Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a situação da Embaixada do Brasil em Honduras, em razão do abrigo concedido ao presidente deposto, Manuel Zelaya. Encaminhamento de Moção de censura e repúdio ao cerco militar à missão brasileira em Honduras. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Preocupação com a situação da Embaixada do Brasil em Honduras, em razão do abrigo concedido ao presidente deposto, Manuel Zelaya. Encaminhamento de Moção de censura e repúdio ao cerco militar à missão brasileira em Honduras. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2009 - Página 46441
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • APREENSÃO, CRISE, PAIS ESTRANGEIRO, HONDURAS, GOLPE DE ESTADO, PREJUIZO, DEMOCRACIA, JUSTIFICAÇÃO, DECISÃO, EMBAIXADA DO BRASIL, ACOLHIMENTO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, VITIMA, DEPOSIÇÃO, ATENDIMENTO, TRATADO, APROVAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), COMENTARIO, ANTERIORIDADE, VISITA, CONGRESSO NACIONAL, CHEFE DE ESTADO.
  • IMPORTANCIA, REUNIÃO, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, MOÇÃO DE CENSURA, REPUDIO, BLOQUEIO, MILITAR, LOCAL, EMBAIXADA DO BRASIL, LEITURA, JUSTIFICAÇÃO, DEFESA, DEMOCRACIA, RESPEITO, TRATADO DE VIENA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Como Líder. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é realmente preocupante e grave a situação institucional criada com o golpe de estado perpetrado em Honduras. Nenhum regime democrático pode ter o respeito da comunidade internacional, pode ter o apoio da população mundial daqueles que defendem a democracia, senão mediante um mandato legítimo conquistado nas urnas.

            O Presidente Manuel Zelaya foi destituído do poder. Ele havia sido eleito em eleições livres e democráticas sem nenhuma contestação. De repente um golpe de estado apeou o Presidente Zelaya do poder tirando-lhe todas as condições de continuar governando a sua terra. Ele teve oportunidade de visitar o Brasil e aqui esteve no Senado Federal, manifestando a sua opinião, expressando as suas preocupações e querendo, como realmente obteve, o apoio da população brasileira na sua luta para retornar imediatamente à democracia em Honduras e a Tegucigalpa, a Capital de Honduras.

            Sr. Presidente,...

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT. Fora do Microfone) - Srª Presidenta.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Srª Presidenta, ... 

            Também pode ser Srª Presidente!

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Pode, mas desde que seja senhora e não senhor.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - MT) - Srª Presidente, eu gostaria de enfatizar que o Brasil, ao receber na sua Embaixada em Honduras o Presidente deposto, agiu de acordo com as normas institucionais internacionais que são aprovadas pela ONU, pela OEA e pelos acordos assinados entre o Brasil e os países do mundo inteiro que defendem a democracia como instrumento indispensável para a realização da felicidade humana.

            A Embaixada do Brasil, portanto, cumpriu religiosamente com o seu dever ao receber como asilado o Presidente deposto Manuel Zelaya. O Brasil tem de se manter firme nessa posição para não se desmoralizar, nem desmoralizar, Sr. Presidente, acordos internacionais que são respeitados por todo o mundo.

            Por isso, daqui a pouco a Comissão de Relações Exteriores que é presidida pelo Senador Eduardo Azeredo, do PSDB, de Minas Gerais, vai se reunir para se deter sobre este assunto.

            E estamos levando uma moção de censura e repúdio ao cerco militar à Embaixada do Brasil. Moção assinada, por enquanto, mas nós podemos colher assinatura de outros Senadores e outras Senadoras - pelo Senador Aloizio Mercadante, pelo Senador Eduardo Azeredo, pelo Senador Antonio Carlos Valadares, pelo Senador Roberto Cavalcanti, pelo Senador Paulo Paim, e tenho certeza de que a Senadora Serys Slhessarenko, que no momento preside esta sessão, também vai assinar, o Senador Flávio também deverá assinar. Tenho certeza absoluta, Srª Presidente, de que esta moção de repúdio, que expressa o sentimento democrático do povo brasileiro, vai ser aprovada por unanimidade.

            Com a permissão da Presidente, eu gostaria de ler a justificação desta moção:

         “Imbuído dos valores universais que regem todas as democracias nacionais e uma ordem mundial multilateral fundamentada nos princípios do Direito Internacional Público; considerando que o atual presidente de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, foi eleito em pleito democrático absolutamente legítimo e liso e que seu governo foi reconhecido por todos os países do continente e do mundo; enfatizando que o anacrônico e absurdo golpe de Estado perpetrado em Honduras se constituiu numa grave afronta a todas as democracias da América Latina, região que vem, a cada dia, consolidando e ampliando seus regimes democráticos; considerando que a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas estabelece claramente, em seu art. 22, que: 1º Os locais da Missão (embaixada) são invioláveis. Os agentes do Estado hospedeiro não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão. 2º O Estado hospedeiro tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer invasão ou dano e evitar perturbações à tranqüilidade da Missão, ofensas à sua dignidade.

