Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação em defesa dos aposentados e pensionistas, defendendo realização de vigília na rampa do Palácio do Planalto.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Manifestação em defesa dos aposentados e pensionistas, defendendo realização de vigília na rampa do Palácio do Planalto.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2009 - Página 46716
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • PROTESTO, DESCUMPRIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROMESSA, SOLUÇÃO, ENERGIA ELETRICA, ILHA DE MARAJO, GRAVIDADE, ABANDONO, POPULAÇÃO, DIFICULDADE, TRANSPORTE, CONTRADIÇÃO, INVESTIMENTO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ANGOLA.
  • CRITICA, GESTÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), MANIFESTAÇÃO COLETIVA, APOSENTADO, IMPEDIMENTO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO PAIM, SENADOR, MELHORIA, APOSENTADORIA, CONCLAMAÇÃO, CONGRESSISTA, ORGANIZAÇÃO, MARCHA, MOBILIZAÇÃO, ENTRADA, EDIFICIO SEDE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COBRANÇA, URGENCIA, PROVIDENCIA, PROTESTO, INEFICACIA, NEGOCIAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Magno Malta, o Presidente Lula esteve no Marajó há um ano e meio, exatamente no lugar que V. Exª visitou, que é a região de floresta do Marajó - Curralinho, Anajás, Breves, Melgaço -, aquela região pobre que precisa da ação tanto do Governo Federal como do Estadual.

            O Presidente foi lá e, numa festa consagradora à sua pessoa - os marajoaras votaram maciçamente no Lula; o Lula ganhou de ponta a ponta no Marajó -, disse que iria levar energia sólida. Ainda se tem muita lamparina na Ilha de Marajó. Ainda se usa muito a lamparina. Não sei se V.Exª conhece lamparina. Usa-se muito, ainda, no Marajó. E Sua Excelência foi muito aplaudido: “Esse é o Presidente que nós elegemos; esse é o grande Presidente; vai salvar o Marajó, colocar energia de Tucuruí na Ilha de Marajó”. Todo mundo aplaudiu o Presidente Lula.

            Até hoje. O Presidente mentiu. Até hoje, nenhum plano, nenhum projeto, nem coisíssima alguma. Não se fala mais. Está terminando o mandato do Presidente, e o Marajó continua abandonado.

            V. Exª deve ter sentido. Olhe, Brasil, como é. E eu gosto quando um Senador visita o meu Marajó. V. Exª deve ter sido levado do aeroporto... E aquele aeroporto, nós fizemos com muito sacrifício, muito. Senão, nem aeroporto tinha. Curralinhos tinha que ser de barco.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - (Fora do Microfone.) Desci num campo, de helicóptero.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Você desceu de helicóptero. Olha a dificuldade! Você deve ter ido de lá, do aeroporto, para a cidade de moto, porque não se vai de carro. Agora, é uma vergonha. É uma vergonha, Senador! São três ou quatro quilômetros para se chegar do aeroporto à cidade. Eu já fui num caminhão de lixo, na época da chuva, para poder chegar a Belém. Então, V. Exª sentiu.

            Mas o Presidente preferiu emprestar dinheiro para Angola. Deu dois bilhões de investimento para empresários trabalharem em Angola. Por que ele não dá, pelo menos, um bilhão para os empresários investirem no turismo do Marajó? Mozarildo, é isso que não dá para a gente entender do Presidente Lula! Não dá para entender o massacre, por exemplo, Mozarildo, aos aposentados!

            Este Pimentel, este Ministro Pimentel já tem uma cara do Hitler. Prestem atenção, olhem para a cara dele. Se você colocar um bigodinho aqui, fica igual ao Hitler. Eu coloquei, eu ia mostrar aqui hoje, Sr. Presidente, mas a minha assessoria não deixou. “Não faça isso, Senador”. Deixem-me mostrar, fica igualzinho ao Hitler! Eu já sonhei com este Ministro dando as ordens, tipo Hitler.

            Ele é o carrasco dos aposentados no Brasil, Senador Mozarildo. Olha o que já enganaram os aposentados neste País! Já fizeram reuniões e mais reuniões. Já engavetaram projeto do Senador Paulo Paim, do Partido dos Trabalhadores, Presidente! Nós já fizemos vigília aqui, neste Senado, duas ou três vezes, meu caro Senador paraense Nery. Já vi o Tuma, que vem chegando agora, chorar na cadeira dele ao ouvir os pronunciamentos dos Senadores numa noite de vigília. Nada disso adiantou, meu caro Senador Expedito. Nós fomos enganados. Os aposentados foram enganados. A Cobap foi enganada, e nada se resolveu até hoje. E os escravos estão aí à mercê da ordem e da vontade do rei Lula. Estão sendo escravizados, Senador Tuma. Estão sendo massacrados, estão sendo enganados.

            Aqui, hoje, eu quero deixar uma proposta aos Senadores. Não adianta mais conversar com o Governo. O Governo não gosta dos aposentados. O Governo quer a morte dos aposentados deste País. Não adianta apelar mais para o Governo! É um massacre, é uma escravidão!

