Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário a respeito do plano de desenvolvimento da Amazônia pela inteligência da Amazônia, que a Subcomissão da Amazônia, vem desenvolvendo. Louvor à edição da revista Veja, chamando a atenção para o fator humano na Amazônia.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Comentário a respeito do plano de desenvolvimento da Amazônia pela inteligência da Amazônia, que a Subcomissão da Amazônia, vem desenvolvendo. Louvor à edição da revista Veja, chamando a atenção para o fator humano na Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2009 - Página 46453
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • QUALIDADE, HABITANTE, REGIÃO, PRESIDENTE, SUBCOMISSÃO, REGIÃO AMAZONICA, REGISTRO, LEVANTAMENTO, SITUAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, PREPARAÇÃO, DIAGNOSTICO, BUSCA, SOLUÇÃO, ABANDONO, MOTIVO, INFERIORIDADE, POPULAÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), ANUNCIO, PLANO, DESENVOLVIMENTO.
  • SAUDAÇÃO, NOTICIARIO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, REGIÃO AMAZONICA, ESPECIFICAÇÃO, IMPORTANCIA, HABITANTE, DEBATE, POLUIÇÃO, USINA TERMOELETRICA, OBSTACULO, CONSTRUÇÃO, USINA HIDROELETRICA.
  • CRITICA, IMPRENSA, ERRO, DENOMINAÇÃO, LIMITE GEOGRAFICO, TERRITORIO NACIONAL.
  • COBRANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ALTERNATIVA, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA, CONCLAMAÇÃO, BRASILEIROS, TURISMO, REGIÃO, AMPLIAÇÃO, INTERESSE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, a luz ainda está acesa, o pisca-pisca. Creio que, como orador inscrito, não tenho só cinco minutos.

            Sr. Presidente, Senador Marconi Perillo, Srªs Senadores, Srs. Senadores, como sempre tenho dito, como Senador da Amazônia, não como Senador eleito por um Estado da Amazônia, mas um Senador nascido em um Estado da Amazônia, no meu caso no Estado de Roraima, conheço a Amazônia não por leitura, não por ouvir dizer, não por documentários, não por informações de algumas ONGs. Conheço porque nasci lá, vivi minha infância, minha adolescência, estudei no meu Estado até onde deu, porque na época não havia nem segundo grau. Fui para Belém, onde formei-me em Medicina, e voltei para o meu Estado para trabalhar, durante 15 anos, na Medicina. E conheço todos os Estados da Amazônia presencialmente.

            Estou presidindo, agora, a Subcomissão da Amazônia, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, onde começamos um trabalho de fazer um diagnóstico da Amazônia pela inteligência da Amazônia. Que inteligência? Das universidades federais, das universidades estaduais, dos institutos de pesquisa, como é o caso do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, do Instituto de Biotecnologia da Amazônia, do Instituto Evandro Chagas e do Museu Emílio Goeldi, que é um instituto de pesquisa do Pará. Enfim, começamos já a ouvir esses institutos e estamos preparando um diagnóstico, para depois dizer: esse é o diagnóstico e essa é a medicação que podemos usar para tirar a Amazônia dessa situação que está aí, como uma espécie de quintal do País e onde estão 25 milhões de brasileiros e brasileiras totalmente desprezados pelo Governo Federal.

            E por que somos desprezados? Primeiro, puxa, 25 milhões de brasileiros têm que merecer respeito até porque é uma população igual a de um país como a Venezuela e maior do que muitos países da América do Sul e Central, mas somos 11,5 milhões de eleitores. E São Paulo sozinho tem mais eleitores do que a Amazônia toda. Aí está explicado por que nem o Presidente da República nem ministro nenhum se interessa de fato e realmente pela Amazônia.

            E o que a Amazônia representa hoje em termos da Economia, do dinheiro do País, do PIB? Oito por cento. Então, também não interessa economicamente. Isso aqui tenho reclamado, tenho frisado. Vamos fazer um trabalho sério. Estamos fazendo e vamos terminar com um Plano de Desenvolvimento da Amazônia proposto pelo Senado Federal, que é a Casa em que os Estados estão representados de maneira igual. Aqui temos três Senadores por Estado. Portanto, só os da Amazônia são 27, e não podemos mais aceitar essa história de que amazonófilos que moram em São Paulo, na Avenida Paulista, ou em Ipanema, no Rio de Janeiro, ou, o que é pior, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa, continuem a passar a receita do que temos de fazer na Amazônia.

            Infelizmente, o Presidente Lula, que na sua primeira campanha para Presidente, portanto, seu primeiro mandato, disse uma frase que me convenceu inclusive a votar nele no segundo turno do primeiro mandato, de que era chegada a hora de dizer o que podíamos fazer na Amazônia e não de dizer só o que não podíamos fazer na Amazônia, infelizmente - repito - não materializou o que prometeu.