Recordando, ademais, que o art. 26 da mesma convenção estipula que:

salvo o disposto nas leis e regulamentos relativos a zonas cujo acesso é proibido ou regulamentado por motivo de segurança nacional, o Estado hospedeiro garantirá a todos os membros da Missão a liberdade de circulação e trânsito em seu território. Ecoando a manifestação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que demanda que o Governo de facto de Honduras respeite o direito à livre manifestação dos partidários do Governante legítimo de Honduras, Sr. Manuel Zelaya;Lamentando os atos de violência praticados pelo Governo de facto de Honduras contra o seu próprio povo; ressaltando, mais uma vez, que pleitos eleitorais realizados nos prazos legalmente previstos se constituem na única maneira legítima e aceitável de se proceder à alternância de poder; e considerando, por último, os laços de amizade e solidariedade que unem indissoluvelmente os povos brasileiro e o hondurenho e o desejo comum de que a América Latina se integre sob a égide dos princípios democráticas e da justiça social;

o Senado Federal da República Federativa do Brasil manifesta:

I. Seu mais veemente repúdio ao absurdo cerco policial à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o qual contraria frontalmente as responsabilidades do Estado hospedeiro, consagradas na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.

II.sua consternação com as violaçõeso do direito à livre manifestação dos partidários do governante legítimo de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, já condenadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos:

III. sua advertência de que a vida do Presidente Manuel Zelaya e a inviolabilidade da missão diplomática do Brasil em Tegucigalpa devem ser preservadas a todo custo;

IV. sua conclusão à comunidade internacional, especialmente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), a que intervenham positivamente no conflito hondurenho, inclusive mediante a adoção de sanções concretas contra o governo ilegítimo instalado em Tegucigalpa.

V. seu sincero apelo a todas as forças políticas de Honduras para que iniciem um processo transparente de diálogo que conduza esse país à conciliação e à volta da normalidade democrática.

            Esse documento, Srª Presidenta, em pouco tempo, será apresentado à Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal como uma manifestação democrática de repúdio pelo cerco militar e de censura a esse ato que está sendo estabelecido pelas forças de repressão do governo ditatorial de Honduras.

            Concedo o aparte, se a Srª Presidente me permitir, para encerrar o meu pronunciamento, ao Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O meu inteiro apoio. Quero também assinar a declaração pela democracia em Honduras. Muito obrigado. Parabéns!

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Agradeço a V. Exª.

            Senador Heráclito Fortes, V. Exª deu um sinal de que gostaria de falar?

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Agradeceria se V. Exª me honrasse com a concessão de um aparte.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Com muito prazer. Mais dois minutos, Srª Presidenta.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero deixar bem claro que nenhum cidadão brasileiro de bom senso se comportará contra o Brasil em dar asilo ao Sr. Zelaya; pelo contrário, fomos solidários com ele inclusive na sua visita ao Senado. O que é preciso ficar bem esclarecido são as circunstâncias nas quais o Sr. Zelaya envolveu o Brasil. Eu queria chamar a atenção do Senador Suplicy, que é muito vigilante nessas questões: o Jornal do Senado de hoje, Senador Suplicy, traz aqui um protesto no Parlamento do Mercosul feito por advogados venezuelanos contra a restrição da liberdade de expressão. Esta na primeira página do Jornal do Senado de hoje, e não estou vendo nenhuma manifestação de solidariedade ou de defesa desses cidadãos que se deslocaram a Montevidéu para defender a liberdade de expressão que lhes falta na Venezuela. Esse é um fato grave. Precisamos ter nossas convicções democráticas amplas, gerais e irrestritas. Essas limitações e focalizações em determinados pontos é que nos tiram, muitas vezes, a autoridade de defendê-las. Acho que esse é um protesto, Srª Presidente, que merece apoio de todos nós. Esse silêncio por parte da base do Governo é, no mínimo, intrigante. Muito obrigado.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Em relação ao que V. Exª disse, conta integralmente com meu apoio.

            Senadora, por último, o Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Valadares, é um minuto só para registrar meu total apoio à moção que V. Exª está encaminhando à Comissão de Relações Exteriores. Assinei. Acho de fato um absurdo o que está acontecendo em Honduras.

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Comunico ao Senador Paim que S. Exª é o próximo orador.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - O espaço da Embaixada brasileira está cercado. Como já foi dito por diversos oradores, cortar luz e cortar água é inaceitável. Por isso, meus cumprimentos pela sua iniciativa. Espero que a Comissão, além de aprovar a moção, se necessário for, aprove a formação de uma comissão de alto nível inclusive para ir a Honduras.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Daqui a pouco, como disse, a Comissão...

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu me associo a S. Exª, que sugeriu a formação de uma comitiva de Senadores brasileiros, presidida pelo Senador Suplicy, para ir a Honduras e ficar lá o tempo necessário para a solução do caso. V. Ex.ª está de acordo? Posso fazer essa proposta agora na comissão?

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Ou pelo menos ir aqui, à Embaixada local.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pronto.

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Antonio Carlos.

             O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Agradeço a V. Exª.

            Encerro o meu pronunciamento com muito prazer e a minha solidariedade ao povo de Honduras e ao Presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2009 - Página 46441