            Sabe o que eu não entendo, Senador? Eu não entendo, por exemplo, o trabalho escravo infantil, como se combate neste País! Não é verdade, Senador? E por que escravizam os velhinhos? Por que é tão grande a preocupação - eu entendo - com a juventude do nosso País? E por que escravizam, por que massacram, por que matam? Isso é um assassinato! O que estão fazendo com os aposentados deste País é um assassinato em massa!

            Se eu estiver errado, ponham-me na cadeia! Se eu estiver errado, tirem-me daqui. Ninguém pode me contestar, porque eu estou falando a verdade! Quantos morrem de fome? Eu provo, Presidente. Eu lhe mostro. Quantos morrem de fome neste País? Aqueles que trabalharam e deram o seu suor por este País. Ninguém olha. Ninguém quer saber. Que morram! Que morram eles!

            Senador Expedito, olhe para mim. V. Exª é um jovem, futuro Governador do seu Estado, brilhante Senador da República. Acompanhe-me no que eu vou propor aqui. Acompanhe-me. Mozarildo! Acompanhe-me, Mozarildo. Tuma, acompanhe-me.

            Nós não podemos mais ver isso. V. Exªs todos vieram aqui, falaram, trabalharam. O Senador Paim juntamente comigo. Nós prosseguimos. Eu abandonei as negociações porque não confiei mais no Governo. Porque vi que aquilo ali era tudo enganação, era ganhar tempo para passar este ano, porque para o ano tem eleição e não se decide mais nada neste País. Eu abandonei as negociações.

            Eu não conseguia mais olhar para a cara do Ministro da Previdência Social. Eu não conseguia mais. Ali estava na minha frente um homem sem palavra, um homem enganador, um homem mentiroso.

            Senador Expedito, pode até ser que o Senador Paulo Paim não possa ir ou não vá, mas eu vou. E eu queria que V. Exªs me acompanhassem. Vamos convocar! Vamos reunir! Vamos unir os aposentados deste País, Senador Expedito! Vamos caminhar rumo à rampa do Planalto! Vamos ficar uma noite de vigília lá na rampa do Planalto! Vamos esperar de manhã o Presidente Lula entrar! Vamos mostrar para ele a situação em que se encontram os miseráveis do Brasil, por ordem dele! Vamos mostrar o sofrimento daqueles de que eles têm raiva! Vamos mostrar in loco ao Presidente! Vamos, Senadores! Vamos!

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Ele vai te dar o endereço novo.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não interessa, onde for; se é rampa, se não é rampa, se é porta, se é janela. Ele tem de olhar. Ele tem de olhar. Ele tem de ver aqueles que ele enganou, para quem ele mentiu. Ele mentiu! Ele não pode me questionar. Eu posso dizer a ele que ele mentiu, Presidente. Eu tenho a fita com a voz do Presidente Lula guardada na minha casa, no meu cofre. E, na hora em que ele quiser ver, eu coloco para ele ver. Dizia ele no palanque, em sua campanha, que ia dar atenção aos aposentados deste País, que ia acabar com o sofrimento dos aposentados. Mentiu! Enganou os aposentados deste País! Tornou os aposentados miseráveis, pobres, abandonados, massacrados, escravizados.

            Senador Paulo Paim, V. Exª não está hoje aqui. Eu entendo a postura, eu entendo o caráter de V. Exª, mas, para mim, não dá mais Senador. Para mim, não dá mais para sentar com o Governo à mesa. Para mim, não dá mais para acreditar no Governo. Para mim, não dá mais para fazer atos sóbrios. Não dá mais. Os atos agora têm de ser radicais. Agora é tudo ou nada. Vamos partir, aposentados, mesmo sabendo da dificuldade de cada um de V. Sªs, mas, unidos, nós faremos valer a nossa força que ainda resta, valer um pouco da nossa força que ainda resta, aposentados. Vamos caminhar à rampa do Planalto. Está aqui um soldado de vocês que vai acompanhá-los.

            Eu quero ficar na frente do Presidente. Eu quero dizer ao Presidente que ele enganou os aposentados deste País.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mário Couto.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu quero, Senador Mozarildo, nem que seja a última coisa que eu tenha de fazer como Senador da República. Vamos todos nós, vamos acabar com a escravidão, vamos tentar sensibilizar o Presidente. Tentamos por todos os caminhos, usamos de todas as forças, meu Senador ACM, de todas as forças.