            Mas hoje eu quero, Senador José Sarney, na hora em que V. Exª preside esta sessão, V. Exª que é um Senador de um Estado da Amazônia Legal, dizer que fico muito feliz de ver uma revista como a Veja publicar uma edição especial sobre a Amazônia; uma edição especial que inclusive tem como chamada o fator humano. Vejam bem, o fator humano. Pela primeira vez, eu vejo uma publicação de âmbito nacional destacar a importância das pessoas na Amazônia. Quando se fala em Amazônia, o que você vê é filme ou fotografia de mata, de bicho; quando tem algum ser humano é um índio, que é a minoria da população de lá. Aqui nesta capa tem até um mestiço, um índio mestiço com um macaquinho nas costas, mas, pelo menos, está aqui um ser humano presente na capa da revista, não está só uma árvore.

            E a revista diz também na sua chamada: “O destino da Amazônia está atrelado à vida de seus 25 milhões de habitantes”. É isso mesmo. Não há como pensar em fazer da Amazônia uma parte realmente integrante do País, onde as pessoas vivam com dignidade, se não olharmos para a vida desses 25 milhões de homens, mulheres e crianças que moram lá, que moram lá, não é que estão passando por lá, não.

            E a revista diz mais: “A vida num lugar em que 4 horas de dever custam duas tartarugas”. Aí vai mais: “Duzentos e sessenta usinas termoelétricas jogam fumaça de diesel no ar da região onde só deveria existir energia limpa”. E por que não tem energia limpa? Porque os órgãos do Governo Federal não deixam construir usina hidrelétrica, que produz uma energia limpa. Não. Aí ele fala em 260 usinas termoelétricas.

            Quantas tem em outras regiões do Brasil? Quantas? Eu vou levantar para ver.

            Aí fala mais: “A indústria que prospera sem cortar uma única árvore.” E aqui está se referindo, com certeza, ao Pólo Industrial de Manaus.

            Eu não li ainda, Senador Mão Santa, a revista. Prestei atenção que aqui tem pouca propaganda oficial, o que me deixa animado, mas também, já na primeira chamada, quando ele diz aqui: “Com a palavra o homem da Amazônia”, e aí ele fala dos repórteres que foram para lá. E ele fala em uma parte aqui que me deixa triste. Quer dizer, fez um trabalho e deixa passar aqui uma mensagem que confunde os brasileiros de modo geral: “Durante três meses, os repórteres passaram por seis Estados.” [São nove, e eles só visitaram seis, portanto.] “Estiveram em 52 cidades” [são mais de 750], rodaram 11.000 Km de estradas” [Aí o pecado], o suficiente para fazer três vezes o percurso entre o Oiapoque e o Chuí.

            Ora, o que dá para entender dessa frase? Que o Brasil vai do Oiapoque ao Chuí. E era isso que até um dia desses se ensinava nas escolas, mas um trabalho do IBGE, um trabalho de geografia usando aparelhos modernos constatou que, na verdade, o ponto extremo norte do Brasil não é o Oiapoque; o ponto extremo norte é o Monte Caburaí e que, geodesicamente comprovado, está 30Km acima do Oiapoque. Mas revistas como a Veja deixam passar um negócio desse, numa matéria que, como eu vou dizer, eu estou lendo e acho importante, porque se está dando ênfase aos seres humanos e não apenas à floresta e aos animais.

            Aliás, eu sempre chamo a atenção para o seguinte fato: vejam o que há nas nossas notas de dinheiro. Só tem bicho. Da nota de 1 real até a de 100 reais, só tem bichos. O Brasil parece ser um País de bichos. Nós não temos um vulto histórico nas nossas notas de real, não temos um monumento histórico. Isso é muito ruim para o nosso País.

            O que nós mesmos estamos fazendo é dando corda para os estrangeiros.

            Espero que o Presidente Lula, com esse pouco tempo que tem de Governo, depois de sete anos governando, faça o que disse. É chegada a hora de dizer o que se pode fazer na Amazônia e não apenas o que não se pode. Ele também falou que chega de gringo dar pitaco na Amazônia. É isso que eu quero louvar neste momento.

(Interrupção no som.)

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Vou concluir, Sr. Presidente, nesses dois minutos.

            Cumprimento a revista Veja. Lerei a matéria para poder, depois, fazer uma análise mais profunda. De qualquer forma, vejo uma revista de circulação nacional, Senador Sarney, chamar a atenção para o fator humano na Amazônia e não apenas para o fator animais e floresta.

            Espero que realmente possamos ter mais órgãos de imprensa falando da Amazônia. Sempre digo que vemos reportagens sobre a Europa, sobre o Canadá, sobre os Estados Unidos, vemos brasileiros viajando ao exterior, mas não vemos brasileiros indo visitar a Amazônia.

            Vemos brasileiro reclamando que há queimadas na Amazônia, isso e aquilo, mas não vão lá, por exemplo, fazer um turismo ecológico para deixar dinheiro na economia da Amazônia. Isso ninguém faz. O brasileiro reclama porque os estrangeiros cobiçam a Amazônia, mas os brasileiros, principalmente os do litoral, não cobiçam a Amazônia, cobiçar no bom sentido, querer bem, gostar, ajudar. E é isso que eu espero. A partir dessa reportagem que vou dissecar, espero que possamos ter, realmente, uma outra visão da Amazônia, não essa visão de Amazônia só floresta, de Amazônia só bicho, mas Amazônia onde moram 25 milhões de pessoas. Portanto, uma Amazônia de seres humanos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2009 - Página 46453