Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reconhecimento ao agrônomo norte-americano Normal Borlaug, falecido no dia 12 deste mês, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970 e é o autor da chamada "Revolução Verde".

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reconhecimento ao agrônomo norte-americano Normal Borlaug, falecido no dia 12 deste mês, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970 e é o autor da chamada "Revolução Verde".
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2009 - Página 46636
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AGRONOMO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ANTERIORIDADE, RECEBIMENTO, PREMIO, AMBITO INTERNACIONAL, PAZ, BUSCA, ERRADICAÇÃO, FOME, PLANETA, PESQUISA, BIOTECNOLOGIA, VARIANTE, GENETICA, GRÃO, AUMENTO, PRODUTIVIDADE, RESISTENCIA, REVOLUÇÃO, AGRICULTURA.
  • REGISTRO, BIOGRAFIA, AGRONOMO, TRABALHO, EFEITO, AUTO SUFICIENCIA, GRÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PAQUISTÃO, INDIA, FILIPINAS, INJUSTIÇA, RECEBIMENTO, CRITICA, ECOLOGISTA, OPOSIÇÃO, MODERNIZAÇÃO, AGRICULTURA, TERCEIRO MUNDO, ALEGAÇÕES, PRESERVAÇÃO, CULTURA, DESCONHECIMENTO, GRAVIDADE, FOME, CONTINENTE, AFRICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a maioria dos meios de comunicação, em todo o mundo, deu pouco destaque à morte, no dia 12 deste mês, aos 95 anos, de um homem notável, provavelmente quem mais salvou vidas na história da humanidade. Trata-se de Normal Borlaug, agrônomo norte-americano, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970. Ele é o autor da chamada “Revolução Verde”, que preveniu a fome em extensas regiões do globo na segunda metade do século 20, poupando da morte certa um número calculado em 1 bilhão de pessoas.

            Não chega a ser surpreendente que o desaparecimento de Norman Borlaug tenha recebido pouco destaque. É comum que os feitos de grandes homens só mereçam o devido reconhecimento com o passar dos anos, às vezes de séculos. Só então, de uma perspectiva mais distante e isenta de preconceitos, podemos avaliar de maneira mais precisa o valor de sua contribuição. O reconhecimento caminha a passos lentos, e quase sempre chega tarde.

            A história de Norman Borlaug é fascinante, pois ele dedicou sua vida a uma preocupação central: encontrar meios de erradicar a fome no planeta. O trabalho começou em 1943, quando ele trocou um cargo no serviço florestal norte-americano por um trabalho - que duraria duas décadas - junto a cientistas mexicanos. Seu objetivo era desenvolver uma nova variedade de trigo, mais resistente a pragas e mais produtiva. O chamado “trigo anão”, que tinha muito mais grãos que a planta tradicional, foi levado para a Ásia, numa época em que a população do continente crescia a taxas muito superiores às atuais.

            Com um rendimento 2 a 3 vezes superior ao das variedades clássicas, o trigo anão de Borlaug permitiu, segundo seus próprios cálculos, duplicar a produção de trigo da Índia e Paquistão, entre 1965 e 1970. Isto equivaleu a um crescimento de mais de 11 milhões de toneladas. Entre as décadas de 1960 e 1990, as safras nos dois países quadruplicaram. Em 1968, o Paquistão conquistou a auto-suficiência na produção de trigo, seguido pela Índia, poucos anos depois.

            As previsões de que este último país jamais conseguiria produzir alimentos em quantidade suficiente para sua população falharam, graças a Borlaug. Em 1974, a Índia cultivava todas as espécies de cereais de que precisava para suprir suas necessidades. Tanto no Paquistão como na Índia, as safras passaram, desde 1960, a superar as taxas de crescimento populacional. Por um breve período, na década de 1980, a Índia chegou até a integrar o ranking dos países exportadores. Resultados semelhantes foram obtidos nas Filipinas.

            A Revolução Verde de Norman Borlaug baseava-se no desenvolvimento de cereais de alto rendimento, por meio de biotecnologia e manipulação genética, uso de fertilizantes e de pesticidas, estes em escala reduzida, e irrigação controlada. Inicialmente, diante dos resultados espetaculares, seus métodos mereceram aplausos. Mas não demorou para que surgissem os primeiros críticos.