            Pedimos socorro, nós nos humilhamos, ficamos quase de joelhos. Nada o sensibilizou, Senador, nada, absolutamente nada. Agora, Senadores, agora cabe a nós, representantes do povo, cabe a cada um de nós dar a mão a esses velhinhos que estão rumando para a sepultura, que estão a caminho da morte, que cada dia sofrem a desilusão, que cada dia veem no Governo um Governo sem palavra.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mário Couto, primeiro, quero dizer a V. Exª que é bom lembrar que o Presidente Lula não está mais no Palácio do Planalto, porque está gastando 200 milhões com a reforma do Palácio dele e está despachando lá no prédio do Banco do Brasil. Então, temos de ir para lá. Mas o endereço, como diz V. Exª, pouco importa, mas é que ele não está mais no Planalto e pode ser que muita gente vá para lá e ele está reformando, gastando 200 milhões. Segundo, Senador Mário Couto, não fique perdendo tempo botando culpa no Ministro, não. Não é que o Ministro não tenha culpa, não. O culpado mesmo é o Presidente Lula: ou ele é Presidente ou não é Presidente, porque, se ele não é Presidente, podia o Ministro não querer, e ele mandava fazer. Mas é como V. Exª disse, ele não gosta dos aposentados. Acho que ele pensa realmente que aposentado é uma pessoa imprestável para o País. Então, estou à disposição, vamos organizar e vamos lá no novo endereço, nas dependências do Banco do Brasil... Aliás, ele está lá de graça, os acionistas do Banco do Brasil estão tendo prejuízo com isso, não está pagando nada, nem aluguel. Mas acho que tem de haver uma mobilização, sim. E, por fim, quero dizer a V. Exª que, um ponto que V. Exª colocou no início, enquanto ele gasta dinheiro com outros países, lá, em Roraima, por exemplo, ele está gastando na Venezuela financiamento de todo jeito. Vai prometer agora investimentos milionários, bilionários na Guiana. Em Roraima, ele anunciou R$100 milhões. O Líder dele disse que, na verdade, são R$500 milhões. Aí eu mandei um ofício para a Ministra Dilma para ela dizer, afinal, quanto é que é mesmo que será gasto em Roraima, quando, como e que fonte. Então, eu acho que este Governo realmente não gosta dos aposentados. Aliás, ele disse também que não gosta de branco de olhos azuis. Enfim, ele é muito cheio de problemas e nós temos que reagir. E não adianta, repito, o culpado é ele, o Presidente Lula.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Senador Mozarildo, olha, Senador, preste bem atenção. Ontem eu vim e fiz um protesto aqui. Senador Tuma, preste atenção. Às vezes me revolta, às vezes eu penso em abandonar a política. Eu vim com muita expectativa ser Senador da República. Vim. Eu vim muito entusiasmado. Eu pensei que, como Senador da República, pudesse fazer coisas para a sociedade. Mas há um impedimento. Quem é oposição pouco consegue, ou melhor, nada consegue. Eu tenho lutado muito aqui - V. Exªs são testemunhas - pelo meu Estado.

            Essa causa dos aposentados. Ontem eu vi um fato - eu já vou descer, Presidente - que me deixou, Senador Expedito, extremamente decepcionado com a minha profissão. Os projetos dos aposentados - V. Exª é testemunha - do Senador Paulo Paim, da Base, do Partido do Governo, Senador de uma capacidade extraordinária, Senador de um caráter extraordinário, que precisa do respeito dos coligados ao PT e do próprio Partido dos Trabalhadores.

            Esses projetos pedindo que se melhore a condição dos aposentados ficaram aqui neste Senado, meu caro Presidente, durante cinco anos, desde quando cheguei aqui. Estavam há nove meses na gaveta de um Senador - poupem-me de dizer o nome -, que é até meu amigo e de quem gosto, porque o Governo mandou engavetar. Estão lá na Câmara agora, Senador. Vão completar dois anos: veto dos 16%, reajuste dos aposentados proporcional ao salário-mínimo e fator previdenciário.

            A ordem do rei é não votar, porque ele sabe que, se votar, vai acontecer a mesma coisa que aconteceu aqui no Senado: os projetos do Senador da Base do Governo, do PT, do Senador Paulo Paim, que tem sensibilidade, vão ser aprovados lá.

            Agora, olhem o que me revoltou. Nada contra José Múcio. Nada! Fui à Comissão ontem e vi a votação para José Múcio ir para o Tribunal de Contas da União. Até aí tudo bem, até aí tudo bem. Na mesma hora, o Líder do Governo pediu que esse projeto viesse a plenário no mesmo dia, na mesma hora, e fosse votado. Sabe quem mandou? Veio e votei “sim”. Eu votei! Não tenho nada contra José Múcio. Votei a favor do José Múcio, mas fiz o meu protesto. Mas fiz meu protesto.

            Como é que pode uma pessoa ter o privilégio de ter um projeto votado duas vezes, passando por cima do Regimento Interno e da Constituição Federal, votado no mesmo dia neste Senado? E por que os aposentados não têm esse direito, Senador? Puxa vida, Senador! É isso que dói! É esta a lamentação que tenho! É esta a decepção que tenho, Senador!

            É por isso que um rei, ou um príncipe, sei lá quem foi, o De Gaulle, chegou aqui, beijou o chão e, na despedida dele, disse que este País não é sério. Ele tinha razão, Presidente.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2009 - Página 46716