visto. Eu conheço bem esses Prefeitos, como tenho muita intimidade com os Prefeitos do Estado, e eles estavam em desespero. O Presidente da Associação, o Prefeito a quem eu chamo, carinhosamente, de Dedezinho, comunicou-me que, em nome dele e em nome do Prefeito João, de Brejinho, que é o Presidente da Amlap, nesses próximos dias, iriam fechar as portas de 44 Prefeituras de 44 Municípios - fechar, passar a chave, por falência.

            Depois do Presidente da Amlap, me telefonaram alguns Presidentes de associações de municípios e me deram dados. Por exemplo, no meu Estado, Presidente Sarney, dos 167 Municípios, 105 têm percentual de 0,6 na cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios. É o menor dos índices na cota-parte do Fundo de Participação. Eles vivem praticamente do Fundo de Participação.

            Eles recebem o Fundo de Participação em três decêndios. Até o segundo decêndio, até o dia 20 de cada mês, eles têm a obrigação constitucional de fazer a transferência para as Câmaras Municipais.

            Nos Municípios de 0,6, o custo da Câmara Municipal varia entre R$33.000,00 e R$ 35.000,00. Eles receberam, neste decêndio, R$19.000,00. Não têm a menor condição de fazer a transferência para a Câmara Municipal, que é uma transferência constitucional, é compulsória, é obrigatória: se não transferir, sequestra. Que dirá dinheiro para a educação, saúde e tudo mais que se exige de um Prefeito municipal.

            Eles estão em absoluto desespero e me comunicaram que vão fechar, vão passar a chave na Prefeitura. Vão funcionar somente para educação e saúde, vão deixar abertos os postos de saúde e as escolas, não sei por quanto tempo mais.

            Eu faço esse registro porque o Brasil está anunciando - e eu partilho dessa alegria - o fim da recessão, o fim da crise e a retomada do crescimento. Eu aplaudo e me regozijo com o fim da recessão e o fim da crise. Agora, é verdade que a crise que se conseguiu atravessar, a crise em que estamos no limiar de sair, ela aconteceu, e a solução para ela também ocorreu por conta de providências que foram tomadas cuja conta os Municípios estão pagando.

            O que se fez para evitar o desemprego no centro-sul? Diminuiu-se o IPI da linha branca - de geladeira, de fogões - e se zerou o IPI para automóveis de até 1.600 cilindradas, diminuiu-se o IPI de carros com mais cilindradas, para que o parque automobilístico e o parque fabril do centro-sul - que é o grande empregador no centro-sul - não sofressem turbulência. Diminuiu, em muito, a arrecadação federal, mas em muito mais diminuiu a arrecadação dos Municípios, porque o Fundo de Participação, Senador Mão Santa, tem como componentes fundamentais o IPI e o Imposto de Renda. O Imposto de Renda foi diminuído por uma providência tomada pelo Governo com relação à tabela, e o IPI foi, em enorme medida, diminuído pela concessão do benefício fiscal dada pelo Governo, atirando com a pólvora alheia, dando uma esmola com o chapéu alheio. Resultado: os Municípios do seu Estado, depois de verem a notícia do fechamento de 44 Prefeituras no meu Estado, vão, também, tomar atitudes semelhantes, a menos que o Governo cumpra o que prometeu.

            E aí é o grito que quero, Senador Tião Viana. Quero que V. Exª, que é do Partido dos Trabalhadores, que é um político decente, ajude-nos para que o Presidente da República cumpra a sua palavra. Ele prometeu, ele deu compensações à indústria para que a indústria não demitisse gente. Diminuiu a arrecadação dos Municípios. No meu Estado, 44 Municípios estão anunciando o fechamento das portas das Prefeituras, mantendo somente educação e saúde funcionando. De resto, para tudo, fecha tudo, a menos que a compensação que ele deu à indústria de São Paulo, à indústria do centro-sul, que produz automóveis, geladeiras, fogões, etc... Que ele agora cumpra o que prometeu, de pelo menos igualar o Fundo de Participação de 2009 aos índices de 2008.

            São muitos bilhões de déficit para os Municípios. O primeiro bilhão saiu e já foi embora há muito tempo, com a primeira medida provisória. Agora, os Municípios estão cobrando aquilo que devia ter sido adiantado há um mês ou dois, a compensação prometida, justa, pela captação que foi feita da sua receita, decorrente do Fundo de Participação. Vou esperar até o final desta semana. Acabei de pactuar com o Senador Sarney a votação da lei que beneficia a Defensoria Pública. Temos uma pauta de itens a serem votados, acabei de conversar com o Senador Romero Jucá, com o Senador Arthur Virgílio. Vamos votar, Senador Geraldo Mesquita. Agora, se esse segundo bilhão... Basta uma canetada. Dá-se tanta renúncia fiscal para manter o emprego do centro-sul, como é que não se cumpre a palavra da compensação aos Municípios? Se, até o final desta semana, não for editada a medida provisória e liberado esse segundo bilhão, vou tomar providência, vou convocar o meu partido para que a gente tome providências aqui, bloqueando a pauta daqui até que...

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Permite-me um aparte, Senador Agripino?