            No final dos anos 1960, percorrendo a Ásia, ao ver extensas plantações do trigo, resultantes das pesquisas de Borlaug, um vice-presidente da Fundação Ford disse ao cientista, com franqueza brutal: “Trate de aproveitar agora, porque você nunca mais experimentará essa sensação de sucesso. Eventualmente, os pessimistas, os cínicos e os burocratas vão asfixiar você, e frustrar seus esforços”.

            Eram palavras proféticas. Na década de 1980, a própria Fundação Ford, juntamente com a Fundação Rockefeller e o Banco Mundial, pressionados por ambientalistas, trataram de afastar-se de Norman Borlaug, e passaram a negar fundos para seus projetos.

            Empenhado em nova missão, de introduzir suas técnicas na África, onde a fome continuava sendo uma ameaça real, ele se viu privado de recursos. Borlaug reagiu com raiva, afirmando que os lobistas ambientais viviam entrincheirados em confortáveis escritórios e jamais tinham experimentado a fome ou convivido com a miséria nos países subdesenvolvidos. “Se vivessem apenas um mês entre os famintos deste mundo, como eu fiz por 50 anos, estariam clamando por tratores, fertilizantes e canais de irrigação.”

            Apesar da oposição, Borlaug conseguiu apoio do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e de um milionário japonês. Com os recursos obtidos, coordenou projetos em 8 países africanos. Em 7 deles, as safras de milho triplicaram, e as de outros cereais também experimentaram crescimento significativo.

            Os ambientalistas dispostos a sabotar os esforços de Borlaug padeciam de uma cegueira que ainda hoje afeta inúmeros radicais que supõem estar defendendo o meio ambiente. Primeiro, confundiam pesticidas com fertilizantes. Borlaug não defendia o uso indiscriminado dos primeiros. Pelo contrário, esforçava-se para reduzir seu emprego, procurando formas de “controle integrado de pragas”, com o uso de pesticidas somente na fase de vida em que a praga é mais vulnerável. Quanto aos fertilizantes, eles apenas fornecem à terra cultivável substâncias que estão presentes naturalmente no solo.

            Em segundo lugar, os ambientalistas alegavam que a introdução de novas técnicas de cultivo, além de causar uma catástrofe ecológica, descaracterizava as culturas locais, fazendo com que os agricultores abandonassem métodos tradicionais, usados há muitos séculos. Eles não levavam em conta que quase todos esses “métodos tradicionais” incluíam a destruição da vegetação nativa, por meio de queimadas, e o rápido esgotamento dos nutrientes do solo, criando desertos - e focos de morte por desnutrição - por toda parte. Calcula-se que, com as novas técnicas, a Índia poupou uma área equivalente à do Estado norte-americano da Califórnia em vegetação nativa.

            Outra alegação era a de que a modernização da agricultura, no que então era conhecido como Terceiro Mundo, causaria uma explosão populacional impossível de ser controlada, tornando inevitáveis novos ciclos de escassez de comida. Na verdade, as estatísticas demonstram que o incremento da produtividade agrícola funciona como um freio ao crescimento da população. Livres da chamada agricultura de subsistência, que exige muitos braços para trabalhar, as famílias passam a ter menos filhos, para empregar recursos em sua educação.

            Hoje, muitos dos oponentes de Norman Borlaug reconhecem que ele tinha razão. A direção do Comitê para a Agricultura Sustentável, uma coalizão norte-americana que reúne entidades ambientalistas, reconhece que não é realista querer simplesmente abolir o uso de fertilizantes e outros produtos químicos na agricultura. “Norman estava certo o tempo todo a respeito dessa questão”, diz o presidente do Comitê, Robert Blake.

            “A civilização, tal como a conhecemos atualmente, não teria podido evoluir nem sobreviver sem uma quantidade suficiente de alimentos”, disse Borlaug, ao receber o Prêmio Nobel. Sua cruzada não foi em vão. Ele revolucionou a agricultura e proporcionou a uma parcela considerável da população mundial a chance de continuar vivendo. É uma façanha e tanto, e por ela todos nós devemos reconhecimento a Norman Borlaug.


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