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Com muito prazer, Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Agripino, veja bem: V. Exª é lá, de um lado do País, e eu estou lá, do outro lado, e a situação é a mesma. Os Prefeitos também estão adotando as mesmas providências, como manifestação de protesto. Pensaram em várias modalidades de protesto e chegaram à conclusão de que seria melhor fechar a Prefeitura um dia. Todas as Prefeituras fechadas por um dia, como forma de manifestar o protesto. As perdas acumuladas no Paraná, neste ano, chegam a R$270 milhões. É o que os Prefeitos informam. Em relação à Lei Kandir, são mais de R$450 milhões que o Governo Federal deve ao Paraná, e o Paraná é o quarto Estado, em relação aos demais em matéria de dívida do Governo Federal. Ou seja, o Governo da União está dando o calote nos Estados, e os Prefeitos, sobretudo, administrando dificuldades. Portanto, é pertinente o seu pronunciamento. O Governo Federal tem que adotar alguma providência urgentemente, tem que cumprir... Aliás, daquele um bilhão a que se refere V. Exª, fui informado por Prefeitos que não receberam nem a totalidade desses recursos, um bilhão. No auge da crise, o Governo anunciou um bilhão para compensar perdas - é claro, recursos insuficientes, mas anunciou um bilhão - e, segundo Prefeitos, nem mesmo esses recursos chegaram ainda na sua integralidade. Portanto, o Governo está devendo bastante, e V. Exª faz muito bem não só em se pronunciar da tribuna, mas já em anunciar algumas providências mais efetivas.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Obrigado, Senador Alvaro Dias. Veja V. Exª como o Governo estava recheado, como estava rechonchudo de arrecadação, porque pôde abrir mão da arrecadação do IPI, do Imposto de Renda, que, voluntariamente, liberou, e não faltou dinheiro para a execução de nada da programação financeira federal que o Governo estimou fazer, pelo menos que se saiba.

            Agora, os Municípios quebraram, os Municípios a quem o Governo Federal prometeu, tomou compromisso de forma grupal. Naquelas marchas de Prefeitos, que reúnem aqui em Brasília três mil, quatro mil Prefeitos, eles ouviram do Presidente Lula o compromisso formal da compensação e, agora, estão sendo obrigados a fechar as portas das prefeituras. Por falta de dinheiro não é, porque não parou programa nenhum, de que eu tenha conhecimento, nenhum programa. Liberaram, fizeram a renúncia fiscal, liberaram imposto, agora, quem está pagando a conta da crise são os Municípios. A conta da crise está sendo paga, fundamentalmente, de forma visível, pelos Municípios. E nós, que representamos, aqui, a Federação brasileira - V. Exª fala pelo Paraná e eu falo pelo Rio Grande do Norte -, temos de falar por eles, nós temos de tomar uma atitude por eles, e vamos tomar.

            Eu tenho certeza de que o Partido de V. Exª, o PSDB, e o meu Partido vão se recusar a votar a pauta, na semana que entra, se o Presidente da República não cumprir aquilo que se comprometeu a fazer.

            A liberação do primeiro bilhão aconteceu por edição de medida provisória. Faltam o segundo e outras liberações, porque ele tem dinheiro para fazer o que quer e não toma a caneta para assinar a medida provisória do segundo bilhão, para que essas prefeituras possam cumprir o mínimo que lhes é da responsabilidade? Vamos tomar providência, sim.

            Ouço, com prazer, o Senador Arthur Virgílio.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Será bastante breve a minha intervenção, Senador José Agripino, para louvar o seu pronunciamento e dizer que, de fato, nós cairemos em obstrução rigorosa se a palavra presidencial não for cumprida, até porque o objetivo já era medíocre: era restabelecer os níveis de 2008, como se o Brasil estagnasse e como se nós não soubéssemos que o Governo tem - e ele tem - uma reserva de caixa muito grande. As prefeituras ainda estão lutando muito com os Governos estaduais, porque também as perdas de ICMS são significativas e não há nenhum projeto de reposição na maioria dos Estados brasileiros. Portanto, é essencial que o Governo cumpra, ou seja, não importa quantas medidas provisórias venham, mas que as prefeituras não recebam menos do que o que arrecadaram de FPM em 2008 neste ano de 2009. Fora disso, significa nós termos de tomar uma atitude mais dura para forçar o Governo a honrar a palavra que empenhou na última Marcha dos Prefeitos em Brasília.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Já encerro, Sr. Presidente, já encerro.

            Senador Arthur Virgílio, V. Exª, com precisão cirúrgica, foi direto ao ponto. A população de todos os Municípios do Brasil cresceu, a demanda por educação, por saúde, por serviços públicos cresceu, e o que está prometido para os Municípios é apenas a manutenção dos níveis de arrecadação do ano passado. E nem isso acontece.

            Eu espero que a gente não precise adotar postura extrema, mas eu fico feliz...

(Interrupção do som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Já concluo, Sr. Presidente. Já concluo.

            Eu fico feliz em ver que o PSDB é nosso parceiro em todas as lutas e em mais esta luta, e que caminharemos juntos. Eu espero que não precisemos obstruir, que o Governo cumpra a sua palavra. Agora, se não cumprir, nós iremos ao limite máximo, no sentido de defender e proteger aqueles que esperam de nós, Senadores, uma palavra para que a palavra do Presidente da República seja cumprida.

            Obrigado, Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/09/2009 - Página 44271